Quando chegou ao Brasil e quem trouxe o futebol?

No Brasil, o futebol chegou por intermédio de marinheiros ingleses, holandeses e franceses, na segunda metade do século XIX, e eles o praticavam em nossas praias. Há relatos que funcionários do SP Railway, de Jundiaí, teriam aprendido a jogar em 1882. Também se comenta que os funcionários do Leopoldino Railway do Rio de Janeiro, no mesmo ano, também teriam experimentado o futebol (DUARTE, 1994).

O futebol no Brasil era exclusivamente praticado pela elite. Isso porque apenas os jovens mais abastados, que estudaram na Europa, é que tiveram oportunidade de manter os primeiros contatos com esse esporte, hoje com milhões de adeptos em todo o mundo (AFIF, BRUNORO, 1997).

Rosenfeld (1973), Caldas (1989) e Afif e Brunoro (1997) relatam que o futebol no Brasil foi transplantado para o Brasil por Charles W. Miller, um brasileiro de origem inglesa. Aos 10 anos de idade, Miller foi enviado à Inglaterra para freqüentar a escola. Charles Miller gostava muito do futebol, tanto é que nos 25 jogos disputados pelo time de seu colégio na Inglaterra, marcou 41 gols. Com 19 anos de idade, Miller aceitou o convite para jogar em um time da Liga Inglesa de Futebol e foi jogar pelo time de Hampshire contra o Corinthian (que, em 1910, veio ao Brasil e inspirou um grupo de rapazes a fundar o Sport Club Corinthians Paulista).

Por causa de suas boas atuações, Miller continuou sendo assediado e, pouco tempo depois, passaria a jogar pelo Southampton. Vale lembrar que o futebol era exclusivamente amador. Quando voltou para São Paulo, em 1894, Miller trouxe em sua mala duas bolas, calções, camisas e chuteiras, materiais indispensáveis para a prática do futebol, e tinha como objetivo difundir o esporte entre os ingleses que viviam em São Paulo e jogavam cricket (paixão dos ingleses). Para que isso ocorresse, Miller entregou-se a uma fervorosa atividade missionária.

De início, logo após a atividade missionária exercida por Charles Miller, o futebol se propagou no meio industrial e aristocrático. De 1895 até meados de 1920, o futebol era um esporte altamente elitista, praticado apenas por jovens brancos e ricos, descendentes da aristocrática colônia inglesa no Brasil. Nessa época, praticar ou assistir essa partida de futebol era algo “chique” e os jovens de “boa família” compareciam em peso a esses eventos, que eram vistos por todos como uma festa da alta sociedade (CALDAS, 1989; HELAL, 1990).

Além de trazer o futebol ao Brasil, Miller trouxe também consigo a experiência, sabedoria que tinha a respeito do futebol. Pois Miller dominava as regras básicas para o desenvolvimento do esporte, apitava os jogos e além de ser um excelente jogador. Aqui no Brasil, Miller encontrou o alemão Hans Nobiling. Juntos, organizaram competições, promovendo inúmeros jogos, reunindo altos funcionários das empresas inglesas e da elite econômica interessada no esporte (LIMA, 1982; CALDAS, 1989).

O primeiro jogo foi realizado em São Paulo, em 1899. O jogo contou com a presença de 60 torcedores. Pode parecer pouco, mas, se pensar bem, é um número admirável devido à total falta de conhecimento acerca desse esporte. Esse jogo foi realizado entre os associados do São Paulo Athletic Club e tinha sido organizado por Charles Miller, que também participou do jogo. Outros brasileiros também se empenharam na tarefa de divulgar o futebol, ganhando a preferência dos jovens sobre os outros esportes praticados na época como o ciclismo, remo e ginástica (BORSARI, 1975; CALDAS, 1989; DUARTE, 1994).

Os primeiros clubes que surgiram no Brasil foram resultado de uma longa divulgação por toda sua extensão territorial. As primeiras equipes foram criadas no estado de São Paulo, inicialmente nas camadas altas, depois nas médias, como o São Paulo Athletic Club (antes só tinha cricket, agora tem o futebol), A.A. Mackenzie, S.C. Germânia, S.C. International e o C.A. Paulistana. Estes formaram a Liga Paulista de Futebol em 1901 (BORSARI, 1975; LIMA, 1982; CALDAS, 1989, BETTI, 1997).

De acordo com Betti (1997), em 1901 foi fundada a Liga Paulista de Futebol, que, no ano seguinte, realizou o seu primeiro campeonato. Segundo uma publicação de 1904, na cidade de São Paulo, naquele ano, existiam 118 instituições esportivas, sendo 72 dedicadas ao futebol. Vários clubes foram fundados nas primeiras décadas do século XX também em outros estados, especialmente no Rio de Janeiro.

Em 1910, o Corinthians de Londres fez uma excursão ao Brasil, a convite do Fluminense. Esta visita ao Brasil fez com que fosse fundado o Sport Club Corinthians Paulista na cidade de São Paulo (DUARTE, 1994).

Ao contrário do que aconteceu em diversos países por onde o futebol passou, no Brasil o futebol nunca foi proibido. Pelo contrário, procurava-se incentivar as pessoas a praticá-lo e os inúmeros colégios de pessoas ricas formavam excelentes jogadores. Sendo assim, a presença do futebol nesses colégios era obrigatório. Caso não houvesse, os alunos reivindicavam a presença desse esporte, pois era uma forma ideal de lazer e desta maneira o futebol tornava-se a cada dia que passava a atividade mais procurada e ganhando, assim, o coração do brasileiro (CALDAS, 1989).

Os ingleses precursores desse esporte em nosso país faziam parte da elite da sociedade paulista e carioca e somente os brasileiros ricos tinham acesso à prática do futebol. Sem falar no fato de que todo o material usado para se jogar era importado da Inglaterra e tudo era muito caro (CALDAS, 1989).

Em 1910, no Rio de Janeiro, surgem alguns clubes, como The Bangu Athletic Club, o Andaraí, o Carioca, o Vila Isabel, o Mangueira e o Fluminense. No Rio de Janeiro, apenas o Bangu e o Fluminense mantiveram o futebol até hoje. Os outros times tentaram, mas devido à pressão dos associados, os clubes fecharam as suas portas por falta de dinheiro, principalmente. Em São Paulo, a Associação Atlética Ponte Preta, o Sport Club Corinthians Paulista e o Paulistano. E em todos esses clubes, praticava-se somente o futebol (CALDAS, 1989; DUARTE, 1994).

Nessas condições, o futebol no início do século passado no Brasil apresentava dois diferentes aspectos: o primeiro, como já vimos, toda a elitização dos clubes (com exceção do Vasco), hoje chamados de: os Grandes do Rio de Janeiro, que sobreviveram e vararam no tempo e ingressaram no profissionalismo a partir de 1933.

O segundo, um pequeno grupo de times da zona norte, que não tinha a mínima chance de manter o futebol amador em seu quadro de esportes. Isso ocorreu devido à falta de condições sócio-econômicas, porque os jogadores não tinham tempo para treinar regularmente – boa parte de seu tempo era ocupado pelo trabalho. Além do fato de que os próprios clubes não incentivavam a prática do futebol, por ser um esporte muito caro para se manter. Mas, em outros clubes, como Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, a situação era outra, as presidências desses clubes incentivavam a prática do esporte e o futebol sempre foi muito bem recebido pela elite (BORSARI, 1975; LIMA, 1982; CALDAS, 1989).

Diferentemente dos times daquele tempo, o Bangu, fundado em 1904, pertencia aos altos funcionários da Companhia Progresso Industrial LTDA. Vindos da Inglaterra, os técnicos dessa empresa logo pensaram em criar um time de futebol. Eles importaram o material de Londres para poderem jogar. Mas surgiu um problema: não havia jogadores o suficiente para formarem os dois times. A solução então foi a de convidar os operários da própria empresa para jogarem (CALDAS, 1989).

A fundação do The Bangu Athletic Club, em 1904, foi de grande importância para a democratização do futebol brasileiro. Em virtude da distância, o clube não conseguia completar as equipes com os compatriotas da cidade e, deste modo, foram obrigados a recorrer aos operários da fábrica. Logo foram concedidos privilégios especiais aos bons jogadores, como licença para trein
ar, um trabalho mais leve e promoção mais rápida. O clube ficou mais conhecido do que a fábrica, e os jovens operários passaram a ser admitidos não apenas porque trabalhavam bem, mas porque jogavam bem (BETTI, 1997).

A presença dos ingleses no time não era mais interessante, pois havia operários que jogavam melhor que os ingleses e poderiam assim contribuir mais para as vitórias de Bangu. É neste momento do futebol onde se inicia a democratização do nosso futebol. Agora, a preferência não era apenas pelo bom profissional, mas também pelo trabalhador que jogasse bem futebol. Mas somente em 1909, os operários passariam a treinar regularmente o futebol (CALDAS, 1989).

De acordo com Betti (1997), a popularidade do futebol atraía um público cada vez maior. Os clubes se interessavam cada vez mais pelo retorno financeiro que poderiam ter com o futebol e isso só dependia do desempenho de suas equipes. Para que isso acontecesse, os clubes começaram a contratar jogadores nas camadas mais baixas, que era onde havia jogadores talentosos, que praticavam o futebol com dedicação. Pois, a partir do momento em que havia um público disposto a pagar para assistir um jogo, abre-se o caminho ao profissionalismo. O futebol tornou-se então uma espécie de trabalho e, desde 1910, as recompensas em dinheiro após as partidas, os famosos “bichos”, eram comuns.

Em 1914, fundou-se a Federação Brasileira de Sports, no mesmo ano que o Brasil disputou a Copa Roca contra a Argentina. Dois anos depois, em 1916, surge-se a necessidade de se ter uma entidade que organizasse e consagrasse todas as federações regionais de futebol, surgindo, assim, a Confederação Brasileira de Desportos. Hoje em dia, sob o comando da CBD, o Brasil participa de inúmeros torneios e campeonatos internacionais, conseguindo projetar-se no cenário mundial, diante de brilhantes vitórias. A seleção brasileira e os grandes clubes brasileiros são mundialmente conhecidos, devido à habilidade, criatividade e competência de nossos jogadores (BORSARI, 1975).

Após inúmeros conflitos nas federações, o profissionalismo foi implantado em 1933. O primeiro campeonato brasileiro de futebol profissional foi realizado no mesmo ano. O futebol já era um fenômeno social no Brasil (BETTI, 1997).

A vibração com que o povo brasileiro participa de cada vitória conseguida pelo seu clube de preferência ou pela seleção brasileira é motivo de muita festa. Uma das maiores conquistas do futebol brasileiro foi a posse definitiva da taça “Jules Rimet”. Essa taça foi conquistada por causa das três vitórias consecutivas conseguidas em uma Copa do Mundo, que foi em 1958, na Suécia, 1962, no Chile, e em 1970, no México. Em 1972, o Brasil ganhou a Taça Independência, denominada Mini-Copa no Brasil, pelo fato de a seleção brasileira ter batido o recorde mundial com 34 jogos sem perder (BORSARI. 1975).

É importante dizer que a forma como o futebol praticado (jogado) hoje no Brasil era praticado na França desde 1872, na Suíça em 1879, na Bélgica em 1880, na Alemanha, Dinamarca e Holanda em 1889, na Itália em 1893 e em alguns países da Europa Central em 1900 (DUARTE, 1994).

O futebol brasileiro vive um momento de transição, em busca da modernidade. Para que isso ocorra mais rapidamente é necessário que os clubes aceitem o profissionalismo como sendo uma alternativa indispensável para a sobrevivência desse esporte em nosso país. Hoje, a maioria das equipes possui profissionais de grande competência, atuando nos mais variados setores (fisiologia, fisioterapia, médica, nutrição, treinamento esportivo etc.). Milhões de dólares são movimentados mensalmente pelas agremiações e, conforme o time, o patrimônio representado pelo valor de seus atletas alcança uma verdadeira fortuna. Atingir o estágio de desenvolvimento do esporte próximo ao que julgamos ser o ideal é uma tarefa difícil, mas também não impossível (AFIF, BRUNORO, 1997).

Bibliografia

AFIF, A; BRUNORO, J. C. Futebol 100% profissional. São Paulo: Editora Gente, 1997.
BETTI, M. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressão ás regras no futebol espetáculo. Ijui, RS: Editora Unijui, 1997
BORSARI, J. R. Futebol de campo. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1975.
CALDAS, W. O pontapé inicial: memória do futebol brasileiro. São Paulo: Editora Ibrasa, 1989.
DUARTE, O. Futebol: história e regras. São Paulo: Editora Markron Books, 1994.
HELAL, R. O que é sociologia do esporte. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.
ROSENFELD, A. O futebol no brasil. São Paulo: Revista Argumento, 1973.

Quem trouxe o futebol par o Brasil?

Talvez a versão mais conhecida da história do futebol no Brasil, seja a de que o futebol tenha sido trazido por um homem chamado Charles Miller. Charles nasceu no Brasil em 1974 em São Paulo e foi educado na Inglaterra. Quando voltou ao Brasil em 1894, trouxe duas bolas de futebol e um livro de regras.

Quem trouxe a primeira bola de futebol para o Brasil?

No ano de 1884, Charles Miller trouxe da Inglaterra a primeira bola a rolar nos campos de futebol brasileiro. A matéria-prima usada era origem animal, as bolas eram feitas de couro curtido (o famoso capotão) e a câmara de ar era uma bexiga de boi.

Quando o futebol chegou ao Brasil quem pode praticá lo?

Quando o futebol foi introduzido no Brasil, no final do século 19, por Charles Miller, o esporte era praticado pela elite branca da cidade de São Paulo. A escravidão fora extinta havia poucos anos e os negros não eram aceitos pelos clubes para a prática do esporte.

Quando e onde nasceu o futebol?

Porém, foi na Inglaterra que o futebol realmente começou a tomar forma. Tudo começou em 1863, quando duas associações de jogos de bola (futebol association e futebol tipo rugby) se separaram, porque os partidários do "rugby" não aceitavam um jogo em que era proibido segurar a bola com as mãos.