Qual é o efeito social da redução do número de trabalhadores no campo?

Tecnologia e trabalho no campo

São notáveis os efeitos, na produção agrícola, do emprego de novas tecnologias, que exigem mais capital, mas resultam em ganhos expressivos de produtividade. Colhe-se cada vez mais por unidade de terra cultivada, de modo que os sucessivos recordes registrados pela safra de grãos em anos recentes, que deram segurança ao abastecimento interno e reduziram as pressões inflacionárias, não exigiram o aumento da área cultivada na mesma proporção. A modernização vem modificando também o padrão da ocupação de mão de obra. Emprega-se menos e os novos empregos exigem profissionais mais qualificados, aos quais, em contrapartida, oferecem remuneração mais alta.

Entre 2012 e 2017, a população ocupada no agronegócio caiu à média de 1,9% ao ano, como mostrou reportagem de Márcia de Chiara publicada no Estado. Em 2012, eram 19,7 milhões de pessoas empregadas; no fim do ano passado, 18 milhões. Esses números foram apurados pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em trabalho baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE.

Caíram tanto o número dos trabalhadores informais (redução de 3,4%) como o total de empregados com carteira assinada (diminuição de 1,4%). A redução mais acelerada do número de trabalhadores informais indica que o setor absorve cada vez menos mão de obra com menos qualificação. “Isso pode parecer má notícia, mas não é”, ressalva o economista Felippe Serigatti, coordenador do estudo da FGV.

O uso de tecnologia exige profissional mais preparado para operar as máquinas que vão tendo utilização cada vez mais intensa no agronegócio, o que resulta no aumento da produtividade e também do rendimento dos empregados. Entre 2012 e 2017, segundo a FGV, o rendimento médio real (isto é, descontada a inflação) do trabalho no agronegócio aumentou 7%, bem acima do aumento observado em todos os setores da economia, de 4,6%. Na pecuária, o aumento acumulado nos cinco anos examinados foi de 9,2% e na agricultura, de 8,3%.

A redução da mão de obra empregada não implicou o aumento do desemprego nas regiões agrícolas nem, muito menos, o surgimento de problemas sociais graves. Mais produtivo, o agronegócio ampliou a renda nas cidades do interior, o que resultou em aumento de atividade também em outros segmentos da economia, muitos dos quais puderam absorver a mão de obra liberada pela agropecuária. Entre 2000 e 2015, por exemplo, segundo a FGV, o Produto Interno Bruto (PIB) das cidades do interior cresceu 3,7% ao ano, enquanto o das regiões metropolitanas aumentou 2,5% e o nacional, 3%.

Vem mudando a exigência de qualificação, bem como o nível de remuneração do trabalhador médio empregado no agronegócio. Em 2014, 33,6% dos ocupados recebiam até um salário mínimo; dois anos depois, a fatia tinha se reduzido para 29,8%. Quanto ao grau de instrução, em 2014, 34,4% dos trabalhadores não tinham instrução ou haviam frequentado escolas por apenas dois anos; em 2016, eram 32,3%.

Um dos efeitos do novo grau de qualificação do trabalhador do agronegócio e da mudança do padrão de remuneração é o surgimento de um gargalo para a continuidade da modernização e dos ganhos de eficiência da atividade rural. Há sinais de escassez de trabalhadores qualificados. A produtividade do agronegócio está condicionada a fatores como terra, tecnologia e mão de obra, como lembrou o economista Renato Conchon, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). A expansão da área cultivada tem limites óbvios e o avanço da tecnologia pode não se dar no ritmo observado até agora. A expectativa, por isso, é de que novos ganhos de produtividade sejam propiciados pelo fator trabalho. Mas, observa o economista da CNA, o desempenho do agronegócio pode ser comprometido “se não houver oferta de trabalhadores qualificados para operar máquinas e de agrônomos para interpretar dados”. 

Áreas de atuação

Especialista em Geografia do Brasil (Faculdades Integradas de Jacarepaguá, RJ)
Mestre em Educação (Estácio de Sá, 2016)
Graduado em Geografia (Simonsen, 2010)

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Desde a Revolução Industrial, as máquinas ocuparam um papel cada vez mais relevante na economia, substituindo o trabalho manual pelo trabalho mecânico (posteriormente, as máquinas simplesmente mecânicas serão substituídas pela elétricas e eletrônicas), apesar de demorar um pouco mais, o trabalho rural agropecuário não tardaria a também sofrer mudanças com a mecanização.

O uso de maquinário especializado para a semeadura e para a colheita permitiu a ampliação da produção agrícola e pecuária, derrubando as conclusões da teoria demográfica malthusiana de que o aumento da população poderia levar a uma fome generalizada, pois, com a mecanização do campo foi possível ampliar mais e mais a produção de alimentos.

Qual é o efeito social da redução do número de trabalhadores no campo?

Colheitadeira consegue fazer em um dia o trabalho de centenas de agricultores trabalhando manualmente. Foto: My Portfolio / Shutterstock.com

A mecanização do campo foi alicerce para a consolidação do agronegócio, sendo o sustentáculo da produção agroindustrial. Apesar de aumentar a produção e fortalecer o papel do campo na economia mundial, a mecanização do campo não está isenta de críticas e problemas. No Brasil, esta mecanização vem se acentuando desde a década de 1960.

Como em toda a substituição do trabalho manual pelo mecânico, há sempre uma redução drástica nas vagas de emprego para trabalhos braçais, que não exigem formação específica, embora permita a criação de um número limitado de novas vagas no setor especializado (técnicos, profissionais de nível superior e outros serviços profissionais especializados). Levando a um conflito de interesses entre mão-de-obra qualificada e mão-de-obra sem qualificação.

A mecanização do campo e o fim dessas vagas de trabalho sem qualificação é uma das principais causas do êxodo rural, no qual a população sem oportunidades de trabalho no campo se vê obrigada a migrar em direção aos centros urbanos em busca de novas oportunidades de trabalho e sustento.

Qual é o efeito social da redução do número de trabalhadores no campo?

Estrutura móvel para irrigação de plantações possibilitou o cultivo em locais cada vez mais áridos. Foto: Bob Pool / Shutterstock.com

Não é de se estranhar que geralmente os movimentos de trabalhadores e pequenos proprietários que se sentiram prejudicados praticam ações de destruição de máquinas, considerando elas o símbolo da exclusão. Isso ocorreu no ludismo nas fábricas europeias do século XIX e em algumas manifestações de trabalhadores sem-terra.

Outra questão levantada como impacto negativo é sobre os impactos ambientais desta mecanização, tanto nos efeitos colaterais que eventualmente podem ser causados sobre o solo, o ar e as águas em função de um manejo predatório na agricultura, quanto também as questões ligadas ao bem-estar animal e as constantes críticas sobre o sofrimento animal na pecuária, especialmente na mecanizada.

Há também uma crítica sobre a exclusão dos pequenos produtores da possibilidade de conseguir adquirir (de forma suficientemente adequada) os recursos necessários para mecanizar as suas plantações e criações, enquanto os grandes produtores rurais cada vez mais conseguem automatizar os seus latifúndios, gerando inclusive uma concorrência cada vez mais desigual entre grandes e pequenos produtores rurais.

Qual é o efeito social da redução do número de trabalhadores no campo?

Colheitadeiras e caminhões aumentam a produção no campo. Foto: Kletr / Shutterstock.com

Os pequenos produtores não conseguirem ter o acesso adequado a essa mecanização do campo influencia diretamente na produção agrícola de um modo geral, afinal, são eles a maioria dos produtores rurais. Por exemplo, no Brasil, os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina possuem uma quantidade de pequenos produtores que representam cerca de 60% das propriedades rurais.

Referências: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co185.htm

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/geografia/mecanizacao-do-campo/

Por que as pessoas deixaram o campo e foram para as cidades?

Êxodo rural é o processo de migração de pessoas do campo para a cidade. Muitas causas podem ser associadas a ele, como a modernização da produção agrícola, a concentração fundiária, a busca por melhores condições de vida e melhores empregos, entre outros fatores.

Por que atualmente o campo produz mais utilizando menos Mão

Resposta. Porque hoje em dia temos mais maquinas e cada vez mais modernas, fazendo com que nao seja mais necessaria uma grande quantidade de mao de obra para realizar a colheita, pro exemplo. Uma colheitadeira faz o serviço de 20 pessoas e em uma fracao do tempo.

Como o processo de modernização do campo ficou conhecido no Brasil e por quê?

Resposta: Esse processo ficou conhecido como cercamento, ele ficou conhecido assim porque cercavam as terras.