Porque quem tem gastrite não pode comer feijão?

Especialistas explicam problemas digestivos e dão dicas para aliviar a condição sem ter uma dieta restritiva

A história se repete com frequência: após comer certos alimentos, você se sente estufado, com dores abdominais e mais gases. O incômodo, que não é incomum, é causado pela má digestão, que ocorre quando o organismo não consegue digerir por completo as moléculas dos alimentos. Um dos grupos que mais apresentam problemas é o dos carboidratos fermentáveis, como feijão, brócolis e batata.

É possível, no entanto, evitar os desconfortos da má digestão sem excluir leguminosas, hortaliças e outros alimentos da dieta, o que poderia acarretar em perdas nutricionais graves. Para discutir esse tema, o gastroenterologista Vitório Luis Kemp, gerente médico da Apsen Farmacêutica, e o nutrólogo Roberto Navarro participaram do Minha Vida ao Vivo.

Veja as principais perguntas da entrevista abaixo ou clique aqui e assista na íntegra em nossa página no Facebook:

Roberto Navarro: Geralmente, os alimentos mais ricos em carboidratos fermentáveis estão no grupo das leguminosas, como feijão, lentilha, ervilha, grão de bico e soja. E algumas hortaliças, como couve, couve-flor, repolho e brócolis. Esses são os campeões em carboidratos fermentáveis.

Roberto Navarro: Com um diagnóstico clínico, que é a queixa do paciente que mais nos chama atenção. Ele refere, depois de comer certos alimentos, o surgimento de estufamento, gases e flatulência. Às vezes, o intestino solta e ele fica com sensação de desconforto abdominal também.

Roberto Navarro: Sim, na maioria das vezes. Desconfortos como estufamento, gases, cólicas em alguns casos e também a mudança da consistência das fezes são os mais frequentes.

Vitório Luis Kemp: As pessoas, muitas vezes, já reconhecem essa sensibilidade, o que auxilia bastante no diagnóstico. Durante a consulta, fazemos perguntas e conseguimos localizar qual é o desconforto que mais incomoda.

Vitório Luis Kemp: O nome fermentável é justamente porque ele produz gás. Quando o alimento não é completamente digerido pelo trato gastrointestinal, acabam sobrando moléculas de açúcares que vão para o intestino grosso. Lá, são as bactérias que fazem a digestão. Nesse momento, elas produzem ácidos e gases, que é o fundamento da fermentação. Então, a fermentação é a produção de gases e ácidos pelo metabolismo dos carboidratos.

Vitório Luis Kemp: Ela é conhecida pelo nome de Digeliv. Existem alguns açúcares formados por grandes moléculas, chamados de carboidratos, que nosso organismo tem dificuldade de digerir. Então, essa enzima faz exatamente isso: ajuda nosso organismo a fazer digestão desses carboidratos. Com isso, não sobram moléculas de açúcar para as bactérias do intestino, que é onde surge o desconforto. Ela evita que a pessoa se sinta mal, atacando antes do problema começar.

Vitório Luis Kemp: Ele vem na forma de um envelope. Você joga sobre a salada ou no feijão, dependendo do alimento ao qual você tem sensibilidade. O uso é como se fosse um tempero. À medida que você começa a mastigar, ele já faz efeito. É imediato.

Roberto Navarro: Para conseguir absorver o que comemos, o alimento precisa passar por quebras. E essa digestão depende da produção de enzimas digestivas, que nós temos que produzir. Algumas pessoas tem má digestão para determinados alimentos, por exemplo, por produzir menos enzimas. Na questão dos carboidratos fermentáveis, nós, humanos, não produzimos a enzima alfa-galactosidase. Então, Digeliv vai cumprir o papel daquilo que não produzimos. É a má digestão que leva ao aumento da fermentação no intestino, gerando todo o quadro clínico de desconforto e estufamento. Essa é uma maneira de diminuir o risco de ter os sintomas desencadeados pela má digestão. No caso de Digeliv, é a enzima alfa-galactosidase que traz esse complemento para o que não estamos executando.

Vitório Luis Kemp: As pessoas começam a evitar esses alimentos. Mas os carboidratos são componentes fundamentais da nossa alimentação. Eles contêm fibras, sais minerais e vitaminas. E também contêm o que a gente chama de proteína vegetal, que é uma parte muito importante. Você poderia falar mais sobre isso para a gente, Navarro?

Roberto Navarro: O aporte proteico é fundamental para a saúde humana. O que preocupa é que cada vez mais a gente exclui alimentos, porque digere mal ou porque alguém elege o alimento como vilão. E na nutrologia nós sabemos que a diversidade alimentar é importante, para ter certeza que estamos ingerindo minerais, vitaminas, aminoácidos, glicose, galactose, frutose e os ácidos graxos que vêm das gorduras. Todos eles cumprem funções importantes no nosso organismo. Então, nenhum deles vai fazer mal - pelo contrário, nosso corpo precisa.

A variabilidade alimentar existe quando você come 30 alimentos diferentes dos grupos alimentares, como legumes, verduras, cereais, carnes, ovos, frutas e a questão da proteína. Ela entra na formação e renovação de todos os nossos tecidos. Só que a proteína de origem animal gera, depois de metabolizada, um produto final chamado amônia. E no nosso organismo ela é considerada tóxica. O que nosso corpo faz? Manda embora. Então, a amônia formada pela proteína é jogada no figado, que a transforma em ureia e a gente manda para o rim e urina. Por isso, recomenda-se para não sobrecarregar esse sistema de desintoxicação da amônia, ingerindo metade do aporte proteico necessário de origem vegetal, justamente por elas não serem tão geradoras de amônia. Quais são as principais representantes de proteína no reino vegetal? Feijão, ervilha, lentilha e soja. Então, a gente não pode excluir um alimento pelo fato de digeri-lo mal se conseguimos contornar esse problema com uma enzima digestiva, como no caso de Digeliv, que facilita a digestão do alimento que causa desconforto. E, assim, você mantém o aporte proteico correto, preenchido por parte do reino vegetal.

Roberto Navarro: A digestão começa na boca. Entre os maus hábitos, estão comer rápido ou falando, alimentar-se sob estresse, deglutindo ar junto e outros. Comer é quase como uma meditação, um momento sagrado. Não podemos comer apenas pelo hábito de jogar algo na boca, mastigar e engolir por causa da falta de tempo. Então, a mastigação já é o primeiro erro. Os macrobióticos sugerem que a gente mastigue pelo menos 30 vezes antes de engolir, para já facilitar o processo de digestão.

Vitório Luis Kemp: Bastante. Primeiro porque dilui a acidez do estômago. Esse órgão sabe que você está engolindo algo, ele entende que tipo de alimento vem em seguida. Então, o estômago se prepara para digerir exatamente isso. Quando se joga qualquer tipo de líquido, você dilui esse meio e vai ter mais dificuldade para fazer a digestão dos alimentos. E bebidas com gás vão prejudicar ainda mais, porque elas distendem o estômago mais do que a própria alimentação faria.

Não se esqueça: o médico e o nutricionista são as fontes indicadas para orientação de tratamentos e uso de medicamentos. Portanto, se você sentir os incômodos típicos da má digestão com muita frequência, marque sua consulta.

Confira a entrevista completa na página do Facebook do Minha Vida.

Médicos consultados: Vitório Luis Kemp - CRM 49885 - SP

Roberto Navarro - CRM 78392 - SP

Quem está com gastrite pode comer feijão?

Pode comer feijão? Não existe nenhum alimento formalmente contra-indicado para pacientes com gastrite. Cada caso é analisado individualmente numa consulta. De uma maneira geral, orientamos que o paciente evite o alimento que seja o gatilho dos seus sintomas.

Porque feijão faz mal para gastrite?

Para algumas pessoas, o feijão pode causar flatulência, dor de estômago e inchaço abdominal. Isso se deve à presença de açúcares chamados oligossacarídeos, que podem causar problemas digestivos.

Como fazer o feijão para quem tem gastrite?

De qualquer modo, há como prevenir a maior formação de gases. O segredo que pode acabar com os gases é deixar o feijão, e outras leguminosas (como ervilha, lentilha, grão de bico, etc), de molho durante a noite ou trocando a água a cada 3 horas. Troque a água também antes de cozinhá-lo bem.

Quem tem gastrite pode comer arroz com feijão?

"Couve, bertalha, rúcula e os alimentos verde escuros são ótimos porque alcalinizam o pH do estômago e equilibram a acidez", diz. Ela também indica uma alimentação mais simples, como arroz, feijão, grãos, peixe ou frango.