Quem eram os burgueses por que o rei e a burguesia se alcançaram quais as vantagens que esses dois grupos obtiveram ao se unir?

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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Costuma entender-se por burguesia uma camada social da Era Moderna, que abrangia tanto banqueiros e ricos comerciantes quanto pequenos comerciantes e jornalistas. Como parte do terceiro estado, a burguesia não tinha acesso o poder político monopolizado pelo clero e pela nobreza. Após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial no século XVIII, contudo, sua influência econômica cresceria enormemente, e atualmente se compreende o termo burguesia como a classe social que detém os meios de produção, sendo portadora do poder político.

A consolidação da burguesia como classe deu-se conjuntamente com a diminuição da influência dos senhores feudais no período final da Idade Média, ainda no século XIV, quando uma epidemia de peste bubônica agravaria a já existente paralisação do mercado agrícola feudal. Antes atuante apenas nas cidades ou burgos – vocábulo latino em sua origem de onde veio seu nome -, a burguesia expandiria sua força econômica ao adquirir as terras que os grandes senhores já não tinham condições de manter. Paulatinamente, então, o eixo financeiro da Europa acabaria se alterando do campo para as cidades, que cresceriam de maneira substancial, juntamente com o comércio feito dentro de suas muralhas. Necessitando do pagamento de mais impostos para expandir a máquina administrativa dos reinos que se centralizavam politicamente, os reis se aliariam com a burguesia ao promover a economia mercantil; bastante importante, neste sentido, seria o incentivo feito à manutenção de rotas comerciais dentro e fora do continente europeu e à exploração colonial, especialmente nos reinos ibéricos.

Apesar de toda a sua contribuição para fortificar os Estados Nacionais, entretanto, a burguesia continuaria subserviente à aristocracia, que fora cooptada e subjugada pelos monarcas. Apesar da importância crescente da classe para a economia europeia no início da era industrial, o Antigo Regime europeu apresentava constantes obstáculos para a expansão da produção. Podemos ver um exemplo elucidativo disso na França pré-Revolução. Ao contrário da Inglaterra, o Estado regido pela dinastia Bourbon cobrava altos impostos e taxas da burguesia, além de submetê-la às restrições ocasionadas devido aos privilégios da nobreza. Um dos motivos da popularidade do Iluminismo entre a burguesia seria exatamente a denúncia por parte dos intelectuais das contradições e injustiças encontradas em um Estado que beneficiava uma pequena elite ociosa e penalizava todo o resto da população, incluindo a burguesia que tanta riqueza trazia ao reino.

Quando o rei Luís XVI (1754 – 93) subiu ao trono na década de 1770, o Estado francês já se deparava com uma crise financeira em grande parte ocasionada pela desigualdade na cobrança de impostos, situação que só se agravou com a participação de França na Guerra de Independência Americana. Após o clero e a nobreza vetarem as primeiras tentativas de reforma tributária, o rei foi obrigado a convocar os Estados Gerais. Nesta ocasião, o terceiro estado viu sua chance de debater problemas políticos e separam-se do resto da reunião, declarando-se em Assembleia Nacional Constituinte. Era o início da série de eventos que levaria ao fim da monarquia em França, à execução do rei Luís XVI e da impopular rainha Maria Antonieta e da subida da classe burguesa ao poder político, de onde nunca mais sairia em caráter definitivo – alterando profundamente, assim, o caráter da política europeia.

Bibliografia:

BRAVO, Gian Mario. “Burguesia”. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfrancesco (orgs.) Dicionário de Política, Volume 1. Brasília: Editora UnB, 1998. pp. 119-120.

LIMA, Lizânias de Souza; PEDRO, Antonio. “Das monarquias nacionais ao absolutismo” e “Da revolução iluminista à Revolução Francesa”. In: História da civilização ocidental. São Paulo: FTD, 2005. pp. 141-145 e pp. 251-256

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/burguesia/

Quem eram os burgueses por que o rei e a burguesia se alcançaram quais as vantagens que esses dois grupos obtiveram ao se unir?

Quem eram os burgueses por que o rei e a burguesia se alcançaram quais as vantagens que esses dois grupos obtiveram ao se unir?
Pintura “O cambista e a sua mulher”, de Quentin Massys. Retrata a burguesia.

O termo “burguesia” virou praticamente um jargão presente em qualquer discussão política. Mas você sabe o que esse termo significa? Frequentemente utilizado como sinônimo de elite, o conceito de burguesia data do século XI, em referência à uma classe social que surgia naquele período histórico.

Compreender a história e as características dessa classe social é fundamental para o entendimento sobre economia e política, uma vez que a burguesia é responsável pelo surgimento do capitalismo e por importantes marcos históricos, como as Revoluções Francesa e Inglesa. Além disso, este termo também é essencial para a ideia de luta de classes, central no debate político desde o século XIX.

Por esta razão, neste post o Politize! explica a evolução histórica dessa classe social, desde seu surgimento  no século XI até os dias atuais.

Primeiramente, qual é a definição de burguesia?

A burguesia consiste na classe social dominante dentro do sistema capitalista. Trata-se, na prática, daquele grupo de pessoas que detém os bens de produção ou o capital.  

Originalmente, o termo burguesia está associado ao vocábulo “burgos”, como eram chamadas as pequenas cidades que surgiram com o renascimento da atividade comercial no fim da Idade Média.  Dessa forma, a palavra burguesia surge para denominar a classe social comerciante que ascendia com o enfraquecimento do feudalismo.

No entanto, é importante enfatizar que esta não é uma classe social homogênea. A burguesia não é composta apenas pelos proprietários dos meios de produção, como os donos de fábricas, por exemplo. Essa classe social pode ser dividida em: alta burguesia (aquela que de fato detém os meios de produção); média burguesia (comerciantes e profissionais liberais); e pequena burguesia (pequenos comerciantes e artesãos).

Origem histórica da burguesia

Entre os séculos XI e XIV a Europa vivia o feudalismo  — sistema de organização econômica baseado na posse de terras, na descentralização do poder e na produção para subsistência. Ou seja, o Estado era dividido em feudos onde os senhores feudais eram a principal autoridade. Nos feudos a mobilidade social era inexistente, e as únicas classes sociais eram nobreza, clero e servos. A produção do feudo era apenas para subsistência, sem existir comércio ou uma moeda.

O renascimento da atividade comercial

No século XIV o cenário estava modificado, principalmente em função das Cruzadas, que desenvolveram relações comerciais entre Ocidente e Oriente. Desta forma, a atividade comercial foi renascendo na Europa, a partir da realização de feiras que vendiam os artefatos trazidos do Oriente. O surgimento dessas feiras estimulou na Europa a produção artesanal e têxtil, pois parte da classe servil passou a produzir mercadorias que pudessem oferecer nessas feiras. Ao redor delas foram surgindo pequenas cidades, denominadas burgos.

A ascensão burguesa e o início do sistema capitalista

A mobilidade social, até então inexistente no sistema feudal baseado na produção para subsistência,  passou a ser uma possibilidade. Isso porque, com o comércio, produtos passaram a ser trocados por moeda. Ao invés de trocar um produto por outro, passa a ser possível trocar um produto por dinheiro, e parte desse dinheiro poderia ser guardado, originando uma forma de acúmulo de riqueza.

Assim surgiu, de dentro do estrato social dos servos, uma nova classe social: a burguesia, composta por aqueles pequenos comerciantes que ascenderam de classe social em função do excedente que obtiveram por meio da atividade comercial.

É essa atividade comercial, desenvolvida pela burguesia, que originou a lógica da mercadoria, central ao sistema capitalista. Como mencionamos, a economia do feudalismo era voltada para a manutenção dos feudos. Com o advento da atividade comercial, produtos passaram a ser trocados não por outros produtos, mas por dinheiro. Dessa forma, a lógica de produção auto suficiente foi substituída pela lógica da produção para acumulação de riqueza, característica do capitalismo.

O surgimento do Estado Nação

Como mencionamos, durante o feudalismo o poder político era descentralizado, dividido entre rei e  nobreza (senhores feudais, que eram as autoridades locais). No entanto, com a ascensão da burguesia esse sistema político começa a ser inviabilizado. Isso porque a burguesia sentia-se prejudicada pelos senhores feudais, que cobravam altos tributos e não ofereciam as condições necessárias para o desenvolvimento da atividade mercantil.

Desta forma, a classe burguesa que ganhava poder apoiou a centralização do Estado na figura de um rei absolutista. Assim surgiram os Estados Nação, por meio de uma aliança entre burguesia e rei. A partir de então os tributos passaram a ser pagos diretamente ao Estado, que deveria proporcionar um ambiente favorável para o desenvolvimento do comércio.

As Revoluções Burguesas

Quem eram os burgueses por que o rei e a burguesia se alcançaram quais as vantagens que esses dois grupos obtiveram ao se unir?
Pintura “A liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix. Representa a Revolução Francesa.

Em um primeiro momento, a classe burguesa, que começava a conquistar uma posição econômica importante na sociedade, apoiou a centralização do Estado por sentir-se prejudicada pela nobreza feudal. Mas a aliança entre burguesia e absolutismo atingiria seu limite.

Embora fosse a classe social economicamente dominante e responsável pelo sustento do Estado (uma vez que nobreza e clero não pagavam tributos); a burguesia ainda não era a classe social privilegiada. Boa parte dos ganhos da classe burguesa eram destinados ao sustento da nobreza e do clero. Além disso, a monarquia colocava empecilhos ao desenvolvimento capitalista, pois estabelecia limites ao livre comércio e priorizava a atividade agrícola.

Para além das questões econômicas, a classe burguesa também não desfrutava de liberdades individuais – como a liberdade religiosa, por exemplo.

Por essas razões, surgiram na França e Inglaterra revoluções lideradas pela burguesia e apoiadas pelos camponeses contra o poder absolutista, denominadas de Revoluções Burguesas.

Dessa forma, as Revoluções Burguesas podem ser entendidas como levantes da população (burguesia + camponeses) contra o poder absolutista. As Revoluções Francesa e Inglesa são os principais exemplos, onde a burguesia conseguiu derrubar o poder absolutista e tomar o poder político.

Etapas do desenvolvimento da burguesia

Burguesia mercantil

A classe burguesa nasce da classe servil, por meio do desenvolvimento de atividades comerciais. Inicialmente, foram os pequenos artesãos e vendedores de têxteis e posteriormente, comerciantes de maior porte que enriqueceram por meio do comércio marítimo.  

Trata-se do período do mercantilismo, onde predominava a lógica do acúmulo de metais preciosos e o sistema feudal era recém substituído por uma forma primitiva de capitalismo.

Burguesia industrial

No século XVIII o avanço da atividade comercial levou ao desenvolvimento das indústrias. A classe burguesa era, naquele momento, formada por proprietários dos meios de produção, ou seja, os donos das fábricas. Foi o desejo da classe burguesa de aumentar seu lucro que impulsionou o desenvolvimento industrial.  

Luta de classes: a burguesia em oposição ao proletariado

Como mencionamos, o conceito de burguesia é fundamental para compreender grandes acontecimentos históricos e políticos. Falamos da criação do Estado Nação, da origem do sistema capitalista e das Revoluções Burguesas. Agora, falaremos sobre outro importante acontecimento político que marcou a história: o surgimento do socialismo.

O conceito de burguesia é central para a teoria marxista,  que desenvolve a ideia de luta de classes. A teoria de Karl Marx é construída a partir da ideia de que a sociedade capitalista é dividida em dois grupos antagônicos.

O primeiro grupo, a burguesia, é composto por aqueles que detém os meios de produção e bens de capital e, por essa razão, exploram a mão de obra de outros. O segundo, por sua vez, é o proletariado, que consiste naqueles que não possuem a propriedade dos meios de produção e, consequentemente, têm que vender sua força de trabalho.

A teoria de Karl Marx foi escrita com base na produção industrial, onde o dono da indústria (burguês) explora a mão de obra daqueles que não possuem outra forma de subsistência (proletários).   

Na visão da teoria marxista, a partir dessa relação de exploração de uma classe por outra, a burguesia enriquece às custas do trabalho do proletariado.

Atualização de um conceito: a burguesia nos dias de hoje

Com a Revolução Industrial e posteriormente com a financeirização da economia, identificar e caracterizar quem é a burguesia na atualidade tornou-se uma tarefa mais complexa. Embora o termo tenha surgido em referência a classe comerciante que estava em ascensão, é importante enfatizar que o ponto central da ideia de burguesia é que essa é a classe detentora do capital.  

Isso significa que, em uma economia complexa como a nossa, a burguesia é uma classe cada vez mais heterogênea, no sentido de que desenvolve uma ampla variedade de atividades. No entanto, permanece como características inerente a burguesia o controle sobre a propriedade e o capital.

Como bem coloca Norberto Bobbio em seu Dicionário de Política:

“Sofreu, desta forma, mudanças fundamentais a própria composição sociológica da classe que leva a denominação genérica de “Burguesia”.  O que não se modificou é o fato que esta classe gere, em primeira pessoa ou servindo-se de mediadores, o poder na sociedade capitalista industrial.”

Como buscamos demonstrar, contar a história da burguesia é contar a história do mundo ocidental como o conhecemos: baseado no Estado Nação e no sistema capitalista.  

Conseguiu entender quem é a burguesia e a história dessa classe social? Deixe suas dúvidas e sugestões nos comentários!

REFERÊNCIAS

Brasil Escola: Surgimento burguesia

Brasil Escola: O que é burguesia

Educação Uol: Estados Nacionais

InfoEscola: Revoluções burguesas

Stoodi: Burguesia

Toda Matéria: Revolução Francesa

Toda Matéria: Revoluções Burguesas

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Quais as vantagens da união entre o rei e a burguesia?

A burguesia se beneficiou com a existência de uma só língua, uma só moeda e mais segurança nas transações comerciais. O rei também se beneficiou, pois obteve mais dinheiro, exército e poder em suas mãos.

Quem eram os burgueses por que o rei e a burguesia se alcançaram quais as vantagens que esses dois grupos obtiveram ao se unir?

Aprovada pela comunidade. na idade média,eles habitavam as zonas comerciais,eram os donos das fábricas e das terras.. 2 Como os burgueses tinham muito dinheiro e os reinos da Europa queriam descobrir mais de suas terras e explorar suas riquezas, então a burguesia apoiavam economicamente o rei..

Quais as vantagens para a burguesia?

Necessitando do pagamento de mais impostos para expandir a máquina administrativa dos reinos que se centralizavam politicamente, os reis se aliariam com a burguesia ao promover a economia mercantil; bastante importante, neste sentido, seria o incentivo feito à manutenção de rotas comerciais dentro e fora do continente ...

Quais as vantagens obtidas pela burguesia ao firmar a aliança com o rei?

Benefício para a expansão do comércio, o fortalecimento do Estado-nação, por seu turno, induzia ao aumento dos impostos para o pagamento de exércitos profissionais, do corpo jurídico, da máquina administrativa e, em alguns casos, para comprar a submissão e a fidelidade da nobreza ao rei.