Quem era o presidente brasileiro durante a Primeira Guerra Mundial?

Documentos guardados no Arquivo do Senado lançam luzes sobre um episódio esquecido da história: a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Os registros mostram que as opiniões de Ruy Barbosa, senador na época, foram cruciais para que o Brasil decidisse declarar guerra contra os impérios centrais e enviar homens e navios para a Europa.

— Tenho sido acusado de estar pregando a guerra no continente americano em paz — discursa Ruy Barbosa (PRL-BA) em maio de 1917, no Palácio do Conde dos Arcos, a sede do Senado, no Rio. — Não, senhores senadores, não preguei até hoje a guerra. A guerra não é matéria de arbítrio, deliberação ou escolha, mas uma situação criada pela Alemanha, que, envolvendo todos os países neutros na mesma situação dos beligerantes na guerra naval, não deixa aos neutros outro caminho senão o de aceitar a guerra que ela declara.

A Alemanha era um dos impérios centrais, ao lado do Império Austro-Húngaro e do Império Turco-Otomano. Esse grupo estava em guerra contra os chamados aliados — Reino Unido, França, Rússia e, mais tarde, Estados Unidos. Quando a guerra é deflagrada, o Brasil opta pela neutralidade. A situação muda depois que submarinos alemães torpedeiam navios comerciais brasileiros. Inconformado, Ruy Barbosa insiste que o país não pode tolerar a ofensiva do “enxame de submarinos”:

— A Alemanha arroga a si o direito estupendo, inominável e infernal de matar indistintamente, como carga nos navios que destroem, os seus capitães, os seus tripulantes e os seus passageiros. É ilógico, é absurdo sustentar a neutralidade brasileira. Quando uma nação chega ao extremo, à miséria de não ter meios de se defender, de ser obrigada a tolerar em silêncio absoluto e resignação ilimitada todos os atos contra o seu direito, a sua honra e a sua existência, essa nação perdeu o direito de existir.

A gota d’água é o torpedeamento do navio brasileiro Macau, em outubro de 1917, na costa espanhola. Antes de a embarcação ir a pique, dois tripulantes foram capturados como prisioneiros de guerra. Dias depois, o governo finalmente declara guerra.

Ruy Barbosa tem papel decisivo. Por um lado, é um dos mais influentes conselheiros do presidente Wenceslau Braz. Antes de tomar a resolução, o mandatário se reúne com o senador. Por outro lado, Ruy Barbosa combina seus conhecimentos de direito internacional com seu poder retórico para convencer os colegas do Senado a aprovar no mesmo dia a declaração de guerra proposta pelo presidente.

— Não obstante a nossa relativa pequenez, a nossa notória ausência de recursos, [ao aprovar o estado de guerra] daremos o passo mais grave, mais extraordinário dos anais do Parlamento brasileiro. O mundo nos começará a olhar como nação capaz de virtudes e heroísmos.

Ruy Barbosa é uma das figuras brasileiras mais admiradas de todos os tempos. Além de senador, foi advogado, jurista, jornalista, diplomata, ministro, deputado, ensaísta e até presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi ministro da Fazenda logo no primeiro governo da República.

A passagem pelo Senado foi longeva, de 1890 a 1921. Candidatou-se duas vezes à Presidência da República, sem sucesso. Representou o Brasil na Conferência de Paz de Haia, em 1907, onde ganhou respeito internacional por brigar pelos países fracos contra os interesses das potências. Foi então que ganhou a alcunha de Águia de Haia.

No Brasil, os partidários dos aliados normalmente utilizavam argumentos ideológicos ou econômicos — o Reino Unido era um grande parceiro comercial e mantinha muitos investimentos no país. Diferentemente deles, Ruy Barbosa escolhe seu lado na guerra baseado em questões jurídicas. Explica Christiane Laidler, professora de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj):

— Para Ruy Barbosa, a Alemanha violava as regras do direito internacional. Ele apontava os crimes de guerra e o desrespeito à neutralidade dos países, como a invasão de Luxemburgo e da Bélgica. A Alemanha representava uma ameaça à segurança de todas as nações, sobretudo as pequenas, que dependiam do direito para se protegerem dos países que usavam a força.

A Primeira Guerra Mundial terminaria um ano depois da adesão brasileira, em 1918, com um saldo de 16 milhões de mortos. O Brasil figuraria entre os vitoriosos.

Venceslau Brás Pereira Gomes, filho de proprietário de terras, era nativo do Estado de Minas Gerais. Graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1890. Antes de tornar-se presidente da República, Venceslau Brás ocupou os cargos de prefeito de Monte Santo - MG (1890-1891), deputado estadual (1892-1898), deputado federal (1903), presidente de Minas Gerais (1909), dentre outras funções públicas.

Venceslau Brás sucedeu o governo do qual fora vice-presidente da República, de Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). O governo anterior foi bastante turbulento, marcado pela constante instauração de estado de sítio e por conflitos rurais, urbanos e militares. Por isso buscava-se um sucessor presidencial civil que apaziguasse o país. E Venceslau Brás parecia ser, para a maioria das oligarquias, o representante mais apto a governar sem o recurso de medidas excepcionais. O deputado Pinheiro Machado, com forte influência na política nacional, desistira de candidatar-se à presidência da República, e declarou apoio a Venceslau Brás que disputou o cargo contra Rui Barbosa. Venceslau Brás foi eleito diretamente para o cargo de presidente que assumiu em 15 de novembro de 1914.

Quem era o presidente brasileiro durante a Primeira Guerra Mundial?
Quem era o presidente brasileiro durante a Primeira Guerra Mundial?

Em 1914, a Guerra do Contestado ainda estava em andamento. E Venceslau Brás enviou contingentes do Exército para combater os camponeses que ocupavam a região disputada pelos Estados do Paraná e Santa Catarina. A Guerra do Contestado estendia-se desde 1912, e foi um dos conflitos que revolveu o mandato presidencial militar de Hermes da Fonseca. O conflito somente foi encerrado, em 1916, com a dissolução do povoado, a morte de muitos camponeses e a resolução da questão dos limites entre os dois Estados.

Quando Venceslau Brás assumiu o mandato presidencial, a Primeira Guerra Mundial já havia eclodido. Era preciso o governo definir a posição do país diante dessa conflagração. Nos primeiros anos da guerra adotou-se a neutralidade. Em 1917, o torpedeamento do navio Paraná por submarinos alemães desencadeou os conflitos entre Brasil e a Tríplice Aliança. Em retaliação ao ataque ao navio brasileiro, os navios alemães ancorados em portos brasileiros foram confiscados. Em outubro de 1917, os alemães afundaram o navio brasileiro Macau, em decorrência disso o governo brasileiro declarou-se em estado de guerra contra a Alemanha. A participação do Brasil na guerra foi moderada, restringindo-se ao envio de um grupo de aviadores, de um corpo médico militar, e de uma flotilha para o policiamento da costa noroeste da África.

A Primeira Guerra Mundial impactou a importação de produtos para o Brasil. Desse modo, houve a necessidade de desenvolver mais a diversificação da agricultura e da indústria nacionais. A exportação de café também foi prejudicada. Para conter a queda do preço foram queimadas cerca de três milhões de sacas, assegurando a valorização do produto entre 1917-1920. Nesse processo, o país deixou de ser apenas um exportador de café e borracha. Passou a produzir diversas mercadorias (algodão, tecidos, carvão, carnes, cereais), a extrair mais metais (manganês e ferro), além de desenvolver a indústria bélica, usinas elétricas e siderúrgicas.

A exportação de alimentos para os países aliados gerou o aumento dos preços desses produtos no mercado interno. Em 1917, houve uma Greve Geral dos trabalhadores contra a carestia desencadeada por essa política econômica voltada para o mercado exterior. Destacaram-se na greve a categoria dos operários das indústrias têxteis de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em São Paulo, aderiram à greve cerca de cinquenta mil trabalhadores. Em represália às paralisações, o governo federal enviou navios de guerra para o porto de Santos. No entanto, o movimento grevista continuou ativo e eclodiram constantes greves até o ano 1919. Não houve empenho do governo federal para atenuar o problema da carestia, e para conter o movimento grevista os operários do setor têxtil receberam 10% de aumento salarial.

Dentre as medidas adotadas no mandato presidencial de Venceslau Brás para restaurar o sistema representativo no país estiveram a promulgação do primeiro Código Civil brasileiro em janeiro de 1916 e a elaboração de um novo Código Eleitoral.

Para a sucessão presidencial, Venceslau Brás apoiou a candidatura do ex-presidente Rodrigues Alves que foi eleito pelo voto direto. No entanto, Rodrigues Alves não assumiu o cargo devido a problemas de saúde. Em janeiro de 1919, o sucessor a presidência da República faleceu, assumindo o posto o vice-presidente eleito, Delfim Moreira.

Referências:

CALMON, Pedro. “Em tempo de Guerra”. In: História social do Brasil, volume 3: a época republicana. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 191-200.

FARIA, Helena. Wenceslau Brás (Verbete). Rio de Janeiro: FGV/CPDOC.

FAUSTO, Boris (org.). O Brasil Republicano: v. 9; Sociedade e Instituições (1889-1930). 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p.154-155.

Biografia Wenceslau Brás. Disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/wenceslau-braz/biografia.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/governo-de-venceslau-bras/

Qual o presidente do Brasil na 1 Guerra Mundial?

Venceslau Brás foi o nono Presidente da República brasileira, governando entre os anos de 1914 a 1918, eleito em substituição a Hermes da Fonseca como candidato de consenso entre as elites paulistas e mineiras, que estavam alinhadas no Partido Republicano Paulista e no Partido Republicano Mineiro, respectivamente.

O que o Brasil fez na Primeira Guerra Mundial?

A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial foi estabelecida em abril de 1917, após os alemães terem afundado navios brasileiros. Seis meses depois, o Brasil declarava guerra ao Império Alemão e mandou enfermeiras, médicos e aviadores que fizeram missões de observação no Mar Mediterrâneo.

Quem o Brasil ajudou na Primeira Guerra Mundial?

O Brasil participou da guerra ao lado das potências da Tríplice Entente, lideradas por Inglaterra, França e, um pouco depois, pelos Estados Unidos da América.