O determinismo é uma corrente teórica que afirma que há um conjunto de condições que determinam as ações dos sujeitos no mundo, especulando, portanto, a existência de uma grande coesão universal que interliga todos os indivíduos como partes de um só contexto. O pensamento determinista esteve presente em diversas áreas do saber, inclusive naquelas consideradas não científicas. Show
Leia também: Positivismo – corrente teórica inspirada no ideal de progresso contínuo Tópicos deste artigo
O que é determinismoA palavra determinismo vem do verbo “determinar”. O verbo determinar advém do latim determinare, que significa, literalmente, “terminar para fora”, ou seja, terminar com vistas a algo externo. O determinismo enquanto corrente filosófica afirma que existe uma cadeia de relações causais (de causa e efeito) que determinam padrões de construção do mundo, interferindo inclusive nas ações e na vida das pessoas. O determinismo parte da ideia de que há uma determinação da ação e da vida dos indivíduos pelo meio, pelos fatores genéticos, pelo contexto religioso ou por algum aspecto. A determinação, nesse sentido, é constante no mundo, o que faz necessário crer que há uma interligação de vários elementos que se relacionam no Universo. Friedrich Ratzel, um dos primeiros pensadores a formular uma teoria determinista contemporânea.Saindo da ciência e da filosofia, se pensarmos na composição astrológica do horóscopo, há uma ideia central de que a posição dos astros no momento do nascimento de uma pessoa determinará traços de sua personalidade. Na concepção judaico-cristã de vida, todas as pessoas têm um destino escrito por Deus e são por ele determinadas. Os gregos antigos acreditavam num tipo de determinismo que ficou conhecido como fatalismo e foi bem exposto nas tragédias gregas. A mitologia grega afirmava a existência de três figuras divinas, as três moiras, que, acompanhadas de outras divindades, determinavam o destino dos humanos. As moiras eram fiandeiras, sendo que uma delas fiava o fio da vida (representando o nascimento), a outra tecia o fio (representando a vida em si) e a última cortava esse fio (representando a morte). A tragédia Édipo rei, escrita pelo tragediógrafo grego Sófocles, faz uma excelente alusão ao fatalismo grego. Édiporei conta a história de Édipo, nascido na família composta por Laio, rei da cidade de Tebas, e sua esposa, Jocasta. Ao consultar o oráculo sobre o destino de seu filho, Laio descobre que Édipo iria matar-lhe e casar-se com Jocasta. Aterrorizado, Laio ordena a um serviçal que abandonasse o bebê entre Tebas e Corinto com os pés amarrados em uma árvore para que ele morresse. No entanto, um pastor encontra Édipo, e o rei de Corinto, Pólibo, adota-o e cria-o como se fosse seu filho legítimo. Ao tornar-se adulto, Édipo consulta o oráculo, que o esclarece sobre sua sentença amaldiçoada pelos deuses: que ele iria matar seu pai e casar-se com sua mãe. Atormentado, Édipo foge de Corinto para que seu destino não se cumprisse. No caminho para Tebas, Édipo encontra-se com Laio, com quem, sem saber que era seu pai e o rei de tebas, tem um desentendimento, matando-o. Na entrada de tebas, Édipo depara-se com a esfinge, uma figura mitológica com o corpo de um leão e a cabeça de uma mulher. A esfinge atormentava a população de Tebas fazendo-lhe enigmas, e quem não os respondesse corretamente era morto. Édipo responde corretamente o enigma: qual é o animal que anda com quatro patas ao amanhecer, ao meio dia, com duas patas, e com três patas, ao anoitecer? A resposta é o homem, que engatinha quando bebê, anda com duas pernas quando adulto, e com o auxílio de uma bengala, quando velho. A esfinge mata-se após um humano responder o seu enigma, e Édipo é considerado herói do povo tebano. Sem rei na cidade, Édipo passa a ocupar o cargo, desposando a rainha, Jocasta, que ele não sabia ser a sua mãe. Édipo e a esfinge em pintura de Gustave Moreau.Horrorizado pela morte do rei de Tebas, Laio, e sem saber que ele o matou, o novo rei, Édipo, anuncia que o assassino, se fosse pego, como pena teria os olhos arrancados. No desenrolar da tragédia, Édipo descobre por um mensageiro que havia sido adotado por Pólibo e que era filho de Laio e de Jocasta. Também descobre que o homem que ele matou era o rei de Tebas e seu pai. Atormentado, Édipo arrancou os próprios olhos e saiu da cidade de Tebas, vagando sem rumo até a sua morte. A noção de fatalismo expressa-se na tragédia, pois, por mais que todos os personagens principais (Édipo, Laio e Jocasta) tentassem fugir dos seus destinos, eles não conseguiram. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Tipos de determinismo
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Leia também: Naturalismo – escola literária que sofreu influências do determinismo social Determinismo e liberdadeUm longo debate travado pela história do pensamento ocidental dá-se entre as questões do determinismo e da liberdade. A princípio, se há determinismo, não há liberdade. Esse problema perpassou a filosofia patrística de Santo Agostinho. Por um lado, o filósofo, teólogo e padre Agostinho de Hipona defendia o dogma pós-determinista da vida vivida para Deus. Por outro lado, assim como o filósofo patrístico Boécio, Agostinho defendia o livre arbítrio que Deus deu ao ser humano para seguir o seu caminho. Se existe o bem e o mal e o ser humano é punido quando segue pelo caminho do mal, ele não pode estar predeterminado a agir dessa maneira por Deus, pois, se assim fosse, Deus seria mal e injusto. Para Agostinho, Deus deu as possibilidades: seguir com ele (e seguir uma forma de pós-determinismo), para alcançar o bem, ou afastar-se dele e alcançar o mal. Outros teóricos resolveram esse problema modificando a noção de liberdade ou simplesmente afirmando que não há liberdade. Para o filósofo alemão contemporâneo Friedrich Nietzsche, por exemplo, não há liberdade completa. Há a possibilidade de mudança por meio da cultura, mas não há liberdade individual completa, pois há o que ele chamou de vontade de poder, que é um conjunto de forças cósmicas que movem a natureza e a vida. Para o filósofo francês contemporâneo Gilles Deleuze, a liberdade não é livre escolha, e sim criação. Nesse sentido, há o determinismo (co-determinismo, na teoria desse filósofo) que não esbarra na liberdade individual, pois todo indivíduo tem capacidade de criar. Para o filósofo francês contemporâneo e existencialista Jean-Paul Sartre, defensor da liberdade incondicional como elemento primordial do ser humano, não pode haver qualquer tipo de determinismo, pois, do contrário, não haveria liberdade, e a única certeza do ser humano é a liberdade. Autores deterministas
Por Francisco Porfírio Qual a diferença entre liberdade e determinismo?Liberdade e determinismo
O conceito de determinismo, muitas vezes, é compreendido como oposto à liberdade. Entretanto, compreende-se que, no caso de um determinismo não absoluto, há a possibilidade de escolhas, por conseguinte, de liberdade.
Qual a visão de Sartre sobre o determinismo?Para o filósofo francês contemporâneo e existencialista Jean-Paul Sartre, defensor da liberdade incondicional como elemento primordial do ser humano, não pode haver qualquer tipo de determinismo, pois, do contrário, não haveria liberdade, e a única certeza do ser humano é a liberdade.
Como Sartre define valor escolha e liberdade?Para o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, o ser humano é condenado a ser livre, e a liberdade reside em escolher e aceitar as consequências de nossos atos. Podemos ainda escolher não escolher; podemos simplesmente não agir, não fazer nada. Porém, ao fazer isso, já estamos escolhendo.
Como se explica a liberdade humana segundo o determinismo?No determinismo, a liberdade de escolha e o livre arbítrio são meras ilusões sustentadas e defendidas por algumas correntes filosóficas. No decorrer da Idade Moderna o determinismo foi o conceito usado para explicar o Universo.
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