Revista: Caribeña de Ciencias SocialesISSN: 2254-7630 Show
Autores e infomación del artículoCamila Correa da Silva* Jadson Justi** Universidade Federal do Amazonas, Brasil RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar as práticas pedagógicas de uma instituição pública de ensino médio técnico situada no Estado do Amazonas, Brasil, no que tange à realidade do aluno surdo. Este estudo contribui com discussão crível a fim de que esses alunos garantam seus direitos previstos na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e na Constituição Federal de 1988, pressupondo a qualidade na educação em nível técnico dos alunos com surdez. Metodologicamente esta pesquisa é caracterizada como descritiva, com abordagem qualitativa. Conclui-se que é fundamental que aconteçam na instituição de ensino profundas transformações em seus suportes físicos, material e pessoal, em sua proposta pedagógica e no setor administrativo responsável pela direção educacional. Dessa forma, é verossímil compreender que o modelo da inclusão presume um espírito democrático, que leve em consideração o processo de ensino-aprendizagem do aluno, bem como a motivação pela participação coletiva. Palavras-chave: Inclusão, Surdez, Educação. DESAFÍOS PARA LA EFECTUACIÓN DE LA EDUCACIÓN INCLUSIVA DEL ALUMNO SURDO RESUMEN Este artículo tiene por objetivo analizar las prácticas pedagógicas de una institución pública situada en el Estado de Amazonas, Brasil, en lo que se refiere a la realidad del alumno sordo. Este estudio contribuye con discusión sistemática a fin de que esos alumnos garanticen sus derechos previstos en la Política Nacional de Educación Especial en la Perspectiva de la Educación Inclusiva y en la Constitución Federal de 1988, presuponiendo la calidad en la educación a nivel técnico de los alumnos con sordera. Metodológicamente este estudio se encuadra como descriptivo, con abordaje cualitativo. Se concluye que es fundamental que ocurran en la institución de enseñanza profundas transformaciones en sus soportes físicos, material y personal, en su propuesta pedagógica y en el sector administrativo responsable de la dirección educativa. De esta forma, es necesario comprender que el modelo de la inclusión supone un espíritu democrático, que tenga en cuenta el proceso de enseñanza-aprendizaje del alumno, así como la motivación por la participación colectiva. Palabras clave: Inclusión, La sordera, Educación. CHALLENGES FOR THE EFFECTIVENESS OF INCLUSIVE STUDENT DEAF ABSTRACT This article aims to analyze the pedagogical practices of a public institution located in the State of Amazonas, Brazil, regarding the reality of the deaf student. This study contributes with a systematic discussion so that these students guarantee their rights foreseen in the National Policy of Special Education in the perspective of the Inclusive Education and in the Federal Constitution of 1988, presupposing the quality in the education in technical level of the students with deafness. Methodologically, this study is classified as descriptive, with a qualitative approach. It is concluded that it is fundamental that profound transformations take place in the educational institution in its physical, material and personal support, in its pedagogical proposal and in the administrative sector responsible for the educational direction. Thus, it is necessary to understand that the inclusion model takes into account the student's teaching-learning process, as well as the motivation for collective participation. Keywords: Inclusion, Deafness, Education. Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: Camila Correa da Silva y Jadson Justi (2018):
“Desafios para a efetivação da educação inclusiva da pessoa surda”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (noviembre 2018). En línea: 1 INTRODUÇÃO Dando início à proposta de pesquisa, apresenta-se aqui o interesse pela temática, que se mostra indispensável para este estudo, porque o
debate é de fato necessário, levando em consideração o contexto histórico das pessoas com surdez, as lutas e conquistas que perpassam décadas e que se mantêm na contemporaneidade por ainda observar muitos desafios e tabus a serem superados. A Educação Inclusiva é uma temática amplamente discutida atualmente e, nos últimos anos, o debate se desenvolveu significativamente na sociedade brasileira. Como resultado, tem promovido a formação e organização de políticas públicas educacionais para a
inclusão de estudantes com necessidades educacionais especiais. 1.1 Da marginalização à emancipação política: contexto histórico das pessoas com deficiência Traçar marcos históricos desse público é necessário sob a perspectiva de superação de preconceitos ou quebra de tabus, haja vista que, para superar o preconceito transmitido, legitimado e sustentado durante o processo de socialização com as pessoas com deficiência, deve haver a preocupação em conhecer a história dessa população, os traços e aspectos importantes que proporcionem uma atitude
reflexiva e crítica sobre eles (Pacheco; Alves, 2007). Na Idade Média, a Igreja Católica teve papel fundamental na discriminação no que se refere às pessoas com deficiência, já que para ela, o homem foi criado à “imagem e semelhança de Deus”. Portanto, os que não se encaixavam neste padrão eram postas à margem, não sendo considerados humanos. Entretanto, isso incomodava a Igreja, principalmente em relação as famílias abastadas. (Honora; Frizanco, 2009: 19). Partindo desse princípio, cada época tinha influenciadores, os quais desempenhavam sempre um papel fundamental para a organização e definição das relações sociais. E a Igreja Católica na Idade Média assumia o papel de reprodutora de ideologia, mantendo seu domínio sobre a sociedade (Hoffmann, 2010). Em relação às pessoas com deficiência, o século XV foi o período em que elas
passaram a ter o interesse da Igreja de forma meramente caritativa, por entender que a doença representava punição. As iniciativas voltadas a essas pessoas seguiram com a ideia de separá-las do convívio em sociedade; e com esse objetivo de segregação é que foram surgindo instituições na Alemanha do século XVIII que serviam como depósitos para pessoas com deficiência, sem o cuidado de tratá-las ou inseri-las na sociedade. Essas medidas também foram reproduzidas por outros países até o início do
século XIX (Zavareze, 2009). A convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência trouxe uma importante inovação no sentido de não se confundir deficiência com incapacidade. Ela toma a deficiência como apenas um fator que gerará impedimentos maiores ou menores conforme as barreiras externas forem reduzidas ou eliminadas por medidas de acessibilidade. (Gonzaga, 2012: 21-22). Nota-se que mesmo diante de iniciativas importantes para romper com as amarras já definidas e estabelecidas por preconceitos, que feriram a “carne” não apenas das pessoas com deficiência como também da própria sociedade, segue-se a tentativa de cicatrizá-las, principalmente quando se trata de uma sociedade diversificada, sendo perceptíveis e marcantes as diferenças. Conclui-se que é daí que vêm os preconceitos, aos quais se apresentam ainda como uma barreira para realizar mudanças no sentido de avançar na luta contra o preconceito (Lima, 2010). 1.2 Abordagem sobre a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva No ambiente educacional, o
favorecimento de grupos a partir da marginalização de outros ganhou mais legitimidade por meio de políticas e comportamentos pedagógicos que retratavam a organização social em vigor. Mesmo em face da democratização educacional e da relação entre inclusão e exclusão, grupos que não seguem as normas de comportamento são ameaçados pela segregação (Dutra et al., 2008). 1.3 Serviço Social e a Educação A perspectiva social vivenciada no ambiente educacional, bem como as muitas representações da questão social, impulsiona o reconhecimento da relevância de atividades profissionais que tenham a interdisciplinaridade como base educacional. Essa base pode
resultar na existência de profissionais que culturalmente não integram o corpo educacional, como o Assistente Social. [...] grandes desafios à educação, sendo o maior deles o de garantir o acesso aos alunos com deficiência em classes das escolas regulares, em todos os níveis, etapas e modalidades de educação. Muitos alunos apresentam altas habilidades, superdotação, condutas típicas de síndromes, quadro psicológico ou psiquiátrico, com deficiência física, sensorial ou intelectual, decorrente de fatores genéticos inatos ou ambientais, de caráter temporário ou permanente. Assim, o ambiente educacional possui uma função relevante referente à receptividade social desses alunos, com a intenção de solucionar os problemas como ideias pré-concebidas que permeiam a política de educação em
similaridade com a ausência de organização que oportunize a inclusão e a permanência na instituição de ensino. O Serviço Social, ao se constituir como uma profissão que atua, predominantemente, na formulação, planejamento e execução de políticas públicas como educação, saúde, previdência, assistência social, transporte habitação, tem o grande desafio de se posicionar criticamente diante da barbárie que reitera a desigualdade social, e se articular aos movimentos organizados em defesa dos direitos da classe trabalhadora e de uma sociedade livre e emancipada, de modo a repensar os projetos profissionais nessa direção. Esses são os compromissos éticos, teóricos, políticos e profissionais que defendemos no Brasil e em nosso diálogo com o mundo. Diante do exposto, o desempenho interdisciplinar do Assistente Social caracteriza-se como uma forma determinante de solucionar impasses sociais e educacionais. Esse profissional encontra na instituição de ensino uma função de sistematizador de políticas sociais importantes à formação cidadã, objetivando reduzir os efeitos deletérios da desigualdade. Ademais, é responsável pela formulação e pelo cumprimento de atividades que possam prevenir e enfrentar acontecimentos procedentes que espelham comportamentos violentos, adversidades entre estudantes, assim como entres os demais colaboradores da instituição educacional. 2 METODOLOGIA Esta pesquisa engendra-se como descritiva, com abordagem qualitativa. De acordo com Rauen (1999), a pesquisa descritiva tem como finalidade conhecer e interpretar a realidade, tendo como interesse descobrir e observar fenômenos, descrevendo-os, classificando-os e interpretando-os. 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 3.1 Levantamento do perfil sociodemográfico Antes da análise ou conclusões a serem tomadas, foi necessária a aplicação do Questionário Sociodemográfico com os alunos surdos, a fim de ter um
breve conhecimento das particularidades desse público, buscando conhecer de onde são e quais as condições em sua totalidade, o que envolve as relações familiares e sociais, apresentando como fundamental para desenvolver um trabalho que almeja apontar supostas estratégias para o enfrentamento da exclusão da pessoa surda. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: De acordo com Soares (2009), um dos impasses, que não beneficiam a efetivação do que se encontra na legislação e harmonioso com os princípios da ótica pedagógica inclusiva, é a desqualificação docente no que tange aos procedimentos educacionais e metodológicos apropriados às necessidades pedagógicas especiais dos alunos que possuem alguma necessidade especial. 3.2 Equipe pedagógica: uma discussão das práticas voltadas aos alunos surdos De acordo com Sá (2010: 14), em uma conjuntura histórica de exclusão e opressão revelam-se os
surdos, pessoas frequentemente “[...] colocadas às margens do mundo econômico, social, cultural, educacional e político; pessoas narradas como deficientes e incapazes, desapropriadas de seus direitos e da possibilidade de escolhas [...]”. Essa questão é direto com a subcoordenadora do núcleo especializado. Ela nunca me procurou pra dizer “ah, como é que eu posso trabalhar?”, que na verdade ela trabalha na tradução, o professor fala e ela explica. Essa questão pedagógica eu não sei como eles trabalham. É evidente a falta de informação entre o profissional pedagogo e a intérprete de LIBRAS, a qual se encontra hoje como subcoordenadora do setor vinculado a pessoas com necessidades especiais, o que se apresenta como um agravante sob a perspectiva inclusiva, pois o pedagogo precisa intervir de maneira participativa nas práticas desenvolvidas na instituição de ensino, contribuindo para a transformação do ambiente educacional,
onde a democracia encontra um solo fértil. O papel do pedagogo é instigar e determinar a prática educativa para alcançar uma educação com mais qualidade que levem em consideração todos os estudantes, sem distinções. Pedagogo: Ah, na teoria deveria ter, mas eles não nos procuram. Porque existe uma sala de atendimento especial. Na verdade, eu não sei como acontece essa questão pedagógica deles. No geral, no setor pedagógico, a gente faz o acompanhamento dos planejamentos dos professores, a gente faz os atendimentos individuais. Enfatiza-se mais uma vez a importância de se trabalhar a temática, pois se nota a carência do conhecimento sobre o processo de inclusão dentro daquele espaço educacional; não basta apenas saber da existência de uma política, é necessária a busca
pela sua efetivação. O que se pode confirmar a partir dos relatos é que a ausência de estratégias pedagógicas abre precedentes na discussão do trabalho no que se refere à negatividade das ações de inclusão. Meu papel é intermediar a comunicação do aluno surdo e do ouvinte e enquanto as práticas pedagógicas eu estou como subcoordenadora do Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais [...]. O que precisa ser entendido é que não é só o núcleo que é responsável, toda a instituição. Então, é preciso um trabalho coletivo pra que eles permaneçam porque não adianta só o Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais fazer o seu papel e quando o aluno vai pra sala de aula ele não tem esse apoio do professor, ele não tem apoio dos colegas porque nem sempre os colegas aceitam o aluno. Em estudo sobre a instituição inclusiva com o trabalho de intérpretes, Zampieri (2006: 83) evidencia que esses, pela iminência com os assuntos relacionados às pessoas com surdez, podem oferecer subsídios significativos ao docente, referente ao desenvolvimento da aprendizagem do estudante: Para que alunos ouvintes e alunos surdos possam ter um grau de desenvolvimento satisfatório na mesma sala de aula, o trabalho de parceria entre a intérprete e a professora, para além de desejável, é fundamental. A intérprete tem condições de contribuir nas questões relativas às especificidades de aprendizagem das crianças surdas, pois visualiza com mais clareza as necessidades destes alunos, bem como as formas pelas quais eles se apropriam do processo de aprendizagem. Mas, nota-se a inexistência de parceria entre professor e intérprete, até mesmo da própria comunidade educacional como um todo
nesse processo. Por meio da fala da profissional intérprete, o educador encontra-se incumbido pelo ensino e seu pleno desenvolvimento, por oportunizar o saber científico ao estudante surdo, e o intérprete assume a responsabilidade de modificar a informação de uma para outra língua. No momento em que há a presença do estudante com surdez, os dois profissionais da educação são importantes: o educador necessita do intérprete para lhe ajudar nos fatores da surdez e da LIBRAS, e o intérprete precisa
de um favorável desempenho e conhecimento do educador para que sua atividade pedagógica alcance efetividade contínua. Intérprete de LIBRAS: [...] outra dificuldade é a relação professor e aluno [...]. Tem aluno que não simpatiza por aquele professor que vê que o professor não tem interesse de ajudar e quando eles sentem isso eles perdem o interesse pela aula, eles apresentam muitas dificuldades com os professores nesse sentido porque o professores eles realmente não tem interesse de ajudar o aluno, ele entra, sai da a aula dele e vai embora, não sabe se o aluno tá com dificuldade se não tá, mas só que no final do semestre, do módulo, o aluno tem que ter uma nota pra ele passar só que muitas vezes ele fica reprovado porque não teve essa comunicação com o professor numa dificuldade, por exemplo, de pedir ajuda do professor, eles não pedem ajuda pro professor, eles pedem ajuda pra mim , então as dificuldades deles são nesse sentido [...]. A comunidade surda no Brasil já foi beneficiada com leis, decretos e portarias que apresentam como finalidade garantir sua admissão ao processo comunicativo e informativo, em diversas realidades. No entanto, o
estabelecimento da legislação necessita de pessoas responsáveis pelo desenvolvimento humano e social, cuja falta de conhecimento a respeito da surdez e dos entendimentos alicerçados em ideias pré-concebidas influencia o desenvolvimento da inclusão de sujeitos surdos na comunidade social, especialmente no ambiente educacional. [...] Outra dificuldade deles é em sala de aula com os alunos porque são poucos os alunos que se sensibilizam no sentido de ajudar eles, né? Como por exemplo nas atividades em grupo, se o aluno não tomar iniciativa de entrar no grupo ninguém convida ele pra entrar no grupo. As vezes o próprio professor monta os grupos, mas quando ele não monta e deixa livre, em aberto, cada grupinho se junta por afinidade, né? Claro! E muitas das vezes o aluno surdo acaba ficando sozinho [...]. A partir do exposto, indaga-se: Qual a verdadeira finalidade do intérprete na instituição? A comunidade acadêmica vem realmente utilizando a língua de sinais para uma comunicabilidade eficiente com o aluno surdo? Em relação ao preconceito, será que se encontra enraizado? Assistente Social: [...] não atuamos, mas em nenhum caso relacionado a pessoa com deficiência, em relação ao apoio, a trabalhar a questão da orientação. E não é por que a gente não quer, é por que a gente não é integrado. A Integração do Núcleo com o serviço social, psicologia, enfermagem. Isso tem que ser uma iniciativa do núcleo. Fatos esses que geram uma série de problemáticas dentro do espaço de ensino técnico, porque o aluno surdo já encontra muitas dificuldades no que tange ao uso da Língua Portuguesa e sua escrita, e a falta de um acompanhamento nesse processo. No sentido de o profissional assistente social não ter essa participação direta com as pessoas com surdez leva, muitas vezes, à desistência desses alunos e a um descaso a esse fato.
Destaca-se que, durante esse processo de pesquisa, a subcoordenadora relatou a existência de um total de sete alunos surdos, e destes apenas três frequentam as aulas e suas atividades, e que não se tem conhecimento de dois desses alunos. Isto revela a fragilidade desse processo, mantendo, assim, a violação e vulnerabilidade no acesso e democratização dos direitos dos cidadãos surdos. Não tenho nenhum dado, já que tem um núcleo especifico de atendimento, ficou muito concentrado. Eles trabalham pra lá de forma individualizada, setorizada não há um diálogo com a gente, e eu sinceramente acho que é uma falha que acontece, mas enfim. Eu espero que isso não se perpetue, que possa ter outros diretores, outros coordenadores que tenham uma visão mesmo de integração porque isso acaba fragmentando a questão do processo de acompanhamento, orientação desses alunos, um olhar, para a efetivação desses alunos. Precisa-se trabalhar em conjunto a integração de equipe. A problemática da Educação Inclusiva necessita de mais atenção, a priori, dos profissionais e em seguida da comunidade social em sua completude, uma vez que ocasiona problemas ao crescimento infantil ou juvenil, como: marginalização, falta de motivação, dificuldades no processo de ensino e aprendizagem. O Assistente Social precisa sugerir, envolver-se e entusiasmar tanto os familiares das pessoas com deficiência, bem como os profissionais envolvidos, a fim de ser mais operante nos mecanismos de comando da sociedade, cumprimento de seus direitos em comunhão com políticas públicas. 3.3 As práticas pedagógicas na ótica do professor do aluno surdo Como dito anteriormente, a fala dos professores é representada pelas siglas P1, P2 e P3, e os participantes surdos e suas respectivas falas, por AS1, AS2 e AS3. Para os professores, levou-se a questão sobre qual a metodologia utilizada em sala de aula, tendo em vista a presença de um aluno surdo: P1: Com ela a gente já vem
aplicando alguma metodologia, principalmente questões visuais, é... questões mais diferenciadas [...] ela tem o auxílio da interprete de Libras. Então a gente faz alguma coisa mas eu acho que eu poderia fazer mais do que eu faço [...]. Então, aí, pra gente tentar eu explico pra tradutora o que é, ela não é da área então eu tenho que explicar pra ela, e ela tentar explicar da melhor forma possível. Aí tem o apoio audiovisual, slides, filmes, imagens mesmo pra ela tentar fixar, mas eu sinto muita
dificuldade, desses três alunos. Na fala de P1, na parte “vem aplicando algumas metodologias”, no entanto, esses métodos estão voltados apenas às questões visuais, como a presença de mais imagens nos eslaides, na tentativa de descrever as práticas pedagógicas na ótica dos professores, e com isso surgem muitas dificuldades, porque se nota a carência de metodologias voltadas para o aluno surdo dentro
da sala de aula. Embora P1 e P3 apresentem seus métodos ou estratégias de ensino, como P3 descreve sobre sua preocupação em aplicar materiais didático-pedagógicos sobre as aulas, P2 deixa claro a inexistência de práticas específicas ao público, o qual deixa a responsabilidade do processo de aprendizagem do aluno para a profissional intérprete. AS2: As atividades em sala de aula são muito difíceis porque as palavras são diferentes então eu não conhecia as palavras da Língua
Portuguesa, e era muita escrita, então como eu ia escrever se o professor só falava? E eu sou surdo! Então como eu ia responder as atividades? Eu tinha muitas dúvidas nas palavras e o professor não utilizava Libras em nenhum momento, então era muito difícil porque eu sou surdo. A gente via também que o professor ficava muito preocupado, ele não sabia fazer a comunicação, e eu tinha que ter muita paciência porque eu queria aprender e não aprendia, então eu pedia ajuda de alguns colegas nas
atividades, meu outro colega escrevia pra mim num papel, e eu pedia essa ajuda no significado das palavras, por exemplo: qual essa palavra, o que ela significa? Então eu ia lá e ok, aprendia e ia pra casa ficar estudando aquela palavra. Mas era muito difícil porque o professor é ouvinte e era difícil fazer as atividades e só meus amigos me ajudavam. Por intermédio dos participantes surdos, descrevem-se as práticas pedagógicas utilizadas pelos profissionais para com eles: exibição de eslaides com
imagens para trabalhar os assuntos em sala. No entanto, AS1, AS2 e AS3 relataram diversas dificuldades em entender, fazendo com que eles próprios criassem estratégias para que a comunicação acontecesse com o professor. P1: [...] quando esses profissionais estiverem no mercado de trabalho e aí encontrar um com a dificuldade dela de áudio-comunicação, vai ter dificuldade técnica mesmo que ela apresentou. De compreender o que é o curso [...]. Porque realmente hoje não tá fazendo inclusão, não completa, a gente tá impondo aí a presença dela na verdade por uma questão legal, e a gente
tem que aturar. Ressalta-se a importância de se trabalhar sobre a política de Educação Inclusiva no espaço de ensino. É fundamental conceituar e apresentar marcos históricos que norteiam esse processo de construção de uma política e conceitos básicos sobre o que é exclusão, segregação, integração e inclusão. Isto faz parte da história e do porquê da construção dessas políticas que nem mesmo os professores têm
conhecimento, e isso os remete a reproduzir práticas integrativas e que vêm reportar a segregação e a discriminação, muito bem claro nas falas, com destaque ao P1, quando se refere à presença do aluno surdo em sua sala de aula como um ato de “aturar”. O conhecimento científico no século XIX e na primeira metade do século XX contribuiu também para a segregação dos deficientes da vida social [...]. Assistimos, principalmente na primeira metade do século XX, à proliferação de instituições especializadas nos vários tipos de deficiências, ao mesmo tempo em que houve um aprofundamento do conhecimento específico ligado a cada uma delas. Por outro lado, essas instituições também cumpriram um importante papel de manter as pessoas deficientes apartadas da vida social, sem acesso aos bens culturais e aos direitos de cidadania. Na segunda metade do século XX, o referido sistema passa a ser interpelado, baseado essencialmente no interesse de se evidenciar o debate sobre os valores do sujeito, manifestados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), e em suas repercussões futuras, concretizados em inúmeros movimentos e asserções governamentais (Organização das Nações Unidas, 1948). [...] A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos
os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Ao inserir pessoas com deficiência em seu corpo discente, a instituição lócus deste estudo encontra uma série de problemáticas já mencionadas. Para AS2, a ausência do intérprete de LIBRAS nas aulas presenciais revela a fragilidade na proposta de um sistema educacional inclusivo. Durante anos, ele foi ligado somente como processo de integração, distante de uma inclusão que proporcionasse uma formação de qualidade e equidade. Ele se fazia presente em sala de aula, mas não contava com a mediação de um profissional intérprete, revelando, dessa forma, mais uma violação do direito do estudante surdo, o qual passa a tomar para si o êxito na qualificação do processo de ensino-aprendizagem, mas que de acordo com o artigo 24, item 5, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009): 5. Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino superior em geral, treinamento profissional de acordo com sua vocação, educação para adultos e formação continuada, sem discriminação e em igualdade de condições. Para tanto, os Estados Partes assegurarão a provisão de adaptações razoáveis para pessoas com deficiência. (Brasil, 2009). Discutir a temática é deparar-se com uma série de questões que precisam ser colocadas em evidência, haja vista que é perceptível a carência de trabalhos sobre a educação do surdo, de maneira especial, dentro de um âmbito de educação técnica. O que justifica um olhar
direcionado à educação técnica é por ela ter um arsenal de informações de natureza técnica e que são desconhecidas pela comunidade surda dentro das suas significações, pois na LIBRAS não consta o significado de palavras técnicas específicas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de a Educação Inclusiva ser um debate de grande relevância, ainda é pouco discutida no ambiente acadêmico e de pouco interesse da sociedade. Ela deve ser encarada não apenas como um objeto de estudo, mas como uma oportunidade de mudança à realidade das pessoas com deficiências, e que necessitam de um olhar para além da ajuda
que muito foi mencionada durante a pesquisa dentro da instituição, de um espaço que lhes seja adequado em todos os aspectos, para que de fato se tenha uma educação na perspectiva inclusiva. REFERÊNCIAS AINSCOW, M. (1998). Educação para todos: torná-la uma realidade. En: AINSCOW, M.; PORTER, G.; WANG, M. (Org.). Caminhos para as escolas inclusivas. Instituto de Inovação Educacional, Lisboa. p. 11-31. *Pesquisadora
da Universidade Federal do Amazonas.Universidade Federal do Amazonas. Nota Importante a Leer: Quais os principais desafios enfrentados pelo professor com os alunos com deficiência?Entre as principais dificuldades encontradas percebeu-se a superlotação das salas de aula, a falta de especialização dos professores e o pouco apoio que recebem da instituição e do sistema de ensino.
Quais os desafios do trabalho na educação especial?Esses comportamentos se revelam, por vezes, nos atritos que marcam a comunicação entre professores, pais e alunos. Somado a isso existem outros desafios como: tornar o processo de aprendizado atraente, ter perspicácia e cordialidade no trato com a hierarquia, bem como outros limites a eles relacionados.
Quais os maiores desafios em sua prática profissional para efetivação de uma educação inclusiva?Conheça-os a seguir:. Comunidade escolar despreparada para lidar com a inclusão. ... . Infraestrutura escolar que não atende às especificidades da educação inclusiva. ... . Preconceito. ... . Déficit de profissionais especializados.. Quais os principais desafios dos professores em uma sala de aula inclusiva?Assim, um dos maiores desafios da formação docente na perspectiva inclusiva é instigar o educador a, além de conhecer as singularidades dos processos pedagógicos de cada um de seus estudantes para identificar meios de garantir o direito à aprendizagem, buscar reconhecer, juntamente com toda a equipe da escola — e ...
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