Quais os papéis principais que realizam uma representação Segundo Goffman?

Introdução 
 

E. Goffman, estuda as relações entre os indivíduos como uma acção que o indivíduo trata consciente ou inconscientemente de manipular a impressão que os demais recebem dela.

Segundo este autor, os indivíduos são actores que desempenham certos papeis e as representações são as acções distintas, fazendo com que o outro acredite na imagem de si próprio.

Deste modo, o relacionamento humano assume a qualidade de uma máscara. Cada pessoa, assim, se veste de uma persona, e essa persona, por sua vez, deve revelar um eu apropriado para cada ocasião e, ao mesmo tempo, esconder um self  que, se revelado, poderia  inibir, embaraçar ou distorcer o seu propósito. Segundo o autor, todo ser humano é ciente dessa personificação, mas, de qualquer forma, a meta última dos dramas naturalistas representados no teatro da vida é desvendar o drama escondido, e os actores reais, no teatro secreto da mente.  
 
 

Desempenhos 

 "desempenho": actividade de um indivíduo verificada durante um período marcado pela sua presença contínua perante um conjunto de observadores e com alguma influência sobre estes. 

O indivíduo quando desempenha um papel pretende que os espectadores acreditem nele, assim como nos atributos que demonstra possuir, deste modo o indivíduo organiza o seu desempenho e exibição atendendo ao que as outras pessoas possam vir a considerar sobre o mesmo.

Muitas vezes, o actor crê na impressão de realidade que transmite aos que o rodeiam, de tal modo que pode chegar a ser tomado pela própria acção, isto é, acredita que a impressão da realidade que encena é real.

Contudo, existem dois tipos de actor: o cínico e o sincero sendo o primeiro quando o indivíduo não acredita na sua própria representação nem tem um interesse essencial na convicção da sua audiência. Porém, um indivíduo cínico pode iludir a sua audiência em vista do que considera o bem dela. Por sua vez, o dito “sincero”, surge quando o indivíduo acredita na impressão que o seu desempenho visa causar.  
 

 

Fachada 

 "fachada": parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de maneira genérica e fixa a fim de definir a situação para os que observam o desempenho. 

O indivíduo mostra no seu quotidiano uma máscara ou fachada que serve para uma acção de acordo com uma situação dada e com uma personalidade que se forma a partir de pautas culturais fechadas em torno das suas vivências.

Deste modo, o actor mostra-se como ele considera que os outros o vêm em relação com o seu estatuto, actuando assim de acordo com o que crê que esperam dele. 

A dramatização das acções realiza-se dentro de um espaço físico, que se denomina por cenário. Nele, os actores desenrolam a acção perante uma audiência.

Manipula-se a audiência por meio de acções que mostrem o que o actor considera que se espera dele, em uns casos porque assim se vê a si mesmo, em outros porque aparenta ser o que não é. 
 

Realização Dramática

 O actor deve adoptar a sua fachada principal (postura) ao seu papel e dramatizá-lo (sinais, tiques que vão dar brilho aos seus comportamentos). Pois, o indivíduo na presença de outros age de modo característico, utilizando sinais que expressam factos confirmatórios sobre si mesmo.

 Porque, para que a actividade do indivíduo seja significativa para os outros, ele tem de fazer com esta expresse durante a interacção aquilo que ele pretende transmitir.

Deste modo, muitas vezes o actor pode ser obrigado a exprimir as capacidades que afirma durante a interacção e a faze-lo numa fracção de segundo da interacção em curso.

Ex.: para parecermos seguros damos uma ideia de decisão e reacção rápida Idealização

      Goffman defende que os actores proporcionam aos espectadores uma impressão idealizada, na medida em que tentam corresponder às expectativas exigidas, seja pela profissão, situação, meio em que se encontram, pessoas que as rodeiam. Daí se possa afirmar que tentamos ser melhores do que aquilo que realmente somos, o que conduzirá ao mesmo tempo a um aperfeiçoamento da nossa própria personalidade.

      Enquanto actores, tentamos fazer com que o nosso comportamento e atitudes ilustrem os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade. Se esses valores forem desempenhados correctamente, então, segundo Raddcliffe Brown e Durkheim, dá-se um rejuvenescimento dos mesmos e a realidade assumirá as características de uma celebração.

    

  Para que a imagem se mantenha idealizada, é preciso que se conserve a fachada. Assim, acontece muitas vezes a dissimulação dos erros que ocorreram durante um qualquer processo, mostra-se o produto final e dá-se a ideia de infalibilidade.

Manutenção da fachada

      Na sequência do que foi referido anteriormente, chega-se à importância da manutenção da fachada, o que obriga o actor a não vacilar enquanto representa, para que não corra o risco de não transmitir que aquilo que representa é a realidade.

      Ao ser descoberto, corre o risco de ser visto como um impostor, ou alguém que não sabe bem o que faz. Daí que seja importante não admitir três tipos de incidentes, que muitas vezes permitem ao espectador desconfiar das capacidades do actor. São eles o permitir-se a bocejar, tropeçar, e então transmitir a impressão de incapacidade ou desrespeito; enervar-se, saltar linhas, o que mostra o interesse demasiado ou demasiado pequeno naquilo que está a fazer, e por último não pode permitir que a sua representação seja inadequada à situação.

      Há que ter em atenção estes aspectos e outros para que a fachada seja mantida. Quando o actor é “conhecido” como impostor, então mesmo antes de representar, podem ser-lhe apontadas falhas e acusações, pode ser humilhado e desacreditado, ficar sem hipóteses de tentar convencer a audiência.

      O problema da representação, é exactamente a busca pela perfeição, a dicotomia humano-actor, uma vez que o primeiro tem impulsos, emoções “desenquandradas” e desejos que, enquanto actor, tem que ser obrigado a ignorar, em função da sua representação. 
 

Falsa Representação

      Se o impostor não tiver sido descoberto, então tem o poder de manipular os espectadores em função da sua habilidade para enganar. Quando a audiência é orientada pelas deixas do actor, este sabe que está a ser especialmente observado, os espectadores procuram saber se a actuação é verdadeira ou falsa, podendo este ser o maior factor que evita o actor de manipular, juntamente com o medo, a culpa e vergonha.

      A falsa representação está bastante ligada à manutenção da fachada, uma vez que também aqui o actor corre o risco de ser descoberto, visto como um impostor, desacreditado e humilhado, talvez até sem hipóteses de voltar a representar determinadas situações.

Mistificação 

Goffman considera que os indivíduos realçam certos aspectos e dissimulam outros. Vejamos que, se afirmarmos que a percepção é uma forma de contacto e participação, então, o controlo do que é percebido é o controlo sobre o contacto que se estabelece. Logo, ao limitarmos e regularmos o que é mostrado estamos a limitar e regular o que é contactado. Assim, se denota uma relação entre termos informacionais e termos rituais.

Se houver uma falha na regulação da informação que é adquirida pela audiência podemos estar face a uma falha na projecção da informação, razão pela qual esta está a ser mal captada pela audiência.

Se houver uma falhar na regulação do contacto então o actor pode estar a mistificar a sua imagem aos olhos daqueles que o estão a observar , isto sucede no caso de se conservar uma distancia social que cria um ambiente muito formal entre a audiência e o actor.

Tal como disse Cooley, o homem pode dar aos outros uma imagem falsa de si mesmo. Vejamos a título de exemplo, a presença da autoridade, consideremos um líder pleno de autoridade não se dá a conhecer ao seu súbdito criam nesse caso uma distanciação de tal forma, que o súbdito pode criar, através da sua imaginação, uma imagem totalmente distorcida da verdadeira pessoa que é o seu líder. Podemos ver isto na Historia do rei Haakon, de onde retiramos algumas frases que consideramos representativas desta questão, “…a familiaridade trás consigo o desdém.”, “…o povo não quer um rei que trate de igual para igual mas sim uma figura nebulosa como o oráculo de Delfos”.

Este tipo de teoria faz com que a audiência olhe para o actor segundo as circunstancias em que este se encontra. Como já foi dito este procedimento pode ser causado pelo actor através da manutenção da distancia social mas também há uma imensa influencia por parte da audiência que age de forma respeitosa considerando o actor como uma reverencia.

Tal como diz Simmel, há uma esfera ideal que rodeia todo o ser humano, esta difere de pessoa para pessoa, e altera também o seu tamanho. Esta esfera não pode ser invadida, no momento do relacionamento, pois estaríamos a destruir o valor da personalidade do outro individuo, isto acontece pois esta esfera é a honra de cada pessoa, o raio da esfera é delimitador da distancia cuja transposição pode significar a ofensa a outrem.

Segundo Durkheim, afirma que, seja qual for a função que o actor tem para com a audiência, as inibições desta, permitem ao actor um certo campo de manobra, uma vez que pode cria uma imagem de si conforme o seu agrado ou até cria-la à luz do que a audiência deseja. No entanto, esta imagem é bastante fraca porque se fizermos uma análise mãos aprofundada deparamo-nos com a possibilidade de poder destrui-la uma vez que a desvendamos por completo. Os aspectos que são ignorados e postos de lado pela audiência são aspectos que se fossem desvendados poderias criar vergonha ao actor, isto acontece devido ao respeito que o actor exige e conserva da sua audiência.

Riezler propõem que possuímos uma moeda em que uma das faces é o medo respeitoso e outra a vergonha, isto é a audiência pensa existir enormes segredos e mistérios por trás do desempenho do actor, enquanto este tem a sensação de que os seus segredos pouco interessam. Vemos isto nos famosos contos de fadas que todos nós conhecemos, na maioria das vezes estes contemplam grandes segredos cobertos de mistério, e mais tarde concluímos que o verdadeiro segredo que o mistério esconde é muitas vezes que não há segredo algum. 

Realidade e Artifício 

Goofman destaca dois modelos do senso comum segundo os quais formamos as nossas concepções comportamentais: sendo a primeira o desempenho verdadeiro, sincero e honesto e o desempenho falso que nos são transmitidos quer sejam de forma irreal como vemos no teatro que de uma forma sério como no caso de um burlão. Consideramos o primeiro como não tendo um plano delineado e como uma actividade que um individuo realiza sem ter consciência dos seus gestos em determinada situação. E normalmente consideramos os desempenhos de artifício como constituídos meticulosamente, e os aspectos do comportamento não correspondem a nenhuma realidade.

Vejamos então que esta dicotomia não é mais do que a filosofia dos actores uma vez que tem mais opções podem melhor desempenhar o seu papel. Existindo muitos indivíduos que acreditam que aquilo que desempenho é realmente a realidade real percebemos que os actores podem desempenhar os seus papéis sendo sinceros ou insinceros, mas à uma condição permanente é que o actor tem que estar sinceramente convencido da sua sinceridade. Tenhamos em conta que este tipo de comportamento não é condição para um bom desempenho de determinado papel. O facto é que este tipo de papeis dúbios têm sucesso sendo por vezes mantidos por longos períodos de tempo, um exemplo disto é por exemplo as pessoas que são espiões mas que mantêm outras profissões normais como qualquer outra pessoa.

Isto conduz-nos a pensar que, normalmente aquilo que as pessoas são é o que estas demonstram, mas que isto pode também ser uma mera criação. Assim, vemos que existe uma relação entre as aparências e a realidade, no entanto, esta não é intrínseca nem necessária, como já vimos, uma pessoa pode intencionalmente criar a aparência que deseja revelar ás outras.

Então verificamos que o desempenho honesto tem uma ligação menos consistente com a realidade do mundo, pois a honestidade pode afectar negativamente a realização do papel do actor uma vez que ao ser sincero pode não conseguir controlo a sua imagem interior da realidade.

Aqui chegamos novamente à diferença entre os dois modelos de comportamento do senso comum atrás distinguidos pelo autor, para desempenhar um papel teatral é necessário competências e aptidões que não é qualquer um que as possui, é claro que todos possuímos a capacidade de interpretar um papel e aprende-lo com alguma rapidez mas não devemos confundir esta capacidade que possuímos, graças à nossa interacção social, que se desenrola com papeis, do mesmo modo como se desenrola a trama num palco de teatro. A obra em estudo contem uma frase bastante elucidativa deste facto, “Os textos escritos para o teatro, mesmo nas mão de actores impreparados, parecem ganhar vida uma vez que a própria vida é uma encenação.”

Erving Goffman, ao contrário do que se possa pensar não considerava a vida um palco considerava antes que era difícil delimitar os modos que o permitiam não ser um palco.

Este considera que o facto de todos conseguirmos passar da encenação de um papel a outro, quando nos é pedido, deve-se ao facto de conseguirmos andar para trás com as nossas vidas e assim, não só conseguimos voltar a representar antigos papeis que um dia já fizemos, mas também representar papeis que outros representaram para nós. Assim, quando o individuo passa a possuir um papel diferente no todo social não tem que aprender todos os procedimentos novamente, é suposto que os traga consigo de outros papeis por ele anteriormente desempenhados, e que lhe sejam dados os novos, tudo o resto o individuo conseguira fazer sozinho pois também já adquiriu uma rotina antecipada que lhe permite conjugar todos os novos aspectos com os antigos.

No teatro sabemos a partida que grande maioria dos momentos os actores sabem como colocar o corpo ou para onde olhar e mesmos as expressões que devem fazer, isto é-lhes fornecido pelas indicações cénicas e outras. No entanto, os desempenhos legítimos da vida quotidiana são totalmente diferentes, muitas vezes as expressões feitas pelo individuo e os seus movimentos apesar de não serem prescritos como no teatro são feitos com o intuito de provocar determinada reacção ou sentimento que o individuo já espera que aconteçam. Em conclusão, somos mais e melhores actores do que aquilo que julgamos ser. Mas é relevante percebermos que parar sermos um determinado tipo de pessoa temos que ter certos atributos e comportarmo-nos da mesma forma que essa personagem e tentar corresponder ao seu grupo social. Esta última característica é muito importante pois o estatuto social não é material, logo vamos ter de o estudar para que possamos representa-lo correctamente, é deste estudo que dependem os comportamentos correctos que são desempenhados por essa classe.

Sartre, a respeito do desempenho dos papéis e com tudo o que isso implica, oferece-nos um exemplo que se baseia na profissão de um merceeiro. Este diz que o publico é muito exigente com a personagem do merceeiro, a audiência quer um merceeiro genuíno, autêntico, ele não pode ter nada que fuja à sua posição. Considera que a realidade embarca várias medidas que tem como objectivo aprisionar o homem naquilo que ele é, como se tivessem medo que ele se soltasse e fugir da sua condição.  

Conclusão 

      Após a realização deste trabalho podemos concluir que todos os indivíduos desempenham um papel individual na sociedade e ele espera ser convincente de tal modo que todos acreditem nele. Este papel vai revelar-se a mascara da própria pessoa, a sua fachada, que o individuo tem que carregar durante o seu quotidiano.

      Esta fachada pode ser alterada, a condição da pessoa na sociedade pode variar, no entanto, o individuo vai conseguir desempenha-la, se que necessite de aprender tudo novamente, pois já representou outros papeis, o que quer dizer que já trás no seu passado um material que lhe permitira juntar aos aspectos do novo papel.

      Tendemos a querer corresponder às expectativas que nos são depositadas, até, se possível ultrapassá-las, correndo assim atrás da idealização de uma forma de sermos melhores do que somos, mas que nos permita ao mesmo tempo melhorar as nossas características enquanto pessoas. Ao mesmo tempo que buscamos a idealização, temos também consciência de que estamos a representar e que quaisquer incidentes podem fazer com que sejamos descobertos e humilhados, tentando então manter a nossa fachada fugindo dessas rasteiras e tentando convencer os espectadores de que a realidade representada é a realidade real.

      No entanto, o indivíduo pode dar a conhecer de si aquilo que melhor lhe convir ou por vezes ser mal interpretado devido à situação em que se encontra não lhe permitir ser ele próprio. Dá-se também o caso de o individuo que é actor, captar as fragilidades da sua plateia e construir a sua imagem conforme aquilo que a audiência espera dele ou conforme o que ele considera mais indicado. 

Como ocorre a representação do eu no cotidiano para e Goffman?

De acordo com Goffman, o ator social tem a habilidade de escolher seu palco e sua peça, assim como o figurino que ele usará para cada público. O objetivo principal do ator é manter sua coerência e se ajustar de acordo com a situação. Isso é feito, principalmente, com a interação dos outros atores.

Qual o conceito de interação social segundo Goffman?

Para Goffman, as interações sociais são as influências que os indivíduos irão exercer uns aos outros, quando se encontram juntos. suas intenções, durante interação social com outros, em um determinado período de tempo.

Qual a teoria de Goffman?

Goffman acredita em face "como uma construção sociológica de interação, não é inerente nem um aspecto permanente da pessoa". Uma vez que um indivíduo dispõe de uma auto-imagem positiva de si mesmo para os outros, esse indivíduo sente a necessidade de manter e viver de acordo com essa imagem.

Qual é a relação entre a obra de Goffman a representação do eu na vida cotidiana e a peça de Shakespeare Como gostais?

Sua impressionante obra A representação do eu na vida cotidiana (1956) remete às linhas da peça Como gostais de Shakespeare sobre as sete idades do homem para a metáfora do teatro social: O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, que entram nele e saem.