A ABOLIÇÃO DESCRITA POR MACHADO DE ASSIS Show “Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a imperial princesa regente sancionou com euforia, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu, o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem o favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio e carnaval. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto em toda minha vida”. Paço Imperial, Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial, em 13 de maio de 1888, Rio de Janeiro. Fotografia: Wikimedia CommonsInfelizmente os livros de História privam o povo brasileiro de conhecer a Família Real, principalmente a sua importância e sua luta pelo fim da escravidão no Brasil. A seguir, fotos e informações retiradas do acervo do Museu Imperial de Petrópolis RJ IHGB, via Equipe Pedro II do Brasil. D.Pedro II e familiaEm 1871, a Imperatriz Teresa Cristina doou todas as suas joias pessoais para a causa abolicionista, deixando a elite furiosa com tal ousadia. No mesmo ano A Lei do Ventre Livre entrou em vigor, assinada por sua filha a Princesa Imperial Dona Isabel. O bairro mais caro do Rio de Janeiro, o Leblon, era um quilombo que cultivava camélias, flor símbolo da abolição, sendo sustentado pela Princesa Isabel. José do Patrocínio organizou uma guarda especialmente para a proteção da Princesa Isabel, chamada “A Guarda Negra”. Devido a abolição e até mesmo antes na Lei do Ventre Livre , a princesa recebia diariamente ameaças contra sua vida e de seus filhos. As ameaças eram financiadas pelos grandes cafeicultores escravocratas. A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos imóveis da família. D. Pedro II tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos. O Parlamento sempre negava o projeto de lei, pois muitos tinham influências diretas ou indiretas com os grandes cafeicultores escravocratas. Se tratando de uma MONARQUIA CONSTITUCIONAL PARLAMENTARISTA, o imperador não tinha o poder para decretar leis sem aprovação da maioria do parlamento. Princesa Isabel recebia com bastante frequência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época. Na casa de veraneio em Petrópolis, Princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los. Os pequenos filhos da Princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista. Pedro II criou uma cota para negros alforriados ingressarem no Colégio Pedro II e nas Faculdades. Essa cota não foi aprovada pelo parlamento, porém Pedro II tirou de seus próprios proventos a garantia da cota. No período de 1872 e 1889 centenas de ex-cativos se tornaram médicos, advogados, engenheiros… Graças a chamada “bolsa do imperador”. “Estudos do IHGB e FGV entre 1992 e 2010, concluíram que se o reinado de Pedro II ou a continuação de seus planos por sua filha Princesa Isabel tivessem mais 15 anos de duração, 67% das favelas e por consequência 43% da violência e tráfico de drogas não existiriam na cidade do Rio de Janeiro e provavelmente em outras grandes metrópoles como São Paulo que emergiam na época.” A Família Imperial e a Libertação de Petrópolis. O Evento mais importante realizado no Palácio de Cristal de Petrópolis ( Presente do Conde D’eu para sua esposa Princesa Isabel por 20 anos de casamento em 1884 ) foi no domingo de Páscoa de 1886, na qual a Princesa Isabel e seu marido o Conde D’Eu, organizaram uma “festa da liberdade“ e junto a seus filhos, os príncipes Pedro de Alcântara e Dom Luis Maria, entregaram 503 cartas de alforria aos últimos escravos da cidade Imperial, marcando a extinção da escravidão em Petrópolis. Estavam na cerimônia o gabinete ministerial de João Alfredo, os abolicionistas André Rebouças e José do Patrocínio e diplomatas dos Estados Unidos e da Alemanha. Décadas depois, em 1921, o empresário Assis Chateaubriand, visitou a Princesa Isabel na Normandia, na época com 75 anos de idade, doente e abatida pelas mortes de seus filhos Dom Antônio e Dom Luis Maria, e fez a seguinte pergunta ao visitante ilustre: “E então doutor Assis, como estão os negros de Petrópolis?” Chateaubriand, que não fazia ideia do que a Princesa estava falando respondeu: “vão bem, alteza, os seus negros vão muito bem”. Dona Isabel do Brasil morreria semanas depois por complicações de uma Gripe. Discurso do Prelado Dom João Fernando Santiago Esberard para a Imperial Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos do Rio de Janeiro durante as festividades da Lei Áurea. “Sem duvida, a história nacional inscrevera, com áureos caracteres. em seus monumentos imortais, a data gloriosa de 13 de maio de 1888. Desse dia em diante pode o Brasil sentar-se com fronte erguido no convívio das nações civilizadas. O grande império sul-americano não tinha mais que velar, perante a humanidade, a envergonhada face. Estava morto o estigma da escravidão! Em toda a extensão do Império, do Amazonas ao Rio Grande do Sul e do Atlântico aos confins de Goias e Mato Grosso, quer nas cidades, quer nos campos, já se não ouvem as vozes ameaçadoras dos senhores fulminando anátemas sobre uma raça infeliz, e cessaram para sempre os gemidos contristadores das vitimas. Esta proclamada a Liberdade! Doravante o solo sagrado da pátria não sera mais profanado pelas lagrimas e sangue do cativo, regando os sulcos forcados. Ao homem livre esta reservada a honra de fecunda-lo com o suor laborioso de seu rosto, mas suor espontâneo e por isso enobrecedor. Esta Repudiada essa herança de ignominia que o Brasil, malgrado seu. recolheria nos tempos coloniais na hora de sua emancipação politica. Fora este, o seu grande pecado de origem. Merce de Deus, que para destruiu-lo não foi necessário um copioso batismo de sangue fraterno, que se derramara, em medonha guerra, na possante Confederação da America do Norte. Aqui bastou o sinal de uma mulher. Porque, se a nação inteira se moveu, pelo órgão de seus legítimos representantes, moveu-se a um aceno desta mulher. Bendita Seja Ela! A sua mão benéfica, que já estancara em dias idos a manancial horrendo do cativeiro, cujas águas lodosas contaminavam as gerações nascentes, a colocou com firmeza heroica o selo da legalidade ao ato do poder legislativo, abolindo a escravidão Oh! Maravilha! A voz de Isabel ruiu com estrepito a nefanda instituição” Carta do Maestro Carlos Gomes a Princesa Isabel apos a Abolição da Escravidão. “Milão, 29 de julho de 1888 Senhora, Digne-se Vossa Alteza acolher este drama, no qual um brasileiro tentou representar o nobre caráter de um indígena escravizado. Na memorável data de 13 de maio, em prol de muitos semelhantes ao protagonista deste drama, Vossa Alteza, com ânimo gentil e patriótico, teve a glória de transmudar o cativeiro em eterna alegria da liberdade. Assim, a palavra Escravo no Brasil, pertence simplesmente à legenda do passado. É, pois, em sinal de profunda gratidão e homenagem que, como artista brasileiro, tenho a subida honra de dedicar este meu trabalho à Excelsa Princesa, em quem o Brasil reverencia o mesmo alto espírito, a mesma grandeza de ânimo de D. Pedro II, e eu a mesma generosa proteção que me glorio de haver recebido do Augusto Pai de Vossa Alteza Imperial. Hoje, 29 de julho, dia em que o Brasil saúda o aniversário da Augusta Regente, levo aos pés de Vossa Alteza este Escravo, talvez tão pobre como milhares de outros, que abençoam a Vossa Alteza na mesma efusão de reconhecimento com que sou de Vossa Alteza Imperial, súdito fiel e reverente. Antonio Carlos Gomes.” Após a assinatura da Lei Áurea, a Princesa Isabel recebeu essa do Maestro Carlos Gomes contendo uma partitura de sua mais nova Ópera “Lo Schiavo” em homenagem ao Movimento Abolicionista Brasileiro. A Ópera teve estreia no Teatro Pedro II no Rio de Janeiro em Setembro de 1889 com a presença da Família Imperial” Princesa IsabelCarta descoberta em 2007 em meio ao arquivo do Memorial Visconde de Mauá RJ, de Princesa Isabel para o sócio de Mauá. A carta rompe com os boatos históricos da “rivalidade” entre Mauá e a Monarquia. A verdade aparece clara que eram cúmplices em projetos sociais. Trecho final da carta da Princesa Isabel.Trecho da carta de Isabel para Visconde de Santa Victoria sobre o Futuro dos libertos, Reforma Agrária e Sufrágio Feminino: “11 de agosto de 1889 – Paço Isabel Corte midi Caro Senhor Visconde de Santa Victória Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas. Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil. Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o nosso Brasil! Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos, realizando uma grande e verdadeira reforma agrária a quem é de direito. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo nosso Brasil. Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre! Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu tão estimado sócio, o grande e mui querido Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos maldosos ingleses de forma desonesta e absolutamente corrupta! A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil! Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar e realizar mais um pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos e que seus sustentos sejam realizados de forma honrosa. Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino ! Se a mulher pode reinar também pode votar ! Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe! Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família. Muito de coração ISABEL” Lei Áurea, que aboliu a escravatura no BrasillIsabel e Pedro II, 1870” Meu pai Pedro II lutou por décadas junto aos parlamentares para que seu sonho de uma nação justa e livre para todos fosse concretizado” “Muitos tentaram e conseguiram adiar esse sonho, porém o justo prevaleceu” “Várias leis como as do O Ventre livre e do Sexagenário foram conquistadas com grande esforço de meu pai Pedro II, indo contra os dominantes de nossa economia que não o pouparam de sofrer um dos sentimentos mais sujos que é a vingança” “Fomos expulsos de nossa terra, onde nasci, cresci e fiz o que achei possível dentro de minhas possibilidades como mulher junto ao meu pai e seus ministros” “Espero que os militares tenham um dia a consciência que ter um cargo de poder, significa servir ao povo, não que o povo lhe sirva”. ( Princesa Isabel, 1895). “Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à escravidão!” ( Princesa Isabel, 1888). Fontes via Equipe Pedro II do Brasil :– Anuário do Museu Imperial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro– Memorial Visconde de Mauá RJ , Museu Imperial de Petrópolis RJ IHGB. |