14 min leitura Show Este primeiro artigo de 2021 é uma homenagem a elas, as temidas, as poderosas, aquelas que fazem mesmo os mais corajosos gritarem e correrem quando elas voam, os insetos da sub-ordem Blattaria, cujos representantes são popularmente conhecidos como baratas, e claro, suas implicações à segurança dos alimentos. As baratas compõem um grupo de insetos cosmopolita, ou seja, encontram-se em todo o mundo, sendo que menos de 1% delas são das espécies consideradas sinantrópicas (cerca de 40 espécies), isto é, as que se instalam nos povoamentos humanos beneficiando-se das condições ecológicas criadas pelo processo de urbanização. Ainda assim, elas são uma praga capaz de trazer muitos problemas para as indústrias e para a saúde humana.
Para exemplificar, agora enquanto eu pesquisava para este artigo, minha filha passou e perguntou o que eu fazia, respondi que escrevia sobre baratas, e frente a minha resposta ela só soltou um “ai que que nojo, pai!”. Baratas são insetos onívoros altamente adaptáveis que se alimentam basicamente de qualquer coisa orgânica que encontram dando mole por aí, como restos de comida, plantas murchas, animais em decomposição e fezes. Claro que também se alimentam das coisas boas que possam vir a encontrar na sua casa ou no seu trabalho, como a comida deixada num pote mal fechado, o alimento esquecido fora da geladeira, o resto de comida grudado na louça do jantar que ficou na pia de um dia para o outro, restinhos de comida na sua escova de dentes, os restos aderidos em máquinas e equipamentos na indústria alimentícia, os produtos caídos em locais de difícil higienização, os produtos ou matérias-primas mal protegidos que aguardam reprocesso ou estão em áreas de produtos não conformes, etc. Estima-se que existam entre 3.700 a 5.000 espécies de baratas no mundo, de acordo com a National Pest Management Association (NPMA), agrupadas em seis famílias (blat, blatélidos, blabéridos, polifagia, criptocércidos e nocticólidos). Destas, algumas até são bonitinhas, umas parecem meigas joaninhas, outras tem bioluminescência e parecem os Jawas dos filmes Star Wars. Figura 1: Espécies de baratas silvestres. Duas baratas disputam o título de maior barata do mundo: uma é a barata gigantesca da caverna (Blaberus giganteus), nativa da América Central e do Sul, que pode chegar a 10 cm e a outra é a barata construtora de galerias gigante ou barata rinoceronte (Macropanesthia rhinoceros), espécie australiana que pode chegar a 7 – 8 cm, porém esta última é certamente a mais pesada, podendo pesar até 33 gramas. Ambas, acredite se puder, são altamente valorizadas como animais de estimação. Já a menor barata conhecida é da espécie norte-americana Attaphila fungicola, com 3 milímetros de comprimento e vive em ninhos de formigas vermelhas cortadeiras. Será que as formigas também tem nojo delas em suas casinhas? Figura 2: A maior e a menor barata. Apesar de tantas diferenças, todas possuem as mesmas características na forma do corpo: um exoesqueleto liso, tórax bem desenvolvido e nas patas traseiras existem alguns espinhos protetores. Além disso, apresentam um par de antenas muito longas e grandes olhos nos lados da cabeça. Porém, as mais conhecidas e famosas por habitarem centros urbanos são praticamente 3, das quais falarei mais adiante. Ao escrever o artigo, me deparei com diversas curiosidades sobre as famigeradas baratas que gostaria de dividir aqui com os leitores:
As baratas mais comuns no meio urbano, como disse, são 3: 1) Periplaneta americana, apelidada de barata de esgoto, e tem este codinome porque é encontrada com frequência justamente em galerias de esgoto, lixos, caixas de gorduras e outros locais similares. Figura 3: Periplaneta americana. São as maiores em áreas urbanas e medem entre 28 – 44 mm de comprimento, sendo originárias da região tropical da África, por isso, gostam de temperaturas em torno de 30 – 33°C. Trata-se principalmente uma praga peridomiciliar, mas durante o forrageamento que é a busca e exploração de recursos alimentares, pode entrar no domicílio, sendo comuns em áreas de manipulação de alimentos como cozinhas, áreas de preparo e pré-preparo, e como já dito, também em redes de esgoto. São capazes de realizar partenogênese, quando o crescimento e desenvolvimento de um embrião ocorre sem fertilização, ou seja, pode haver fêmeas que procriam sem precisar de machos que as fecundem. As fêmeas produzem aproximadamente 30 ootecas durante a vida, que são uma espécie de depósito em forma de feijão que fica presa a seu corpo, com cada ooteca apresentando entre 14 – 16 ovos. A fêmea carrega sua ooteca por 24 horas e depois a deposita em locais protegidos. Figura 4: Ooteca. O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 25 – 40 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de 130 – 150 dias com 9 a 13 mudas (machos e fêmeas). A longevidade dos adultos é de 250 – 350 dias, sendo menor para os machos. Esta barata possui hábitos alimentares diversos, porém prefere nutrientes ricos em açúcar, gordura e amido, mas se alimentam também de celulose, excrementos, insetos e sangue. O mais importante sobre este tipo de barata: ela voa. Contudo, os voos se restringem a períodos reprodutivos, a mudanças climáticas como a possibilidade de chuvas, e em momentos de “desespero”, quando se sentem ameaçadas. 2) Blatella germânica é apelidada por alguns de barata alemã justamente devido a seu nome científico, porém, é ainda mais conhecida simplesmente como francesinha. Suponho que na Alemanha a chamem de barata francesinha e na França a chamem de barata alemã, mas aqui no Brasil tanto faz, podemos escolher um ou outro. Flgura 5: Blatella germânica. Possuem tamanho de 10 – 15 mm de comprimento, são originárias da região oriental da África, mas também há citações de que sua origem possa ser o sudeste asiático. Possuem hábitos principalmente de uma praga domiciliar, mas em noites quentes podem ir para o peridomicílio, gostando de temperaturas em torno de 30°C. São comuns em cozinhas e restaurantes, e pode-se dizer que é a praga mais importante entre as baratas, devido ao alto potencial reprodutivo, apresentando resistência a determinados inseticidas e pelo tamanho diminuto podem se esconder em locais inacessíveis. A fêmea carrega a ooteca durante quase todo o período de incubação dos ovos, depositando-a em local favorável para o desenvolvimento ninfal. O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 17 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de de 38 – 40 dias com 5 a 6 mudas no caso dos machos e 40 – 60 dias com 6 a 7 mudas no caso das fêmeas. A longevidade dos adultos é de 4 meses para os machos e 6 meses para as fêmeas, sendo que neste período as fêmeas produzem de 4 a 8 ootecas, com cada uma delas apresentando de 30 a 40 ovos, portanto, 8 x 40, podem chegar a até 320 descendentes ao longo da vida. São atraídas principalmente por proteínas, açúcar, amido e gordura, tipo uma pizza de calabreza. Quando não encontram os alimentos que preferem, podem se alimentar de objetos encontrados no ambiente como sabão e cola. Num momento de aperto e fome extrema, podem desenvolver um comportamento canibal, se alimentando de sua própria espécie. 3) Blatta orientalis é uma espécie conhecida como barata nua, o que é estranho, pois todas elas andam peladinhas, nenhuma das espécies usa roupinha (a piada foi péssima, mas vou manter). Na verdade suponho que este pitoresco apelido se deva ao fato de que a parte de baixo desta barata parece estar desnuda, pois seu par de asas marrons cobre apenas dois terços do abdômen. Neste caso o nome orientalis não se associa a nenhum país, como se vê. Figura 6: Blatta orientalis. A barata nua tem tamanho aproximado de 25 mm de comprimento, são originária da região norte da África e gostam de temperaturas em torno de 20 – 25°C, ou seja, mais amenas. É uma praga domiciliar e peridomiciliar, comum em porões, adegas, banheiros e lixeiras em áreas externas. A fêmea carrega a ooteca por um ou dois dias e deposita depois em locais protegidos, podendo inclusive cobrir a ooteca com algum material, sendo cuidadosa. Também há registros de partenogênese neste tipo de barata. O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 40 – 80 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de 180 dias com 7 a 8 mudas para os machos e 300 dias com 9 a 10 mudas para as fêmeas. A longevidade dos adultos é de 60 a 250 dias, sendo que as fêmeas produzem de 5 a 10 ootecas, com cada ooteca apresentando aproximadamente 16 ovos. Essa barata se abriga em locais escuros e úmidos, de preferência onde haja material orgânico em decomposição, mas tem uma capacidade de adaptação e locomoção menor do que as outras espécies de baratas já mencionadas. Justamente por gostarem de se alimentar de resíduos em decomposição, são comumente encontradas em lixeiras nas ruas. A relevância das baratas para a segurança dos alimentos Estes insetos ganham relevância para o tema segurança dos alimentos porque podem atuar como vetores mecânicos ou biológicos. Como vetor mecânico podem transportar vírus, fungos, bactérias e protozoários, uma vez que ao habitarem locais insalubres carreiam estes microrganismos até os alimentos e bebidas. Pode-se dizer que elas agem analogamente a um tipo de transporte coletivo de patógenos.
Por isso, baratas significam um risco potencial de Salmonelose, infecções por Staphylococcus, febre tifoide, gastroenterite e diarreias em geral. Figura 7: Baratas são vetores potenciais de microrganismos patogênicos. Já como vetor biológico, há citações de que baratas podem agir como um hospedeiro intermediário de vermes, porém, na minha pesquisa não identifiquei quais vermes seriam, nem fontes de pesquisas sólidas que confirmem esta afirmação. Porém, se o leitor tiver algo sobre isto, por favor deixe nos comentários.
Também são capazes de inutilizar alimentos onde deixam odor repugnante, podem roer e sujar roupas e livros, e até ser uma praga agrícola de relativa importância por roer raízes e atacar produtos armazenados. E claro, são capazes de causar severos danos de imagem para as organizações, sejam indústrias ou restaurantes, caso apareçam inteiras ou suas partes em produtos industrializados, pratos servidos ou sua presença seja avistada por clientes, e não é incomum ver casos assim serem fotografados ou filmados e viralizarem em redes sociais.
Quando você vê uma pessoa desesperada por causa de uma barata, antes de achar que é frescura, saiba que existe uma fobia denominada catsaridafobia que é o medo irracional destes insetos. Esta fobia pode levar as pessoas a um estado de perturbação mental, algumas choram, gritam, ficam paralisadas podendo chegar a ter um ataque de pânico. O problema das infestações De forma geral, como foi mostrado para as 3 baratas mais comuns no meio urbano, elas têm um ciclo de vida básico que envolve três estágios: ovos, ninfas e adultas. As fêmeas adultas colocam até 40 ovos ao mesmo tempo, que são encapsulados nas chamadas ootecas e estes ovos eclodem entre 2 a 7 semanas, dependendo da espécie de barata, de onde então as ninfas irão surgir. Figura 8: Ninfas. Para as ninfas virarem adultas leva de 2 a 18 meses, dependendo da espécie e temperatura do ambiente, e a partir daí estão prontas para acasalar e produzir mais ovos. Por isso, uma única barata na sua casa ou na indústria em que trabalha, rapidamente pode se tornar uma grande infestação se ações não forem realizadas. Agora vamos ao que mais interessa: como evitar infestações destes insetos no ambiente doméstico ou industrial
Figura 9: Baratas em frestas. Dicas para controlar baratas
Outro método para evitar baratas é encher o local com iguanas, sapos, lagartixas, galinhas e outros predadores naturais da barata para manter um controle biológico, mas neste caso, em termos de segurança dos alimentos, francamente você pode estar arrumando um novo problema, portanto, não leve esta piada a sério. Já em casa, deixar as lagartixas em paz é recomendável e se for em ambiente rural, pode ser uma boa ideia ter umas galinhas no quintal. Figura 10: Predador natural da barata. Para quem quem quiser se aprofundar no assunto, listei alguns artigos de colegas colunistas que podem interessar:
O livro a seguir também trata entre outros assuntos do tema Manejo Integrado de Pragas e pode ser de interesse do leitor: Deixe seu comentário. Divida suas experiências sobre baratas conosco. Visualização da postagem 4.859 Porque a barata é diferente de outras baratas porque?É MENTIRA DA BARATA, ELA TEM É CASCA DURA! A BARATA DIZ QUE TEM UM CHINELO DE VELUDO.
Porque A barata diz que tem uma coisa que ela não tem?A BARATA DIZ QUE TEM HÁ, HÁ, HÁ, HO, HO, HO UM ANEL DE FORMATURA, ELA TEM O PÉ PELUDO. É MENTIRA DA BARATA ELA TEM É CASCA DURA! HÁ, HÁ, HÁ, HO, HO, HO ELA TEM É CASCA DUA! A BARATA DIZ QUE TEM UM TAPETE DE CETIM É MENTIRA DA BARATA.
Quais as características principais da barata?O corpo das baratas tem formato ovular e deprimido. Seu tamanho pode variar de alguns milímetros até quase 10 centímetros. A cabeça é curta, subtriangular, apresentando olhos compostos grandes e geralmente dois ocelos (olhos simples). Em geral são de coloração parda, marrom ou negra, porém existem espécies coloridas.
Qual é o inseto mais limpo do mundo?Barata. |