As lembranças dos primeiros seres humanos que habitaram o Planalto Central escondem-se em pelo menos 29 grutas da região, catalogadas por historiadores. O Correio percorreu alguns pontos e encontrou contrastes. Beleza e também degradação e abandono. Show Em alguns locais, como na Toca da Onça, em Formosa (GO), a 80km do Plano Piloto, os homens das cavernas deixaram também pinturas rupestres. Pesquisadores acreditam que eles tenham usado um tipo de pincel feito especialmente para esse fim e os próprios dedos. Os desenhos mostram animais, retratos rústicos do ser humano e representações do céu, além de muitos outros símbolos ainda não desvendados. Os tons variam do alaranjado ao vermelho, com traços em preto. A nitidez das imagens ; feitas há, no mínimo, 10 mil anos ; impressiona. No teto da caverna, é possível ver desenhos de pés achatados, sem a curva lateral com a qual o homem atual está acostumado. Alguns têm quatro dedos; outros, seis ou cinco. À primeira vista, o visitante se pergunta: como aqueles pés foram parar ali, tão alto? Habilidades do homem da caverna. O dono da Fazenda Toca da Onça é Herculano Lêdo Filho, 65 anos, nascido em Formosa. Comprou o terreno há 20 anos. Desde então, mantém as porteiras sempre fechadas, para controlar o acesso. ;Visita aqui, só acompanhada. O pessoal vem, vê as pinturas, faz rapel. Mas sem depredar;, afirmou. Ainda assim, o homem deixa seu rastro de destruição. Mesmo diante da tentativa de preservar o meio ambiente e a história, alguns vândalos picham o próprio nome ou arrancam pedaços da caverna. Riqueza A natureza, aliada à falta de intervenções humanas positivas, também contribui para a destruição. Enxurradas fortes que descem sobre o paredão arrancam finas camadas de rocha. Plantas crescem em meio à tela rochosa e escondem os desenhos. Recentemente foi instalada uma cerca em volta do paredão. Mas, até dois anos atrás, sem barreiras, o gado pisava nas gravuras e deformava o relevo. Para conhecer as preciosidades de Bisnau, é preciso passar por algumas fazendas. O dono de uma delas, Gilberto Thomé, 59 anos, não consegue impedir a entrada de visitantes mal intencionados. ;Só existe uma entrada para essa região. Aqui dentro tem outras fazendas, por isso não posso trancar a porteira sempre que quero. Fico muito indignado quando alguns grupos de turistas aparecem, fazem a maior bagunça e vão embora. Eles deixam latas, garrafas e estragam o baixo-relevo;, reclamou. Por outro lado, há quem venha de fora do Brasil para conhecer a riqueza histórica de Bisnau. Gilberto recebe frequentemente a visita de geólogos africanos e franceses, por exemplo, interessados em desvendar os segredos daqueles símbolos. ;Quando chegam aqui, ficam impressionados. Dizem que viram as mesmas figuras na África, o que é muito intrigante. Um francês me disse que já viu esses desenhos, só que feitos por homens da região do Pacífico;, relatou Gilberto, o guardião do Bisnau. Desde o fim do século 19, quatro expedições científicas visitaram as grutas e sítios arqueológicos de Formosa. A maior contribuição foi dada por arqueólogos goianos e cariocas integrantes do Projeto Bacia do Paranã, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Por dois anos, na década de 1970, eles exploraram as cavernas da bacia hidrográfica do Rio Paranã. O resultado do trabalho deu origem à publicação de um relatório detalhado sobre a fase pré-cerâmica e de arte rupestre do Planalto Central, em 1977. O DF também tem sítios arqueológicos, espalhados por Taguatinga e Gama. Levantamento No levantamento, ficou clara a falta de informações precisas sobre os sítios arqueológicos goianos. Até então, dos mais de 1,5 mil registrados, apenas 382 estavam georreferenciados. Agora, 799 têm a localização exata. Os outros 756 trazem meras referências, como ;dentro da fazenda; de alguém, ;após a porteira;, ;em uma mata;. ;Alguns desse sítios já não existem mais, estão embaixo de hidrelétricas, por exemplo. Em outros, faremos o georreferenciamento usando equipamentos bem mais modernos que os do tempo em que os sítios foram descobertos;, explica a arqueóloga Ellen Carvalho, do Iphan de Goiás. O trabalho também servirá para saber o estado de preservação dos sítios e quais estão em condições de ser abertos à visitação pública. ;Todas as informações fazem parte de um plano maior, nacional, de popularização dos sítios arqueológicos. Agora, precisamos definir quais podem ser visitados e quais não podem, de forma alguma, receber visitantes, por causa da fragilidade;, observou Ellen Carvalho. Como chegar Para ler Para saber mais Coordenadas Onde foram encontrados os primeiros vestígios dos habitantes do Brasil?Os vestígios mais antigos de habitantes das Américas remontam a 50 mil anos. Esses homens teriam vindo da África. Assim afirma a arqueóloga franco-brasileira Niede Guidon, que dedicou sua vida a pesquisar a Serra da Capivara, no Piauí, repleta de pinturas rupestres e celebrada em uma exposição em Brasília.
Quais estados apresentam vestígios da presença humana no Brasil?Entre os estados que apresentam antigos vestígios da presença humana podemos destacar primeiramente os estados do Piauí, Minas Gerais e as regiões litorâneas do Centro-sul do país.
Onde foram encontrados os vestígios mais antigos da presença humana?Vestígios mais antigos do Homo sapiens da Europa são descobertos na Bulgária. Um fragmento de dente e osso encontrado em uma caverna na Bulgária revelaram a existência do Homo sapiens mais antigo da Europa conhecido até o momento, segundo um estudo publicado nesta semana por uma equipe de pesquisadores internacionais.
Quais foram os principais vestígios históricos encontrados no Brasil?Fósseis, sambaquis e pinturas rupestres mostram como era a vida na Pré-História no território brasileiro. O atual território brasileiro foi povoado por homens entre 40 mil e 50 mil anos atrás. Os primeiros seres humanos que chegaram ao continente americano vieram da Ásia.
|