Em que contexto histórico permite a alemanha anexar esse território

Em que contexto histórico permite a alemanha anexar esse território

Neste estudo, analisaremos os acontecimentos do imediato p�s-guerra: a nova divis�o do mundo � consagrada na �paz de salteadores� de Versalhes �, a ascens�o do nazi-fascismo � com a coniv�ncia das democracias ocidentais que viram nele um dique � �revolu��o bolchevique� � e a chamada pol�tica de apaziguamento, que desembocou na hecatombe da 2� Guerra Mundial.

          Essa pol�tica de apaziguamento adotada pelas democracias ocidentais frente ao rearmamento alem�o e �s agress�es militares da Alemanha, It�lia e Jap�o, s� pode ser compreendida no contexto das contradi��es inter-imperialistas e das contradi��es entre o capitalismo e o socialismo.

            Procuraremos fugir tanto das an�lises psicol�gicas � que debitam o apaziguamento ao car�ter pusil�nime de tal ou qual estadista � quanto das an�lises ing�nuas, que v�em a sua origem no louv�vel esfor�o das democracias ocidentais em evitar a guerra, a qualquer custo.

            Na verdade, a pol�tica de apaziguamento foi uma estrat�gia consciente e premeditada da Inglaterra, da Fran�a e dos Estados Unidos para �empurrar� a Alemanha nazista contra a URSS, visando o enfraquecimento de ambas e a imposi��o de sua hegemonia sobre o resto do mundo. Mas que acabou voltando-se contra os seus pr�prios criadores.

            Por fim, examinaremos o contexto em que foi assinado o tratado germano-sovi�tico de n�o-agress�o, apresentado por alguns como o �causador da II Guerra Mundial�. Apesar da historiografia posterior � Segunda Guerra Mundial ter examinado exaustivamente esse tema e ter conclu�do, de forma quase un�nime, pela responsabilidade principal das chamadas democracias ocidentais que incentivaram as for�as do Eixo em suas aventuras guerreiras, percebe-se nos dias de hoje uma tentativa de revis�o hist�rica do que j� era considerado como um consenso, mesmo entre os historiadores ocidentais.

            Nestes tempos de ofensiva contra o socialismo e de �fundamentalismo de mercado�, tornou-se moda desqualificar toda a experi�ncia sovi�tica � sem diferenciar os seus erros dos seus acertos � mesmo que � custa da mistifica��o hist�rica.

            Cabe-nos, como estudiosos da hist�ria � sem dobrar-nos � avalanche do �pensamento �nico� dos dias de hoje � procurar restabelecer a verdade hist�rica, analisando criticamente os novos argumentos trazidos � discuss�o, sem medo de corrigir interpreta��es que tenham envelhecido pela descoberta de novos fatos e cientes de que todo o conhecimento, inclusive o hist�rico (mas n�o somente ele), � um processo de aproxima��o �assint�tica� da verdade, com a qual nunca coincide. Por isso mesmo, todo o conhecimento (e n�o s� o hist�rico) � um processo de permanente constru��o.

            Desculpo-me pelo grande n�mero de cita��es, mas o grau de controv�rsia que o tema adquiriu nos dias de hoje exige um grande rigor documental no exame desses acontecimentos.

ANTECEDENTES

            Para compreendermos a pol�tica de apaziguamento das pot�ncias ocidentais � que contribuiu de forma decisiva para a eclos�o da Segunda Guerra Mundial � e o paradoxal Pacto Germano-Sovi�tico, � necess�rio que examinemos os seus antecedentes, aqui inclu�das a vit�ria da Revolu��o Socialista na R�ssia, a nova divis�o do mundo ap�s a Primeira Guerra Mundial � atrav�s do sistema Versalhes-Washington � e o ascenso do nazi-fascismo, resposta do grande capital ao crescimento das lutas revolucion�rias, principalmente dos povos da Europa.

O Sistema de Versalhes

            A 18 de janeiro de 1919, inaugurou-se em Versalhes a confer�ncia dos �vencedores�, para ditarem as condi��es da paz no p�s-guerra. Estavam representados 27 pa�ses que, de uma forma ou outra, participaram da alian�a contra a Alemanha, a �ustria-Hungria, a Turquia e a Bulg�ria. Foram exclu�das desta confer�ncia tanto a Alemanha e suas aliadas, quanto a R�ssia socialista, apesar dela haver participado da guerra ao lado dos aliados. Na pr�tica, tr�s pa�ses decidiram sobre o destino da futura paz: Inglaterra, Fran�a e Estados Unidos. Ap�s quase quatro meses de discuss�es, as dur�ssimas condi��es da paz foram comunicadas � delega��o alem�. Diante da insatisfa��o alem� e da tentativa de amenizar as condi��es impostas, os aliados amea�aram com a ocupa��o militar. Pressionada, a Assembl�ia Nacional Alem� autorizou a assinatura do Tratado, por 237 contra 138 votos.

O tratado foi firmado em Versalhes, no dia 28 de junho de 1919. Atrav�s dele, al�m de pesadas indeniza��es, a Alemanha foi obrigada a renunciar a todas suas col�nias, ceder a Als�cia-Lorena � Fran�a, a zona de Eupen-Malmedy � B�lgica, o Schleswig setentrional � Dinamarca. Al�m disso, a Alemanha reconheceu a independ�ncia da Pol�nia e teve que lhe entregar Poznam, a Pr�ssia Ocidental e parte da Alta Sil�sia. Tamb�m perdeu Memel, posteriormente anexado � Litu�nia (1923).

Durante 15 anos, o Sarre passaria a ser administrado pela Sociedade das Na��es, a qual cedeu a explora��o do seu carv�o � Fran�a. Mas, Dantzig n�o foi entregue � Pol�nia, sendo transformada em �cidade livre�. A margem direita do rio Reno foi dividida em tr�s zonas de ocupa��o, a serem evacuadas no prazo de 5, 10 e 15 anos, e a Alemanha perdeu o controle sobre seus rios naveg�veis. Foi obrigada a entregar todo o seu material de guerra e a quase totalidade da sua esquadra, e ficou proibida de possuir encoura�ados e submarinos. O seu ex�rcito foi limitado a 100 mil homens, e foi proibido de manter um Estado Maior, ter carros de combate, avi�es militares, artilharia pesada e antia�rea. As suas fortifica��es ao leste foram desmanteladas.

            Em 10 de setembro de 1919, foi assinado o Tratado de paz com a �ustria, em Saint Germain-en-Laye. O Imp�rio �ustro-H�ngaro foi desmembrado, devendo a �ustria reconhecer a independ�ncia da Hungria. Pelo Tratado, a �ustria entregou a Bo�mia e a Mor�via para a Checoslov�quia. Perdeu a Dalm�cia e a B�snia-Herzeg�vina que � junto com a S�rvia e Montenegro, mais os territ�rios perdidos pela Hungria � constituir�o a Iugosl�via. Entregou o Sul do Tirol, Triestre, Istria, e partes da Dalm�cia, Car�ntia e Carniola, � It�lia. Cedeu a Bucovina � Rom�nia. Por fim, forneceu os territ�rios da Gal�cia ocidental para formar o sul da Pol�nia do p�s-guerra. Pelo mesmo tratado, a �ustria � reduzida a 84 mil km2 e isolada do mar � foi proibida de unir-se � Alemanha e teve o seu ex�rcito limitado a 30 mil homens.

            Em 27 de novembro de 1919, foi firmado o Tratado de paz com a Bulg�ria, em Neuilly. A Bulg�ria teve que entregar o sul da Drobudja � Rom�nia, a Maced�nia ocidental � Iugosl�via e os seus territ�rios Tr�cios � Gr�cia, perdendo a sua costa no Mediterr�neo. O seu ex�rcito foi limitado a 20 mil homens.

            Em 4 de junho de 1920 � depois do sufocamento do Poder Sovi�tico de Bela Kun por tropas francesas, romenas e checoslovacas � foi assinado com a Hungria o Tratado de Trianon, reduzindo o seu territ�rio a um ter�o da sua superf�cie de 1914 e isolando-a do mar. Por ele, a Hungria foi obrigada a ceder a Eslov�quia e a Rut�nia � Checoslov�quia, e a entregar a Cro�cia, a Eslov�nia e parte do Banato � Iugosl�via. Tamb�m teve que ceder a Transilv�nia e a outra parte do Banato � Rom�nia. Proibida de unir-se � �ustria, teve o seu ex�rcito limitado a 35 mil homens.

            Em 10 de agosto de 1920, foi assinado o Tratado de paz de S�vres com a Turquia (n�o ratificado pelo Parlamento turco). A Turquia foi obrigada a ceder a Tr�cia oriental, Esmirna e as Ilhas Eg�ias (exceto Rodes) � Gr�cia; S�ria e Cil�cia � Fran�a; Iraque, Palestina, Chipre e Egito � Inglaterra (que tamb�m obt�m o protetorado da Ar�bia); Rodes e o Dodecaneso � It�lia. Ainda lhe foram impostas a independ�ncia da Arm�nia e a autonomia do Curdist�o. O seu ex�rcito foi limitado a 50 mil homens.

            O ex-Imp�rio Russo, derrotado pela Alemanha, convulsionado pela revolu��o socialista de 1917 e em pleno processo de guerra civil, tamb�m foi esquartejado pelos �vencedores�. Em dezembro de 1917, a Rom�nia mon�rquica ocupou a Bessar�bia. Em 1917, com o decisivo apoio das pot�ncias ocidentais e ap�s esmagar pela for�a das armas o nascente poder oper�rio-campon�s, a Finl�ndia separou-se da futura Uni�o Sovi�tica:

A Finl�ndia moderna nasceu da vontade comum dos partid�rios do �Ancien R�gime� e da burguesia finlandesa e oeste-europ�ia, unidos num peda�o do antigo imp�rio do czar. Sem o apoio externo no momento da guerra civil russa, a Finl�ndia n�o seria hoje mais que provavelmente uma rep�blica socialista sovi�tica como as outras (...). No dia 19 de dezembro de 1917, a Dieta da Finl�ndia adotara (...) uma declara��o de independ�ncia. (...) Colocado ante o fato consumado, o Conselho dos Comiss�rios do Povo adotou (...) um decreto confirmando a independ�ncia pol�tica da Finl�ndia. (...) O Conselho Executivo Central da R�ssia ratificou o decreto de 4 de janeiro de 1918. (...) Stalin (...) declarou ent�o: �Vemos que o Conselho de Comiss�rios do povo deu, sem querer, a liberdade n�o para o povo, n�o para os representantes do proletariado da Finl�ndia, mas � burguesia finlandesa�. (...) Encorajada pelos bolchevistas russos (...) rebentou uma revolu��o sovi�tica nas zonas industriais do Sul da Finl�ndia (meados de janeiro de 1918). (...) Os centros importantes (como Helsinque e Viborg) n�o tardaram em ficar sob controle total dos Sovietes. (...) Em maio de 1918, a insurrei��o sovi�tica finlandesa foi esmagada ap�s quatro meses e meio de guerra civil.[i]

            E, em mar�o de 1918, a R�ssia revolucion�ria foi obrigada a assinar a paz de Brest-Litovsk com a Alemanha, a �ustro-Hungria e a Turquia:

Em Brest-Litovsk (...) os plenipotenci�rios da Rep�blica dos Sovietes viram-se constrangidos a renunciar n�o s� a Liv�nia, Curl�ndia, Est�nia e Litu�nia, mas tamb�m a uma Pol�nia, que claramente extravasava dos seus limites �tnicos, e a Ucr�nia. (...) Al�m de abandonar os territ�rios ocidentais acima mencionados, o governo sovi�tico renunciava igualmente, em proveito da Turquia, a uma importante zona do C�ucaso, que inclu�a Batoum, Kars e Ardahan. (...) No total, o tratado de Brest-Litovsk implicava para o poder dos Sovietes a perda de alguns milh�es de quil�metros quadrados e de mais de quarenta milh�es de habitantes.[ii]

            Na ocasi�o, polemizando com Bukharin, Trotsky e outros, que em nome do internacionalismo prolet�rio exigiam que o governo sovi�tico n�o assinasse a paz com a Alemanha, Lenin afirmou:

No momento atual, uma guerra verdadeiramente revolucion�ria seria a guerra da Rep�blica Socialista contra os pa�ses burgueses com o claro objetivo (...) de derrotar � burguesia de outros pa�ses. Mas � evidente que no momento presente ainda n�o podemos nos colocar esta finalidade. Objetivamente, lutar�amos agora pela libera��o da Pol�nia, Litu�nia e Curl�ndia. Mas nenhum marxista, sem apartar-se dos princ�pios do marxismo e do socialismo em geral, poderia negar que os interesses do socialismo est�o acima dos interesses do direito das na��es � autodetermina��o. Nossa Rep�blica Socialista fez e continua fazendo todo o poss�vel para levar a pr�tica o direito a autodetermina��o da Finl�ndia, Ucr�nia, etc. Mas, se a situa��o concreta � tal que a exist�ncia da Rep�blica Socialista se acha neste momento em perigo (...) se compreende que os interesses da preserva��o da Rep�blica Socialista devam prevalecer.[iii]

O posterior desmoronamento dos ex�rcitos centrais possibilitou, em fins de 1918, a den�ncia do acordo de Brest-Litovsk e a retomada do poder pelos bolcheviques na Est�nia, Litu�nia, Let�nia e Ucr�nia:

As tropas alem�s evacuam a Est�nia, a Let�nia, a Bielo R�ssia, a Litu�nia, a Pol�nia e a Transcauc�sia. N�o mais existe Brest- Litovsk e o Ex�rcito Vermelho, apertando as tropas germ�nicas, atinge Narva, Pskov, Vilno, Kovno, Riga (3 de janeiro de 1919) (...) Kharkov e Kiev s�o ocupadas pelos bolcheviques e na Est�nia, na Let�nia e na Litu�nia constitu�am-se rep�blicas sovi�ticas.[iv]

Mas, mais uma vez, a interven��o militar das pot�ncias capitalistas imp�s ao Poder Sovi�tico uma �paz de salteadores�. Em fevereiro de 1919, os ex�rcitos polacos apoderaram-se de Brest-Litovsk, dando in�cio a guerra russo-polonesa. Em abril de 1920, as tropas polonesas invadiram a Ucr�nia e pouco depois tomaram Kiev. Em sua contra-ofensiva, o Ex�rcito Vermelho avan�ou at� as portas de Vars�via, que s� foi salva pelas tropas francesas do general Weygand.

Em julho de 1920, atrav�s da confer�ncia de Spa, as pot�ncias ocidentais propuseram como fronteira entre a R�ssia e a Pol�nia a �Linha Curzon�[v]. Em outubro de 1920 foi estabelecido um armist�cio e em mar�o de 1921 o Estado Sovi�tico foi obrigado a assinar a paz de Riga, atrav�s da qual a Pol�nia avan�ou 250 km a leste de sua fronteira �tnica[vi] e deslocou a sua fronteira com o Estado sovi�tico 150 km para o Leste, apossando-se da Gal�cia, da Ucr�nia Ocidental, da Bielo-R�ssia ocidental e de Vilna, �no total, uma popula��o de 11 milh�es de habitantes, dos quais quase dez milh�es de bielo-russos, russos ou ucranianos�[vii]

Em fins de 1920, o tratado de Dorpat � ao obrigar o governo sovi�tico a reconhecer a Est�nia, a Let�nia e a Litu�nia como estados �formalmente� independentes, mas sob a clara tutela ocidental � �consagrou n�o somente a fixa��o das fronteiras mais desfavor�veis que a regi�o de Leningrado tivera algum dia, como amputou tamb�m a R�ssia setentrional do territ�rio de P�tsamo, que nunca estivera inclu�do (nem antes de 1914, nem em qualquer outra �poca) no Gr�o-Ducado �Hist�rico� da Finl�ndia.�[viii]

            Com os tratados de paz impostos, consolidou-se a hegemonia francesa no continente europeu, atrav�s do avassalamento da Alemanha e de seus aliados. Tamb�m foi assegurado o papel dominante da Inglaterra no Oriente pr�ximo e sobre as comunica��es mar�timas.

            Ao mesmo tempo que buscava esmagar as pot�ncias centrais, o sistema de Versalhes teve uma orienta��o claramente anti-sovi�tica. Al�m da confer�ncia de paz de Paris ter-se tornado o Estado-Maior da interven��o armada contra o Estado Sovi�tico, os estados imperialistas procuraram formar um �cord�o sanit�rio contra o comunismo�, atrav�s da cria��o da Pol�nia e dos pequenos estados b�lticos e da anexa��o da Bessar�bia � Rom�nia. Em todos esses pa�ses foram instalados governos francamente reacion�rios:

No tocante � R�ssia, que a Confer�ncia ignora oficialmente, os aliados constitu�ram, para isol�-la, um cord�o sanit�rio de pequenas rep�blicas: Finl�ndia (3.500.000 habitantes), Est�nia com 1.250.000 habitantes, Let�nia com 1.900.000 indiv�duos dos quais 25% s�o al�genos, Litu�nia (2 milh�es com 17% de al�genos), cuja organiza��o dever� exigir muitos anos, e de estados m�dios: Pol�nia (que conta um al�geno em tr�s habitantes) e Rom�nia, que compreendem territ�rios autenticamente russos na R�ssia Branca, na Ucr�nia e na Bessar�bia.[ix]

Momentaneamente derrotadas em suas tentativas de liquidar o Poder Sovi�tico, as grandes pot�ncias ocidentais come�aram de imediato a armar o tabuleiro de xadrez para as suas futuras jogadas. Em 1921, formou-se a alian�a entre a Pol�nia e a Rom�nia, contra a R�ssia. Em 1922, foi constitu�da a Entente do B�ltico � entre a Pol�nia, a Est�nia, a Let�nia e a Finl�ndia � tamb�m voltada contra a URSS: �A R�ssia Sovi�tica foi isolada da Europa ocidental mediante um cord�o de estados violentamente anticomunistas, arrancados em parte do territ�rio russo�. [x]

Diante das tentativas de cerc�-lo e isol�-lo, o Estado Sovi�tico respondeu com uma aproxima��o da Alemanha, assinando em 1922 o Tratado de Rapallo que restabeleceu as rela��es diplom�ticas e, atrav�s de um acordo secreto, permitiu a instala��o na URSS de f�bricas alem�s, para a produ��o de armamentos proibidos pelo Tratado de Versalhes[xi]:

Lloyd George (...) resolveu convocar uma nova confer�ncia (...) em G�nova em abril de 1922 (...) Os russos e alem�es estiveram presentes, mas com a suspeita n�o injustificada de que iam ser lan�ados um contra o outro. Os alem�es seriam convidados a participar de uma expedi��o contra a R�ssia, e os russos seriam instados a pedir repara��es da Alemanha. Ao inv�s disso, por�m, os representantes dos dois pa�ses se reuniram secretamente em Rapalo e concordaram em n�o agir um contra o outro. O tratado de Rapalo torpedeou a confer�ncia de G�nova (....) � certo que impediu uma coaliz�o europ�ia para uma nova guerra de interven��o contra a R�ssia, e � certo tamb�m que impediu qualquer renascimento da Tr�plice Entente. [xii]

Diante do agravamento da crise da economia alem� � assoberbada pelo pagamento das indeniza��es de guerra � e do risco de uma revolu��o social, as pot�ncias ocidentais decidiram fortalecer a Alemanha, para op�-la ao �perigo vermelho� do Oriente:

Foi julgado essencial reconstruir e armar o imperialismo alem�o contra a Uni�o Sovi�tica, ao mesmo tempo que se pretendia manter o rival em cheque. (...) Chamberlain e Churchill (...) representavam as duas metades contradit�rias da pol�tica externa imperialista brit�nica, durante este per�odo. De um lado, o desejo de construir (...) uma arma apontada contra a Uni�o Socialista Sovi�tica. De outro lado, levar a Uni�o Sovi�tica a uma alian�a militar, como uma arma contra o imperialismo rival da Alemanha. Ambas as estrat�gias partiam do princ�pio de que uma (...) guerra germano-sovi�tica enfraqueceria e destruiria, simultaneamente, as duas principais pot�ncias consideradas pela Inglaterra como amea�as ao seu imperialismo. (...) A estrat�gia de rearmamento alem�o de Chamberlain, Munique (...) terminaram em desastre. (...) O objetivo b�sico muniquista de destrui��o m�tua de Hitler e da Uni�o Sovi�tica, com o Ocidente como espectador de primeira fila, para surgir depois como vencedor final e estrangular a revolu��o na Europa (a explica��o dada por Hoare, como embaixador junto a Franco), foi, desse modo, seguida por outros meios. (...) o ent�o Senador Truman (...) proclamou: �Se virmos que a Alemanha est� ganhando a guerra, teremos de ajudar a R�ssia e, se a R�ssia estiver a ganhar, teremos de ajudar a Alemanha, e, entretanto, deixemos que eles se matem tanto quanto poss�vel�. (New York Times, 24 de julho de 1941).[xiii]

Um dos precursores dessa id�ia foi o general alem�o Max Hoffmann que j� em 1922 afirmou:

Nenhuma pot�ncia europ�ia pode conceder a outra uma influ�ncia preponderante sobre a futura R�ssia. Este problema s� pode ser resolvido pela Uni�o dos grandes Estados europeus, principalmente a Fran�a, a Inglaterra e a Alemanha. � preciso que, por uma interven��o militar, essas pot�ncias aliadas derrubem o poder sovi�tico e restabele�am a situa��o na R�ssia, no interesse das for�as econ�micas inglesas, francesas e alem�s. A participa��o financeira e econ�mica dos Estados Unidos da Am�rica seria preciosa.[xiv]

Para isso, foi criado em 1924 o Plano Dawes, investindo grande quantidade de capitais � sobretudo norte-americanos (cerca de 70%), mas tamb�m ingleses � na Alemanha. O que, contraditoriamente, pouco a pouco lhe permitir� recuperar e ampliar o antigo potencial econ�mico-militar. A Confer�ncia de Locarno (1925) estabelece diversos acordos bilaterais com a Alemanha, em uma tentativa de melhorar as suas rela��es com as pot�ncias ocidentais. Em 1926, ela foi admitida na Sociedade das Na��es, inclusive no seu Conselho de Seguran�a. Come�ou a desenhar-se no horizonte a futura t�tica de utiliza��o da Alemanha como um dique contra a URSS e a revolu��o socialista: �Toda a hist�ria do tratado de paz de Versalhes, desde o momento da sua assinatura at� o in�cio da Segunda Guerra Mundial, constituiu na destrui��o gradual do sistema de Versalhes e no incitamento da Alemanha, pelas pot�ncias ocidentais, � agress�o contra a URSS.�[xv]

Uma das cl�usulas do Tratado de Versalhes estabelecia a cria��o da Sociedade das Na��es, sob o pretexto de defender a paz e a seguran�a internacional, prevendo a aplica��o de san��es econ�micas, financeiras e militares ao pa�s que cometesse uma agress�o. Na realidade a Sociedade das Na��es transformou-se em um dos centros da luta militar e diplom�tica contra o Estado Sovi�tico e em um instrumento da pol�tica imperialista e colonial das grandes pot�ncias, especialmente a Fran�a e a Inglaterra.

Assim � sob o argumento de que os povos das col�nias arrebatadas � Alemanha e � Turquia eram incapazes de se autogovernarem � a Sociedade das Na��es entregou � Fran�a (sob mandato) a S�ria, o L�bano, o Togo e uma parte do Camerum; � Inglaterra, a Palestina, a Transjord�nia, o Iraque, Tanganica e outros territ�rios; ao Jap�o, as Ilhas Marianas, Carolinas e Marshall. Como o Senado dos Estados Unidos se negou a ratificar o Tratado de Versalhes, estes n�o se incorporaram � Sociedade das Na��es. Na pr�tica, ela nunca imp�s, durante toda a sua exist�ncia, qualquer san��o a um pa�s agressor (em geral, alguma pot�ncia imperialista) nem prestou qualquer ajuda a uma na��o agredida.

Os acordos de Washington

            Durante a Primeira Guerra Mundial, o Jap�o havia consolidado as suas posi��es na China, em detrimento dos interesses dos outros pa�ses imperialistas, em especial os Estados Unidos e a Inglaterra. Havia imposto � China acordos que lhe proporcionavam grandes privil�gios econ�micos e pol�ticos, e assumira o dom�nio de Tsa-Chou, do porto de Tsing-Tao e das concess�es alem�s na pen�nsula de Chantung. A ratifica��o desses �direitos� pela confer�ncia de paz de 1919, em Paris, foi uma das raz�es da n�o ratifica��o do Tratado de Versalhes pelos norte-americanos. Desde ent�o, os Estados Unidos pressionaram pela revis�o das resolu��es da confer�ncia de paz de Paris, quanto ao Extremo Oriente.

Na confer�ncia de Washington, realizada entre novembro de 1921 e fevereiro de 1922, participaram nove pa�ses, entre os quais os Estados Unidos, a Inglaterra, a Fran�a, a China e o Jap�o. Mais uma vez foi negado ao Estado Sovi�tico a participa��o em suas delibera��es. Desta confer�ncia resultaram quatro acordos que complementaram os Sistema de Versalhes. O primeiro deles, o Pacto Naval, determinou a tonelagem m�xima de cada pot�ncia e tinha por objetivo limitar a expans�o da armada japonesa. Fixou 525 mil ton. para as esquadras inglesa e norte-americana, 315 mil ton. para a japonesa e 175 mil ton. para a francesa e a italiana. O Tratado de Chantung obrigava o Jap�o a retirar-se da Sib�ria sovi�tica e das regi�es de Chantung e Kiaochow, na China.

O Tratado das Quatro Pot�ncias � Estados Unidos, Gr�-Bretanha, Fran�a e Jap�o � mantinha o status quo no Pac�fico. J� o Tratado das Nove Pot�ncias, reconhecia a independ�ncia e a inviolabilidade territorial da China, mas impunha � China uma pol�tica de portas abertas para todas as na��es do mundo (o que interessava diretamente aos Estados Unidos, que haviam chegado tarde � reparti��o da China e nela n�o possu�am concess�es). Os acordos de Washington representaram um fortalecimento fundamentalmente dos Estados Unidos e um debilitamento do Jap�o, complementando o sistema de tratados de Versalhes.

            A revolu��o russa de 1917, al�m de dar origem ao primeiro Estado Socialista do mundo, acelerou enormemente os processos revolucion�rios em todos os pa�ses e a luta anti-colonial. As revolu��es alem�s de 1918, 1919 e 1923; a insurrei��o finlandesa de 1918; a cria��o da Rep�blica Sovi�tica H�ngara em 1919; a greve insurrecional de 1917 em Turim, e a greve geral de 1920 em toda a It�lia, seguida da ocupa��o das f�bricas; a revolta da armada francesa do Mar Negro, em 1919, o aumento do movimento grevista na Fran�a e na Inglaterra; a cria��o da Internacional Comunista em 1919 e o surgimento de Partidos Comunistas nos principais pa�ses; enfim, a crescente simpatia da classe oper�ria e dos povos coloniais pela URSS criou uma situa��o de profunda crise para o sistema capitalista. Diante dessa crise � ao mesmo tempo econ�mica, pol�tica e social � o grande capital, deixando de lado quaisquer veleidades democr�ticas, optou por governos autorit�rios, de car�ter fascista.

            Em 1922, Benito Mussolini � ap�s a Marcha sobre Roma � foi chamado pelo rei para formar o governo e instaurou o fascismo na It�lia, com o benepl�cito do grande capital, do Vaticano e das democracias ocidentais: �Quando o sr. Mussolini organizou o fascio, o que ele tinha em vista, antes de mais nada, era combater o comunismo. (...) Foi esta, toda gente o sabe, a quintess�ncia moral, a for�a motriz pol�tica, a s�ntese social do fascismo. Assim ele se apresentou � face da It�lia, assim o compreendeu o mundo (...) O fascismo existia como um ant�doto do comunismo.�[xvi].

            Tr�s anos depois toda e qualquer oposi��o foi banida na It�lia, �n�o obstante, Ramsay MacDonald escreveu cartas cordiais a Mussolini � no momento do assassinato de Matteotti. Austen Chamberlain e Mussolini trocaram fotografias. Winston Churchill o elogiou como salvador de seu pa�s e grande estadista europeu.�[xvii]

            Em 1923, o general Primo de Rivera imp�s uma ditadura militar na Espanha, enquanto que na Bulg�ria se instalou o governo Zankov, fruto de outro golpe militar. Na Alemanha, Hitler e L�dendorff conclamaram em Munique � Marcha sobre Berlim, mas foram desbaratados. Em 1926, Pol�nia, Portugal e Litu�nia substitu�ram a democracia liberal por regimes autorit�rios. Em 1929, a Iugosl�via sofreu o auto-golpe de estado do rei Alexandre.

A crise de 1929 � cujos efeitos viriam a se estenderam pelo menos at� 1933 � teve como conseq��ncia o acirramento das lutas sociais e o refor�o das tend�ncias fascistas do grande capital em todo o mundo, em especial na Europa:

Diante da amplitude sem precedentes da crise capitalista (crise financeira, econ�mica, social e pol�tica), os grandes interesses mundiais procuram solu��es urgentes. O ponto mais amea�ado � a Alemanha, segunda pot�ncia industrial do mundo, onde dez milh�es de desempregados deslizavam para os partidos de extrema esquerda, preparando uma revolu��o prolet�ria que viria a apoiar a Uni�o Sovi�tica (...) Certamente as teorias nebulosas, medievais, m�sticas e anti-semitas de Adolf Hitler chocavam os liberais, mas, diante do progresso dos partidos de esquerda, uma Frente de Direita se cria no mundo e dentro de cada pa�s. (...) A a��o pol�tica dos grupos Krupp, Thyssen (alem�es), Schneider e De Wendel (franceses) ultrapassa, e de longe, a dos partidos pol�ticos. O cartel decide apoiar o Partido Nazista (...).A tomada do poder na Alemanha pelos nazistas, permitir� o rearmamento de uma Alemanha frustrada, a absor��o de dez milh�es de desempregados, a destrui��o dos partidos de esquerda e seus sindicatos, a moderniza��o de um novo ex�rcito alem�o, o �nico capaz de afrontar a Uni�o Sovi�tica. (...) Na Inglaterra, o grupo de Cliveden, dirigido por Lord e Lady Astor, Neville Chamberlain e Lord Halifax, apoia os projetos do grupo franco-alem�o. (...) Na Su�cia, na Su��a, na B�lgica, na Holanda, na Dinamarca, apesar das retic�ncias, os grupos do a�o, do carv�o, se aliam.[xviii]

Em 1932, formou-se o governo Salazar em Portugal e a Litu�nia tornou-se um Estado autorit�rio, de partido �nico. Em 1933, depois de uma vit�ria eleitoral, Hitler foi nomeado chanceler, assumiu o poder e � em nome do nacionalismo e do anticomunismo � implantou o nazismo na Alemanha. No mesmo ano, Dollfus deu um golpe de estado e instaurou uma ditadura marcadamente fascista na �ustria. Em 1934 foram instalados governos ditatoriais na Est�nia (Konstantin Paets) e na Let�nia (Karlis Ulmanis).

Na Fran�a a tentativa de golpe fascista dos bandos armados dos Croix de Feux e dos Cavaleiros do Rei foi derrotada pela resist�ncia popular. Em 1936, o general Franco - com o apoio da Alemanha e da It�lia - levantou-se contra o governo republicano, dando in�cio � guerra civil espanhola. Nesse mesmo ano, o general Metaxas deu um golpe de estado na Gr�cia. Salvo a Fran�a e alguns pa�ses Escandinavos, praticamente toda a Europa continental ficou submetida a governos fascistas ou filo-fascistas. Mesmo nos pa�ses onde a democracia liberal se manteve, importantes setores das classes dominantes passaram a olhar com simpatia o fen�meno fascista. No Jap�o, o primeiro ministro Konoye Fuminaro proclamou em 1938 a instaura��o de uma �Nova Ordem� na �sia Oriental, fechou os partidos pol�ticos e criou o partido �nico em 1940.

A POL�TICA DE �APAZIGUAMENTO�

            Considera-se o 1� de setembro de 1939 � dia do in�cio da invas�o da Pol�nia pela Alemanha � como a data do in�cio da 2� Guerra Mundial. Mas, pode-se dizer que, de certa forma, esta j� havia iniciado bem antes, atrav�s de uma s�rie de agress�es pontuais, entre 1931 e 1939, s� tendo se ampliado com o ataque � Pol�nia.

O primeiro elo dessa corrente de agress�es ocorreu em setembro de 1931, quando o Jap�o invadiu a Mandch�ria, no Nordeste da China e na fronteira com a URSS. O governo de Chiang Kai-chek, em luta contra os comunistas chineses, n�o ofereceu uma resist�ncia efetiva aos invasores japoneses, que criaram no territ�rio ocupado a Rep�blica �independente� do Mandchuko, colocando a sua frente um governo fantoche. A China apelou � Sociedade das Na��es e �s democracias ocidentais, que nada fizeram: �A Gr�-Bretanha, preocupada pela depress�o econ�mica, se negou a prestar o seu apoio �s san��es contra o Jap�o.�[xix] Os EUA, diretamente atingidos por essa expans�o japonesa (que contrariava frontalmente as resolu��es da Confer�ncia de Washington), tamb�m aceitaram a ocupa��o japonesa. Na ocasi�o, o Presidente norte-americano Hoover assim explicou a sua postura:

Se os japoneses nos tivessem declarado diretamente: �N�o podemos mais observar acordos [de Washington, G.D.] por que a ordem n�o foi restabelecida na China. A metade da China foi bolchevizada e colabora com a R�ssia (�) Nossa exist�ncia estar� amea�ada se tivermos por vizinho, ao Norte, a R�ssia bolchevista e, nos flancos uma China que pode ser bolchevizada, (�) d�em-nos a possibilidade de restabelecer a ordem na China e n�s seremos obrigados a faz�-lo para nossa defesa (�)� A esta proposta a Am�rica n�o poderia, certamente, apresentar s�rias obje��es.[xx]

            Ficava claro que tanto a Sociedade das Na��es (Fran�a, Inglaterra, It�lia, Jap�o) como os Estados Unidos � apesar do seu discurso em defesa da autonomia dos povos e em defesa da paz � moviam-se unicamente em fun��o de seus interesses estrat�gicos e o grande inimigo a isolar era a URSS.

            A ascens�o de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, tamb�m pode ser considerada como mais um passo no rumo da 2� Guerra Mundial. Apesar disso, contou com a decidida simpatia das elites dirigentes e o apoio do grande capital das principais democracias capitalistas que consideravam que �a Alemanha deveria se tornar a pot�ncia dominante sobre o continente europeu e que o nacional-socialismo era a �nica barreira contra o comunismo.�[xxi] Ali�s, Hitler soube jogar magistralmente com a histeria anticomunista da burguesia mundial, arrancando-lhe concess�es crescentes em nome do �combate ao bolchevismo�:

Quando Hitler pretendeu restabelecer as disposi��es de Brest-Litovsk, p�de posar tamb�m como defensor da civiliza��o europ�ia contra o bolchevismo e o perigo vermelho. Talvez suas ambi��es estivessem realmente limitadas ao Leste (...) Contra todas as expectativas, Hitler viu-se em guerra com as pot�ncias ocidentais, antes de ter conquistado o Leste. N�o obstante, a expans�o naquele sentido era a finalidade primordial, e talvez �nica, de sua pol�tica.[xxii].

            J� em 1924, no pen�ltimo cap�tulo de Mein Kampf � intitulado �Orienta��o para leste ou pol�tica de leste� � Hitler afirmara:

N�s, os nacionais-socialistas (�) Fazemos parar a eterna corrente germ�nica em dire��o ao sul e ao ocidente da Europa e lan�amos a vista para as terras de leste. (�) Quando, hoje em dia, falamos, na Europa, de nosso solo, pensamos, em primeira linha, somente na R�ssia e Estados adjacentes, a ela subordinados. O pr�prio destino parece querer nos indicar a dire��o. O destino ao abandonar a R�ssia ao bolchevismo, roubou ao povo russo a classe educada que criara e garantira a sua exist�ncia como Estado. (�) Devemos enxergar no bolchevismo russo a tentativa do juda�smo, no s�culo vinte, de apoderar-se do dom�nio do mundo. (�) N�o � a orienta��o para o Ocidente e para o Oriente que deve ser o futuro objetivo de nossa pol�tica externa e, sim, a pol�tica do Oriente necess�ria ao nosso povo.[xxiii]

            Deixando claro o sentimento das democracias ocidentais em rela��o ao nazismo, o primeiro ministro ingl�s Baldwin diria na �poca: �Todos n�s temos conhecimento do desejo da Alemanha de avan�ar em dire��o ao Leste, exposto por Hitler no seu livro. Se avan�asse para o Leste, o meu cora��o n�o se partiria... Se na Europa surgisse uma disputa, eu gostaria que fosse entre os bolcheviques e os nazistas.� [xxiv]

O rearmamento alem�o

            Em mar�o de 1935, a Alemanha declarou formalmente que n�o reconhecia mais as restri��es militares do Tratado de Versalhes, ampliou as suas for�as terrestres para 12 corpos de ex�rcito e 36 divis�es, criou a sua For�a A�rea e restabeleceu o servi�o militar obrigat�rio. As �pot�ncias� ocidentais e a Sociedade das Na��es, afora t�midas notas formais de protesto, nada fizeram. Na Inglaterra, essa pol�tica de fortalecimento militar da Alemanha correspondia � pol�tica do chamado grupo de Cleveden � organizado por Neville Chamberlain, Lord Halifax e o casal Astor � que considerava ser �necess�rio criar uma frente das pot�ncias capitalistas, onde o Imp�rio Brit�nico e a Fran�a exerceriam seu poder nos imp�rios coloniais, e � Alemanha caberia a tarefa de dominar a Europa centro-oriental, destruindo o Estado Sovi�tico e o movimento oper�rio no continente.�[xxv] Como anotaria em suas Mem�rias  Ernst Heinkel, o construtor de avi�es nazista:

Os pol�ticos desses pa�ses, que de in�cio haviam condenado o armamento da Alemanha, incentivaram-na, eles pr�prios, a armar-se, e (�) alguns anos mais tarde, engenheiros e militares desses pa�ses vieram consultar os t�cnicos alem�es sobre a forma de acelerar a participa��o da Alemanha no armamento da Europa, afastando as restri��es impostas.[xxvi]

            Explorando o anticomunismo, Hitler assinou em janeiro de 1934 um pacto de n�o-agress�o com a Pol�nia de Pilsudski (que tinha o general Beck como Ministro do Exterior):

Tudo o que se conhece do pacto firmado entre a Pol�nia e a Alemanha demonstra que se trata de um pacto de agress�o que serve aos fins da prepara��o da guerra. (...) ao firmar este pacto, o fascismo polaco adere ao plano criminoso de invas�o e de coloniza��o da Ucr�nia Sovi�tica. (...) Este acordo teve como conseq��ncia direta um agravamento da amea�a contra as fronteiras checas, contra a independ�ncia da Checoslov�quia e tornou mais aguda a agressividade do fascismo alem�o em sua luta para por fim � independ�ncia dos pa�ses b�lticos. Agu�ou, igualmente, at� o extremo a quest�o austr�aca. Depois de haver destru�do a alian�a franco-polaca (...) quer obter a desagrega��o da pequena Entente e substitu�-la na Europa central por um novo bloco de pot�ncias fascistas, cujo eixo o formariam a Pol�nia, a Hungria e a Bulg�ria. Os fascistas alem�es tratam, tamb�m, de atrair para esse bloco a Iugosl�via, prometendo-lhe uma parte dos territ�rios austr�acos, assim como se esfor�am em modificar a orienta��o da pol�tica exterior da Rum�nia.[xxvii]

            Em 2 de maio de 1935, com o objetivo de satisfazer a opini�o p�blica francesa, Pierre Laval assinou um pacto franco-sovi�tico, mas n�o demonstrou a m�nima vontade de concretiz�-lo: �Foi necess�rio mais de um ano ao Governo franc�s para conseguir a ratifica��o do tratado de 1935 e depois o mesmo governo evitou a elabora��o de uma conven��o militar, que seria a conseq��ncia l�gica do tratado.� [xxviii] Na verdade, �o que [Laval] desejava era uma alian�a com a It�lia fascista (...) e uma esp�cie de entendimento com a Alemanha nazista, para poupar � Fran�a nova agress�o vinda da outra margem do Reno, e ainda fazer Hitler voltar seus anseios de agress�o para leste, isto �, para R�ssia.�[xxix]

            Em junho de 1935, depois de intensas negocia��es secretas, � revelia da Fran�a e transgredindo o Tratado de Versalhes, foi assinado o Acordo Naval Anglo-Germ�nico, pelo qual a Alemanha obteve o direito de quadruplicar a sua frota, at� atingir 35% do poderio mar�timo ingl�s, e de construir submarinos:

A limita��o da frota alem� a um ter�o da inglesa permitia � Alemanha empreender um programa de novas constru��es que fariam trabalhar os seus estaleiros com m�xima atividade pelo menos durante dez anos. (...) Se autorizou a Alemanha a lan�ar cinco coura�ados, dois porta-avi�es, 21 cruzadores e 64 destr�iers.[xxx]

            O objetivo de fortalecer militarmente a Alemanha para torn�-la um dique contra a URSS n�o podia ser mais claro e �o embaixador americano em Berlim considerou o pacto anglo-alem�o como um passo a mais na pol�tica de cerco � Uni�o Sovi�tica.�[xxxi]

            Nesse mesmo ano, o Sarre, com seus imensos recursos, foi reincorporado � Alemanha, refor�ando o seu poderio econ�mico-militar.

            Em agosto de 1935, Jorge Dimitrov, em seu Informe ao VII Congresso da Internacional Comunista, afirmou: �a chegada ao poder do fascismo n�o � uma simples mudan�a de um governo burgu�s por outro, mas a substitui��o de uma forma estatal de domina��o de classe da burguesia � a democracia burguesa � por outra forma, a ditadura terrorista declarada�.[xxxii] Para enfrentar essa amea�a, conclamou � forma��o de frentes �nicas oper�rias e � tendo estas por base � de frentes populares antifascistas. Da mesma forma, definiu a Alemanha como o principal inimigo da paz, junto com o Jap�o e a It�lia.

            Tendo em vista que a agress�o fascista amea�ava outros pa�ses, al�m da URSS, o VII Congresso concluiu que �a guerra que a burguesia desse pa�s travar para repelir esse ataque pode tomar o car�ter de uma guerra de liberta��o, na qual n�o podem deixar de intervir a classe oper�ria nem os comunistas do pa�s em quest�o.�[xxxiii]

Agress�o � Abiss�nia, militariza��o da Ren�nia, Guerra Civil Espanhola, ocupa��o da Mandch�ria

            Encorajada por tanta impunidade, a It�lia lan�ou as suas tropas, em outubro de 1935, contra a Abiss�nia, violando os Estatutos da Sociedade das Na��es. Esta � ap�s o plano Hoare-Laval que entregou a metade da Abiss�nia para a It�lia � determinou unicamente um embargo comercial parcial, autorizando a venda � It�lia de petr�leo e outros produtos vitais para a sua a��o militar:

se elaborou um imponente quadro de proibi��es. Mas o petr�leo, necess�rio para atuar na Abiss�nia, continuou sendo enviado. (...) Se proibiu a exporta��o de alum�nio � It�lia, mas, por casualidade, este era o �nico metal produzido pela It�lia em quantidades superiores �s suas necessidades. (...) se impediu o envio � It�lia de limalha e mineral de ferro (...) n�o se vedou o envio de lingotes de ferro e a�o. A It�lia n�o sofreu nenhum estorvo. De forma que as aparatosas san��es n�o tinham por objetivo paralisar o agressor, mas de fato o estimulavam a agir.[xxxiv]

            Em maio de 1936, depois de massacrar a popula��o abiss�nia, inclusive com o uso de gases t�xicos, as tropas italianas entraram em Addis-Abeba e proclamaram Victor Emmanuel III imperador da Eti�pia.

            Em mar�o de 1936 � transgredindo abertamente o tratado de Versalhes � a Alemanha ocupou a Ren�nia desmilitarizada, com somente tr�s batalh�es, chegando at� a fronteira franco-alem�. A Fran�a esbo�ou a mobiliza��o de 12 divis�es, mas antes consultou se a Inglaterra tamb�m agiria. Diante da resposta negativa, nada fez, apesar da superioridade absoluta de for�as que tinha sobre a Alemanha. Tamb�m os Estados Unidos deram o seu benepl�cito a mais essa investida nazista. Atemorizada, a B�lgica retirou-se do Pacto de Locarno e da alian�a com Gr�-Bretanha e Fran�a, e declarou-se neutra. No mesmo ano, a Alemanha deu in�cio � constru��o na Ren�nia da Linha Sigfried.

            Em julho de 1936, o general Franco colocou-se � frente de um levante de car�ter fascista contra o governo republicano da Espanha, com total apoio da It�lia e da Alemanha:

Em 28 de julho de 1936, no in�cio do conflito, quando parecia que Franco n�o poderia transportar seus mouros e legion�rios de Marrocos � pen�nsula, Hitler lhe enviou 30 avi�es Junker de transporte para cruzar o estreito. Esta ajuda foi seguida por um rio de muni��es, canh�es, tropas, avi�es, pilotos e mec�nicos, enviados com o benepl�cito de Hitler e Mussolini. Em 1937, Franco tinha sob o seu mando 30.000 soldados italianos e 12.000 alem�es. Chegou a ter at� 100.000 soldados italianos. O Papa tamb�m prestou a sua ajuda espiritual a Franco �este leal filho da Igreja�. As tropas italianas que embarcavam para a Espanha recebiam a ben��o papal antes de abandonar o solo italiano.[xxxv]

            T�o logo iniciou a guerra civil espanhola, a Fran�a, a Inglaterra, a Alemanha e a It�lia criaram um hip�crita Comit� de N�o Interven��o � que colocava em p� de igualdade o leg�timo governo da Rep�blica e os militares rebelados � e que fazia �olhos de mercador� � interven��o aberta da Alemanha e da It�lia em favor dos fascistas espanh�is. Enquanto estas duas pot�ncias do Eixo inundavam a Espanha com suas armas e tropas, a Fran�a, a Inglaterra e os Estados Unidos se negavam a vender armas ao governo republicano, sob o pretexto de �n�o interven��o�, e ainda impunham esse embargo ao resto do mundo.

            S� a Uni�o Sovi�tica � apesar do seu isolamento, e dos riscos que isto envolvia � ousou romper esse bloqueio que as �democracias liberais� e o nazi-fascismo impuseram ao governo republicano da Espanha, fornecendo-lhe apoio material e pol�tico: �De 1936 a 1937, a Uni�o Sovi�tica forneceu ao governo leg�timo da Espanha 806 avi�es de guerra, 362 carros de combate, mais de 100 ve�culos blindados, 1.555 pe�as de artilharia, 15.113 metralhadoras, cerca de 500.000 fuzis, mais de 4.000.000 proj�teis e outros equipamentos de guerra.�[xxxvi]

            Depois de longos tr�s anos de luta � durante os quais antifascistas de todo o mundo combateram lado a lado com o povo espanhol nas famosas brigadas internacionais � a Republica Espanhola foi derrotada em mar�o de 1939.

            Em outubro de 1936, a Alemanha e a It�lia criaram um bloco militar denominado �Eixo Berlim-Roma�:

se concretizou (...) o �eixo� Roma-Berlim, ostensivamente destinado � luta contra o bolchevismo (...) colocando a URSS como objetivo capaz de justificar todas as concess�es. Os estadistas franceses e ingleses vislumbraram no fantasma do comunismo o pretexto para explicar a toler�ncia com que admitiam o fortalecimento dos dois ditadores, na esperan�a de que eles chamariam a si a tarefa de opor uma barreira � expans�o sovi�tica.[xxxvii]

            Em novembro do mesmo ano, a Alemanha e o Jap�o assinaram o Pacto Anticomintern que � para ganhar a simpatia dos c�rculos dirigentes da Inglaterra e da Fran�a � conclamava � luta comum contra as atividades da Internacional Comunista, dentro e fora dos seus pa�ses. Em 1937, a It�lia aderiu a ele. Em abril de 1939, um m�s ap�s a sua vit�ria, Franco fez o mesmo:

Os jornais reacion�rios franceses, desde o cauteloso Le Temps ao viperino Gringoire, saudaram o pacto Anticomintern dizendo que era �um elemento poderoso para a seguran�a da Fran�a�. Logo que o bolchevismo � era assim que designavam a Frente Popular espanhola � fosse esmagado na Espanha, o F�hrer voltar-se-ia para a R�ssia Sovi�tica. [xxxviii]

Quando o pacto Anticomintern levantou as id�ias pol�ticas (...) personalidades dos dois pa�ses democr�ticos tamb�m sentiram a atra��o do anticomunismo. Inclinavam-se � neutralidade entre o fascismo e o comunismo ou, talvez, mesmo para o lado fascista (...) Quando um governo de Frente Popular se organizou, os franceses conservadores e ricos n�o disseram apenas: �Melhor Hitler do que Stalin�, mas �Melhior Hitler que Le�n Blum� [xxxix]

            Em julho de 1937, o Jap�o � que j� ocupara impunemente a Mandch�ria � lan�ou-se sobre o resto da China. Uma a uma, foram caindo as principais cidades chinesas: Nanquim (dezembro de 1937), Cant�o (outubro de 1938), Hankow (outubro de 1938). Virtualmente derrotada a resist�ncia de Chiag-Kai-chek, os japoneses impuseram o governo fantoche pr�-japon�s de Wang Ching-Wei.

            Em fevereiro de 1939, foi tomada a ilha de Hainan, posi��o estrat�gica para um posterior assalto � Indochina francesa. Washington e Londres se limitaram a enviar notas formais de protesto a T�quio, enquanto na pr�tica contribu�am para o esfor�o de guerra japon�s. Segundo Herrera, �as estat�sticas revelam que 60% do petr�leo, sucata, avi�es, viaturas e outros equipamentos militares utilizados pelo Jap�o contra a China eram oriundos dos Estados Unidos, cabendo a Inglaterra contribuir com mais 20%.�[xl]

            Mais uma vez, a URSS foi o �nico pa�s a opor-se a essa agress�o: �Entre 1938 e 1939, a URSS concedeu � China cr�ditos totalizando uns 250 milh�es de d�lares norte-americanos, fornecendo-lhe, por conta desse valor, em torno de 900 avi�es, 82 tanques, cerca de 1.200 canh�es e obuses, mais de 9.500 metralhadoras, etc.�[xli] Na verdade, as �aspira��es expansionistas do Jap�o n�o encontraram resist�ncia por parte dos c�rculos imperialistas dos EUA, da Inglaterra e da Fran�a, que contavam aproveitar a possibilidade que se lhes oferecia para reprimir o movimento revolucion�rio na China e atacar a Uni�o Sovi�tica.�[xlii] Dando raz�o a esses c�rculos, em 1938 o Jap�o empreendeu um ataque armado direto � URSS, a partir da Mandch�ria, na regi�o do lago Khassan, mas foi contido e derrotado.

A anexa��o da �ustria

Dentro da estrat�gia das democracias ocidentais de incentivar a expans�o da Alemanha nazista para o leste e de lan��-la contra a Uni�o Sovi�tica, a Fran�a e a Inglaterra passaram a sinalizar o seu benepl�cito em rela��o �s pretens�es de Hitler quanto � �ustria, � Checoslov�quia e a Dantzig, desde que n�o fosse usada a viol�ncia. Em novembro de 1937, Lord Halifax entrevistou-se com Hitler:

Halifax disse tudo o que Hitler esperava ouvir. Elogiou a Alemanha nazista �como o baluarte da Europa contra o bolchevismo�, e evidenciou simpatia para com as reivindica��es alem�s. Deteve-se particularmente em certas quest�es onde �altera��es poss�veis poderiam estar destinadas a se resolverem com o passar do tempo.� Eram Dantzig, �ustria a Checoslov�quia. �A Inglaterra est� interessada em que qualquer altera��o se fa�a por meio da evolu��o pac�fica e se evitem m�todos que possam causar perturba��es de longo alcance.� (...) As observa��es de Halifax (...) eram um convite a Hitler para promover a agita��o nacionalista alem� em Dantzig, Checoslov�quia e �ustria, e uma garantia de que a agita��o n�o encontraria resist�ncia externa. Tais insinua��es n�o foram feitas apenas por Halifax. Em Londres, Eden disse a Ribbentrop: �O povo da Inglaterra reconhece que uma maior aproxima��o entre a Alemanha e a �ustria ter� de ocorrer algum dia�. As mesmas not�cias vinham da Fran�a. Papen, numa visita a Paris, �surpreendeu-se ao notar� que Chautemps, o �premier�, e Bonnet, ent�o Ministro das Finan�as (...) n�o tinham obje��es a uma acentuada amplia��o da influ�ncia da Alemanha na �ustria�, obtida atrav�s de �meios evolucion�rios�, nem na Checoslov�quia �na base da reorganiza��o numa a��o de nacionalidades�.[xliii]

            Estavam preparadas as condi��es para que o ano de 1938 ficasse gravado na hist�ria como o ano da anexa��o da �ustria e da capitula��o de Munique. Essas a��es foram precedida de uma intensa atividade diplom�tica por parte de Hitler:

J� em novembro de 1937, recebera da Inglaterra garantias nesse sentido. Elas foram confirmadas por Henderson, embaixador brit�nico em Berlim. A 3 de mar�o de 1938, Henderson informou a Hitler, em car�ter estritamente confidencial, que era favor�vel ao Anschluss [V. Documentos e Materiais das V�speras da Segunda Guerra Mundial, t.. I, Moscou 1948, p. 70]. Em come�os de 1938, durante suas entrevistas em Berlim com o ex-presidente dos Estados Unidos Herbert Hoover, Hitler recebera as mesmas garantias. (�) em setembro de 1937 Hitler obtivera o consentimento de Mussolini para essa opera��o. (�) A �ustria estava entregue aos nazistas.[xliv]

            Agora s� faltava o golpe de miseric�rdia. Depois de ordenar a Seyss-Inquart, chefe dos nazistas austr�acos que intensificasse as agita��es pr�-Alemanha na �ustria, Hitler mandou chamar o chanceler Schuschnigg, a quem amea�ou com uma imediata invas�o do pa�s e apresentou um ultimato:

todos os austr�acos tinham que aceitar a doutrina do nacional-socialismo; os nazistas austr�acos poderiam se dedicar sem impedimento algum a suas �atividades legais�; todos os nazistas encarcerados, inclusive os assassinos de Dollfuss, tinham que ser postos em liberdade; havia que nomear Seysss-Inquart ministro do Interior, e o ex�rcito austr�aco tinha que aceitar imediatamente no seu seio a uma centena de oficiais do ex�rcito alem�o. Depois de dez horas (�) Schuschnigg aceitou a maioria das exig�ncias, acrescentando que desejava esclarecer alguns pontos com o presidente Wilhelm Miklas.[xlv]

            De volta � �ustria, Schuschnigg convocou um plebiscito para 13 mar�o de 1938 para decidir sobre o futuro da �ustria. Furioso, Hitler exigiu que o plebiscito fosse suspenso e ordenou a Wehrmacht que se mantivessem pronta para invadir a �ustria. Abandonado pelas democracias ocidentais, Sch�schnigg capitulou, afirmando na radio que �tivemos que inclinar-nos ante a for�a, pois n�o estamos dispostos, sequer nesta terr�vel situa��o, a derramar sangue alem�o. Ordenamos ao ex�rcito austr�aco que se retire, sem oferecer resist�ncia.�[xlvi]

            A meia noite do dia 11 de mar�o de 1938, Seyss-Inquart foi nomeado chanceler da �ustria, momento em que as primeiras unidades alem�s j� estavam cruzando a fronteira. Ao meio dia Viena foi ocupada pelas tropas da Alemanha. O presidente Miklas se demitiu. Schuschnigg foi mantido encarcerado durante 17 meses. Hitler declarou a �ustria nova Land (prov�ncia) do Reich sob o nome de Ostmark, tendo Seyss-Inquart como regente:

Pa�s capitalista algum protesta, nem mesmo pr� forma, contra este ato de agress�o A Inglaterra e a Fran�a reconhecem imediatamente a anexa��o. Os Estados Unidos fecham a embaixada em Viena e a substituem por um Consulado. O Vaticano tampouco se op�e � ocupa��o da �ustria cat�lica.[xlvii]

            Diferentemente das democracias liberais, a URSS condenou a agress�o e conclamou todos a se oporem aos invasores. A resposta foi a contemporiza��o com o agressor:

Quando em 18 de mar�o, a Uni�o Sovi�tica solicitou que se adotasse uma a��o coletiva contra aquela evidente agress�o, o primeiro-ministro Neville Chamberlain, replicou timidamente que ele n�o queria estabelecer �um grupo exclusivo de na��es que torpedeasse as perspectivas de paz na Europa.� As sombras do apaziguamento come�aram a estender-se sobre a Europa.[xlviii]

            Com a ocupa��o da �ustria, a Alemanha dava mais um importante passo para a guerra. Al�m de aumentar sua �Grande Alemanha� em mais de 6.500.000 habitantes, no terreno estrat�gico Hitler havia tomado a chave do sistema de comunica��es do Dan�bio, estabeleceu fronteiras com a It�lia e cercou a Checoslov�quia. Como exp�s Jodl, chefe do Gabinete de Opera��es do Grande Quartel-General Alem�o:

A Anschluss permitiu, por sua vez, atingir n�o somente um antigo objetivo nacional, mas teve como resultado um crescimento de nossa capacidade de combate e um melhoramento not�vel de nossas posi��es estrat�gicas. Se at� ent�o o territ�rio da Checoslov�quia avan�ara amea�adoramente dentro da pr�pria Alemanha, (�Ferr�o de vespa� em dire��o da Fran�a e base a�rea para os aliados, sobretudo para a R�ssia), agora a Checoslov�quia se acha presa nos dentes de uma tenaz.[xlix]

A capitula��o de Munique

            Os c�rculos mais reacion�rios da Inglaterra � tomados pela miopia, e preocupados somente em dirigir o avan�o alem�o para o Leste � passaram a incentivar novos atos de agress�o da Alemanha. J� no dia 14 de mar�o de 1938, o jornal brit�nico The Daily Express afirmava: �A ocupa��o da �ustria pela Alemanha n�o muda nada. Afinal de contas a �ustria era um pa�s germ�nico mesmo antes de Hitler enviar para l� suas tropas. Devemo-nos ocupar de nossos pr�prios neg�cios. A Checoslov�quia n�o nos interessa.�[l] Em 16 de abril de 1938, foi firmado o acordo anglo-italiano, dando carta branca aos italianos na Abiss�nia e total liberdade para agirem em favor de Franco na Espanha, em troca dos bons of�cios italianos na Europa Central. Em carta a Eden, Churchill comentaria:

O pacto italiano �, desde logo, um completo triunfo para Mussolini, j� que aceitamos (...) que consolide a sua conquista da Abiss�nia e que execute viol�ncias na Espanha. (...) Eu creio que o pacto anglo-italiano seja s� um primeiro passo, e que o segundo consistir� em uma tentativa de barganhar com Alemanha um tratado ainda mais enganador que adorme�a ao p�blico brit�nico enquanto permite crescer as for�as armadas alem�s e desenvolverem-se os planos da Alemanha no Leste da Europa. Na semana passada, Chamberlain disse em segredo (...) que �n�o abandonava a esperan�a de alcan�ar acordos semelhantes com Alemanha�.[li]

            Estava aberto o caminho para a agress�o � Checoslov�quia. Em maio de 1938, alegando persegui��o aos alem�es que viviam nos Sudetos, Hitler faz amea�as e deslocou tropas para a fronteira checa. Estes respondem concentrando 400.000 homens na fronteira e receberam o apoio da Uni�o Sovi�tica, da Inglaterra e da Fran�a. Hitler recuou momentaneamente, mas orientou Henlein, o chefe nazista nos Sudetos, a intensificar as a��es dos seus seguidores. Ao mesmo tempo, intensificou as press�es diplom�ticas sobre a Fran�a e a Inglaterra. Temeroso, Chamberlain � em acordo com a Fran�a � enviou Lord Runciman a Praga, na qualidade de �rbitro oficioso.

            Pressionados por Runciman, os checos fizeram grandes concess�es: concordaram em dividir a Checoslov�quia em cant�es (como a Su��a), garantir a participa��o proporcional de todas as nacionalidades no governo e na dire��o das empresas do Estado, conceder de empr�stimos aos Sudetos para melhorar a sua situa��o econ�mica. Mas quanto mais cediam, mais Hitler amea�ava e intensificava a agita��o nos Sudetos, a ponto do presidente Benes ser obrigado a proclamar a lei marcial.

Apavorado, Chamberlain tomou um avi�o em Londres e aterrizou em Berchtesgaden no dia 15 de setembro de 1938. Era a primeira das tr�s humilhantes viagens feitas por ele � Alemanha, na tentativa de apaziguar Hitler. Este foi enf�tico: os Sudetos deviam ser imediatamente incorporados ao Terceiro Reich, sen�o estalaria a guerra geral: Chamberlain afirmou que se Hitler n�o queria nada mais que os Sudetos alem�es a Inglaterra n�o se oporia a isso[lii], e s� pediu alguns dias para consultar o seu minist�rio.

De regresso a Londres, conferenciou com os membros do seu gabinete e com o presidente do Conselho Franc�s Eduardo Daladier e seu ministro de Assuntos Exteriores George Bonnet. Entrementes, Hitler buscava o apoio da Pol�nia para a sua agress�o � Checoslov�quia. Aproveitando-se da situa��o dif�cil em que esse pa�s se encontrava, o reacion�rio governo de Vars�via reivindicou a regi�o de Teschen, rica em carv�o, e assegurou que n�o vacilaria em usar a for�a para conquist�-la.

No dia 20 de setembro, sem qualquer consulta a Praga, a Inglaterra e a Fran�a comunicaram � Checoslov�quia que para evitar a guerra ela deveria entregar todas as regi�es habitadas por maiorias alem�s a Hitler, anular o Tratado sovi�tico-checoslovaco de assist�ncia m�tua, assinar um acordo econ�mico com a Alemanha (francamente desfavor�vel) e proibir toda propaganda antifascista. Se aceitasse essas condi��es, a Inglaterra e a Fran�a se comprometiam em garantir a sua independ�ncia. Caso contr�rio, retirariam suas garantias:

Se a guerra estalar por causa da atitude negativa do governo checo, a Fran�a n�o entrar� em a��o e, em tal hip�tese, Checoslov�quia seria feita respons�vel por ter provocado uma guerra. Se os checos se unirem com os russos, a guerra poderia tornar-se uma cruzada antibolchevique, da qual seria muito dif�cil aos governos franc�s e ingl�s desassociarem-se.[liii]

O gabinete checo decidiu ceder e apresentou a sua demiss�o. No dia 22 Chamberlain foi ao encontro de Hitler em Godesberg para entregar-lhe os Sudetos. Mas Hitler declarou que agora n�o bastavam essas condi��es, que a Alemanha exigia a imediata ocupa��o de todas as regi�es de fala alem� no pa�s e dava o prazo at� 1� de outubro para que os checos aceitassem. Atordoado, o chanceler brit�nico voltou a Londres, para novas tratativas com os franceses. Indignados, os checos recha�aram o ultimato de Godesberg:

Mal a nota de rejei��o havia sido recebida pelos enviados ingl�s e franc�s em Praga, �s cinco da tarde do dia 19, j� o ministro brit�nico, Sir Basil Newton, avisou o Ministro do Exterior checo, Dr. Kamil Krofta de que se o governo checo a ela se apegasse a Inglaterra se desinteressaria do destino do pa�s. M. De Lacroix, o embaixador franc�s, associou-se a essa declara��o, em nome da Fran�a.[liv]

A Inglaterra sinalizava conceder tudo o que Hitler exigia:

Os ingleses tamb�m estavam se movendo: se sabe que a FA interceptou a chamada que Chamberlain havia feito � sua Embaixada em Berlim �s 11h30 anunciando que estava pronto para ir outra vez � Alemanha. �s 12h30, enquanto Fran�ois-Poncet se ia, chegou Henderson com a proposta oficial de Chamberlain de que as cinco pot�ncias celebrassem uma confer�ncia: �Estou pronto para ir eu mesmo a Berlim.� (�) O embaixador Attolico voltou �s 2h40 (�) Durante a tarde se convidou as outras duas pot�ncias, Gr�-Bretanha e Fran�a, � confer�ncia. As duas aceitaram, Checoslov�quia n�o recebeu o convite. (�) Hitler explicou que n�o estava disposto a perder tempo com plebiscitos nas zonas em lit�gio. (�) J� que s� pedia as zonas de fala alem� e as outras tr�s pot�ncias estavam de acordo com isso, o �nico que restava por tratar era o modo de levar a cabo a cess�o. (�) o �nico obst�culo era a evacua��o imediata dos territ�rios por parte dos checos. (�) �s primeiras horas da madrugada se firmava o acordo de Munique. (�) Chamberlain pediu a Hitler a garantia de que � supondo que os checos fossem t�o arrogantes como para recha�ar os acordos de Munique � a avia��o n�o bombardearia alvos civis. Hitler prometeu.[lv]

Formalizando a capitula��o, o Acordo de Munique foi assinado junto com um tratado de amizade anglo-germ�nico que teve como signat�rios Hitler e Chamberlain:

As delibera��es adotadas em Munique representaram (...) uma vit�ria decisiva da estrat�gia hitleriana (...) solapava a confian�a das na��es menores e provocava o retraimento da URSS, principalmente porque j� ent�o Stalin se certificara dos secretos des�gnios de Paris e Londres: desviar para Leste a dire��o de ataque da m�quina nazista.[lvi]

Segundo Schirer, �em 4 de outubro, ap�s breve debate, durante o qual Daladier defendeu veementemente o Acordo de Munique, este foi aprovado pela C�mara por 535 votos a 75. Al�m de 73 comunistas, somente 2 deputados (...) votaram contra.�[lvii]

Al�m de entregar os Sudetos e seus 3.100.000 habitantes � Alemanha, o acordo impunha que a Checoslov�quia resolvesse o problema das minorias nacionais polonesa e h�ngara. Autorizava os ex�rcitos alem�es a entrarem na Checoslov�quia no dia 1� de outubro e exigia que os checos abandonassem nas regi�es ocupadas toda a classe de bens, em especial as muni��es. Al�m de entregar as suas defesas naturais, os checos estavam proibidos de destruir as fortifica��es que haviam constru�do.

Cinco semanas depois, Hitler se vangloriava: �S� vim a compreender a magnitude de tudo aquilo no momento em que me vi pela primeira vez no meio da linha fortificada checa: me dei conta do que significava ter tomado toda uma frente de quase dois mil quil�metros de fortifica��es sem haver disparado nem um s� tiro.�[lviii] O Acordo ainda previa a realiza��o de plebiscitos em outras partes da Checoslov�quia. Assinado o acordo, os representantes do governo checo foram convidados a comparecer na sala de sess�es, sendo-lhes dito pelo representante franc�s que era um veredicto sem apelo e sem corre��es poss�veis. Nos c�rculos dirigentes de todas as pot�ncias capitalistas o j�bilo foi enorme. Dava-se mais um passo no sentido de empurrar a Alemanha para o leste:

Constitu�a um retorno ao pacto das Quatro Pot�ncias, � id�ia de remodelar a Europa sem consultar a R�ssia, sob a �gide de uma Alemanha e uma It�lia agressivas e de uma Inglaterra e uma Fran�a (...) preocupadas por aplacar aos ditadores, distraindo a sua aten��o para o Leste.[lix]

Para ele [Hitler] o essencial � que a Fran�a e a Inglaterra tenham aceitado suas exig�ncias, o que significa que est�o tacitamente de acordo para deixar-lhe, de agora em diante, com �as m�os livres a leste�, sob a condi��o de que ele renuncie a qualquer pretens�o a oeste.[lx]

Sumner Welles, Sub-Secret�rio de Estado dos Estados Unidos assim caraterizou o ponto de vista desses c�rculos:

Naquele anos de pr�-guerra, os grandes grupos financeiros e comerciais das democracias ocidentais, inclusive numerosos grupos dos Estados Unidos, estavam persuadidos que a guerra entre a Uni�o Sovi�tica e a Alemanha s� podia ser favor�vel a seus pr�prios interesses. Estimavam que a R�ssia sofreria uma derrota inevit�vel e que o comunismo seria aniquilado. Mas, em conseq��ncia do conflito, a Alemanha ficaria t�o enfraquecida que, por longos anos, seria incapaz de apresentar um perigo real para o resto do mundo.[lxi]

� preciso registrar que durante todo o per�odo em que a Inglaterra e a Fran�a planejaram a entrega da Checoslov�quia, o alvo era a Uni�o Sovi�tica, que foi mantida a margem de qualquer negocia��o:

Os governos franc�s e brit�nico (...) estavam muito distra�dos com o problema alem�o para examinar o que ocorreria quando a Alemanha se tornasse a pot�ncia dominante na Europa oriental. Naturalmente preferiam que ela marchasse para o leste e n�o para o oeste (...) Observadores argutos esperavam que seu passo seguinte seria na dire��o da Ucr�nia � passo esperado pelos estadistas ocidentais com certa satisfa��o (...) Se Hitler realmente pretendia atacar a Ucr�nia, teria de faz�-lo atrav�s da Pol�nia (...) Alemanha e Pol�nia poderiam agir juntas na Ucr�nia. A 24 de outubro, Ribbentrop insinuou essas propostas a Lipski, o embaixador polon�s. (...) poderia haver ent�o uma �pol�tica conjunta em rela��o � R�ssia, tendo por base o Pacto Anticomintern. (...) Beck n�o guardou segredo sobre o fato de que a Pol�nia tinha aspira��es em rela��o � Ucr�nia Sovi�tica� quando Ribbentrop visitou Vars�via (...) considerava-se como iminente uma campanha conjunta na Ucr�nia.[lxii]

Mesmo assim, a URSS reafirmou a sua firme disposi��o de honrar os compromissos que havia assumido em rela��o � Checoslov�quia, inclusive atrav�s de um pronunciamento p�blico de Litvinov da tribuna da Sociedade das Na��es, em 21 de setembro de 1938:

O texto do tratado continha uma cl�usula que fora introduzida �s inst�ncias de Benes. Estabelecia que os compromissos do tratado sovi�tico-checoslovaco eram v�lidos somente se a Fran�a executasse os seus, assumidos diante da Uni�o Sovi�tica ou da Checoslov�quia. No momento mais critico da luta em torno do problema, quando tornou claro que a Fran�a n�o cumpriria os compromissos assumidos, a Uni�o Sovi�tica recusou-se a �tirar vantagens� desta cl�usula. O Governo sovi�tico declarou oficialmente que estava disposto a levar uma ajuda militar � Checoslov�quia mesmo que a Fran�a n�o o fizesse e mesmo que a Pol�nia ou a Rom�nia impedissem a passagem das tropas sovi�ticas. Mas ressaltava que a ajuda seria concedida com a condi��o de que �a Checoslov�quia se defendesse e solicitasse a ajuda sovi�tica�.[lxiii]

Para as fronteiras ocidentais da URSS foi deslocado um grande agrupamento de tropas. Em 28 de setembro estavam preparadas para serem expedidas para a Checoslov�quia 4 brigadas de avia��o (548 avi�es de combate), o que foi comunicado ao adido militar franc�s na URSS, Pallasse, e ao governo checoslovaco. Contudo, o governo Benes-Hodza tomou pela via da trai��o nacional e preferiu capitular, o que n�o permitiu � URSS ajudar em 1938 o povo checoslovaco e abriu aos hitlerianos o caminho para a completa ocupa��o e desmembramento do pa�s.[lxiv]

            Depois de adonar-se da terceira parte do pa�s e de quase um ter�o da sua popula��o, Hitler apresentou novas demandas: a constru��o de uma estrada de car�ter militar atrav�s do pa�s, o direito de arbitrar a sorte da Eslov�quia e da Rut�nia e a fixa��o dos territ�rios que caberiam � Hungria e � Pol�nia. Assim, no in�cio de novembro Hitler obrigou os checos a cederem Teschen aos polacos e as �reas fronteiri�as da Eslov�quia e da Rut�nia � Hungria.

            A vit�ria de Hitler foi total:

Imediatamente depois do acordo de Munique, o governo polaco enviou ao checo um ultimato exigindo a entrega do distrito fronteiri�o de Teschen em vinte e quatro horas. (...) Assim, ao mesmo tempo que o poderio alem�o amea�ava aos polacos, esses se apressavam a compartir a pilhagem da Checoslov�quia.[lxv]

A Pol�nia (...) tomou cerca de 650 milhas quadradas de Teschen, abrangendo uma popula��o de 228.000 habitantes, dos quais 133.000 checos. A Hungria obteve um peda�o maior (...): 7.560 milhas quadradas, com uma popula��o de 500.000 magiares e 272.000 eslovacos.[lxvi]

O ajuste definitivo de 20 de novembro de 1938 for�ou a Checoslov�quia a entregar � Alemanha 11.000 milhas quadradas de territ�rio, onde viviam 2.800.000 sudetos alem�es e 800.000 checos. Nessa �rea estavam todas as imensas fortifica��es checas que constitu�am at� ent�o a mais formid�vel linha defensiva na Europa, com a poss�vel exce��o da linha Maginot, na Fran�a. Mas n�o era tudo. Todo o sistema ferrovi�rio, rodovi�rio, telegr�fico e telef�nico de comunica��es foi destru�do. Segundo os algarismos alem�es, o pa�s desmembrado perdeu 66% de seu carv�o, 80% de sua linhita, 86% de suas subst�ncias qu�micas, 80% de seu cimento, 80% de seus t�xteis, 70% de seu ferro e a�o, 70% de seu potencial el�trico e 40% de suas florestas.[lxvii]

            Esquartejada a Checoslov�quia, Ribbentrop viajou para a Fran�a, em dezembro de 1938, para assinar com Bonnet um pacto franco-alem�o que � em troca do reconhecimento por Hitler do status quo na Als�cia-Lorena � deixava livres as m�os da Alemanha no Leste:

N�o h� d�vidas que a atitude dos estadistas ocidentais, que foram t�o longe no apaziguamento a Hitler em Munique, encerrava a esperan�a de que ele lan�aria suas for�as contra os russos, mais que contra o Ocidente, nem de que estavam dispostos inclusive a alent�-lo nesta pol�tica que parecia a muitos deles o resultado natural do pacto Anticomintern.[lxviii]

            Poucos dias depois da assinatura desse acordo, Bonnet foi interrogado no Comit� de Rela��es Exteriores da C�mara �se a Fran�a cumpriria suas obriga��es pelos pactos franco-polon�s e franco-sovi�tico, se esses pa�ses fossem atacados. Bonnet respondeu que n�o acreditava que qualquer desses dois pa�ses fosse capaz de se defender contra a Alemanha nazista. Acrescentou que novos movimentos alem�es no leste n�o alterariam a posi��o estrat�gica da Fran�a.�[lxix] O recado era claro. Coulondre, embaixador franc�s em Berlim, escrever� a Bonnet:

Com efeito, o desejo de expans�o para o Leste por parte do III Reich parece-me t�o certa como a sua ren�ncia, pelo menos de momento, a qualquer conquista no Ocidente (...) quer-me parecer que se v� desenhar pouco a pouco (...) as formas do grande empreendimento alem�o: tornar-se senhor da Europa Central, tornando seus vassalos a Checoslov�quia e a Hungria, e criar depois a grande Ucr�nia sob hegemonia alem� (...). Para tanto, seria necess�rio dominar a Rom�nia, convencer a Pol�nia, espoliar a URSS (...) nos meios militares j� se fala da cavalgada at� ao C�ucaso e a Baku.[lxx]

            Analisando esses acontecimentos em outubro de 1938, quase um ano antes do ataque � Pol�nia, um atilado e privilegiado observador registrou: �a guerra � hoje mais prov�vel do que nunca (...) dever� irromper depois das pr�ximas colheitas (...) a Pol�nia �, sem d�vida alguma a pr�xima v�tima da lista de Hitler (a estupidez cega dos poloneses durante a recente crise, auxiliando a destrui��o da Checoslov�quia)�[lxxi].

A destrui��o final da Checoslov�quia

Nos primeiros dias de mar�o de 1939, instigados por Hitler, os separatistas da Eslov�quia e da Rut�nia proclamaram a sua independ�ncia. Em 6 de mar�o, o governo checoslovaco demitiu o governo aut�nomo da Rut�nia e no dia 9 de mar�o o seu similar eslovaco, decretando a lei marcial. Hitler convocou, ent�o, o presidente Emil Hacha (Benes se refugiara nos EUA) a Berlim, comunicando-lhe que a Wermacht ia invadir a Bohemia e a Mor�via, mas se ele assinasse a capitula��o n�o haveria derramamento de sangue. Shirer registra a vilania da Fran�a e da Inglaterra frente a mais essa agress�o de Hitler:

A Fran�a n�o mexer� um dedo. Na verdade, ainda hoje, Georges Bonnet declarou � Comiss�o de Rela��es Exteriores da C�mara dos Deputados que as garantias de Munique �ainda n�o tinham sido efetivadas� e que, portanto, a Fran�a n�o estava obrigada a tomar nenhuma iniciativa. Ed Murrow telefona-me de Londres dizendo que, por l�, a rea��o � a mesma � que Chamberlain, falando esta tarde perante os Comuns, avan�ou tanto que chegou a afirmar que se recusava peremptoriamente a associar-se a qualquer acusa��o de quebra de compromisso por parte de Hitler.[lxxii]

Na madrugada do dia 15 de mar�o de 1939, sem esperan�a de qualquer apoio da Inglaterra ou da Fran�a, Hacha assinou a rendi��o:

O acordo principal se assinou pouco antes das 4 da manh�. Em um segundo documento, Hacha aprovava a entrega imediata aos alem�es da avia��o e do armamento checo. (�) Enquanto iniciava a sua invas�o da Checoslov�quia, as 8h02 da manh� o trem especial de Hitler sa�a da esta��o de Anhalt. (�) Keitel mantinha Hitler informado sobre o avan�o do ex�rcito. As 9 da manh�, este j� se encontrava nas ruas de Praga. N�o houve derramamento e sangue. (�) �s 4 da tarde, levantaram a barreira da fronteira para que Hitler entrasse na Checoslov�quia (�) Chegou a Praga ao entardecer. (�) Come�ou a ditar uma lei que estabelecia um sistema de �Protetorado� alem�o sobre a Bohemia e a Mor�via. (�) A primeira rea��o procedente de Londres foi a de tomar o assunto como se n�o fosse de sua incumb�ncia (�) uma semana depois, Chamberlain se serviu de um intermedi�rio para assegurar a Hitler que estava a favor da a��o que a Alemanha havia levado a cabo, ainda que n�o pudesse diz�-lo de p�blico, por encontra-se a merc� de airados ataques de Churchill e companhia. (�) o controle de Praga p�s a disposi��o de Hitler as reservas de ouro que necessitava para superar o enorme d�ficit or�ament�rio do Reich; lhe proporcionava, ainda, aeroportos com que amea�ar a Pol�nia e a R�ssia; e uma redu��o de mil e seiscentos quil�metros de frente para defender. Lhe proporcionava tanques, artilharia e avia��o checas; al�m disso, colocava a Rom�nia e a Iugosl�via em suas m�os, pois os ex�rcitos desses pa�ses se equipavam em grande parte gra�as � f�brica de armas Skoda de Pilsen.[lxxiii]

Depois de ocupar toda a Checoslov�quia e anexar a Bohemia e a Mor�via, Hitler transformou a Eslov�quia em um dom�nio dirigido por um governo fantoche. A imprensa reacion�ria dos EUA, Inglaterra e Fran�a aconselhava Hitler a unir a Ucr�nia Sovi�tica � Ucr�nia Subcarp�tica, induzindo a Alemanha a uma guerra com a URSS. Bullit, embaixador dos EUA em Paris, informou o seu governo:

A Alemanha tentar� apoderar-se da Ucr�nia, que � o celeiro da Uni�o Sovi�tica. Ao faz�-lo, a Alemanha se extenuar� de tal maneira que n�o poder� sustentar o esfor�o e acabar� se esfacelando. O Jap�o ocupar� ou tentar� ocupar a Sib�ria e desmoronar� igualmente em conseq��ncia de um esfor�o demasiado grande. Abandonando a R�ssia � sua sorte, a Inglaterra e a Fran�a afastar�o a amea�a de seus pr�prios pa�ses.[lxxiv]

Mais prudente, a Alemanha entregou a Ucr�nia Subcarp�tica � Hungria, evitando um conflito com a Uni�o Sovi�tica. O que as democracias ocidentais ainda n�o haviam percebido � que a Alemanha considerava a guerra com a URSS uma prova muito dif�cil e entendia necess�rio � antes de atac�-la � fortalecer-se no ocidente, principalmente pela derrota da Fran�a que podia amea�ar-lhe o flanco, na regi�o estrat�gica do Rhur, maior centro industrial do pa�s.

            A Uni�o Sovi�tica foi a �nica a protestar e n�o reconhecer a ocupa��o da Checoslov�quia: �Nem a Inglaterra nem a Fran�a fizeram o menor gesto para salv�-la, embora em Munique tivessem solenemente garantido � Checoslov�quia contra a agress�o�.[lxxv] Ao contr�rio, �os brit�nicos reconheceram as autoridades alem�s na Bo�mia, e o Banco da Inglaterra entregou-lhe seis milh�es de libras em ouro checo (...) Um entendimento geral com Hitler continuava sendo o objetivo brit�nico.�[lxxvi]

A ocupa��o de Memel, o ataque � Mong�lia, a ocupa��o da Alb�nia

Aproveitando-se da cumplicidade das pot�ncias ocidentais, a Alemanha prosseguiu a sua marcha para o leste. A 22 de mar�o, arrebatou Memel � Litu�nia mediante um �acordo�. No dia seguinte, firmou um tratado germano-romeno, fazendo daquele pa�s um ap�ndice da economia alem� e uma base militar da Alemanha. A 7 de abril de 1939, a It�lia ocupou a Alb�nia. Nesses dias, a Alemanha denunciou o acordo naval com a Inglaterra e o Tratado de n�o agress�o � Pol�nia.

Em maio, o Jap�o atacou a Rep�blica Popular da Mong�lia � a quem a URSS estava unida por um tratado de assist�ncia m�tua � nas proximidades do rio Calquin-Gol, com o objetivo de ocup�-la e chegar at� as fronteiras sovi�ticas na regi�o do lago Baikal. Mas foi contido e derrotado pelas For�as Armadas conjuntas da URSS e da Mong�lia. Era cada vez mais evidente o cerco que se fechava em torno da URSS:

Mesmo ap�s o Anschluss, Londres e Paris n�o descreram das possibilidades de uma paz duradoura com Berlim. (...) a escolher entre a URSS e o Terceiro Reich, os estadistas brit�nicos e franceses preferiam orientar a sua pol�tica de bom entendimento em dire��o ao eixo Roma-Berlim. (...) Os caminhos de Berlim se alongavam em dire��o da Rom�nia, do Mar Negro, do Egeu, da Ucr�nia, do Oriente Pr�ximo. � l� que est�o os celeiros de trigo, as minas de petr�leo, os campos das mat�rias primas de que a Alemanha necessita. Os pa�ses mais amea�ados, a partir do in�cio dessa etapa, s�o a Pol�nia, a Rom�nia, a Gr�cia, em primeiro lugar; logo depois a URSS, a Turquia, o Iraque.[lxxvii]

Em mar�o de 1939, referindo-se a pol�tica das democracias ocidentais de n�o deter os agressores, Stalin alertava em seu Informe ao XVIII� Congresso do Partido Comunista (bolchevique) da URSS:

A pol�tica de n�o-interven��o eq�ivale a tolerar a agress�o, a desencadear a guerra e, conseq�entemente, a transform�-la em guerra mundial. Na pol�tica de n�o interven��o ressalta a aspira��o, o desejo de n�o impedir aos agressores que realizem sua obra tenebrosa: de n�o impedir, por exemplo, que o Jap�o se envolva na guerra com a China e, melhor ainda, com a Uni�o Sovi�tica; de n�o impedir a Alemanha, principalmente, de se imiscuir nos assuntos europeus, de se lan�ar numa guerra contra a Uni�o Sovi�tica; de permitir a todos os beligerantes que se atolem at� a cabe�a no p�ntano de guerra, de encoraj�-los dissimuladamente nesse sentido; de enfraquec�-los mutuamente e, em seguida, quando estiverem suficientemente d�beis, aparecer em cena com for�as frescas, de intervir, naturalmente �no interesses da paz� e de ditar condi��es aos beligerantes enfraquecidos.[lxxviii]

Em julho de 1939 � exatamente quando se travavam os combates �s margens do Calquin-Gol � a Inglaterra assinava em T�quio o acordo nipo-ingl�s � conhecido como o �Munique do Leste� pelo seu abandono da China � onde a Inglaterra declarava �reconhecer a situa��o atual da China e as necessidades particulares das for�as armadas japonesas que operavam na China� e �a n�o encorajar atos ou medidas que pudessem trazer embara�os ao ex�rcito japon�s na China�.[lxxix]

O FRACASSO DAS NEGOCIA��ES TRIPARTITES E O ACORDO GERMANO-SOVI�TICO

            � nesse contexto que t�m in�cio as conversa��es da Uni�o Sovi�tica com a Fran�a e a Inglaterra. Diante dos rumores de uma pr�xima agress�o � Rom�nia, rica em petr�leo, no dia 18 de mar�o o embaixador ingl�s em Moscou entrevistou-se com Litvinov para saber da atitude sovi�tica no caso de uma agress�o de Hitler � Rom�nia. Este, em nome do Governo Sovi�tico, prop�s a imediata convoca��o de uma confer�ncia de representantes da Inglaterra, Fran�a, URSS, Rom�nia, Turquia e Pol�nia para tomar medidas eficazes contra a amea�a. No dia seguinte, o Governo ingl�s respondeu negativamente � proposta.

            No dia 21 de mar�o, a Fran�a e a Inglaterra propuseram a assinatura de uma declara��o, junto com a URSS e a Pol�nia, pela qual, no caso de um novo ato de agress�o, esses pa�ses se consultariam urgentemente para examinar as medidas a tomar. Embora considerando a medida pouco eficaz, o Governo Sovi�tico se prontificou a assin�-la. Mas a Pol�nia, profundamente reacion�ria e anti-sovi�tica, negou-se a firmar a declara��o se a URSS o assinasse. Ao mesmo tempo em que se negava a realizar tratativas concretas com a URSS, Chamberlain ofereceu garantias unilaterais � que n�o tinha condi��es de cumprir � � Pol�nia. Mas nada fez de concreto:

os poloneses pediam um empr�stimo de 60 milh�es de libras em dinheiro e eles respondiam n�o ter dinheiro e s� poder oferecer cr�ditos. Em seguida, insistiam que os cr�ditos deviam ser empregados na Gr�-Bretanha e, finalmente, tendo reduzido a cifra para 8 milh�es, explicaram que como as f�bricas de armas inglesas estavam cheias de encomendas o cr�dito n�o poderia ser utilizado. Nenhum cr�dito fora posto em pr�tica quando a guerra irrompeu, nenhuma bomba ou fuzil ingl�s fora para a Pol�nia.[lxxx]

            A Fran�a tamb�m deu garantias � Pol�nia. Ambas tentaram arrastar a Uni�o Sovi�tica a oferecer as mesmas garantias, sem qualquer contrapartida. Na verdade, coerentes com a sua estrat�gia, incentivavam o confronto entre a Alemanha e a URSS. Como nos diz Herrera, �nem a Fran�a nem a Inglaterra estavam dispostas a participar de qualquer acordo que contrariasse seus objetivos imediatos, isto �, desviar para Leste a expans�o do Lebensraum hitlerista. A contraproposta de Chamberlain (...) admitia apenas a previs�o de consultas rec�procas em caso de ataque.�[lxxxi]

Negocia��es pol�ticas para acalmar a opini�o p�blica

Mas, a �nica alternativa capaz de deter a agress�o nazi-fascista � e, portanto, evitar a Segunda Guerra Mundial � era uma uni�o militar entre a Fran�a, a Inglaterra e a URSS. Por isso, em 17 de abril de 1939, o Governo Sovi�tico voltou a propor a assinatura de um pacto de assist�ncia m�tua e de um conv�nio militar entre a Uni�o Sovi�tica, a Inglaterra e a Fran�a, al�m da concess�o de garantias a todos os pa�ses fronteiri�os � URSS, do B�ltico ao Mar Negro:

Sustentam os russos que a frente de resist�ncia contra os agressores, para ser eficiente e evitar a guerra, h� de ser um sistema compacto e sem frestas. Desde que um dos trechos territoriais mais imediatamente consider�veis como �espa�o vital� do Reich n�o seja inclu�do nas garantias do tratado, que significaria isto sen�o uma convite a que as vistas de Berlim se lan�assem sobre ele? E tomando-se em aten��o que a exist�ncia dos Estados B�lticos � uma condi��o imprescind�vel � tranq�ilidade de Moscou, bem se compreende a sua insist�ncia nesse particular.[lxxxii]

Rec�m em 8 de maio a Inglaterra e a Fran�a se dignaram dar uma resposta � URSS, mais uma vez negativa, onde alegavam que isso podia ser interpretado pela Alemanha como uma agress�o. Contraditoriamente, nesses mesmos dias A Fran�a e a Inglaterra assinaram com a Turquia um tratado de assist�ncia m�tua. Enquanto isso, �a Pol�nia, e a Rom�nia (...) se recusavam a aceitar a garantia russa ou mesmo a admitir que tropas sovi�ticas atravessassem seus territ�rios para enfrentar um ataque alem�o. A Let�nia, a Est�nia e a Finl�ndia tamb�m se negavam sistematicamente a aceitar qualquer garantia russa.�[lxxxiii] Mas, a Inglaterra e a Fran�a continuaram insistindo para que a URSS desse garantias unilaterais � Pol�nia e � Rom�nia, sem contrapartida. A URSS respondeu que s� seria negociado um pacto com compromissos rec�procos.

Estimulado por essa conduta de Chamberlain e Daladier de abortar qualquer acordo s�rio com a URSS, Hitler iniciou uma intensa campanha contra a Pol�nia, exigindo a devolu��o de Dantzig e o livre tr�nsito alem�o pelo corredor polon�s. A tens�o chegou ao seu ponto m�ximo. No dia 19 de maio, na C�mara dos Comuns, Churchil fez um pronunciamento onde criticou a pol�tica externa inglesa e lembrou que �as propostas apresentadas pelo Governo da URSS prev�em uma tr�plice alian�a da Inglaterra, Fran�a e Uni�o Sovi�tica, de cujos benef�cios podem aproveitar-se tamb�m outros pa�ses.�[lxxxiv] Lloyd George tamb�m defendeu o tr�plice pacto: �Sem a ajuda da URSS n�o poderemos cumprir nossos compromissos com a Pol�nia e a Rom�nia. Por que n�o firmou ainda o Governo acordo de assist�ncia m�tua com a URSS?�[lxxxv] No mesmo sentido pronunciou-se Eden.

Pressionado pela opini�o p�blica, Chamberlain manobrou e no dia 25 de maio prop�s ao Governo sovi�tico um pacto tripartite gen�rico, vinculado � Sociedade das Na��es, sem nenhum conv�nio militar concreto. A contraproposta sovi�tica, apresentada no dia 2 de junho, independizava o pacto de qualquer procedimento estabelecido na Sociedade das Na��es, discriminava os Estados que receberiam garantias e determinava que o pacto e o conv�nio militar entrariam em vigor simultaneamente.

Depois de muitas discuss�es, a quest�o da desvincula��o do pacto da Sociedade das Na��es foi aceita. J� as negocia��es em torno dos Estados que receberiam garantias � principalmente no que se refere �s antigas prov�ncias b�lticas � come�aram a arrastar-se em torno das mais absurdas pol�micas. Segundo  Lindolfo Collor:

Em nenhuma delas, rigorosamente, funciona um governo de estrutura democr�tica. (...) Na Est�nia (...) domina ditatorialmente o sr. Constantin Paets; na Let�nia (...) o presidente Karlis Ulmanis exerce com os chefes militares um poder absoluto; na Litu�nia (...) o presidente Antanas Smetana, que tomou o poder por ocasi�o da queda do ditador Waldemaras, tamb�m � deposit�rio de poderes excessivamente extensos (...) Que mais seria necess�rio acrescentar para deixar assinalada a simpatia desses homens de Estado pelo regime alem�o? (...) Eles querem viver em boa paz com Berlim e repelem liminarmente toda e qualquer garantia provinda de Moscou. (...) Os pa�ses b�lticos sempre figuraram no programa das reivindica��es alem�s. (...) O que esses min�sculos Estados representam para o expansionismo germ�nico nem precisaria ser explicado o Baltikum foi, em todos os tempos, considerado pela Pr�ssia como o seu �espa�o vital� mais l�gico e sob todos os aspectos mais preciosos. Senhora de Riga, de Tallin e de Dantzig, a Alemanha imperaria entre a Escandin�via e a R�ssia. Gdinia viveria � merc� de sua boa vontade, o corredor deixaria de existir. A Finl�ndia estaria bloqueada. (...) A R�ssia teria definitivamente barradas as suas comunica��es imediatas com o Ocidente, obrigada a recorrer �s long�nquas vias de Arkangel e Odessa. (...) A exist�ncia do Estados B�lticos de hoje (...) representa uma necessidade por muitos aspectos vital para a R�ssia.[lxxxvi]

Baufre, um dos negociadores franceses, e posteriormente um destacado general, escreveu referindo-se �s propostas sovi�ticas: �Era dif�cil ser mais concreto e mais claro (�) o contraste entre esse programa e as confusas abstra��es franco-inglesas � surpreendente (�) Os argumentos sovi�ticos eram ponder�veis (�) A nossa posi��o era falsa.�[lxxxvii]

No dia 8 de junho, Lord Halifax, Ministro das Rela��es Exteriores da Inglaterra, comunicou � Maiski, embaixador sovi�tico em Londres, a viagem de William Strang, mero funcion�rio do Departamento Diplom�tico, para prosseguir as tratativas em Moscou. Era uma clara demonstra��o do desinteresse ingl�s em uma r�pida assinatura do pacto:

a hip�tese subjacente [era] de uma a��o alem� contra a Ucr�nia, na perspectiva do Meins Kampf. (...) Ainda no princ�pio de 1939, Sir Neville Henderson, embaixador ingl�s em Berlim, que fala constantemente dessa hip�tese, declara a opera��o inevit�vel e aconselha ao governo brit�nico que se mantenha neutro. E concebe-se que certos dirigentes franceses e ingleses tenham podido pensar sem pena que o choque alem�o se iria dar primeiro a oriente contra os sovi�ticos, de prefer�ncia a ocidente, contra eles pr�prios.[lxxxviii]

Em fins de junho, as negocia��es j� duravam 75 dias. Desses, a URSS utilizara 16 dias para preparar as suas respostas; a Inglaterra e a Fran�a, 59. Enquanto isso a situa��o na Europa se agravava cada vez mais.

No come�o de julho havia sido obtido o acordo em torno dos Estados �garantidos� no pacto. Iniciaram-se, ent�o, as discuss�es sobre o Conv�nio Militar. Os sovi�ticos insistiam em que o pacto e o conv�nio militar formavam um todo �nico, entrando em vigor simultaneamente. Os ingleses e os franceses desconversavam e queriam trat�-los separadamente, como dois documentos distintos. No fundo, evitavam assumir qualquer compromisso militar concreto com a URSS.

Maiski relata: �no in�cio de julho foi-me comunicado que teve lugar o seguinte di�logo entre Chamberlain e Wood, Ministro da Avia��o: O que h� de novo acerca das negocia��es sobre o pacto? perguntou Wood. Chamberlain fez um gesto de irrita��o e respondeu: Ainda n�o perdi a esperan�a de frustrar a assinatura desse malfadado pacto.�[lxxxix] O historiador ingl�s David Irving tamb�m faz men��o � essa postura de Chamberlain: �Em 25 de maio, as escutas realizadas pela FA ao correspondente do The Times em Berlim, Mr. James Holburn, mostravam que, durante a sua estadia em Londres, havia tomado conhecimento de que Chamberlain n�o tinha a inten��o de aliar-se com Stalin: ainda esperava retomar, algum dia, o contato direto com Hitler.�[xc]

Como o Governo sovi�tico n�o abriu m�o da unidade entre o tratado e o conv�nio militar, rec�m no dia 24 de julho o Governo ingl�s aceitou esta tese. Haviam se passado mais tr�s semanas. N�o satisfeitos, franceses e ingleses polemizaram durante v�rios dias sobre o conceito de �agress�o�. Enquanto prolongava ao m�ximo as negocia��es com a URSS, a Inglaterra agilizava os contatos diretos e indiretos com a Alemanha, procurando chegar a um acordo com a mesma:

as fontes autorizadas diziam desde Londres sobre que Chamberlain estava buscando o modo de renunciar � delicadas garantias dadas � Pol�nia. (�) A fins de julho, tudo parecia indicar que Chamberlain e seus conselheiros estavam dispostos a um segundo Munique. Por iniciativa brit�nica, j� se haviam celebrado conversa��es entre Sir Horace Wilson, um dos conselheiros mais conciliadores de Chamberlain, e o doutor Helmuth Wohlthat, membro do pessoal de economia de G�ring. Wilson havia proposto um profundo acordo pol�tico, econ�mico e militar com Hitler, em troca de certas garantias. (�) Em 4 de agosto, Neville Chamberlain suspendia por dois meses as sess�es do Parlamento. Simultaneamente (�) Sir Horace Wilson convidou o embaixador Herbert von Dirksen ao seu apartamento particular e lhe prop�s a grandes tra�os �uma s�lida colabora��o em pol�tica mundial� entre a Gr�-Bretanha e a Alemanha. Se Hitler aceitasse as condi��es, indicou Wilson, ent�o a Gr�-Bretanha pressionaria a Pol�nia para que concordasse com as exig�ncias alem�s.[xci]

Wilson (...) propunha um tratado anglo-alem�o de n�o agress�o e n�o-interfer�ncia, uma acordo de desarmamento e uma coopera��o no com�rcio externo. Um pacto semelhante �permitiria aos ingleses se livrarem de seus compromissos em rela��o � Pol�nia.�[xcii]

            Essas negocia��es s�o registradas por diversos historiadores: tratativas entre Ashton-Gwatkin � chefe da Se��o Econ�mica do Minist�rio dos Assuntos Estrangeiros brit�nico � e Goering[xciii]; entre Horace Wilson e Robert Hudson � Ministro do Com�rcio Ultra-marino � e Helmut Wohltat[xciv]; entre Roden Buxton � membro da C�mara dos Comuns � e Kordt - Conselheiro da embaixada alem�[xcv]; entre Halifax e Dirksen � embaixador alem�o[xcvi]; entre Wohlthat e Hudson e Wilson[xcvii]; entre Dahlerus e Chamberlain, Halifax e Cadogan.[xcviii]

            Em todos esses contatos, uma constante: o estabelecimento de um pacto entre a Inglaterra e a Alemanha, dividindo �reas de interesse em troca do abandono da Pol�nia e do rompimento das negocia��es em torno do pacto de assist�ncia m�tua com a URSS. Assim, enquanto protelavam as negocia��es em Moscou, buscavam deixar a Pol�nia e a Uni�o Sovi�tica entregues � pr�pria sorte:

Aqui domina a impress�o de que os v�nculos que se estabeleceram nos �ltimos meses com outros Estados n�o s�o mais do que um meio de reserva para a verdadeira reconcilia��o com a Alemanha e que esses v�nculos desaparecer�o logo que se consiga o �nico objetivo importante e digno de esfor�o: o acordo com a Alemanha. [xcix]

O impasse nas negocia��es militares

            No dia 25 de julho, Halifax comunicou a Maiski que se chegara a um acordo em Moscou para iniciar de imediato as negocia��es militares, mas n�o demonstrou nenhuma pressa para enviar a delega��o inglesa. No dia 31 de julho, o Parlamento foi sacudido por violentas discuss�es sobre a pol�tica exterior brit�nica; a oposi��o exigiu que fosse enviado a Moscou algu�m de alto n�vel, o pr�prio Ministro do Exterior, para negociar. Justificando os quatro meses e meio que j� duravam as negocia��es, Chamberlain alegou que as conversa��es em 1903 com o Jap�o duraram 6 meses, a Entente anglo-francesa de 1904 exigira 9 meses e a Entente anglo-russa de 1907, 15 meses. O recado era claro: o Governo ingl�s ainda pretendia demorar muito at� a conclus�o do acordo.

            A indica��o do chefe da delega��o militar � Sir Reginald Drax, anci�o almirante da Marinha � surpreendeu a todos, pois era um ilustre desconhecido, sem qualquer peso pol�tico. O governo franc�s seguiu o mesmo caminho, indicando o general Doumenc. Os demais membros de ambas delega��es n�o passavam de quadros m�dios das For�as Armadas. S� no dia 5 de agosto as delega��es sa�ram de Londres, e ainda escolheram o meio de transporte mais demorado: um navio que demorou 5 dias em chegar a Leningrado. S� a� j� se haviam ido mais 15 dias. A leitura dos arquivos do embaixador alem�o em Londres � Dirksen � publicadas depois da guerra lan�am luz sobre esses movimentos protelat�rios dos ingleses, neste momento envolvidos em negocia��es secretas com a Alemanha:

Que �outras negocia��es� seriam essas? (�) O relat�rio que Dirksen enviou a Berlim a 1� de agosto de 1939 (A.3107) � muito mais concreto (�): 1) A Alemanha compromete-se a n�o se imiscuir nos neg�cios do Imp�rio Brit�nico. 2) A Inglaterra compromete-se a respeitar plenamente as esferas de interesses alem�es no Leste e no Sudeste europeus. Isso teria como conseq��ncia que a Inglaterra renunciaria �s garantias concedidas a certos Estados situados nessas esferas. [Pol�nia?] A Inglaterra compromete-se em seguida a trabalhar para que a Fran�a repudie sua alian�a com a Uni�o Sovi�tica e renuncie a todos os interesses que tenha no Sudeste da Europa. 3) A Inglaterra compromete-se a p�r fim �s conversa��es atualmente mantidas com a Uni�o Sovi�tica, visando a conclus�o de um pacto.[c]

Alegando que ainda n�o haviam chegado a uma conclus�o sobre o conceito de �agress�o�, as instru��es inglesas orientavam a sua Miss�o no sentido de desenvolver as negocia��es militares com a m�xima lentid�o, at� que o acordo pol�tico fosse conclu�do:

As instru��es dadas, por escrito, ao almirante Drax, tendem a que as conversa��es militares se desenrolem com lentid�o enquanto n�o se chegar a um acordo sobre as quest�es pol�ticas (�) Lamentaria muito que fosse essa a decis�o do Governo de sua Majestade, pois tudo indica que a miss�o militar sovi�tica quer resolver o assunto com seriedade.[ci]

Ao contr�rio das delega��es da Fran�a e da Inglaterra, a delega��o sovi�tica era do mais alto n�vel poss�vel, sendo formada pelo marechal Voroshilov (Comiss�rio do Povo de Defesa da URSS), almirante Kuznetsov (Comiss�rio do Povo da Marinha), Loktionov (Chefe das For�as A�reas), Shaposnikov e Smorodinov (Chefe e subchefe, respectivamente, do Estado Maior do Ex�rcito).

No in�cio da primeira reuni�o, no dia 12 de agosto, a delega��o sovi�tica prop�s que cada delega��o apresentasse os poderes de que estava investida para as negocia��es, e come�ou apresentando os seus amplos poderes: �manter negocia��es (�) e assinar um conv�nio militar sobre a organiza��o da defesa militar da Inglaterra, Fran�a e URSS contra a agress�o na Europa.�[cii] A seguir, o general Doumenc leu os seus poderes, bem mais limitados. Quando chegou a vez do almirante Drax, constatou-se que o mesmo n�o dispunha de nenhum poder por escrito. �Na verdade, t�o c�tico estava o governo brit�nico que negligenciou fornecer ao Almirante Drax autoriza��o escrita para negociar.�[ciii]

Ficava evidente a falta de seriedade com que a parte inglesa estava tratando as negocia��es. O almirante ficou de solicitar poderes por escrito ao seu Governo (que s� chegaram dia 21 de agosto).

Apesar disso, foram iniciadas as negocia��es. No dia 14, a parte sovi�tica levantou uma quest�o crucial: no caso de agress�o � Pol�nia ou � Rom�nia ser� autorizada a entrada de tropas sovi�ticas no territ�rio desses pa�ses? Como esclarece James Joll, �O ponto dif�cil das negocia��es com a Gr�-Bretanha e a Fran�a residia em que o governo sovi�tico afirmava, n�o sem certa raz�o, que para auxiliar a Pol�nia carecia de enviar tropas para al�m da fronteira polaca, e a Pol�nia negava-se em absoluto e consentir que um �nico soldado russo pusesse os p�s no seu solo.�[civ]

Como as partes inglesa e francesa responderam com evasivas e, ao final, ficaram de consultar � Pol�nia e � Rom�nia, a parte sovi�tica fez constar por escrito que sem uma solu��o favor�vel para essa quest�o o pacto seria invi�vel, pela simples raz�o que a URSS ficaria impossibilitada de cumprir com os seus compromissos:

A �nica coisa que podia haver salvo o Estado e o ex�rcito polacos era uma alian�a com a Uni�o Sovi�tica, assim como com o imperialismo brit�nico e franc�s. (...) Mas esta possibilidade nunca foi seriamente considerada, nem pelo regime de Beck-Pyz-Smiply, nem pelos Estados Maiores franc�s e brit�nico, nem por Stalin [?!] (...) A negativa do regime polaco em aceitar ajuda sovi�tica direta converteu as negocia��es militares entre o Estado Maior dos aliados ocidentais e o governo sovi�tico no ver�o de 1939.[cv]

Como at� o dia 17 n�o havia chegado uma resposta, foram suspensas as negocia��es e marcada nova reuni�o para o dia 21 pela manh�.

Segundo L�on Noel � embaixador franc�s em Vars�via no per�odo �, em 19 de agosto, o chefe do estado-maior polaco, general Stachiewicz, informou mais uma vez, ao adido militar franc�s, sobre a negativa do Governo polaco em rela��o � passagem de tropas sovi�ticas pelo territ�rio polaco, em caso de agress�o alem�.[cvi] O adido militar franc�s teria dito: �N�o me fale de vossa recusa. � melhor que em Moscou a nossa delega��o possa manobrar como se voc�s ainda n�o tivessem formulado a vossa recusa.�[cvii] Era evidente a m� f� seja dos negociadores franceses, seja dos negociadores ingleses. Como no dia 21 de agosto nem Londres, nem Paris, dessem qualquer resposta, a parte sovi�tica resolveu suspender as negocia��es por prazo indeterminado:

As for�as armadas sovi�ticas n�o poder�o colaborar com as for�as armadas da Fran�a e da Inglaterra, se estiverem impedidas de entrar no territ�rio da Pol�nia e da Rom�nia (�) A delega��o militar sovi�tica n�o entende como os Governos e os Estados Maiores da Inglaterra e da Fran�a, ao enviarem � URSS as suas delega��es militares, n�o lhes tenham dado indica��es precisas sobre quest�o t�o elementar (�) Se os franceses e os ingleses transformam essa quest�o em um grande problema, isso significa que existe fundamento para duvidar de que desejem, realmente, uma colabora��o militar s�ria com a URSS. Assim, a responsabilidade pela protela��o das negocia��es militares recai sobre as partes francesa e inglesa.[cviii]

            Ficava claro para os dirigentes sovi�ticos que as outras duas partes, principalmente a inglesa, s� pretendiam ganhar tempo as custas da URSS para tentar chegar a um acordo com Hitler, usando as negocia��es tripartites como instrumento de barganha com a Alemanha:

Assim, no dia 22 de agosto, �s v�speras do ataque da Alemanha � Pol�nia, Chamberlain envia uma carta a Hitler, acenando com um novo Munique: �N�o vejo que haja alguma coisa nas quest�es surgidas entre a Alemanha e a Pol�nia que n�o possa e n�o deva ser resolvida sem o uso da for�a, desde que se pudesse estabelecer uma situa��o de confian�a que permitisse o desenrolar das discuss�es numa atmosfera diferente daquela que reina hoje.[cix]

Na realidade, o governo brit�nico n�o estava interessado numa coopera��o militar s�lida com a R�ssia Sovi�tica, mas apenas em acenar com o fantasma russo, na esperan�a de que isso aquietasse Hitler. (...) Os franceses pensavam em termos mais pr�ticos. Estavam preocupados apenas em envolver o Ex�rcito Vermelho num conflito com Hitler, e n�o lhes importava se isso fosse conseguido as expensas da Pol�nia.[cx]

            O objetivo central era lan�ar a Alemanha, a It�lia e o Jap�o contra uma URSS isolada: �Era essencial, no caso de uma guerra, tentar envolver nela a Uni�o Sovi�tica, pois de outro modo no final da guerra a Uni�o Sovi�tica com o seu ex�rcito intacto e a Inglaterra e a Alemanha em ru�nas, dominaria a Europa.� [cxi]

            Evidentemente, o Governo sovi�tico n�o caiu nessa armadilha e buscou alternativas que evitassem � ou ao menos adiassem � o seu isolamento e a agress�o nazi-fascista.

A busca de alternativas pela URSS para romper o isolamento

            Tudo indica que a partir de abril-maio de 1939 � ap�s a ocupa��o da Checoslov�quia sem qualquer rea��o das democracias ocidentais, e ap�s a agress�o japonesa � Mong�lia e � Uni�o Sovi�tica, seguida do pacto nipo-brit�nico (que entregou a China ao Jap�o) � a URSS, sem abandonar a tentativa de um acordo com a Inglaterra e a Fran�a, colocou na ordem-do-dia a busca de alguma alternativa que evitasse o seu isolamento e o risco de ter que enfrentar uma guerra em duas frentes, no Oriente e no Ocidente. Ao orientar-se nesse sentido, o Governo Sovi�tico levava em conta as opini�es de Lenin por ocasi�o da paz de Brest Litovski:

Enquanto n�o ocorra a revolu��o socialista internacional que abarque a v�rios pa�ses e tenha for�a suficiente que lhe permita ajudar a vencer ao imperialismo internacional, enquanto isso n�o ocorra, o dever inelut�vel dos socialistas triunfantes em um s� pa�s (e especialmente se � um pa�s atrasado) consiste em n�o aceitar o combate com os gigantes do imperialismo, em tratar de recusar o combate, de esperar que a contenda entre os imperialistas debilite a estes ainda mais, acerque ainda mais a revolu��o em outros pa�ses.[cxii]

Nossa prepara��o militar n�o terminou ainda, por isso a consigna geral segue a mesma: manobrar, recuar e esperar, continuando essa prepara��o com todas as for�as. Sem renunciar em geral, nem muito menos, aos acordos militares com uma coaliz�o imperialista contra a outra em aqueles casos em que esses acordos, sem violar os fundamentos do Poder Sovi�tico, possam fortalecer a sua situa��o e paralisar o ataque contra ele por parte de qualquer pot�ncia imperialista. (...) � preciso observar a maior prud�ncia, circunspec��o e firmeza para n�o ajudar, com um passo irrefletido ou precipitado, aos elementos extremistas dos partidos militares do Jap�o ou da Alemanha. (...) nesses dois pa�ses, os elementos extremistas do partido militar est�o a favor de uma ofensiva imediata e geral contra a R�ssia para ocupar todo o seu territ�rio e derrotar o Poder Sovi�tico.[cxiii]

                A substitui��o de Litvinov por Molotov[cxiv] mostrou a import�ncia que o governo da URSS concedia a essas negocia��es:

A pol�tica externa tinha sido deixada aos comunistas do segundo plano - primeiro Chicherin, depois Litvinov (nenhum dos quais membro do Politburo) - desde que Trotsky deixara de ser Comiss�rio do Exterior em princ�pios de 1918. A 3 de maio de 1939, Molotov substitu�a Litvinov, medida esta que tem sido, por vezes, considerada como favor�vel � Alemanha. Talvez fosse, por�m, apenas o reconhecimento de que os assuntos externos tinham import�ncia.[cxv]

            Ao mesmo tempo, sinalizou uma poss�vel mudan�a de rumo. No seu relat�rio ao Soviete Supremo, em 31 de maio, Molotov centrou o ataque na Alemanha, mas fez duras cr�ticas � Fran�a e a Inglaterra: �Aumenta cada vez mais a arrog�ncia das pot�ncias agressoras. Por outro lado, os representantes dos pa�ses democr�ticos mostram-se desinteressados pela pol�tica de seguran�a coletiva (...) tendo adotado uma atitude de n�o resist�ncia � agress�o�.[cxvi]

Simultaneamente, as negocia��es econ�micas com o Reich permitiram aproxima��es e sondagens indiretas. Hitler parece ter percebido essas altera��es. A miopia e a intransig�ncia das pot�ncias imperialistas que trabalhavam com a estrat�gia de lan�ar a Alemanha contra a URSS, levou as negocia��es de Moscou ao fracasso e for�ou a URSS a aceitar o pacto de n�o agress�o proposto por Hitler. Como afirmou Taylor:

A R�ssia Sovi�tica buscava a seguran�a na Europa, n�o conquistas. � surpreendente que n�o tivesse procurado antes esse objetivo num acordo com a Alemanha. (...) A alian�a com as pot�ncias ocidentais parecia uma pol�tica mais segura (...) podemos supor, com certa seguran�a, que o Governo Sovi�tico s� se voltou para a Alemanha quando tal alian�a revelou-se imposs�vel.[cxvii]

            Assim, decidido a atacar a Pol�nia e temeroso do pacto tripartite, Hitler come�ou a sinalizar para Moscou a possibilidade de uma aproxima��o. Em fins de maio o embaixador alem�o em Moscou prop�s a Molotov restabelecer as negocia��es comerciais germano-sovi�ticas, interrompidas e fevereiro; a parte sovi�tica fez ver a necessidade, para isso, de uma melhoria das rela��es pol�ticas. Em fins de junho novo contato do embaixador alem�o com Molotov, insistindo na melhoria das rela��es entre os dois pa�ses e indicando sinais de boa vontade alem�: assinatura de pactos de n�o agress�o com os pa�ses b�lticos, mudan�a do tom da imprensa alem� em rela��o � URSS.

            Em fins de julho, em um jantar oferecido em Berlim a Astajov � encarregado de neg�cios sovi�tico � Schnurre afirmou que a Alemanha estava disposta a um amplo acordo com a URSS sobre todos os problemas, do B�ltico ao Mar Negro. Segundo as notas do pr�prio Schnurre, �Astajov (�) considerou que o ritmo para a aproxima��o dever� ser, provavelmente, muito lento (�) A pol�tica exterior nacional-socialista amea�a a Uni�o Sovi�tica�[cxviii] Os dados dispon�veis indicam que foi s� em fins de julho � com o ataque � Pol�nia j� marcado � que Hitler decidiu dar passos mais decididos no sentido de buscar um acordo com a URSS, que lhe garantisse n�o ser atacado pelo Leste:

Trinta e um de julho: Schulenburg, o embaixador alem�o em Moscou, recebe um nervoso, urgente e secreto despacho no qual lhe � ordenado informar, ainda naquele dia �a data e a hora do encontro que ele, Embaixador, teria com Molotov. O nervosismo de Ribbentrop tem raz�o de ser: � que no dia 22 chegara �s m�os de Hitler uma not�cia que deixou o irasc�vel F�hrer ainda mais inquieto. Von Valezsek informava de Paris que franceses e ingleses estavam enviando miss�es militares a Moscou, �a fim de provarem a seriedade das inten��es pol�ticas russo-franco-inglesas�. Naquele momento ainda n�o era do conhecimento de Hitler que as tais Miss�es inglesa e francesa n�o tinham autoridade para a assinatura de qualquer acordo ou pacto, nem no terreno comercial, muito menos no campo militar. Mas, ent�o, Stalin, afrontado com a m� qualidade dos delegados que lhe enviaram Londres e Paris, j� estava convicto de que era inexeq��vel um acordo militar de qualquer esp�cie com as democracias ocidentais.[cxix]

O Estado Maior geral havia disposto que a data �tima para atacar a Pol�nia era o 25 de agosto. (�) Foi aqui, em Bayreuth, onde Hitler abordou efusivamente a Neurath com estas palavras: �O que vou te dizer vai te deixar assombrado: que te parece se chegamos a um acordo com a R�ssia? (�) Mas Hitler continuou temendo uma negativa do ditador sovi�tico. Seguindo suas instru��es, no dia 2 de agosto Ribbentrop insinuou ao encarregado de neg�cios sovi�tico que Moscou e Berlim deviam decidir entre si o destino da Pol�nia; e acrescentou, a modo de isca tentadora, que n�o havia �nenhum problema entre o B�ltico e o Mar Negro� que n�o pudesse ser solucionado.[cxx]

            Maiski confirma o relato deste encontro de Ribbentrop com Astajov (na data de 3 de agosto). Conforme as notas de Ribbentrop � citadas por Maiski � �a seu ver, o Governo sovi�tico deseja seguir uma pol�tica de compreens�o m�tua com Alemanha. (�) O encarregado de neg�cios procurou, v�rias vezes, fazer recair a conversa sobre quest�es mais concretas. Mas eu dei a entender que estou disposto a ser mais concreto s� no caso do Governo sovi�tico declarar a conveni�ncia de dar um novo car�ter �s rela��es.�[cxxi] Fica claro que at� ent�o n�o existia qualquer negocia��o concreta em torno do pacto de n�o agress�o entre os dois governos, mas somente sondagens.

            No dia 4 de agosto, o embaixador alem�o � Schulenburg � encontrou-se com Molotov, relatando a Berlim: �Minha impress�o geral � que o Governo Sovi�tico est� no momento disposto a concluir um acordo com a Gr�-Bretanha e a Fran�a, se elas atenderem aos desejos sovi�ticos (...) Ser� necess�rio consider�vel esfor�o de nossa parte para modificar a posi��o do governo sovi�tico.�[cxxii] No dia 14 de agosto, Schnurre enviou um telegrama a Schulenburg avisando que Astajov o visitara e comunicara que o Governo sovi�tico se dispunha a �discutir por grupos de quest�es tudo o que se referisse � rela��es germano-sovi�ticas e propunha manter as negocia��es em Moscou.

            J� Ribbentrop solicitou ao embaixador alem�o que visitasse Molotov e declarasse em nome do Governo alem�o que �n�o h� contradi��o de interesses entre a Alemanha e a URSS; n�o existe motivo para atitude agressiva de uma parte � outra; n�o h� quest�o entre o B�ltico e o Mar Negro que n�o possa ser resolvida de modo satisfat�rio para ambos os pa�ses� e que �a fim de normalizar com maior rapidez as rela��es germano sovi�ticas, estava disposto a visitar, ele pr�prio, Moscou, com a condi��o de ser recebido por Stalin.�

            No dia 15 de agosto, Schulenburg informou a boa receptividade de Molotov mas, quanto � visita de Ribbentrop � Moscou, que isso �requer uma prepara��o adequada�; al�m disso teria perguntado se o Governo Alem�o se dispunha a assinar com a URSS um pacto de n�o-agress�o, de garantias aos Estados do B�ltico e influir para melhorar as rela��es nipo-sovi�ticas (� interessante lembrar que no dia 14 tanto a Fran�a quanto a Inglaterra haviam respondido com evasivas � quest�o crucial da passagem das tropas sovi�ticas pelo territ�rio polon�s). Em 16 de agosto, Ribbentrop respondeu positivamente a todas as quest�es levantadas por Molotov, e insistiu na urg�ncia da sua viagem � Moscou, a partir do dia 18. Mais uma vez a resposta sovi�tica foi no sentido de que primeiro fosse estabelecido um conv�nio comercial e financeiro e que s� depois se discutisse um pacto de n�o-agress�o:

Nesse mesmo dia 16 de agosto, Molotov manteve uma longa conversa com o embaixador norte-americano, Lawrence Stenhardt, relatando com detalhes as suas conversas com Schulemburg, �inclusive a sugest�o para a assinatura de um pacto de n�o agress�o e um acordo no tocante ao B�ltico.� Essa informa��o foi repassada aos brit�nicos no dia 17: �Qual a raz�o de haver Molotov revelado isso ao embaixador norte-americano? O Kremlin deveria saber que a informa��o seria passada para os brit�nicos. Stalin ainda estaria indeciso em 16 de agosto, n�o sabendo para que campo saltaria? Estaria tentando advertir os representantes franco-brit�nicos, em Moscou, de que deveriam tratar da quest�o porquanto, caso contr�rio, assinaria o pacto com os alem�es que lhe ofereciam grandes vantagens?�[cxxiii]

            Estava clara a tentativa do Governo sovi�tico de ganhar tempo para ver se as negocia��es do pacto tripartite com a Inglaterra e a Fran�a � paralisadas por falta de resposta desses dois pa�ses em rela��o � quest�o da Pol�nia � sa�am do atoleiro em que se encontravam:

O Dr. Schnurre comunicou que as discuss�es com os russos sobre o tratado comercial haviam terminado na noite anterior �com completo acordo�, mas que os sovi�ticos se retardavam em assin�-lo. A assinatura, ele disse, devia ter lugar ao meio-dia de 19 de agosto, mas a essa hora os russos telefonaram dizendo que tinham de aguardar instru��es de Moscou. �� evidente�, informou Schnurre, �que haviam recebido instru��es de Moscou para dilatar a conclus�o do tratado por motivos pol�ticos.��[cxxiv]

            No dia 20 de agosto, Hitler enviou uma mensagem � Stalin comunicando que na v�spera fora assinado o conv�nio comercial e financeiro e insistindo para que recebesse Ribbentrop, o mais tardar a 22 ou 23 de agosto. Convencido � depois de quase cinco meses de infrut�feras conversa��es � de que a Inglaterra e a Fran�a n�o tinham a inten��o real de firmar um pacto de assist�ncia m�tua, o Governo Sovi�tico suspendeu no dia 21 de agosto as negocia��es com esses dois pa�ses e concordou com a vinda a Moscou de Ribbentrop no dia 23 de agosto.[cxxv] O historiador ingl�s David Irving � que teve acesso a uma s�rie de arquivos nazistas � confirma, com pequenas diferen�as, esse desenrolar dos acontecimentos:

no dia 9, o pr�prio Halifax falava com Dirksen. Desta vez prometia que a Gr�-Bretanha estava disposta a �contribuir na medida do poss�vel� para chegar a um entendimento com a Alemanha. (�) Quando no dia 11 Hitler falou com o professor Carl Burckhardt, alto comiss�rio da Liga das Na��es em Dantzig (�) (recordou Burckhardt anos mais tarde) seguiu dizendo: �tudo o que fa�o se dirige contra a R�ssia. Se o ocidente se mostra incapaz de compreender isso, ent�o me verei obrigado a chegar a um acordo com os russos e voltar-me contra o ocidente primeiro, para depois dirigir todas as minhas for�as contra a URSS.� No dia 12 de agosto (�) Ribbentrop (�) levou Hitler a um lado e lhe disse algo em voz baixa: Molotov acabava de concordar em princ�pio a receber um negociador alem�o em Moscou. (�) 14 de agosto, Ribbentrop enviou um telegrama � embaixada de Moscou com estas dram�ticas instru��es: havia que informar a Molotov que Ribbentrop estava disposto a ir pessoalmente � Moscou. (�) Os russos deram um passo atr�s. No dia 18 de agosto, Ribbentrop mandou um telegrama urgente ao seu embaixador e lhe disse que estaria autorizado a firmar um protocolo adicional secreto (�) apesar de tudo, Molotov n�o parecia muito disposto a receb�-lo em Moscou antes do dia 26 ou 27. (�) Hitler (�) no dia 20 de agosto decidiu escrever uma nota pessoal a Stalin algo sem precedentes (�) para que aceitasse a presen�a de Ribbentrop em Moscou antes de tr�s dias. (�) Na tarde do dia 21 de agosto chegou a resposta de Moscou: Molotov havia convocado o embaixador �s tr�s da tarde. Ainda tiveram que passar mais horas angustiantes. Por fim, Ribbentrop trouxe o informe do embaixador (�) o Kremlin estava encantado em receber a Herr Ribbentrop em dois dias, como havia pedido Hitler. (�) Ribbentrop partiu para Moscou (�) com instru��es pessoais de Hitler de ceder a qualquer exig�ncia sovi�tica: para assegurar a assinatura de Molotov.[cxxvi]

            Apesar do Governo alem�o ter feito quest�o, nessa mesma noite, com dois dias de anteced�ncia, de divulgar pela radio a not�cia da viagem de Ribbentrop � Moscou, nem a Fran�a, nem a Inglaterra se dignaram a qualquer iniciativa diplom�tica junto a URSS. Sua estrat�gia continuava sendo fazer um acordo com Hitler, mesmo que �s custas da Pol�nia (como j� fora feito com a �ustria e a Checoslov�quia), e faz�-lo aproximar-se ainda mais das fronteiras sovi�ticas:

desde o dia 16 de agosto, a FA havia estado controlando furtivamente as conversa��es telef�nicas entre Sir Horace Wilson e o embaixador brit�nico em Berlim. Wilson buscava desesperadamente alguma f�rmula para devolver Dantzig ao Reich. No dia 20 de agosto, havia dito em segredo ao agregado de imprensa alem�o em Londres que estava disposto a �ir em segredo � Alemanha� se fosse necess�rio. � �ltima hora do dia 22 de agosto, o embaixador brit�nico chamou por telefone para solicitar uma entrevista com o Fuhrer no dia seguinte. Tinha uma carta do primeiro ministro brit�nico dirigida a Hitler (�) Segundo a escuta realizada, a carta de Chamberlain propunha um per�odo de distens�o enquanto se solucionavam os problemas de Dantzig e da minoria alem� da Pol�nia.[cxxvii]

O acordo germano-sovi�tico de n�o agress�o

            Mas, Hitler h� muitos meses j� havia decidido a invas�o da Pol�nia e a opera��o militar para o ataque j� estava em andamento desde o dia 15 de agosto. Como deixa claro Herrera, �conforme revelaram os inqu�ritos de Nuremberg - o pacto foi conseq��ncia e n�o, como se pensou durante algum tempo, fator da decis�o de invadir a Pol�nia, pois que tal decis�o fora tomada tr�s meses antes.� [cxxviii]O F�hrer n�o estava disposto a suspend�-la em troca de Dantzig, que era um mero pretexto para a agress�o.

            Sabedor disso, e sem qualquer perspectiva de chegar a curto prazo a uma alian�a militar com a Fran�a e a Inglaterra, no dia 23 de agosto o Governo Sovi�tico firmou com a Alemanha um acordo de n�o-agress�o por 10 anos:

Enquanto as conversa��es da R�ssia com as democracias ocidentais vinham-se arrastando havia 5 meses (...) as conversa��es entre Ribbentrop e Stalin foram conclu�das com �xito em doze horas (...) Os alem�es, diferentemente aos aliados ocidentais, fizeram todas as concess�es pedidas pelos russos. Em troca receberam a �nica garantia que desejavam: a garantia solene de que a Uni�o Sovi�tica permaneceria fora da guerra de Hitler.[cxxix]

            Pelo art. 1� desse acordo, ambas as partes se comprometiam a abster-se de qualquer agress�o entre si. No art. 2�, ambos os pa�ses assumiam o compromisso de n�o apoiar a um terceiro, se uma das partes fosse objeto de hostilidades por esse terceiro pa�s. O art. 3� rezava que a Alemanha e a URSS �continuariam em contato, no futuro, para manter consultas, a fim de informar-se, mutuamente, de quest�es que afetassem os seus interesses�. No art. 4�, ambos pa�ses comprometiam-se a n�o participar de grupos hostis � outra parte O art. 5� afirmava que os lit�gios que surgissem entre a Alemanha e a URSS deveriam ser resolvidos por meios pac�ficos.[cxxx]

Shirer � insuspeito de qualquer simpatia por Stalin ou pela URSS � comentar�:

A primeira e primordial considera��o de Stalin, como a de qualquer outro chefe de governo, era a seguran�a de seu pa�s. No ver�o de 1939, ele estava convencido (...) que Hitler iria � guerra. Ele decidiu que a R�ssia n�o devia ser posta na perigosa situa��o de ter de enfrentar sozinha o Ex�rcito alem�o. Se uma forte alian�a com o Ocidente se afigurava imposs�vel, ent�o por que n�o voltar-se para Hitler, que repentinamente estava batendo � sua porta? Em fins de julho de 1939, Stalin se tornara convencido, � claro, n�o somente de que a Fran�a e a Inglaterra n�o queriam uma alian�a firme, mas tamb�m que o objetivo do governo de Chamberlain na Inglaterra era induzir Hitler a fazer suas guerras na Europa Oriental. Stalin duvidava que a Inglaterra honrasse sua garantia � Pol�nia de uma forma melhor que a Fran�a mantivera suas obriga��es com a Checoslov�quia. E tudo que tinha ocorrido no Ocidente nos �ltimos dois anos tendia a aumentar sua desconfian�a: a rejei��o por Chamberlain das propostas sovi�ticas, depois do �Anschluss� e depois da ocupa��o nazista da Checoslov�quia, no sentido de tra�ar planos para deter nova agress�o nazista; o apaziguamento de Hitler em Munique, por Chamberlain, assunto do qual a R�ssia fora exclu�da; as delongas e hesita��es de Chamberlain em negociar uma alian�a defensiva contra a Alemanha (...). Se Chamberlain era justo e honrado ao apaziguar Hitler em setembro de 1938, sacrificando a Checoslov�quia, Stalin era injusto e desonrado ao apaziguar o Fh�rer um ano depois �s custas da Pol�nia, que se esquivara de qualquer forma de ajuda sovi�tica?[cxxxi]

E Trotski, inimigo mortal de Stalin e cr�tico impiedoso do Estado Sovi�tico dir�

Um Estado oper�rio isolado n�o pode deixar de manobrar entre os campos imperialistas hostis. Manobrar significa apoiar temporariamente um deles contra os outros. Saber qual dos dois campos � o mais conveniente, ou o menos perigoso, de se apoiar em determinado momento n�o � uma quest�o de princ�pios, mas de c�lculos e previs�o pr�ticas. (...) Mas realmente, que h� de inesperado e imprevisto na tentativa do Kremlin de obter as maiores vantagens poss�veis de sua alian�a com Hitler? (...) Durante as prolongadas negocia��es com a delega��o anglo-francesa no ver�o de 1939, o Kremlin exigiu abertamente o controle dos Estados B�lticos. Como a Inglaterra e a Fran�a n�o aceitaram este controle, Stalin rompeu as negocia��es. Isto indicava claramente que um acordo com Hitler asseguraria a Stalin, pelo menos, o controle dos Estados b�lticos. (...) Nas condi��es da guerra mundial, tratar a quest�o do destino dos pequenos Estados do ponto de vista da �independ�ncia nacional�, �neutralidade�, etc., � permanecer no terreno da mitologia imperialista. A luta � pelo dom�nio mundial. A quest�o da exist�ncia da URSS ser� resolvida nela. (...) ao procurar garantias militares contra o imperialismo, o Estado oper�rio (...) pode se ver obrigado a violar a independ�ncia deste ou daquele pequeno Estado. Derramar l�grimas sobre a rudeza da luta de classes no plano interno ou internacional pode ser pr�prio de filisteus democr�ticos mas n�o de revolucion�rios prolet�rios. Em 1921 a Rep�blica Sovi�tica sovietizou � for�a a Ge�rgia, que constitu�a um caminho aberto para o assalto imperialista no C�ucaso. (...) a salva��o da revolu��o socialista impunha-se aos princ�pios democr�ticos formais.[cxxxii]

Segundo diversos historiadores[cxxxiii], tamb�m houve um protocolo secreto, definindo as �reas de influ�ncia da Alemanha e da URSS e as fronteiras a serem respeitadas em caso de conflito militar com a Pol�nia. Segundo Schirer, esse �Protocolo Secreto� afirmava:

Os plenipotenci�rios abaixo-assinados, por ocasi�o da assinatura do Tratado de n�o-agress�o entre a Alemanha e a Uni�o Sovi�tica, discutiram em conversa��es estritamente confidenciais a quest�o da delimita��o de suas esferas de interesse na Europa Ocidental.

1.   No caso de uma transforma��o territorial e pol�tica nos territ�rios pertencentes aos Estados B�lticos (Finl�ndia, Let�nia e Litu�nia) a fronteira ao norte da Litu�nia representar� a fronteira das esferas de interesse tanto da Alemanha como da URSS.

2.   No caso de uma transforma��o pol�tica e territorial dos territ�rios pertencentes ao Estado polon�s, as esferas de interesse quer da Alemanha como da URSS ser�o limitadas aproximadamente pela linha dos rios Narew, V�stula e San.

3.   Quanto ao interesse de se manter um Estado polon�s independente e de como as fronteiras deste Estado seriam tra�adas, podem ser definitivamente determinadas somente no curso dos futuros acontecimentos pol�ticos. Em qualquer caso, ambos os governos resolver�o esta quest�o por meio de um entendimento amistoso.[cxxxiv]

Tudo indica que houve realmente esse protocolo secreto, anexo ao acordo germano-sovi�tico de n�o-agress�o, relacionado com o ataque � por todos previsto e sabido � que a Alemanha preparava contra a Pol�nia:

Um protocolo secreto exclu�a a Alemanha dos Estados b�lticos e das partes ocidentais da Pol�nia � o territ�rio a leste da linha Curzon, habitado por ucranianos e russos brancos. (...) O acordo de Brest-Litovsk foi finalmente desfeito, com o consentimento da Alemanha, ao inv�s do apoio das pot�ncias ocidentais. (...) O pacto n�o era nem uma alian�a nem um acordo para a divis�o da Pol�nia. Munique fora uma aut�ntica alian�a de partilha: os ingleses e franceses a impuseram aos checos. O governo sovi�tico n�o empreendeu nenhuma a��o semelhante contra os poloneses � apenas prometeu ficar neutro, ou seja, o que os poloneses sempre lhes haviam pedido, e que a pol�tica ocidental tamb�m desejava, implicitamente. Mais ainda, o acordo era, em �ltima an�lise, anti-alem�o: limitava o avan�o germ�nico no leste, em caso de guerra (...) � dif�cil imaginar que outra pol�tica poderia ter a R�ssia adotado (...) a neutralidade, com ou sem um pacto formal, era o m�ximo que a diplomacia sovi�tica poderia obter. E a limita��o das conquistas alem�s na Pol�nia e no B�ltico tornavam o pacto formal atraente.[cxxxv]

Precisamente para evitar esse ataque, a URSS havia procurado durante 5 meses, infrutiferamente, estabelecer um tratado de ajuda m�tua e um conv�nio militar com a Fran�a e a Inglaterra. Como afirmou De Gaulle, �na atitude de Stalin, fazendo de repente causa comum com Hitler, divisava-se a sua convic��o de que os franceses ficariam im�veis; que, assim, o Reich tinha as m�os livres; e que era prefer�vel partilhar a presa a deixar-lha inteiramente.�[cxxxvi]

Sabendo-se que a Pol�nia fazia fronteiras com a URSS e que em 1920, pela paz de Riga, lhe havia arrancado pela for�a uma parte da Ucr�nia e da Bielo-R�ssia � com o apoio das pot�ncias ocidentais � seria ingenuidade imaginar que a URSS fosse aceitar que a Alemanha ocupasse toda a Pol�nia, inclusive os territ�rios que lhe tinham sido usurpados naquela ocasi�o. Como nos diz Shirer:

A R�ssia (...) n�o havia esquecido que a Pol�nia, em dois anos de guerra contra ela (1920-1921) � enquanto enfraquecida pelas perdas sofridas na Grande Guerra, pela guerra civil e pelos ataques das na��es aliadas do Ocidente � havia, �s expensas da Uni�o Sovi�tica, estendido a fronteira 240 quil�metros a leste da etnogr�fica Linha Curzon, fronteira que transferira para o dom�nio dos poloneses quatro milh�es e meio de ucranianos e um milh�o e meio de russos brancos.[cxxxvii]

Da mesma forma, era l�gico que a URSS procurasse resguardar a sua seguran�a, exigindo que a Alemanha respeitasse as fronteiras dos pa�ses B�lticos � Litu�nia, Let�nia, Est�nia, Finl�ndia � Estados criados pelo Tratado de Versalhes em territ�rios do antigo Imp�rio Russo (e onde o processo revolucion�rio havia sido abortado pela interven��o armada imperialista), com o �nico objetivo de cerc�-la e de �deter o comunismo�:

Antes da Grande Guerra, os tr�s Estados B�lticos propriamente ditos � a Litu�nia, a Let�nia e a Est�nia � e mais a Finl�ndia faziam parte do Imp�rio dos Czares. (...) Os Estados B�lticos s�o cria��es de ontem. (...) A Finl�ndia atual nasceu, pode-se dizer, na batalha de Tampere, em que foram derrotados os bolcheviques, em come�os de 1918.[cxxxviii]

A assinatura do acordo germano-sovi�tico de n�o-agress�o tamb�m viabilizou a melhoria das rela��es com o Jap�o � com quem a URSS se encontrava em luta na regi�o da Mong�lia desde maio de 1939. Depois de uma nota de protesto contra o acordo de n�o-agress�o, considerado contr�rio � letra e ao esp�rito do Pacto Anticomintern, o Jap�o foi obrigado a modificar a sua pol�tica externa em rela��o � URSS, e buscar solucionar os conflitos existentes. Assim, em 15 de setembro de 1939, a URSS, a Mong�lia e o Jap�o assinaram um acordo acabando com o conflito de Calguin-Gol, complementado em 13 de abril de 1941, por um acordo de n�o-agress�o, por cinco anos.

Churchill, referindo-se ao acordo germano-sovi�tico de n�o-agress�o, dir� em suas mem�rias:

para os Sovietes era uma necessidade vital procurar que os ex�rcitos alem�es se concentrassem no Oeste (�) Agora as suas fronteiras situavam-se muito mais ao Leste do que na guerra anterior. A R�ssia necessitava, pela for�a ou pela ast�cia, ocupar os Estados B�lticos e grande parte da Pol�nia antes de sofrer o ataque inimigo. Esta pol�tica foi realista em alto grau. [cxxxix]

            E Isaac Deutscher � cr�tico implac�vel de Stalin e do governo sovi�tico � assim opinou sobre o acordo germano-sovi�tico:

No pacto prometeram permanecer rigorosamente neutros um em rela��o ao outro, caso um deles se envolvesse na guerra. O documento n�o continha garantias de amizade, salvo a obriga��o dos dois governos solucionarem suas diverg�ncias �mediante a troca amig�vel de opini�es�. (...) ele, Stalin, n�o sentiu remorsos. No seu entender a guerra era, de qualquer maneira, inevit�vel; mesmo que ele n�o tivesse feito acordo com Hitler, a guerra teria rebentado logo ou um pouco mais tarde, em condi��es incomparavelmente menos favor�veis ao seu pa�s. (...) Ele, Stalin, estava apenas afastando a conflagra��o da R�ssia. (...) n�o tinha d�vida que a Pol�nia sucumbiria e que as pot�ncias ocidentais n�o poderiam ou n�o quereriam dar-lhe ajuda efetiva. Conseq�entemente, via a Alemanha trocar sua posi��o por um poss�vel ataque � R�ssia situada v�rias centenas de quil�metros a leste. Compreendeu que tinha o dever de reduzir o risco estrat�gico inerente a esta troca; e s� poderia reduzi-lo tomando parte no desmembramento da Pol�nia. (...) Stalin agia unicamente em fun��o de intuitos imediatos de seguran�a, sem visar a expans�o pela expans�o (...) Seu prop�sito agora era ganhar tempo e, mais uma vez, tempo, para executar seus planos econ�micos, construir o poderio russo e depois lan�ar esse poderio na balan�a quando os outros beligerantes estivessem nas �ltimas.[cxl]

Mesmo Pierre Brou� � que prefere apresentar o acordo de Munique como um fracasso de Stalin em sua busca de uma alian�a com Paris e Londres, e n�o como uma capitula��o das democracias ocidentais � � obrigado a reconhecer que �o Pacto Germano-Sovi�tico tinha (...) um car�ter defensivo para a pr�pria URSS (...) ao desviar para o oeste o avan�o alem�o.�[cxli] J� Mandel � depois de concordar que �considerando a irresolu��o (...) dos governos franc�s e ingl�s sobre a colabora��o militar em uma agress�o alem� contra a Pol�nia, o governo sovi�tico tinha todo o direito de garantir sua seguran�a imediata no caso de uma conquista alem� desse pa�s�[cxlii] - questiona o protocolo secreto e o veto de Stalin � cria��o de um Estado polaco sob controle nazista.

Quanto a Fernando Claudin, depois de sugerir � sem base nos fatos hist�ricos � que o acordo germano-sovi�tico �era visualizado por Stalin como o pr�logo de um acordo de largo alcance com a Alemanha hitleriana� e que os dirigentes da URSS adotavam �posi��es que, na pr�tica, estimulavam as conquistas alem�s na Europa�[cxliii], desvia a discuss�o para a quest�o do �modo como este pacto foi utilizado e aplicado�:

N�o vamos abordar aqui o problema de saber se o pacto germano-sovi�tico resultou de uma op��o deliberada de Stalin, posto ante duas possibilidades � alian�a com a Alemanha ou alian�a com as �democracias�. Nem discutiremos a viabilidade da segunda possibilidade � como o faz ainda hoje a vers�o oficial sovi�tica Este problema permanece como objeto de debate entre os historiadores e s� poder� ser plenamente esclarecido quando os arquivos sovi�ticos forem franqueados (...) Admitindo que o objetivo essencial da diplomacia sovi�tica fosse impedir que as pot�ncias imperialistas constitu�ssem um bloco contra a URSS e que, para impedir essa eventualidade, n�o restasse ao governo sovi�tico outra op��o, em agosto de 1939, sen�o o pacto com a Alemanha, isto n�o justifica, em si mesmo, o modo como este pacto foi utilizado e aplicado por Stalin.[cxliv]

Roy Medvedev, historiador russo, cr�tico ferrenho de Stalin, diria anos mais tarde:

o fato � que n�o se pode incluir o pacto germano sovi�tico de n�o-agress�o na lista dos crimes e erros de Stalin. O governo Sovi�tico viu-se obrigado a assinar esse pacto porque a Inglaterra e a Fran�a favoreciam o fascismo alem�o e impediam que fossem consumadas negocia��es que levassem � assinatura de um pacto de assist�ncia m�tua com a URSS. (...) a Fran�a e a Gr�-Bretanha entregavam-se a um jogo pol�tico perigoso: as duas esperavam conseguir um acordo com Hitler e procuravam desviar a agress�o alem� na dire��o do Leste. (...) Foram os meios dirigentes da Inglaterra e da Fran�a (...) que permitiram � Alemanha reconstruir uma poderosa m�quina militar, na esperan�a de que essa for�a se voltasse contra o bolchevismo. (...) Tais circunst�ncias obrigavam a Uni�o Sovi�tica a se proteger, procurando aproveitar-se dos conflitos em que se achavam envolvidos os Estados imperialistas: em 1939, o pacto de n�o-agress�o com a Alemanha serviu a esse fim. (...) a Uni�o Sovi�tica n�o podia ficar indiferente � sorte dos ucranianos e dos bielorussos, cujos territ�rios haviam sido anexados quando do ataque polon�s ao jovem Estado sovi�tico. A chegada do Ex�rcito Vermelho aos territ�rios da Bielorr�ssia e da Ucr�nia era, portanto, um ato de liberta��o justificada (...) a Uni�o Sovi�tica n�o se apoderou de territ�rios originalmente pertencentes � Pol�nia: para os ucranianos e bielorrussos, esta opera��o do Ex�rcito Vermelho n�o foi mais que um ato de liberta��o.[cxlv]

            No mesmo rumo vai Giuliano Procacci quando afirma que �hoje n�o s�o poucos os estudiosos certamente insuspeitos de simpatias por Stalin que reconhecem que, depois de Munique, as margens de manobra para a diplomacia sovi�tica se haviam restringido a tal ponto (...) que n�o permitiam op��es diferentes das que foram feitas.�[cxlvi] E Nelson Werneck Sodr�, conhecido historiador brasileiro, escreveu sobre o acordo germano-sovi�tico: �as manobras pol�ticas dos chamados Aliados eram feitas para incitar Hitler contra a Uni�o Sovi�tica. Os dois � Alemanha e Uni�o Sovi�tica � deveriam se enfrentar e se destruir. (...) a Uni�o Sovi�tica precisava se preparar para um conflito que era inevit�vel. (...) A Uni�o Sovi�tica fez bem em assinar o pacto e ocupar uma �rea da Pol�nia. Se n�o, os alem�es iriam ocupar. A cl�usula nem precisaria ser secreta.�[cxlvii] Jacob Gorender tamb�m considera o acordo germano-sovi�tico foi uma imposi��o da pol�tica da imperialista que visava isolar a URSS mas, sem qualquer fundamento, critica a sua interpreta��o pela lideran�a sovi�tica como uma alian�a:

Penso que, nas circunst�ncias de 1939, a Uni�o Sovi�tica n�o tinha alternativa, a n�o ser fazer o pacto de n�o-agress�o com a Alemanha. Todas as tentativas de um acordo efetivo com a Inglaterra e com a Fran�a para uma rea��o contra a pol�tica agressiva da Alemanha, tinham fracassado. Era evidente que a Fran�a e a Inglaterra, atrav�s dos seus diplomatas, faziam todo o poss�vel para bloquear a consuma��o de um acordo anti-hitlerista. Isolada, n�o restou � Uni�o Sovi�tica outra sa�da al�m do pacto de n�o-agress�o com a Alemanha. (...) O erro foi que a lideran�a stalinista interpretou o pacto de n�o agress�o como um pacto de alian�a (...) Hoje � poss�vel ver que o pacto de n�o-agress�o foi uma imposi��o da pol�tica hip�crita aplicada pela Alemanha, Fran�a Inglaterra em 1939. A Uni�o Sovi�tica n�o tinha sa�da.[cxlviii]

ATAQUE ALEM�O � POL�NIA E A J� PREVIS�VEL PASSIVIDADE INGLESA E FRANCESA

Quando a Alemanha atacou a Pol�nia, no dia 1� de setembro de 1939, nem Inglaterra nem a Fran�a moveram um �nico dedo para ajud�-la, apesar de todas as promessas e compromissos. Protegidos detr�s da linha Maginot, os ex�rcitos franceses n�o se moveram 1 mil�metro. A causa estava no seu interesse de que Hitler avan�asse em dire��o � URSS:

� preciso dizer que certos meios queriam ver o inimigo mais em Stalin do que em Hitler. Preocupavam-se muito mais com os meios de ferir a R�ssia (...) do que com a maneira de triunfar sobre o Reich. Muitos exprimiam abertamente a sua admira��o por Mussolini. Alguns, mesmo no seio do Governo, trabalhavam para conseguir que a Fran�a obtivesse as boas gra�as do Duce, cedendo-lhe Jibuti, o Chade, parte de um condom�nio sobre a Reg�ncia tunisina.[cxlix]

Mas a repress�o aos comunistas foi feroz:

Em 1939, a declara��o de guerra da Fran�a n�o foi acompanhada de opera��es militares. (...) Mas havia uma guerra e, portanto, devia haver um inimigo. Descobriram-no nos comunistas franceses. Foram fechados L�Humanit� e Ce Soir. N�o somente o Partido Comunista foi proscrito, mas tamb�m centenas de associa��es, de uni�es, de ligas, suspeitas de simpatizarem com o comunismo. Come�aram as pris�es em massa. O Parlamento concedeu autoriza��o ao Estado para processar os deputados comunistas: eram acusados de se recusarem a repudiar a Uni�o Sovi�tica. Isto era um pretexto; na realidade a burguesia se vingava dos oper�rios pelo medo que lhe haviam inspirado em 1936.[cl]

            Do outro lado do canal da Mancha, a orgulhosa Albion tampouco se moveu. Nenhum avi�o decolou da Inglaterra ou da Fran�a para ajudar a Pol�nia contra os ataques da Luftwaffe ou das divis�es Panzer: �Quanto a avia��o, essa n�o realizou nenhum ataque sobre o territ�rio teuto, segundo parece, por uma decis�o tomada pelos governos franc�s e brit�nico �com o fim de evitar rea��o da Avia��o alem� que poderia acarretar graves repercuss�es em nossa concentra��o.[cli]

            Suas poderosas marinhas tampouco entraram em a��o para apoiar a Pol�nia. Ambas restringiram-se a declarar no dia 3 de setembro uma guerra �plat�nica� � Alemanha, enquanto assistiam passivamente a ocupa��o da Pol�nia: �No dia 3 de setembro, Gr�-Bretanha e Fran�a entraram na guerra, embora pouco houvesse em mat�ria de luta at� maio do ano seguinte. Enquanto a Blitzkrieg triunfava no leste, os aliados suportavam o t�dio da Stzkrieg, ou a �guerra de mentirinha�.[clii]

            A imobilidade da Fran�a e da Inglaterra no front oeste determinou a derrota polonesa, como reconheceram depois da guerra diversos generais hitlerianos:

O General Guderian escreve: �Ficamos espantados, abismados mesmos, que os franceses n�o tivessem aproveitado a ocasi�o oferecida. Era imposs�vel, �quela �poca, compreender as raz�es de tal absten��o�. (...) O General Keitel declarara, a esse respeito, em Nuremberg: (...) conclu�mos que a Fran�a e a Inglaterra n�o tinham com seriedade, a inten��o de fazer a guerra.� (...) E a mesma conclus�o � tirada pelo General von Lossberg: �por que os franceses n�o se aproveitaram de sua esmagadora superioridade para empurrar de rold�o as nossas fracas tropas (...) de Oeste, mesmo que fosse apenas para atingir o Reno e l� paralisarem, praticamente a bacia do Ruhr? Teria sido para n�s um golpe mais ou menos mortal!� (...) Do general Jodl em Nuremberg: �Em 1939 a cat�strofe foi evitada porque as 110 Divis�es, que possu�am aproximadamente os franceses e os ingleses, permaneceram completamente inativas diante das 23 Divis�es alem�s do Oeste!�[cliii]

Se tivessem se movimentado as for�as que dispunham de uma enorme superioridade (�), a guerra teria terminado inevitavelmente. Na Pol�nia ter-se-iam interrompido as a��es de combate. No m�ximo dentro de uma semana estariam perdidas as minas do Sarre e a regi�o do Ruhr.[cliv]

O Presidente Roosevelt proclamou a neutralidade dos Estados Unidos e o reacion�rio e anti-sovi�tico governo polaco de Moscicki � que poucos meses antes participara dos despojos da Checoslov�quia, que se negara a firmar qualquer documento em que figurasse a assinatura da URSS e que se opusera a permitir a passagem de tropas sovi�ticas pelo seu territ�rio, sequer para defend�-la � capitulou vergonhosamente fugiu para a Rom�nia, onde solicitou asilo, apesar do hero�smo do povo polaco que continuava resistindo. J� no dia 7, Ryds-Smigly � comandante em chefe do ex�rcito da Pol�nia � abandonou Vars�via, deixando a sua defesa aos cuidados dos trabalhadores. Os generais polacos, acostumados somente a reprimir o povo, fugiram para a Rom�nia.

S� no dia 17 de setembro, depois de o governo polon�s haver abandonado o pa�s, a Uni�o Sovi�tica ocupou a Ucr�nia ocidental e a Bielo-R�ssia ocidental:

A 16 de setembro, as tropas alem�s se encontram diante de Stanislavov, isto �, a 100 quil�metros da fronteira sovi�tica. Ent�o � que a URSS interv�m (17 de setembro). As for�as sovi�ticas ocupam a parte oriental da Pol�nia, povoada essencialmente por bielo-russos e ucranianos. A linha de demarca��o ressuscita mais ou menos a linha Curzon.[clv]

No dia 17 de setembro de 1939 (�) as tropas russas ocuparam metodicamente as prov�ncias polacas do Leste. Dois dias mais tarde tinham a metade da Pol�nia em suas m�os. O F�hrer n�o contava com essa r�pida penetra��o dos vermelhos. Os russos se moveram com tal rapidez que n�o s� lhe cortaram o caminho em dire��o aos ricos po�os de petr�leo de Galitzia, como lhe bloquearam a passagem �s jazidas da Rom�nia.[clvi]

Em 28 de setembro de 1939, Molotov e Ribbentrop se reuniram e estabeleceram um novo Tratado de Amizade e de Fronteiras, que estipulava que a Pol�nia deixaria de existir como Estado independente:

� inteiramente normal que a URSS, tendo assinado um pacto de n�o-agress�o com o Reich, conduzisse um jogo diplom�tico, justo e necess�rio do seu ponto de vista, a fim de n�o ressuscitar um Estado sat�lite da Alemanha, no caso o Estado polon�s que lhe havia criado tantas dificuldades desde o primeiro dia de sua forma��o e que, em 1939, havia sido uma das causas principais do insucesso do pacto a tr�s.[clvii]

Segundo este tratado, a Pol�nia ficava dividida �seguindo mais ou menos a velha linha Curzon, assinalada em dezembro de 1919 pelo Conselho Supremo Aliado como a poss�vel fronteira leste da Pol�nia�[clviii]:

O artigo do Temps de 1� de outubro de 1939 considera que �desde um ponto de vista estritamente russo este tra�ado tem toda a caracter�stica de uma linha �tnica e ling��stica�. E o correspondente do Temps em Moscou declarou no mesmo dia: �Os russos mant�m todas as regi�es povoadas por ucranianos e russos brancos (bielo-russos). A fronteira segue, tanto quanto poss�vel, sem buscar vantagem, uma linha de demarca��o �tnica plaus�vel.�[clix]

Outro historiador dir�: �a URSS (...) se anexava pura e simplesmente a R�ssia Branca, a Litu�nia [o que � uma incorre��o], a Galitzia Oriental e os confins da Ucr�nia (territ�rios onde, a dizer a verdade, os polacos de origem constitu�am em geral uma minoria).[clx] Um m�s depois, atrav�s de elei��es para as assembl�ias populares, estas regi�es instauraram o poder dos sovietes no seu territ�rio e solicitaram o ingresso na URSS, sendo integradas, respectivamente, nas Rep�blicas da Ucr�nia e da Bielo-R�ssia.

Mesmo mantendo suas cr�ticas � URSS, Trotski teve que reconhecer a corre��o de Stalin em n�o permitir que Hitler ocupasse toda a Pol�nia e ter exigido que os antigos territ�rios da Ucr�nia e da Bielo-R�ssia retornassem � URSS:

o Kremlin com os seus m�todos burocr�ticos deu um impulso � revolu��o socialista na Pol�nia (...) as massas populares da Ucr�nia Ocidental e da Bielo-R�ssia sentiram este impulso, entenderam seu significado e utilizaram-no para levar a cabo uma transforma��o dr�stica nas rela��es de propriedade. (...) Nas elei��es para a Assembl�ia Nacional da Ucr�nia Ocidental e da Bielo-R�ssia Ocidental, o programa eleitoral, ditado, naturalmente, pelo Kremlin, inclui tr�s pontos extremamente importantes: inclus�o de ambas as prov�ncias na Federa��o da URSS; confisca��o do latif�ndio em favor dos camponeses; e nacionaliza��o da grande ind�stria e dos bancos. Os democratas ucranianos, a julgar pela sua conduta, consideraram um mal menor estarem unificados, sob a jurisdi��o de um s� Estado. E do ponto de vista da futura luta pela independ�ncia est�o certos. Quanto aos outros dois pontos do programa, poder-se-ia pensar que n�o poderia haver nenhuma d�vida entre n�s sobre o seu car�ter progressista. (...) Dan, o l�der dos mencheviques, escreveu em 19 de outubro: �de acordo como o testemunho un�nime de todos os observadores, a apari��o do Ex�rcito e da burocracia sovi�ticas provocou, n�o s� no territ�rio ocupado por eles, como tamb�m para al�m dos seus limites, um impulso (!!!) � desordem social e �s transforma��es sociais�. (...) Outro autor menchevique escreve: (...) �o pr�prio fato da entrada das tropas sovi�ticas nos territ�rios da Pol�nia Oriental, com suas velhas rela��es agr�rias semifeudais, tinha que provocar um tempestuoso movimento agr�rio. Com a aproxima��o das tropas sovi�ticas, os camponeses come�aram a tomar os latif�ndios dos grandes propriet�rios e a formar comit�s de camponeses.� (...) Cito o testemunho dos mencheviques porque (...) n�o s�o suspeitos de terem capitulado perante o estalinismo. (...) Para os camponeses da Gal�cia e da Bielo-R�ssia Ocidental, a transforma��o agr�ria foi da maior import�ncia. A Quarta Internacional n�o poderia boicotar esta transforma��o com o argumento de que a iniciativa foi tomada pela burocracia reacion�ria. O nosso estrito dever era participar nesta transforma��o, junto aos oper�rios e camponeses e, nessa medida, junto ao Ex�rcito Vermelho.[clxi]

� preciso destacar que � ao contr�rio do que muitos trotsquistas contempor�neos divulgam � Trotsky, sem abandonar as suas cr�ticas a Stalin e ao regime sovi�tico, defendeu abertamente a ocupa��o da Pol�nia Oriental pela URSS e as transforma��es revolucion�rias que a� ocorreram, assim como o posterior ataque da URSS � Finl�ndia reacion�ria:

O Kremlin participa de uma nova divis�o da Pol�nia, o Kremlin se apodera dos Estados B�lticos, o Kremlin se dirige para os Balc�s, a P�rsia e o Afeganist�o; em outras palavras, o Kremlin continua a pol�tica do imperialismo czarista. Ser� que tamb�m neste caso temos o direito de qualificar de imperialista a pol�tica do Kremlin? (...) A revolu��o prolet�ria que se produziu no territ�rio do imp�rio czarista tentou, desde o seu in�cio, conquistar � e durante muito tempo conquistou � os pa�ses b�lticos; tentou penetrar a Rom�nia e a P�rsia e, em certo momento, dirigiu seus ex�rcitos para Vars�via (1920). As linha da expans�o revolucion�ria foram semelhantes �s do czarismo, uma vez que a revolu��o n�o modifica as condi��es geogr�ficas. Por isso, precisamente, j� naquela �poca, os mencheviques falaram de imperialismo bolchevique, como calcado nas tradi��es da diplomacia czarista. A democracia pequeno-burguesa recorre, ainda hoje em dia, e de bom grado, a este argumento. Nisso, repito eu, n�o temos motivo algum para imit�-la. (...) a ocupa��o da Pol�nia oriental pelo Ex�rcito Vermelho � um �mal menor� em compara��o com a ocupa��o deste mesmo territ�rio pelas tropas nazistas.[clxii]

Foi extremamente eloq�ente em sua unanimidade e sua f�ria, a campanha que lan�ou a burguesia mundial por ocasi�o da guerra fino-sovi�tica. Nem a perf�dia, nem a viol�ncia, anterior a esta guerra excitaram a indigna��o da burguesia, pois toda a hist�ria da pol�tica mundial foi escrita em termos da perf�dia e da viol�ncia. Seu medo e sua indigna��o despertaram diante da perspectiva de uma reviravolta social na Finl�ndia, id�ntica � provocada pelo Ex�rcito Vermelho na Pol�nia Oriental. O que foi colocado em quest�o foi uma nova amea�a para a propriedade capitalista. A campanha anti-sovi�tica, que tinha em todos os pontos um car�ter de classe, revelou uma vez mais que a URSS (...) continua sendo ainda um Estado oper�rio que apavora a burguesia no mundo inteiro. (...) A submiss�o da Pol�nia oriental, garantia da alian�a com Hitler e garantia contra esse mesmo Hitler, � acompanhada da nacionaliza��o da propriedade semi-feudal e capitalista na Ucr�nia ocidental e na Bielor�ssia ocidental. Sem essa medida, o Kr�mlin n�o poderia incorporar � URSS os territ�rios ocupados. A Revolu��o de outubro estrangulada e profanada fazia saber por isto que ela ainda estava viva.[clxiii]

Referindo-se a essas opini�es de Trotsky, Deutscher afirmar�:

Totsky insistiu com a maior firmeza que a Uni�o Sovi�tica continuava sendo um Estado Oper�rio, com direito a ser defendido incondicionalmente contra todos os seus inimigos capitalistas, fascistas e democr�ticos. Nem sequer negou a Stalin o direito de negociar com Hitler, ainda que ele mesmo pensava que o pacto germano-sovi�tico n�o havia dado nenhuma vantagem importante � Uni�o sovi�tica; ele teria preferido uma alian�a sovi�tica com o ocidente. Mas sustentava que o problema de com quem devia aliar-se a Uni�o Sovi�tica devia ser resolvida unicamente tendo por base a conveni�ncia, e que a escolha n�o implicava nenhum princ�pio pol�tico ou moral, porque tanto as pot�ncias ocidentais como o Terceiro Reich lutavam s� por seus interesses imperialistas. O que Trotsky repudiava na pol�tica de Stalin n�o era tanto a sua escolha de um aliado ou s�cio, sen�o fazer da escolha uma virtude e proclamar a sua solidariedade ideol�gica com qualquer que fosse seu aliado do momento.[clxiv]

Em 28 de setembro, a URSS assinou um acordo de assist�ncia m�tua com a Est�nia, em 5 de outubro, com a Let�nia e em 10 de outubro com a Litu�nia:

N�o se pode deixar de sublinhar a posi��o ao mesmo tempo c�mica e tr�gica dos estadistas do B�ltico. Inibidos pelo pavor da R�ssia, voltaram-se para Berlim. Agora, o Reich concluiu � custa deles, o seu acordo com os Sovietes (...) Paga o Reich, como se v�, a alto pre�o o seu tratado de amizade com os Sovietes. Porque o Baltikum (...) foi sempre considerado pelos nazistas um campo de natural expans�o do Reich, uma das mais pr�ximas etapas do Drang nach Osten.[clxv]

Em 1� de outubro, o pr�prio Churchill, falando na C�mara dos Comuns, reconheceu:

� de toda evid�ncia que os russos deviam for�osamente montar guarda nessa linha, a fim de garantir seu pa�s contra a amea�a nazista. Seja como for, essa linha existe, o estabelecimento de uma frente oriental � hoje um fato consumado e a Alemanha nazista n�o ousa atacar essa frente. Quando o Sr. Ribbentrop foi convocado a Moscou, na �ltima semana, era para tomar conhecimento desse fato e reconhecer que os nazistas deviam renunciar inteira e imediatamente �s suas pretens�es sobre os Estados B�lticos e sobre a Ucr�nia.[clxvi]

Tamb�m William Shirer � cr�tico da URSS e do acordo germano-sovi�tico � teve que reconhecer a habilidade e a firmeza do Governo Sovi�tico nas negocia��es ap�s o ataque de Hitler � Pol�nia:

Stalin apresentava sua conta e Hitler, pela primeira vez, pelo menos teve que pag�-la. Ele estava abandonando imediatamente n�o s� a Est�nia mas a L�tvia, ambas as quais - concordara no Pacto Nazi-Sovi�tico � pertenciam � esfera dos interesses sovi�ticos. Antes de terminado o dia, renunciava tamb�m � Litu�nia, na fronteira nordeste da Alemanha, a qual, segundo as cl�usulas secretas do Pacto de Moscou, pertencia � esfera do Reich. (�) Hitler guerreou contra a Pol�nia e ganhou a batalha, mas o maior vencedor foi Stalin, cujas tropas quase n�o disparam um tiro. A Uni�o Sovi�tica obteve quase metade da Pol�nia e um baluarte nos Estados B�lticos. Isso bloqueava a Alemanha mais solidamente do que nunca em dois de seus principais objetivos a longo prazo: o trigo ucraniano e o petr�leo romeno, dos quais ela tinha grande necessidade se quisesse sobreviver ao bloqueio brit�nico. Mesmo a regi�o petrol�fera de Borislav- Drogobycz, na Pol�nia, que Hitler desejava, foi exigida por Stalin, e com �xito, e este �ltimo prazeirosamente concordou em vender aos alem�es o equivalente da produ��o anual dessa �rea.[clxvii]

            E o ex-embaixador dos EUA na URSS, Joseph Davies, anotou em seu di�rio em novembro de 1939:

Nenhuma pessoa bem informada podia ter concebido tampouco, h� seis meses, que a Alemanha pagaria um pre�o t�o elevado � R�ssia para manter fechadas suas portas do leste quando atacou a Pol�nia. (...) Tudo isso cria uma situa��o nada vantajosa para Hitler. Entregou o B�ltico (...) retirou-se da Ucr�nia; seu poder econ�mico est� restrito somente � Rom�nia e a uma limitada influ�ncia sobre a Bulg�ria ou a Hungria. (...) Considerando o grande conceito de �Lebensraun� (Espa�o Vital) que Hitler predisse ao seu povo e ao mundo, encontra-se agora reduzido a um c�rculo muito pequeno. Sua �nica sa�da parece ser atualmente a oeste. (...) os Sovietes est�o seguindo uma pol�tica independente baseada somente no seu pr�prio interesse e (...) Hitler n�o est� muito satisfeito com isso.[clxviii]

            Depois de examinarmos todo esse quadro, seria interessante perguntar-nos se Hitler teria atacado a Pol�nia caso a Inglaterra e a Fran�a aceitassem o acordo de ajuda m�tua com a URSS? Ou � caso mantivesse esse ataque � se nessas circunst�ncias conseguiria fazer frente, simultaneamente, a essas tr�s pot�ncias militares? Ou, imaginar o que aconteceria no caso do ataque alem�o � Pol�nia ocorrer sem a exist�ncia do acordo de n�o-agress�o germano-sovi�tico?[clxix]N�o teria sido, nesse caso, inevit�vel o confronto entre a URSS, isolada, e a Alemanha, desde o primeiro dia da Segunda Guerra Mundial? E a quem, exatamente, interessava essa situa��o? Mas a hist�rias n�o � feita de �SEs�!

ERROS DA URSS E DO MOVIMENTO COMUNISTA INTERNACIONAL

O maior erro vinculado � assinatura do tratado de n�o-agress�o germano-sovi�tico foi confundir um acordo entre os Estados Sovi�tico e Alem�o (firmado por raz�es militares e de Estado) com a t�tica e a estrat�gia do movimento comunista internacional. Ainda que esta quest�o seja controversa, o que � certo � que, al�m de uma grande confus�o entre os militantes, ocorreram altera��es na pol�tica do movimento comunista internacional, sob influencia da nova postura da URSS. Paolo Spriano, referindo-se �s rea��es de partidos comunistas da Europa Ocidental ap�s a assinatura do �pacto�, afirma:

As rea��es de Thorez e da dire��o do PCF at� e mesmo ap�s a deflagra��o da guerra (o mesmo se pode dizer dos comunistas italianos e dos ingleses) s�o de tal ordem que implicam, por si s�, uma atitude aut�noma em rela��o ao pacto russo-alem�o. (...) O PCF continua a afirmar que �se Hitler, malgrado tudo, desencadeia a guerra, ent�o saiba que encontrar� diante de si, unido, o povo da Fran�a, os comunistas na primeira linha, para defender a seguran�a do pa�s, a liberdade e a independ�ncia dos povos�. (...) o pacto russo-alem�o pode ser justificado sob o ponto de vista da seguran�a da URSS, mas os comunistas franceses � dizem seus dirigentes � continuam sendo uma for�a patri�tica que saber� assumir inteiramente seus pr�prios deveres nacionais. (...) depois da invas�o da Pol�nia (...) o PCF afirma: �Hitler � o �nico respons�vel pela guerra, como representante m�ximo do sistema hitleriano de destrui��o das liberdades democr�ticas. Hitler, como chefe do maior Estado totalit�rio, � o inimigo n�mero um de todas as classes trabalhadoras de todos os pa�ses�.[clxx]

Em 25 de agosto de 1939, Thorez, em nome da representa��o comunista na C�mara, divulgou comunicado afirmando que �o Partido Comunista aprova as medidas tomadas pelo governo para defender nossas fronteiras e dar, se necess�rio, aux�lio ao pa�s amea�ado pela agress�o, ao qual estamos ligados por um tratado de alian�a.� Apesar disso, no dia seguinte, Daladier mandou fechar dois di�rios comunistas � o Humanit� e o Ce Soir � e proibiu e passou a perseguir o Partido Comunista.

Por�m, segundo Spriano, em fins de setembro de 1939 o PCF teria recuado dessa postura �em raz�o de uma exig�ncia do Comintern e no contexto de uma trajet�ria de alinhamento que todas as se��es realizam (...) a nova linha da Internacional responde a press�es urgentes de ordem pol�tica e diplom�tica.�[clxxi] Na verdade, em novembro de 1939, o Comit� Executivo do Comintern definiu sua posi��o sobre a guerra em curso:

a guerra era imperialista de ambas as partes, injusta e reacion�ria, apontando como culpados dela �todos os governos capitalistas, em primeiro lugar todas as classes dominantes dos Estados beligerantes�.[A Internacional Comunista, 1939, n� 8-9, p. 4] Esta defini��o sublinhava as aspira��es imperialistas dos beligerantes, mas n�o tinha em conta a tend�ncia nacional-libertadora do conflito. A dire��o do Comintern considerava que a guerra acabara por igualar os objetivos dos dois grupos capitalistas. Este crit�rio foi formulado, principalmente, sob a influ�ncia da pol�tica anti-sovi�tica das esferas governantes da Inglaterra e da Fran�a, que queriam conluiar-se com a Alemanha hitleriana para lan��-la contra a URSS. As inten��es anglo-francesas manifestaram-se com particular nitidez durante a guerra sovi�tico-finlandesa. Al�m de incitarem os reacion�rios finlandeses a fazer a guerra � URSS, os governos da Inglaterra e da Fran�a forneciam-lhes armas em abund�ncia. Os Estados Maiores Generais dessas duas pot�ncias propunham-se enviar as suas tropas para a Finl�ndia e projetavam agredir a Uni�o Sovi�tica a partir do Sul.[clxxii]

Assim, inicialmente o Comintern caracterizou a II Guerra Mundial como uma guerra inter-imperialista, similar � I Guerra Mundial, contra a qual deviam levantar-se todos os povos do mundo. Em 1946, o pr�prio Stalin refutar� essa caracteriza��o err�nea da guerra ao afirmar que �a Segunda Guerra Mundial teve desde o in�cio um car�ter de guerra antifascista e de liberta��o e uma de suas tarefas era o restabelecimento das liberdades democr�ticas�.[clxxiii]

O historiador ingl�s Alexander Werth, analisando a postura sovi�tica ap�s o tratado germano-sovi�tico, afirma que �durante o per�odo do Pacto (...) a imprensa russa guardou um acentuado alheamento a respeito da Alemanha nazista. N�o foram feitos coment�rios favor�veis sobre quaisquer aspectos do regime nazista em qualquer �poca�.[clxxiv]

Mas, em 31 de agosto, ao defender o acordo germano-sovi�tico perante o Soviete Supremo, Molotov afirmou: �� recente o fato de que os nazistas alem�es seguiam uma pol�tica externa essencialmente hostil � Uni�o Sovi�tica. Sim, h� bem pouco tempo a URSS e a Alemanha eram inimigas. Agora a situa��o mudou e j� n�o o somos mais.�[clxxv]

E, segundo Ellenstein, em 30.11.39, o Pravda publicou uma declara��o atribu�da a Stalin de que �n�o � a Alemanha que ataca a Fran�a e a Inglaterra; foram a Inglaterra e a Fran�a que atacaram a Alemanha�.[clxxvi] No mesmo rumo foi a Declara��o Conjunta Germano-Sovi�tica de 29.09.39: �os Governos da Uni�o Sovi�tica e da Alemanha declaram que a liquida��o da guerra entre a Alemanha, de um lado, e a Gr�-Bretanha e a Fran�a, de outro, seria do interesse de todas as na��es. N�o obstante, se os esfor�os de ambos os governos forem infrut�feros (...) a responsabilidade da continua��o da guerra pesar� somente sobre a Gr�-Bretanha e a Fran�a.�[clxxvii]

Ainda que a tese de que a declara��o de guerra partira da Inglaterra e da Fran�a, e n�o da Alemanha, pudesse ser formalmente correta, � evidente que isso era politicamente insustent�vel, pois fora uma resposta a toda uma s�rie de agress�es alem�s. A 31 de outubro, voltando a falar perante o Soviete Supremo, Molotov aprofundaria essa an�lise �pragm�tica�:

o conceito de �agress�o� mudou inteiramente. N�o podemos empregar hoje esta palavra no mesmo sentido em que faz�amos h� tr�s anos ou quatro meses atr�s. Agora a Alemanha se bate pela paz, enquanto a Inglaterra e a Fran�a favorecem a continua��o da guerra. Como vedes, os pap�is se inverteram.[clxxviii]

Tanto na Inglaterra quanto na Fran�a, os adeptos da guerra declararam � Alemanha uma guerra ideol�gica que recorda as velhas lutas religiosas. (...) Uma guerra deste tipo n�o se justificaria hoje por nenhum motivo. A ideologia hitleriana, como qualquer outra ideologia, pode ser aceita ou recusada: este � um problema que diz respeito �s id�ias pol�ticas pessoais. Mas qualquer um pode ver que uma ideologia n�o pode ser destru�da com a for�a. Por isto, n�o � s� insensato, � mesmo criminoso fazer passar esta guerra como uma luta pela destrui��o do hitlerismo, sob a falsa bandeira de uma batalha pela democracia.[clxxix]

Na verdade, procurava-se dar uma justificativa �te�rica� para algo que devia ser explicado por imposi��es de car�ter militar e por �raz�es de Estado�. Angustiado por esse tipo de an�lise for�ada, Ilya Ehrenburg diria: �Lembrava-me que Bonnet e Chamberlain haviam sonhado com um ataque de Hitler contra a Ucr�nia: o pacto germano-sovi�tico fora ditado pela necessidade. A dr�le de guerre e as persegui��es contra os comunistas demonstravam que Daladier n�o tencionava combater contra Hitler. Todavia, as palavras de Molotov sobre os �antifascistas m�opes� me abalaram. (...) para mim o inimigo principal continuava sendo o fascismo.�[clxxx]

Apesar dos erros, n�o procedem, por�m, as afirma��es de que s� ap�s a invas�o da URSS (21.07.41) os partidos comunistas retomaram a luta contra o nazi-fascismo. Em 6 de junho de 1940, frente ao avan�o alem�o e ao derrotismo nos altos escal�es do governo e das For�as Armadas francesas, o PCF, mesmo proscrito, fez um chamamento � defesa de Paris amea�ada, onde afirmava:

O Partido Comunista consideraria como trai��o a entrega de Paris aos invasores fascistas. Considera a organiza��o da sua defesa como o primeiro dever nacional. Para isso � necess�rio: 1. Mudar o car�ter da guerra, transformando-a numa guerra nacional pela independ�ncia e pela liberdade. 2. Libertar os deputados e militantes comunistas, assim como dezenas de milhares de oper�rios encarcerados ou internados. 3. Deter imediatamente os agentes do inimigo, que pululam no Parlamento, nos Minist�rios e inclusive no Estado-Maior e aplicar-lhes um castigo exemplar. 4. Estas primeiras medidas despertariam o entusiasmo popular e tornariam poss�vel a forma��o de mil�cias populares, o que se deve decretar sem demora. 5. Armar o povo e fazer de Paris uma cidadela inexpugn�vel.[clxxxi]

            Sem qualquer vacila��o, a burguesia francesa traiu o seu povo e capitulou frente �s hordas nazistas, com a �nica preocupa��o de �impedir o perigo bolchevista�:

O temor a um levante oper�rio em Paris, mesmo depois da derrota da greve geral de setembro de 1938, seguiu sendo intenso. �Weygand e os demais temiam uma Comuna em Paris�, disse o almirante Auphan a Raymond Tournoux. Esta era a principal motiva��o por traz do desejo de Weygand de terminar a guerra a qualquer pre�o, um desejo absolutamente compartido por P�tain e Laval. [clxxxii]

                E Goujon acrescenta: �A anarquia e o perigo vermelho s�o as obsess�es de P�tain e dos altos militares. Mais tarde, Laval, chefe do governo de Vichy, estender� essa doutrina a toda Europa: �desejo a vit�ria da Alemanha porque, sem ela, o bolchevismo amanh� estaria em toda parte�.�[clxxxiii]

            Em 10 de julho de 1940, o PCF publicou um manifesto ao povo da Fran�a conclamando � luta implac�vel contra os ocupantes e o governo de trai��o nacional de Vichy e � constitui��o de uma �Frente pela liberdade, independ�ncia e renascimento da Fran�a�. Em todos os pa�ses ocupados, a Internacional Comunista e os comunistas procuraram organizar a resist�ncia::

a diretriz do Comintern de 22 de Junho de 1940 (...) dava a importante indica��o de organizar, atuando com a maior cautela, a resist�ncia �s medidas dos invasores: �Frustrando as provoca��es e evitando as a��es prematuras, � necess�rio sustentar e organizar de todas as maneiras a resist�ncia das massas �s medidas de viol�ncia depreda��o e arbitrariedade contra o povo por parte dos invasores. (...) Quaisquer que sejam as condi��es, os comunistas devem estar com o povo e marchar sempre nas primeiras filas da sua luta libertadora� (...) A atividade dos comunistas franceses para organizar o movimento de resist�ncia deu os primeiros frutos no Outono de 1940 (...) O PCF conseguiu formar grupos armados no �mbito de uma Organiza��o Especial de Combate, embri�o de �uma organiza��o militar adaptada �s condi��es da luta clandestina e do terror fascista. A resist�ncia aos invasores fascistas foi crescendo tamb�m noutros pa�ses subjugados. Exortados pelo Partido Comunista da B�lgica (...) em junho de 1940 os oper�rios de Li�ge paralisaram o trabalho; em setembro foram 10.000 mineiros de Borinage. (...) O Partido Comunista da Noruega organizou no outono do mesmo ano manifesta��es e com�cios antifascistas em v�rias cidades do pa�s. Os comunistas polacos come�aram a criar organiza��es de luta contra os ocupantes nazis.[clxxxiv]

Ao aproximar-se o fim do ver�o de 1940 (...) seus enviados e agentes diplom�ticos no exterior incentivavam todos os sinais de resist�ncia � �nova ordem�. Os jornais de Moscou, que at� ent�o s� reservavam aos aliados coment�rios depreciativos, come�aram a noticiar com simpatia a Batalha da Gr�-Bretanha e a concitar os patriotas franceses a resistirem � subjuga��o de seu pa�s. Mesmo antes disto, o Minist�rio do Exterior alem�o tivera de protestar contra a propaganda antinazista a que se entregara Madame Kollontai, representante sovi�tica na Su�cia. [clxxxv]

Outro equ�voco de Stalin e do governo sovi�tico � que causou grandes preju�zos na fase inicial da luta � foi a ilus�o na possibilidade de adiar a guerra com a Alemanha nazista por um prazo demasiado longo, inclusive atrav�s de um �apaziguamento� de Hitler. Isso levou a que os fortes ind�cios da prepara��o de um ataque alem�o fossem desconsiderados e a que os in�meros avisos nesse sentido fossem considerados �provoca��es� das democracias ocidentais, com o �nico objetivo de precipitar a guerra da Alemanha contra a URSS.

As grandes defici�ncias na prepara��o do pa�s para a defesa se deviam aos s�rios erros de Stalin na aprecia��o da situa��o militar estrat�gica geral e dos poss�veis prazos para o come�o da luta. Stalin considerava que as not�cias procedentes de distintas fontes de que a Alemanha se preparava para atacar a URSS tinham um car�ter provocador e eram inspiradas pela imprensa burguesa com o objetivo de lan�ar a URSS contra a Alemanha. (...) Assim se explica que o primeiro golpe descarregado pelos fascistas foram inesperados (...).[clxxxvi]

Mas isso n�o d� raz�o aos que afirmam que a URSS n�o aproveitou o tempo ganho com o acordo germano-sovi�tico para melhor preparar-se para esse embate. O problema � que o r�pido desmoronamento das democracias ocidentais frente � agress�o nazista � sem luta e sem desgaste para as hordas hitlerianas, entregando-lhe intactos seus parques industriais e sua m�quina militar � acabou por fortalecer enormemente o poderio b�lico do nazi-fascismo, tornando mais dif�ceis as coisas para a URSS.

Tampouco t�m fundamento os relatos que apresentam a lideran�a sovi�tica como totalmente despreparada e acovardada diante da agress�o alem�. � Isaac Deutscher, insuspeito de qualquer simpatia pela lideran�a sovi�tica, quem diz:

Sem d�vida, Stalin empregou os vinte e dois meses de tr�gua no desenvolvimento intensivo das ind�strias b�licas russas e no treinamento das For�as Armadas segundo a mais recente experi�ncia militar. (...) Apesar de todos os seus erros de c�lculo, Stalin n�o estava despreparado para enfrentar a emerg�ncia. Havia armado solidamente o pa�s e reorganizado suas for�as militares. Seu esp�rito pr�tico n�o se aferrara a nenhum dogma estrat�gico unilateral. N�o embalara o Ex�rcito Vermelho numa falsa impress�o de seguran�a por tr�s de alguma variedade russa da Linha Maginot (...) A R�ssia iria vender espa�o a troco de tempo; o espa�o vendido ficaria imprest�vel para o inimigo, que por ele teria de pagar um pre�o escorchante. Era este o �nico meio pelo qual, depois de todos os erros e c�lculos inexatos, Stalin podia bater-se com o conquistador da Europa. E enfrentou-o com uma for�a de vontade superior.[clxxxvii]

CONCLUS�O

Por todo o exposto, parece-nos evidente que a chamada �Pol�tica de Apaziguamento� que as democracias ocidentais mantiveram frente �s agress�es dos regimes fascistas, correspondeu a uma pol�tica consciente dos principais pa�ses capitalistas, com o objetivo de isolar o Estado Sovi�tico e a direcionar as agress�es da Alemanha militarista no rumo do Leste Europeu:

A pol�tica de apaziguamento (...) decorreu de uma concep��o puramente pol�tica, que foi muito bem expressa pelo jornal fascista franc�s Combat: �Os partidos da ala direita tiveram a impress�o de que (...) uma derrota da Alemanha significaria o esmagamento dos sistemas autorit�rios que constituem o principal baluarte contra o comunismo e, talvez, a bolcheviza��o da Europa.[clxxxviii]

Ao mesmo tempo que se buscava utilizar a Alemanha como um ar�ete contra o primeiro Estado Socialista do mundo, se procurava enfraquecer essa rival imperialista com uma luta desgastante contra a URSS. Assim, matava-se �dois coelhos com uma s� cajadada�: �Hitler provavelmente pretendia uma grande guerra de conquista contra a R�ssia Sovi�tica, se � que tinha algum prop�sito consciente. N�o � prov�vel que pretendesse a guerra que irrompeu contra a Gr�-Bretanha e Fran�a, em 1939.�[clxxxix]

Intoxicadas pelo anticomunismo, as �democracias liberais� n�o percebiam que essa pol�tica oportunista �s conduzia ao suic�dio. Secundariamente � e a� est�o as diferen�as entre homens como Chamberlain e Churchill, Daladier e De Gaulle � jogou certo papel a pusilanimidade dos principais l�deres dos governos ocidentais de ent�o. Mas mesmo o fato de tais ou quais homens � e n�o outros � estarem � frente de seus governos, significa que eram quem melhor representavam os interesses dos c�rculos dirigentes de seus pa�ses naquele momento.

O incentivo e o apoio aberto ao rearmamento alem�o, a coniv�ncia com as agress�es japonesas no extremo Oriente, italianas na Abiss�nia e �talo-alem�s na Espanha, sinalizaram j� no in�cio da d�cada de trinta que o grande capital da Inglaterra, da Fran�a e dos Estados Unidos, apoiava o nazi-fascismo como tropa de choque contra o movimento oper�rio e socialista.

A entrega da �ustria, logo dos Sudetos e a seguir de toda a Checoslov�quia mostraram ao mundo que as democracias ocidentais n�o tinham o menor respeito pelas pequenas na��es ou pelos compromissos por elas assumidos.

Quanto mais avan�avam os agressores, mais a Fran�a, a Inglaterra e os Estados Unidos, cediam, de maneira calculada, incentivando-os a novas agress�es. Enquanto prodigavam Hitler com propostas de �acordos�, �pactos� e �acertos� sobre uma nova divis�o do mundo, negavam-se a qualquer acordo defensivo com a URSS.

Ao contr�rio, no mesmo momento em que o Jap�o agredia a China, a Mong�lia e a URSS, no Extremo Oriente, a Inglaterra assinava o acordo nipo-ingl�s ou a �Munique do Leste�, como ficou conhecido. Buscava-se impor ao Estado Sovi�tico o total isolamento e uma guerra em duas frentes.

            A �novela� das negocia��es tripartites entre a URSS, a Inglaterra e a Fran�a est� suficientemente documentada para tirar as nossas d�vidas acerca das verdadeiras inten��es das democracias ocidentais. O mesmo Chamberlain, que acorrera tr�s vezes � Alemanha, de forma humilhante, para negociar com Hitler a entrega da Checoslov�quia, se negou a viajar sequer uma vez at� Moscou, para negociar o �nico acordo que poderia ter detido a aventura nazi-fascista e evitado a guerra. Ao contr�rio, enviou, ostensivamente, uma delega��o desqualificada e sem poderes, e nunca escondeu que n�o tinha a menor inten��o de assinar qualquer tratado com a URSS. Enquanto isso, at� o �ltimo minuto tentou negociar com a Alemanha o abandono da Pol�nia.

            A Fran�a e os Estados Unidos n�o ficaram muito atr�s nas suas atitudes. A total inatividade dessas na��es capitalistas quando se concretizou a agress�o alem� � Pol�nia, mostrou ao mundo a quem elas tentavam colocar na linha de fogo das tropas alem�s quando propunham que � URSS oferecesse garantias unilaterais a uma Pol�nia que se negava sequer a admitir a entrada de um �nico soldado sovi�tico para defend�-la:

Os diplomatas sovi�ticos deram-se conta de que o grupo de Cliveden, contra a crescente oposi��o da opini�o p�blica anglo-francesa, pretendia jogar seu �ltimo trunfo sobre a Pol�nia. Ocupando-a, a Wehrmacht � ex�rcito alem�o � atingiria a fronteira sovi�tica. A URSS, em guerra com os japoneses no leste, sentiu a amea�a de uma dupla invas�o. A falta de prepara��o de Londres e Paris numa conjuntura t�o tensa revelava-se uma estrat�gia de encorajar o ataque de Hitler � Pol�nia. De que serviam as garantias de Vars�via sem um respaldo militar?[cxc]

            N�o nos cabe emitir �julgamentos� sobre os acontecimentos hist�ricos � em particular sobre a �pol�tica de apaziguamento� e o acordo germano-sovi�tico de n�o-agress�o � mas tentar explic�-los. Nesse sentido, independentemente das opini�es que tenhamos sobre Stalin e os erros que tenha cometido, uma coisa n�o pode ser negada: a URSS adotou durante anos uma pol�tica de den�ncia e de enfrentamento ao nazi-fascismo e tentou por todos os meios um tratado com a Fran�a e a Inglaterra, para det�-lo enquanto era poss�vel. Mas sempre recebeu um rotundo �n�o�.

            Em luta no Oriente com o Jap�o j� h� quatro meses, foi s� quando perdeu toda a esperan�a em um acordo com as democracias liberais e faltavam menos de dez dias para o ataque alem�o � Pol�nia que a URSS aceitou um acordo de n�o-agress�o com a Alemanha, com o objetivo de ganhar tempo e terreno para o inevit�vel e futuro confronto com ela. Que outra na��o n�o teria agido desta forma para preservar o seu futuro?

            Assim colocada a quest�o, fica claro que a responsabilidade do in�cio da Segunda Guerra Mundial � se tomarmos o ataque � Pol�nia como o seu deflagrador � coube em primeiro lugar � Alemanha:

N�o pode haver a menor d�vida de que o imperialismo alem�o, deliberada e descaradamente, desencadeou a guerra contra a Pol�nia e, com isso, a Segunda Guerra Mundial, em 1� de setembro de 1939. Quaisquer que sejam as responsabilidades do sistema capitalista mundial no seu conjunto e das outras pot�ncias imperialistas, esse ato em particular foi obra da classe dominante alem� dirigida pelo F�hrer e seus sequazes militares.[cxci]

            Em segundo lugar, a responsabilidade pela deflagra��o da Segunda Guerra Mundial cabe � pol�tica de �apaziguamento� e de �incitamento� das democracias ocidentais � Alemanha para que atacasse a URSS. O acordo germano-sovi�tico de n�o-agress�o em nenhum momento pode ser responsabilizado por isso. As informa��es hist�ricas comprovam que esse ataque n�o s� estava planejado desde abril de 1939, como que j� havia sido posto em marcha no dia 15 de agosto, oito dias antes da assinatura do referido acordo.

            Na verdade, as causas de fundo da Segunda Guerra Mundial foram as contradi��es inter-imperialistas, decorrentes do desenvolvimento desigual do capitalismo, �s quais se somaram as contradi��es entre o Socialismo emergente e o Capitalismo em crise. Muitos �desejariam nos fazer crer que a Segunda Guerra Mundial nasceu no esp�rito de alguns ambiciosos, de alguns loucos. N�o, a Segunda Guerra Mundial foi preparada, desejada pelos dirigentes dos grandes interesses financeiros, para sair de seu marasmo e para destruir o socialismo.� [cxcii]

NOTAS

[i] LOMBEEK, Alain V. Do conflito � coexist�ncia: contribui��o para o estudo do contencioso sovietico-finland�s (1917-1955).Lisboa: Prelo, 1973, pp. 16-17, 35-38.

[ii]Idem, pp. 21-29.

[iii] LENIN. Tesis sobre el problema de la conclusi�n de una paz separada (24.02.1918). In: LENIN, V.I. Obras Escogidas. Moscou: Ediciones en lenguas extranjeras, 1960, t.2, pp. 582-583.

[iv] BRUHAT, Jean. Hist�ria da URSS. S�o Paulo: Difus�o Europ�ia do Livro, 1966, p. 42.

[v] [Curzon] �Propunha que as conversa��es para o armist�cio come�assem imediatamente entre a R�ssia e a Pol�nia sobre as bases de uma linha tra�ada no outono de 1919, ap�s um detalhado estudo dos dados etnogr�ficos pelos especialistas da confer�ncia de paz (conhecida mais tarde por �linha Curzon�) [CARR, E. H. Historia de la Rusia Sovi�tica: La revoluci�n Bolchevique (1917-1923). Madrid: Alianza Editorial, 1973, v.3, p. 222]

[vi] KINDER, Hermann e HILGEMANN, Werner. Atlas hist�rico mundial: De La Revoluci�n Francesa a nuestros d�as, 6� edi��o, vol. 2. Madrid: Ediciones Istmo, 1977, p 171.

[vii] BRUHAT. Op. Cit., p. 45.

[viii] LOMBEEK. Op. Cit., p. 43.

[ix] CROUZET, Maurice. Hist�ria Geral das Civiliza��es - a �poca Contempor�nea: o decl�nio da Europa; o mundo sovi�tico, Tomo VII. S�o Paulo: Difus�o Europ�ia do Livro, 1961, p. 41.

[x] CHURCHILL, Winston S. La Segunda Guerra Mundial, vol. 1. Madrid: Ediciones Orbis, 1985, p. 35].

[xi] �a diplomacia comum russo germ�nica trabalhou lado a lado, secretamente, sobre o rearmamento m�tuo. Negocia��es em 1921-22, conduzidas por Trotski, do lado russo, e pelo chefe do novo Reichswehr alem�o, general von Seeckt, levaram ao estabelecimento na R�ssia de f�bricas alem�s que produziam g�s t�xico, avi�es e obuses.� [KOCHAN, Lionel. A Forma��o da R�ssia Moderna. Lisboa: Editora Uliss�ia, 1962, 387 p.].

[xii] TAYLOR, A.J.P. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: ZAHAR EDITORES, 1963, pp. 48,49.

[xiii] DUTT, R. Palme. Problemas da Hist�ria Contempor�nea. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, pp. 45-46.

[xiv] BEZIMENSKI, L. O militarismo Alem�o com/sem Hitler. V.1.Rio de Janeiro: Saga, 1967, p. 39.

[xv] E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. A verdade e a mentira sobre a Segunda Guerra Mundial. Lisboa: Editorial �Avante�, 1984. p. 38.

[xvi] COLLOR, Lindolfo. Europa 1939. Porto Alegre: Funda��o Paulo do Couto e Silva; Funda��o Casa de Rui Barbosa, 1989, p. 233.

[xvii] TAYLOR. Op. Cit. p. 56-57.

[xviii] ROCHE, Alexandre. A Segunda Guerra Mundial. In: Hist�ria: Ensino e Pesquisa, Ano 1, n� 2. P. Alegre: Sulina, 1985, pp. 51, 52.

[xix] SNYDER. Op. Cit., p. 43.

[xx] SMITH, S.R. The Mandchurian Crisis, 1913-1932. In: DEBORIN, G. Segunda Guerra Mundial. S�o Paulo: Editora Fulgor, 1966. p. 13.

[xxi] ALSTYNE, Richard W. American Diplomacy in Action. In: DEBORIN. Op. Cit. p. 13.

[xxii] TAYLOR. Op. Cit., p. 70.

[xxiii] HITLER, Adolf. Minha Luta. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1939, p. 548, 554, 558.

[xxiv] BALDWIN, Stanley. Apud LEBEDEV, N. La URSS en la pol�tica mundial. Moscu: Editorial Progreso, 1983, p. 78.

[xxv] VIZENTINI, Paulo Gilberto Fagundes. Segunda Guerra Mundial: Rela��es internacionais do s�culo 20 (segunda parte), 4� edi��o. Porto Alegre, Editora da Universidade/ UFRGS, 1996, p. 23-24.

[xxvi] HEINKEL, E. St�rmisches Leben. In: BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p. 65.

[xxvii] TOGLIATTI, Palmiro. La lucha contra el fascismo y la guerra. In: Fascismo, Democracia y Frente Popular � VII Congresso de la Internacional Comunista M�xico: Siglo XXI, 1984, pp. 308-309.

[xxviii] CHEVALLAZ, Georges-Andr�.As grandes confer�ncias diplom�ticas. In: BERNARD, Henri et al. Os arquivos da Segunda Guerra Mundial. S�o Paulo: DIFEL, 1964, p. 127.

[xxix] SHIRER, William L. A queda da Fran�a: o colapso da Terceira Rep�blica. Rio de Janeiro: RECORD, 1969, v.1, p. 289.

[xxx] CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 124.

[xxxi] BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p.83.

[xxxii] DIMITROV, J. La ofensiva del fascismo y las tareas de La Internacional em la lucha por la unidad de la clase obrera contra el fascismo .In: DIMITROV, J. Selecci�n de trabajos. Buenos Aires: Ediciones Estudio, 1972, p. 183.

[xxxiii] SOBOLEV, A. et al. A Internacional Comunista. Lisboa: Edi��es Avante, 1973, v 3, p. 40-79.

[xxxiv] CHURCHILL. Op. Cit., v. 1, p. 152.

[xxxv] SNYDER. Op. Cit., p. 53.

[xxxvi] LEBEDEV. Op. Cit., p. 85.

[xxxvii] HERRERA, Heitor A. A Estrat�gia dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex�rcito, 1961, pp. 47-48.

[xxxviii] SIMONE, Andr�. A derrocada de uma na��o. Porto Alegre: Edi��es Meridiano, 1941, p. 163.

[xxxix] TAYLOR. Op. Cit., p. 112.

[xl] HERRERA. Op. Cit., p. 55.

[xli] LEBEDEV. Op. Cit., p. 87.

[xlii] BEZIMENSKI. Op. Cit., v.1, p. 53.

[xliii] TAYLOR. Op. Cit., pp. 137-138.

[xliv] BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p. 112.

[xlv] SNYDER. Op. Cit., p. 64.

[xlvi] SCHUSCHNIGG. Apud SNYDER. Op. Cit., p.65.

[xlvii] DEBORIN. Op. Cit., p. 22.

[xlviii] SNYDER. Op. Cit., p. 66.

[xlix] JODL. Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 22.

[l] THE DAILY EXPRESS, 14.03.38. Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 24.

[li] CHURCHILL. Op. Cit., v. 1, p. 230.

[lii] IRVING, David. El camino de la guerra. Buenos Aires: Planeta, 1991, p. 179.

[liii] SIMONE. Op. Cit., p. 210.

[liv] SHIRER. Ascens�o... Op. Cit., v. 2, p. 161.

[lv] IRVING. Op. Cit., pp. 191-192.

[lvi] HERRERA. Op. Cit., pp. 50-51.

[lvii] SHIRER, William L. A queda... Op. Cit., v.2, p 87.

[lviii] IRVING. Op. Cit., p. 193.

[lix] PARKER, R.A.C. El Siglo XX - Europa, 1918-1945. M�xico, DF: Siglo veintiuno, 1990, p. 363.

[lx] BRISSAUD, Andr�. Almirante Canaris � o pr�ncipe da espionagem alem�. Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex�rcito, 1978, p. 181.

[lxi] WELLES, Sumner. The Time  for Decision. Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 28.

[lxii] TAYLOR. Op. Cit., pp. 162, 192, 196.

[lxiii] DEBORIN. Op. Cit., p. 25-26.

[lxiv] E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p. 51.

[lxv] CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 257.

[lxvi] SHIRER. Ascens�o... Op. Cit.,vol. 2, p. 204.

[lxviii].COLE, G.D.H. Hist�ria del pensamiento Socialista: Socialismo y Fascismo (1931-1939), vol. VII. M�xico, DF: Fondo de Cultura Econ�mica, 1965, p. 35.

[lxix] SIMONE. Op. Cit., p. 234.

[lxx] Livre jaune fran�ais, Paris, 1939. Documents diplomatiques 1938-1939, pp. 45-46. Apud ELLEINSTEIN, Jean. A Hist�ria da URSS. Portugal: Publica��es Europa-Am�rica, 1976, pp. 10-11.

[lxxi] SHIRER, William L. Di�rio de Berlim: 1934-1941. Rio de Janeiro: Record, S/D, v. 1, p. 134.

[lxxii] SHIRER. Di�rio ... Op. Cit., v. 1, p. 142.

[lxxiii] IRVING. Op. Cit., pp. 226-228.

[lxxiv] BULITT. ApudDEBORIN. Op. Cit., p. 31.

[lxxv] SHIRER. Ascens�o... Op. Cit.,vol 2, p. 242.

[lxxvi] TAYLOR. Op. Cit., p. 206.

[lxxvii] COLLOR. Op. Cit., p. 196.

[lxxviii] STALIN. Apud GROZ, Victor. Pol�nia 1939. Rio de Janeiro: Editorial Vit�ria, 1955, p. 71.

[lxxix] DEBORIN. Op. Cit., p. 35.

[lxxx] TAYLOR. Op. Cit., p. 221.

[lxxxi] HERRERA. Op. Cit., p. 52.

[lxxxii] COLLOR. Op. Cit., p. 204.

[lxxxiii] SHIRER, Ascens�o...Op. Cit., vol 2, p. 303-304.

[lxxxiv] MAISKI, Ivan. Quem ajudou a Hitler. (Tradu��o condensada de Elio Bolsanello) S�o Paulo: Editora Socialista, 1984. p. 58.

[lxxxvi] COLLOR. Op. Cit., pp. 219, 63, 182-18.

[lxxxvii] BAUFRE, General. Le Drame 1940. Apud E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p. 72-73.

[lxxxviii] CHEVALLAZ, Georges-Andr�.As grandes confer�ncias diplom�ticas.In: BERNARD, Henri et al. Os arquivos da Segunda Guerra Mundial. S�o Paulo: DIFEL, 1964, p. 128-129.

[lxxxix] MAISKI. Op. Cit., p. 71.

[xc] IRVING. Op. Cit., p. 244.

[xci] Idem. p. 263-266.

[xcii] TAYLOR. Op. Cit., p. 245.

[xciii] BEZIMENSKI. Op. Cit., p. 127.

[xcv] DEBORIN. Op. Cit., p. 38-39.

[xcvii] MAISKI, Op. Cit., p.73-74.

[xcviii] CARTIER, Raymond. Os mist�rios da Guerra. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca Militar, 1949, p. 85.

[xcix] DIRKSEN. Informe ao Minist�rio de Rela��es Exteriores, 03.08.1939. Apud, Bur� de Informaci�n Sovi�tico. Falsificadores de La Hist�ria (rese�a hist�rica). Moscou: Ediciones en lenguas extranjeras, 1948, p. 31.

[c] GROZ. Op. Cit., pp. 76-77.

[ci] Telegrama de Seeds a Halifax, em 13 de agosto de 1939, Apud MAISKI. Op. Cit., p.77-78.

[cii] MAISKI. Op. Cit., p.79.

[ciii] SHIRER. Ascens�o... .Op. Cit.,vol 2, p. 314-5.

[civ] JOLL, James. A Europa desde 1870. Lisboa: Dom Quixote, 1995, p.552.

[cv] MANDEL. Op. Cit. pp. 105-106.

[cvi] �Com os alem�es arriscamo-nos a perder a nossa liberdade, com os russo perderemos a nossa alma.� [BECK. In: BAUER, Eddy. Hist�ria Pol�mica da Segunda Guerra Mundial. Mem Martins: Publica��es Europa-Am�rica, 1967, v. 1, p. 270].

[cvii] NOEL, L. La Guerre de 39 a commenc� 4 ans plus t�t. Apud E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p. 73.

[cviii] MAISKI. Op. Cit., p. 83.

[cix] BOSCHESI, B. Palmiro. Os respons�veis pela II Guerra Mundial. Lisboa: Editora Ulisseia, 1976, p. 52.

[cx] TAYLOR. Op. Cit., p. 256, 258.

[cxi] Memorando do Foreign Office, 22.05.39. ApudTAYLOR. Op. Cit., pp. 228-229.

[cxii] LENIN, V.I. O infantilismo �esquerdista� e o esp�rito pequeno-burgu�s. In: Obras Escogidas. Moscou: Ediciones en lenguas extranjeras, 1960, t.2, pp. 745.

[cxiii] LENIN, V.I. Tesis sobre la situaci�n pol�tica actual.(1918)In: LENIN, V.I. Obras Escogidas.Moscou: Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1960, t. 2, p. 770.

[cxiv] �Litvinov ainda viria a servir � p�tria nos anos de guerra: entre 1941 e 1943, foi Embaixador da Uni�o Sovi�tica nos Estados Unidos. De 1943 a 1946, terminaria a vida pol�tica e diplom�tica como um dos Vice-Ministros do Exterior�. [SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Hitler/Stalin - O Pacto Maldito. Rio de Janeiro: Record, 1989, p. 163.

[cxv] TAYLOR. Op. Cit., p.233.

[cxvi] Molotov. Apud WERTH, Alexander. A R�ssia na Guerra. Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 1966, vol. 1, p. 41.

[cxvii] TAYLOR. Op. Cit., p. 241.

[cxviii] MAISKI. Op. Cit., p. 90.

[cxix] SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., p.316.

[cxx] IRVING. Op. Cit., p. 263-264.

[cxxi] MAISKI. Op. Cit., p. 91.

[cxxii] Schulenberg a Ribbentrop, 04.08.39, Apud TAYLOR. Op.Cit, p. 242.

[cxxiii] SHIRER. A queda..., Op. Cit, v.1, pp. 155-156.

[cxxiv] SHIRER. Ascens�o..., Op. Cit,vol. 2, p. 343.

[cxxv] MAISKI. Op. Cit., p. 90-95.

[cxxvi] IRVING. Op. Cit., p. 266-272, 275.

[cxxix] SHIRER. A queda...Op. Cit., v. 1, pp. 162.

[cxxx] MAISKI. Op. Cit., p. 95-96; SNYDER. Op. Cit., p. 83.

[cxxxi] SHIRER, W.L. Ascens�o e Queda do Terceiro Reich, vol. II, pp. 367-369.

[cxxxii] TROTSKY, L. Novamente, e uma vez mais, sobre a natureza da URSS (18.10.39). In: Em Defesa do Marxismo. Fortaleza: Liga Bolchevique Internacionalista, 1997, p. 32.

[cxxxiii] SNYDER. Op. Cit., p. 83; IRVING. Op. Cit., p.272; SHIRER. Op. Cit., v. 3, p. 13; HEYDECKER, Joe J. e LEEB, E. Johannes. O Processo de Nuremberg. Rio de Janeiro: Editorial Bruguera, 1968, p.217.

[cxxxiv] SHIRER. Ascens�o... Op. Cit., v. 2, pp. 365-366.

[cxxxv] TAYLOR. Op. Cit., p. 262-263.

[cxxxvi] DE GAULLE, Charles. Mem�rias de Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex�rcito, 1977, t. I, p. 32.

[cxxxvii] SHIRER, A queda... Op. Cit., v.1, p. 99.

[cxxxviii] COLLOR. Op. Cit., pp. 217-220.

[cxxxix] CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 307.

[cxl] DEUTSCHER, Isaac. Stalin - a hist�ria de uma tirania. Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 1970, t.2, pp. 395-397.

[cxli] BROU�, Pierre. Uni�o Sovi�tica - Da revolu��o ao colapso. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS, 1996, p. 126.

[cxlii] MANDEL. Op. Cit., p.34.

[cxliii] CLAUDIN, Fernando. A crise do movimento comunista: v.1 - a crise da internacional comunista. Rio de Janeiro: Global, 1985, p.258.

[cxliv] CLAUDIN. Op. Cit., pp. 257-258.

[cxlv] SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., pp. 340-342.

[cxlvi] SPRIANO, Paolo. O movimento comunista entre a guerra e o p�s-guerra: 1938-1947. In: HOBSBAWM, Eric. J. (organizador). Hist�ria do Marxismo. Rio de Janeiro: PAZ E TERRA, 1987, v. 10, p. 139.

[cxlvii] SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., pp. 500-502.

[cxlviii] SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton.Op. Cit., pp. 512-514.

[cxlix] DE GAULLE. Mem�rias... Op. Cit., t. 1, p. 36.

[cl] EHRENBURG, Ilya. Mem�rias: a Europa sob o nazismo (1933-1941). Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 1966, v. IV, pp. 251-252.

[cli] GOUTARD, A. A Guerra das Ocasi�es Perdidas.Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex�rcito, 1967, p. 121.

[clii] KITCHEN, Martin. Um mundo em chamas: uma breve hist�ria da 2� Guerra Mundial na Europa e na �sia � 1939/1945. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1993, p. 19.

[cliii] GOUTARD. Op. Cit., p.117.

[cliv] VORMANN, N. Apud E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p. 83.

[clv] BRUHAT, Jean. Hist�ria da URSS. S�o Paulo: Difus�o Europ�ia do Livro, 1966, p. 106.

[clvi] SNYDER. Op. Cit., p. 15.

[clvii] GORIEUX, Benjamin. In: DUROSELLE, Jean Baptiste. Le fronti�res europeennes de l�URSS (1917-41). Paris: Armand Colin, 1957, p. 284-285.

[clviii] SNYDER. Op. Cit., pp. 16-17.

[clx] LATREILLE, Andr�. La Segunda Guerra Mundial: 1939-1945. Madrid: Guadarrama, 1966, p. 70.

[clxi] TROTSKY, Leon. De um arranh�o, ao perigo da gangrena (24.01.40). In: Em Defesa do Marxismo. Op. Cit., pp. 107-109.

[clxii] TROTSKY, Leon. Novamente, e uma vez mais, sobre a natureza da URSS (18.10.39). In: Em Defesa do Marxismo. Op. Cit., pp. 31-33.

[clxiii] TROTSKY, Leon. O �Manifesto de Alarme� da Quarta Internacional. (1940) Apud MARIE, Jean-Jacques. Os quinze primeiros anos da Quarta Internacional.S�o Paulo: Palavra Editora, 1981, pp. 38, 41.

[clxiv] DEUTSCHER, Isaac. Trotsky - El profeta desterrado (1929/1940). M�xico DF: Edic. Era, 1988, pp. 413-414.

[clxv] COLLOR. Op. Cit., p. 277.

[clxvi] CHURCHILL, 1� de outubro de 1939. Apud GROSZ. Op. Cit., p.83.

[clxvii] SHIRER. Ascens�o..., Op. Cit.,vol. 3, pp. 19-21.

[clxviii] DAVIES, Joseph E. Miss�o em Moscou. Rio de Janeiro: Calvino, 1942, pp. 312-314.

[clxix] �se na Europa iniciasse a guerra, talvez se pudesse convert�-la em uma cruzada contra o comunismo e alcan�ar os objetivos que a interven��o armada dos aliados n�o havia obtido em 1918.� [DULLES, Foster Rhea. The Road to Teheran. The Story of Rusia anda America, 1781-1943. Princeton, 1944, p. 212. Apud LEBEDEV, Op. Cit., p. 94.

[clxx] SPRIANO, Paolo. O movimento comunista entre a guerra e o p�s-guerra: 1938-1947.In: HOBSBAWM, Eric. J. (organizador). Hist�ria do Marxismo. Rio de Janeiro: PAZ E TERRA, 1987, vol. 10, p. 144- 145.

[clxxii] SOBOLEV. Op. Cit., v. 3, p. 154.

[clxxiii] STALIN, J. Discurso de 06.02.46. Apud: SPRIANO. Op. Cit., p. 151.

[clxxvi] ELLENSTEIN, Op. Cit., p. 25.

[clxxix] SPRIANO. Op. Cit., p. 149.

[clxxx] EHRENBURG. Op. Cit., v. 4, p. 253.

[clxxxi] SOBOLEV.. Op. Cit., v.3, p. 156.

[clxxxiii] GOUJON, G�rard. A social democracia e a Segunda Guerra Mundial. In: COGGIOLA, Osvaldo. Segunda Guerra Mundial. Op. Cit., p. 249.

[clxxxiv] SOBOLEV. Op. Cit., v.3, pp. 157-159.

[clxxxv] DEUTSCHER. Op. Cit., t. 2, pp. 405-406.

[clxxxvi] SAMSONOV, A. et al. Compendio de Hist�ria de la URSS � desde la Gran Revoluci�n Socialista de octubre hasta nuestros dias. Moscu: Editorial Progreso, S/D, p. 229.

[clxxxvii] DEUTSCHER. Op. Cit., pp. 414, 419, 421.

[cxc] VIZENTINI, Paulo Gilberto Fagundes et al. A Revolu��o Sovi�tica/1905-45: o socialismo num s� pa�s. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1989, p. 117.

[cxci] MANDEL. Op. Cit., p. 28.

[cxcii] ROCHE.Op. Cit., p. 60.

Que contexto permitiu à Alemanha anexar esse território?

O que marcou esse período foi o "Acordo de Munique" em 1938, que visava deixar a Alemanha anexar os territórios dos sudetos checos pela quantidade de alemães que moravam neles. No acordo, havia a demanda que esse fosse o último avanço territorial alemão.

Como Alemanha recuperou as terras na Europa?

Em 1919, aquele país assinou um acordo, conhecido como "O Tratado de Versalhes", com os países vitoriosos (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros países aliados), os quais exigiram o pagamento de reparações econômicas, militares e territoriais aos países atacados pela Alemanha.

O que aconteceu com o tamanho do território alemão?

A Alemanha perdeu todos os territórios anexados após 1937. A Prússia Oriental foi dividida entre a Polónia e a União Soviética. A Polônia também recebe uma grande parte do território alemão, principalmente a leste da linha Oder-Neisse, reduzindo o tamanho da Alemanha por 25% em relação a 1937.

Quais eram os interesses econômicos em anexar os territórios da Terra?

As anexar os territórios da Tchecoslováquia a Alemanha desejava expandir a sua base industrial, acelerando a economia. A indústria era - e ainda o é - a base das economias, de modo que quanto mais fábricas, matérias-primas e infraestrutura um país possuísse, mais rapidamente ele poderia se recuperar.