Uma história de 60 mil anos O solo brasileiro esconde tesouros surpreendentes. Histórias de antes da história escrita, que explicam as origens dos povos da América e são comparáveis, em importância, aos principais achados
arqueológicos do Velho Mundo. Heranças que ainda estamos decifrando e aprendendo a preservar. Quando desembarcou no Brasil em 1825, o dinamarquês Peter Lund se surpreendeu com o que encontrou. Estudioso de botânica e zoologia, o médico e naturalista viu no País - que ainda aprendia o que era identidade - o pano de fundo para grandes pesquisas. Se a Nação era jovem, a terra
que a sustentava poderia abrigar histórias mais antigas que o solo das metrópoles europeias. Estabeleceu-se por aqui em definitivo em 1832. Passou a esquadrinhar a região de Lagoa Santa, Minas Gerais, em busca de vestígios do passado. Explorou mais de 200 grutas, descobriu cerca de 12 mil fósseis. E o grande achado: um cemitério com 30 esqueletos humanos, ao lado de ossos de mamíferos da chamada megafauna. Eram animais de dimensões bem maiores que as atuais, como os
gliptodontes (tatus de cerca de um metro de altura), as macrauquênias (herbívoros semelhantes a lhamas com trombas) e preguiças de até seis metros de comprimento e cinco toneladas. O Homem da Lagoa Santa, como foi batizado aquele fóssil humano, ajudou a reescrever um importante período da pré-história brasileira. Os achados sugeriam que tenha sido contemporâneo desses animais de grandes
dimensões, que, por muito tempo, acreditou-se que estivessem extintos quando surgiram as populações humanas. A teoria de Lund só seria confirmada mais de um século depois, em 2002, com base em análises de datação das ossadas. Para o dinamarquês, porém, nunca restaram dúvidas. Considerado o pai da paleontologia brasileira, foi aqui que morreu, em 1880. Em 1998, técnicas de reconstituição permitiram vislumbrar a face da jovem encontrada em Lagoa Santa. Tinha aproximadamente 20 anos, olhos arredondados, nariz largo. Batizada de Luzia - referência abrasileirada a Lucy, fóssil de mais de 3 milhões de anos encontrado na Tanzânia em 1974 -, é considerada, até o momento, a primeira brasileira. A reconstituição da face de Luzia lembra os aborígenes da Austrália e os negros da África - bem diferente dos indígenas que nos acostumamos a imaginar como os primeiros moradores destas terras. A descoberta deu força à hipótese, até então polêmica, de que o continente tenha sido ocupado não por uma, mas por diversas correntes migratórias, vindas inclusive por terra na última Idade do Gelo, durante a baixa do nível dos mares. O grupo de Luzia teria habitado o sul da China e sudeste da Ásia e migrado para a América e para a Oceania há cerca de 11 mil anos. Apesar das contribuições de Lagoa Santa para o quebra-cabeça da ocupação das Américas, a polêmica continua. No México, foram descobertas pegadas humanas que podem ter sido feitas há 40 mil anos. Outros vestígios, encontrados no sítio arqueológico da Serra da Capivara, no Piauí, podem remontar a 60 mil anos. A caça ao tesouro está apenas começando.
A caça e a coleta de alimentos também eram praticadas - como mostram os restos de fogueiras e coprólitos (fezes pré-históricas fossilizadas), que indicam o tipo de alimentação da época: frutos, folhas e raízes, além de carne, quando havia caça.
A região, que serviu de campo de estudos para a concepção de alguns dos animais mostrados no filme Jurassic Park, de Steven Spielberg, abriga o Parque dos Pterossauros, a quatro quilômetros de Santana do Cariri. Ali são expostas réplicas artísticas desses animais voadores que possuíam até cinco metros de envergadura. De todos os exemplares fósseis dessa ave já achados no mundo, um terço está na Chapada do Araripe. Ao lado de dinossauros de cerca de três metros de altura e oito de comprimento, disputaram espaço na região que corresponde aos Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí há cerca de 100 milhões de anos. Em 2006 foi aprovado pela Unesco um projeto para transformar a área de pesquisas arqueológicas da chapada no primeiro geopark da América - uma região de turismo científico e ecológico que propicia o crescimento auto-sustentado da população. O parque abrange 5 mil quilômetros, oito municípios e nove sítios de observação.
O desenho mais comum é o da serpente, representada por espirais. Está presente principalmente em peças sacras e urnas funerárias, onde eram enterrados os membros da elite. Alguns deles traziam o crânio deformado propositalmente, por meio de faixas amarradas à cabeça desde o nascimento - prática de status comum também em algumas culturas andinas. O desaparecimento dos marajoaras, por volta de 1.300, é ainda misterioso. Quando chegaram, os portugueses encontraram o território habitado por índios aruaques.
O povo dos sambaquis já produzia artefatos em pedra polida, como mostram os instrumentos de caça, ornamentos e esculturas representando animais. Bons nadadores e remadores, tinham em média 1,60 metro de altura. Ainda não se sabe como esses grupos desapareceram. A hipótese mais aceita é de que tenham sido eliminados ou aculturados pelos tupis, há cerca de mil anos.
E o mais surpreendente: a região abriga ossadas de animais e vestígios humanos que remontam a 60 mil anos. O avanço das pesquisas nessa direção muda o eixo de pensamento a respeito das migrações para as Américas. “A hipótese é de que as mais antigas vieram da África para o nordeste do Brasil”, afirma a presidente da Fundação Museu do Homem Americano, Niéde Guidon. A teoria de que as primeiras migrações tenham 40 mil anos a mais do que o imaginado, e de que o homem teria vindo por rotas diferentes das comumente aceitas, era defendida por Niéde há quase 30 anos. Finalmente, análises feitas em 2006 por Emílio Fogaça, da Universidade Católica de Goiás, e Eric Boëda, da Universidade de Paris - um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia lítica pré-histórica -, mostraram que Niéde estava certa. As ferramentas de pedra descobertas em São Raimundo Nonato foram realmente feitas por humanos e têm entre 33 mil e 58 mil anos. São, portanto, os vestígios mais antigos de ocupação da América. A constatação, uma vitória de um grupo de pesquisadores brasileiros, era até então desprezada pela comunidade internacional. Niéde, que há três décadas desenvolve pesquisas na região, destaca o desafio de preservar uma área extensa. “As principais dificuldades são a limitação dos recursos e a velocidade de destruição dos sítios.” Mais do que simplesmente desvendar mistérios, a missão dos pesquisadores da Serra da Capivara e de todos os arqueólogos que revolvem nossas raízes é também sensibilizar a população e as autoridades sobre um trabalho que pode esclarecer muito sobre os rumos da nossa civilização e nossas ligações com o ambiente. Um esforço sem fronteiras em busca de quem somos, capaz de trazer informações fartas que apontem para onde vamos.
Museu Nacional do Rio de Janeiro Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri Museu da Lapinha Em que estado foram encontrados vestígios de ocupação humana há 40 mil anos?Vestígios de ocupação humana de 3 mil a 4 mil anos foram encontrados em escavações do metrô na região central da cidade do Rio de Janeiro.
Onde se encontram os vestígios dos primeiros habitantes da América?Os vestígios mais antigos de habitantes das Américas remontam a 50 mil anos. Esses homens teriam vindo da África. Assim afirma a arqueóloga franco-brasileira Niede Guidon, que dedicou sua vida a pesquisar a Serra da Capivara, no Piauí, repleta de pinturas rupestres e celebrada em uma exposição em Brasília.
Quais são os vestígios encontrados no Brasil?Conheça agora 4 sítios arqueológicos brasileiros!. Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí. Sítio Arqueológico do Lajedo de Soledade – Rio Grande do Norte.. Parque Nacional do Catimbau – Pernambuco.. Sítio Arqueológico Pedra Pintada – Roraima.. Que nome recebe o local onde se encontram vestígios de ocupação humana no passado?Também são considerados sítios arqueológicos os locais onde se encontram vestígios positivos de ocupação humana, os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos”, as grutas, lapas e abrigos sob rocha.
|