É normal gravidez sentir dor no estômago?

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Introdução

Grávidas costumam ter episódios de dor abdominal ou dor pélvica de pequena a moderada intensidade ao longo de toda a gravidez devido às inúmeras alterações fisiológicas e anatômicas pelo qual o organismo da gestante passa.

Embora a maioria das causas de dor abdominal na gravidez sejam benignas e esperadas, algumas delas podem ser um sinal de um problema mais grave. Além de complicações inerentes à gestação, como gravidez ectópica, abortamento ou problemas no útero ou placenta, as grávidas também podem apresentar doenças abdominais comuns a qualquer indivíduo, como apendicite, colecistite, pancreatite, infecção urinária, gastroenterites, etc.

Portanto, se você é uma gestante, é importante educar-se sobre as causas mais comuns de dor abdominal na gravidez, de forma que você torne-se capaz de reconhecer os sintomas que possam indicar problemas potencialmente graves.

Se você quiser informações sobre outros possíveis sinais de problemas da gravidez, além da dor abdominal, leia: 10 SINAIS QUE PODEM INDICAR PROBLEMAS NA GRAVIDEZ.

Dor abdominal na gravidez provocada pela própria gravidez

Episódios de dor abdominal ou pélvica costumam surgir nos primeiros meses de gravidez e podem durar até o momento do parto. A dor abdominal “normal” da gravidez não costuma ser constante, mas pode aparecer com grande frequência ao longo dos 9 meses de gestação.

As causas e as características da dor abdominal vão mudando durante o percurso da gravidez. Alterações hormonais, mudanças na anatomia abdominal e pélvica, crescimento do útero, contrações uterinas, movimentação do feto, compressão de órgãos abdominais e alterações dos ligamentos da pelve são algumas das causas comuns das dores “normais” da gravidez.

Existem também as dores da gravidez que não são consideradas normais, ou seja, são dores provocadas por complicações da própria gravidez. Essas dores que podem indicar um problema mais sério é que precisam ser identificadas de forma precoce, para que a gestante possa procurar logo atendimento obstétrico, minimizando, assim, os riscos de complicações.

Vamos a seguir explicar as causas de dor abdominal na gravidez, sejam elas normais ou anormais, de acordo com o trimestre gestacional

Causas comuns de dor abdominal no primeiro trimestre

Dores normais no primeiro trimestre

Nos primeiros meses de gravidez, a dor abdominal costuma ser causada pelas alterações hormonais que interferem com o funcionamento normal dos intestinos. Excesso de gases, sensação de barriga inchada e prisão de ventre são alguns dos problemas que podem fazer com que a grávida queixe-se de desconforto abdominal já a partir do primeiro trimestre (leia: PRIMEIROS SINAIS E SINTOMAS DE GRAVIDEZ).

Em geral, essas dores são leves e transitórias. Qualquer dor abdominal de forte intensidade e persistente ou que esteja acompanhada de sintomas como, sangramento vaginal, corrimento vaginal purulento, febre, diarreia volumosa, diarreia com sangue, hipotensão, prostração ou vômitos* deve ser avaliada pelo seu obstetra.

* Náuseas e vômitos são comuns no primeiro trimestre de gravidez, mas eles não costumam estar associados à dor abdominal, febre ou diarreia (leia: ENJOOS E VÔMITOS NA GRAVIDEZ).

Dores abdominais relacionadas a complicações do primeiro trimestre de gravidez

No primeiro trimestre de gestação duas são as principais causas de dor abdominal provocada por complicações da gravidez: gravidez ectópica e abortamento.

Gravidez ectópica

Chamamos de gravidez ectópica toda gravidez que se desenvolve fora do útero, como, por exemplo, na trompa de Falópio.

Obviamente, qualquer local do corpo da mulher que não seja o útero não está preparado para desenvolver uma gravidez, provocando, assim, complicações graves quando o feto começa a crescer. A gravidez ectópica é uma urgência médica.

Os sintomas da gravidez ectópica costumam surgir a partir da 6ª semana de gravidez. Os mais comuns são:

  • Moderada a intensa dor abdominal unilateral (do lado onde o embrião se implantou), geralmente na região inferior do abdômen.
  • Enrijecimento da musculatura abdominal.
  • Sangramento vaginal.
  • Dor ao evacuar.
  • Presença de massa palpável na região da virilha (no caso de gravidez ectópica em uma das trompas).
  • Náuseas e vômitos.

O diagnóstico é habitualmente feito pela ultrassonografia, que consegue demonstrar que o embrião não está localizado dentro do útero.

Para saber mais sobre a gravidez ectópica, leia: GRAVIDEZ ECTÓPICA – Sintomas, Fatores de Risco e Tratamento.

Aborto espontâneo

Chamamos de abortamento (ou aborto) qualquer interrupção da gravidez, espontânea ou intencional, que ocorra antes das 20 semanas de gestação. Interrupções da gravidez após a 20ª semana são chamadas de parto prematuro.

O abortamento é uma das causas de dor abdominal no primeiro trimestre de gestação. A maioria dos abortos espontâneos ocorre nas primeiras 13 semanas de gravidez.

Sinais e sintomas de abortamento incluem:

  • Moderada dor tipo cólica na linha média do abdômen.
  • Dor pélvica.
  • Sangramento vaginal leve a moderado.
  • Contrações uterinas que surgem a cada 5 a 20 minutos. As cólicas podem se parecer com as contrações uterinas da menstruação.

O exame ginecológico e o ultrassom são geralmente utilizados para confirmar um abortamento.

Causas comuns de dor abdominal a partir do segundo trimestre

Dores normais a partir do segundo trimestre

Ao chegar às 12 semanas de gravidez, o útero já cresceu o suficiente para se tornar um órgão intra-abdominal (antes, ele se localizada apenas na pelve). Portanto, além de todas as causas de dor abdominal “normal” do primeiro trimestre, a gestante agora passa a conviver com as dores e desconfortos provocados pela compressão de órgãos abdominais pelo útero, além do progressivo aumento de peso que a pelve precisa suportar.

Entre as causas inofensivas de dor abdominal da gravidez a partir do segundo trimestre duas se destacam: contrações de Braxton Hicks e dor do ligamento redondo.

Contrações de Braxton Hicks

As chamadas contrações de Braxton Hicks são contrações uterinas não expulsivas, que costumam surgir a partir 2º trimestre de gravidez (em algumas mulheres elas surgem no final do primeiro trimestre) e servem como “treinamento” para o útero.

Essas contrações são inocentes; elas costumam ser curtas, com intervalos irregulares e baixa frequência. As contrações de Braxton Hicks não aumentam o risco de parto prematuro e provocam mais desconforto do que propriamente dor.

Em geral, mudar de posição e ficar em repouso são suficientes para fazer com que elas desaparecerem. A desidratação pode desencadear essas contrações, motivo pelo qual a maioria dos médicos sugere que a paciente beba mais água caso elas sejam frequentes.

Para saber mais sobre as  contrações de Braxton Hicks, leia: CONTRAÇÕES DE BRAXTON HICKS – Contrações de Treinamento da Gravidez

Dor do ligamento redondo

O ligamento redondo é responsável por ligar o útero à região pélvica. Conforme o útero cresce e fica mais pesado, o ligamento redondo vai ficando cada vez mais sobrecarregado.

O estiramento do ligamento redondo costuma surgir no segundo trimestre e vai se tornando cada vez maior conforme a gravidez avança. A dor que ele provoca costuma ser uma pontada que surge na pelve ou na região inferior do abdômen toda vez que a gestante muda de posição. Sair da cama, tossir, levantar da cadeira e sair de um carro são algumas situações que podem desencadear esse tipo de dor.

A dor do ligamento redondo também pode surgir de forma contínua após um dia particularmente ativo, no qual a gestante andou muito ou fez mais esforço do que deveria.

Dores abdominais relacionadas a complicações do segundo trimestre de gravidez

Conforme a gravidez avança, o número de complicações gestacionais possíveis também cresce, principalmente após a 20ª semana. Vamos falar brevemente sobre algumas dessas complicações que costumam cursar com dor abdominal. As causas descritas a seguir também são válidas para o terceiro trimestre de gestação.

Trabalho de parto

Todo o parto que ocorre após a 37ª semana de gravidez é considerado normal, sendo classificado como parto a termo. Por outro lado, consideramos um parto prematuro quando ele ocorre antes da 37ª semana de gestação. Quanto mais prematuro for o parto, menos tempo de desenvolvimento intrauterino terá tido o bebê, aumento, assim, os riscos de complicações para o neonato.

Assim como o abortamento espontâneo, o trabalho de parto também se manifesta com dor abdominal. Os sintomas mais comuns são:

  • Contrações uterinas frequentes e ritmadas, que vão se intensificando com o passar das horas.
  • Sangramento vaginal leve.
  • Rompimento da bolsa d’água.
  • Sensação de pressão na região pélvica.

Ao mínimo sinal de parto prematuro, a gestante deve entrar em contato com o seu obstetra imediatamente. O exame ginecológico é capaz de identificar se o útero está mesmo em processo de expulsão do feto.

Descolamento prematuro da placenta

O descolamento prematuro da placenta (DPP) surge quando a placenta se descola total ou parcialmente da parede do útero. Essa é uma grave complicação da gravidez, pois o descolamento impede que a placenta continue recebendo sangue do útero, colocando a vida do feto em risco.

O descolamento prematuro da placenta é mais comum no 3º trimestre de gravidez, mas ele pode ocorrer a partir das 20 semanas de gestação.

Os sintomas mais comuns do descolamento da placenta são:

  • Sangramento vaginal, que pode ser volumoso ou apenas discreto.
  • Intensa dor abdominal e lombar.
  • Contrações uterinas.
  • Hipotensão arterial (em casos de sangramento maciço).

O DPP também é uma urgência médica e a indução do parto é habitualmente a forma de tratar o problema.

Para saber mais sobre a DPP, leia: DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA – Causas, Sintomas e Tratamento.

Pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é uma síndrome caracterizada pelo surgimento de hipertensão arterial e proteinúria (perda de proteínas na urina) após 20 semanas de gestação. Em casos mais graves, o fígado também pode estar envolvido.

Dor abdominal, inchaço no rosto, mãos e pernas, dor de cabeça, visão turva, náuseas e vômitos são os sintomas mais comuns.  Quando uma paciente com pré-eclâmpsia desenvolve crise convulsiva, chamamos o quadro de eclâmpsia.

Temos um artigo específico sobre pré-eclâmpsia que pode ser acessado através do seguinte link: ECLÂMPSIA E PRÉ-ECLÂMPSIA – Sintomas, Causas e Tratamento.

Causas menos comuns

Outras complicações menos comuns da gestação, que ocorrem a partir do segundo trimestre e podem causar dor abdominal, incluem:

  • Rutura uterina.
  • Infecção do líquido amniótico.
  • Útero encarcerado.
  • Colestase gravídica.
  • Hemoperitônio espontâneo.

Causas de dor abdominal não relacionada à gravidez

Assim como qualquer indivíduo, as grávidas também podem ter doenças abdominais que não são específicos da gravidez, como apendicite, colecistite, gastroenterites ou cálculo renal. O diagnóstico desses problemas costuma ser mais difícil nas grávidas devidos às inúmeras alterações que a sua região abdominal sobre. Até a localização da dor pode ser atípica. Falamos sobre as diferentes causas de dor abdominal no artigo: PRINCIPAIS CAUSAS DE DOR ABDOMINAL.

Dentre as dezenas de complicações abdominais que podem surgir na gravidez, mas que não estão diretamente ligadas à gravidez, uma se destaca: a infecção urinária.

Infecção urinária na gravidez

A cistite, que é o nome que damos à infecção da bexiga, é um problema comum durante a gravidez, que pode surgir em qualquer período da gestação. Seus sintomas  mais comuns incluem:

  • Dor ou ardência para urinar (leia: DOR AO URINAR – Principais Causas).
  • Vontade de urinar frequentemente.
  • Dificuldade para segurar a urina.
  • Vontade de urinar mesmo com bexiga vazia.
  • Dor ou sensação de peso na bexiga.
  • Sangue na urina (leia: CAUSAS DE SANGUE NA URINA – HEMATÚRIA).

Falamos especificamente da infecção urinária na gravidez no seguinte artigo: INFECÇÃO URINÁRIA NA GRAVIDEZ – Sintomas, Causas e Tratamento.


Referências

  • Approach to acute abdominal pain in pregnant and postpartum women – UpToDate.
  • Causes of abdominal pain in adults – UpToDate.
  • Baby Belly Aches: 15 Causes of Abdominal Pain in Pregnancy – Medscape.
  • Acute abdominal emergencies associated with pregnancy – Clinical obstetrics and gynecology.
  • Surgical gastrointestinal disorders during pregnancy – American journal of surgery.
  • Gastrointestinal Conditions during Pregnancy – Clinics in colon and rectal surgery.
  • Evaluation of abdominal pain in pregnancy – BJM.

É normal gravidez sentir dor no estômago?

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Como é a dor no estômago na gravidez?

As dores de estômago costumam ocorrer devido ao aumento da produção das enzimas digestivas e dos ácidos, além do crescimento do útero, em média, de 4 cm por mês, comprimindo os demais órgãos e deixando a mamãe com sensação de queimação e azia bem forte.

Estou grávida e sinto muita dor no estômago Isso é normal?

A ginecologista e obstetra da Maternidade Brasília, Nívia Ximenes, explica: “O estômago passa a produzir mais ácido e enzimas digestivas. Outra questão é o aumento do útero, que empurra o órgão digestivo para cima e causa dor, refluxo e queimação”. Portanto, esse incômodo estomacal é normal durante a gravidez.

O que fazer para aliviar a dor no estômago na gravidez?

Antiácidos. Antiácidos, que neutralizam o ácido do estômago (ácido gástrico), podem oferecer alívio da azia durante a gravidez2,3. Contudo, eles somente devem ser tomados sob orientação médica. Antiácidos baseados em cálcio ou magnésio podem ser tomados por gestantes sob a orientação de um médico ou farmacêutico2.

O que pode causar dor de estômago na gravidez?

As chances de ter gastrite durante a gestação aumentam devido às alterações hormonais e ao aumento de estresse e ansiedade que são normais nesta fase. Além disso, o útero aumentado pode comprimir os órgãos abdominais, o que pode provocar refluxo, alterações intestinais e piora dos sintomas gástricos.