Como podemos explicar a aparente contradição entre natureza diversificada e solos pobres

Solo pobre, vegetação exuberante

Publicado 10 de out de 2006

Em um outro lugar escrevi que a diminuição excessiva da decomposição da matéria orgânica do solo pode ser um problema porque os nutrientes minerais retidos na mesma ficam indisponíveis às plantas, afetando a fertilidade do solo. Muitos já terão ouvido ou lido que os solos da região amazônica são quimicamente pobres. Certamente esta informação foi recebida com um certo ceticismo, afinal como uma vegetação tão exuberante quanto à da floresta amazônica pode se manter sobre um solo pouco fértil? Bem, apesar de estranho, a informação é verdadeira. Os solos se desenvolvem a partir da destruição (intemperismo) das rochas, que chamamos de material de origem. Este intemperismo é causado pela água (chuvas) que em geral são levemente ácidas devido à reação da água com o CO2 da atmosfera, formando ácido carbônico (H2O + CO2 = H2CO3). O tal H2CO3 é o ácido carbônico, que ataca as rochas, decompondo-as. Além disso, os organismos (fungos, algas, líquens, raízes de plantas) também contribuem para o intemperismo porque também produzem ácidos. Mas de toda forma, o principal agente intemperizador das rochas e formador de solos é a água (o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” é verdadeiro e resume bem o intemperismo físico pela água). O solo é resultado não só da decomposição física (quebra em pedaços cada vez menores) da rocha, mas também da alteração química dos minerais formadores das rochas, com a formação de outros minerais típicos de solos (minerais secundários). Mas o intemperismo não pára com a formação do solo. Os solos também são intemperizados, principalmente em regiões onde chove muito, notadamente as regiões tropicais, como na Amazônia. À medida que os solos sofrem o intemperismo, eles perdem preferencialmente elementos químicos importantes para a nutrição vegetal, como cálcio, magnésio e potássio, retidos mais fracamente pelos solos. Nas regiões de alta pluviosidade (muita chuva), a grande disponibilidade de água permite que haja muito crescimento vegetal. As plantas, mesmo as que crescem em solos pobres, conseguem adquirir nutrientes, em geral produzindo raízes profundas que exploram camadas um pouco mais ricas. Com o passar do tempo, os nutrientes vão sendo retidos na matéria orgânica. Quando as plantas morrem ou quando perdem as partes que caem ao solo, o material vegetal é decomposto pelos microrganismos do solo e os elementos retidos são liberados e reabsorvidos pelas outras plantas. Assim, é possível a ocorrência de florestas exuberantes, como a Amazônica, sobrevivendo basicamente dos nutrientes retidos na matéria orgânica. Quando há a derrubada ou queima destas florestas para implantação de pastagens ou culturas agrícolas, quase toda a matéria orgânica do solo é perdida, juntamente com os nutrientes nela retidos, daí a dificuldade em se estabelecer agricultura produtiva nestas áreas e a importância da manutenção das florestas. No início da atividade agrícola, quando ainda há um resto da matéria orgânica original e os nutrientes das cinzas das matas, há boas produções, mas gradualmente esta matéria orgânica vai sendo perdida e as produções decrescem ano a ano, dependendo mais e mais de adubos.

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Como podemos explicar a aparente contradição entre natureza diversificada e solos pobres

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como matéria-prima para a produção de remédios, ativi-
dade que tem sido alvo da biopirataria.
A importância econômica 
do murumuru, espécie 
abundante no estado do 
Acre, tem aumentado devido 
ao mercado alimentício e 
cosmético. Após sua colheita, 
o fruto é espalhado para a 
secagem e posteriormente 
é feita a extração de sua 
polpa para comercialização. 
Fotografia da secagem 
na cooperativa do projeto 
Quelônios da Amazônia, em 
Rodrigues Alves, AC (2017).
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Capítulo 10 – Território e sociedade 119
Orientações
Retome o conceito de Uni-
dades de Conservação e 
lembre que o extrativismo 
realizado por comunidades 
tradicionais é uma atividade 
permitida em algumas cate-
gorias. 
Contextualize o tema no 
município ou região da es-
cola, identificando os pos-
síveis grupos e produtos re-
lacionados ao extrativismo 
que os estudantes possam 
conhecer.
Observação
A diversidade vegetal da 
Floresta Amazônica e a 
adaptação das espécies ve-
getais aos diferentes am-
bientes podem ser tratadas 
de forma interdisciplinar 
com Ciências. Sugerimos so-
licitar aos estudantes que 
pesquisem sobre as espécies 
vegetais típicas da Floresta 
Amazônica e relatem suas 
principais características.
Sugestão para o professor:
COOPERATIVA Central de Comercialização Extrativista do Acre (COOPERACRE). Disponível em: <https://www.cooperacre.com/>. Acesso 
em: 29 ago. 2018.
Página sobre uma cooperativa extrativista da Região Norte.
3o BIMESTRE – 119
https://www.cooperacre.com/
POTENCIALIDADES DA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA
A diversidade e a extensão da Floresta Amazônica leva muitas pessoas à con-
clusão de que os solos amazônicos são férteis, pois as árvores altas e de copas 
largas necessitam de muitos nutrientes para se desenvolver. Na verdade, os solos 
amazônicos são pobres em nutrientes. Como a floresta é muito densa, forma-se 
sobre o solo uma camada de folhas, galhos e troncos que, ao se decompor, repõem 
os nutrientes necessários para a manutenção da floresta.
Existe uma grande diferença entre os solos das planícies de rios afluentes e o 
conjunto de solos da faixa aluvial Solimões-Amazonas. Na realidade, os mais ricos 
solos de toda a Amazônia, que se destacam em relação aos imensos setores de 
solos mais pobres, constituem uma grande exceção.
AB’SABER, Aziz. Aziz Ab’Saber: problemas da Amazônia brasileira. Entrevistadores: 
Dario Luis Borelli et al. Revista de Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 53, jan./
abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0103-40142005000100002>. Acesso em: 15 ago. 2017.
A região amazônica registra insolação intensa (por estar próxima ao Equador), 
umidade permanente (graças à ocorrência frequente de massas úmidas de ar) 
e baixa amplitude térmica, isto é, a diferença entre a temperatura mínima e a 
máxima é muito pequena. Essas condições climáticas garantem uma taxa de 
fotossíntese elevada, o que contribui para o desenvolvimento da floresta e a manu-
tenção da sua diversidade.
Essas características permitem afirmar que a floresta tem importante papel nos 
processos naturais que ocorrem na região amazônica. Ela contém grande biodiver-
sidade, oferece proteção aos solos e participa da regulação do clima.
A degradação dessa floresta resulta em graves consequências sociais e ambien-
tais para toda a região, além de afetar significativamente a população que vive 
nessas áreas.
1 Com base nas informações apresentadas no texto, é possível afirmar que, de 
modo geral, o solo amazônico é favorável à expansão agrária, principalmente à 
monocultura voltada à exportação? 
2 Como podemos explicar a aparente contradição entre natureza diversificada e 
solos pobres?
A exploração do látex
O extrativismo vegetal proporcionou o primeiro ciclo de desenvolvimento eco-
nômico da Amazônia, que ocorreu do final do século XIX ao início do século XX e 
foi movido pela exploração do látex, extraído das seringueiras, para a produção de 
borracha. Essa atividade econômica atraiu fluxos migratórios e estimulou o cresci-
mento urbano na região. 
A produção de borracha por meio do látex chegou a atrair investimentos da 
indústria automobilística dos Estados Unidos, até entrar em declínio em razão da 
concorrência com a produção asiática.
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Unidade IV – Região Norte120
Orientações
A seção “Integrar conheci-
mentos: Geografia e Ciên-
cias” busca desfazer a ideia 
presente no senso comum 
de que o solo amazônico é 
fértil. Essa ideia está atre-
lada ao conhecimento da 
enorme biodiversidade da 
Amazônia e associada à 
ideia de fertilidade. 
Desenvolvemos, nesta se-
ção, a seguinte Competên-
cia Específica de Geografia, 
prevista na BNCC:
(2) Estabelecer conexões en-
tre diferentes temas do co-
nhecimento geográfico, re-
conhecendo a importância 
dos objetos técnicos para 
a compreensão das formas 
como os seres humanos fa-
zem uso dos recursos da na-
tureza ao longo da história.
 Habilidade
EF07GE11
 Respostas
1. O solo amazônico, exceto nas áreas de planícies aluviais, não é recomendado para as atividades agrárias, uma vez que 
o solo é pouco fértil, revelando-se inadequado para esse tipo de atividade.
2. A integração entre os diferentes elementos naturais, como solo, umidade relativa do ar, temperatura e vegetação, 
resulta nesse tipo de paisagem, um processo regulado pelo conjunto e não apenas por elementos isolados.
120 – 3o BIMESTRE
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100002
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100002
OCEANO
ATLÂNTICO
60° O
0° EQUADOR
RR
AP
AM PA
AC
RO
TO
Bauxita
Tório
Tungstênio
Calcário
Níquel
Ouro
Chumbo
Manganês
Ferro
Prata
Zinco
Cobre
Cromo
Diamante
Nióbio
Petróleo e gás
Cassiterita
Serra do Navio
Oriximiná
Carajás
Serra 
Pelada
MT
MA
GO
BA
Aluvião
Inundação de terras provocada 
por grande volume de 
águas; cheia, enxurrada.
REGIÃO NORTE: RECURSOS MINERAIS (2013)
Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. 
São Paulo: Moderna, 2013. p. 121.
NE
LO
SE
S
N
NO
SO325 km
Serra do Navio, mas encontrado na Serra dos Carajás;
 bauxita: concentra-se na Serra de Oriximiná, no Pará, 
e é utilizada para extração da alumina, matéria-prima 
com a qual se produz o alumínio;
 cassiterita: minério cujas principais jazidas estão locali-
zadas em Rondônia, é utilizado na produção do estanho;
 ouro: encontrado em áreas de aluvião ou em rochas 
mineralizadas. A Serra Pelada, no Pará, já abrigou enor-
mes jazidas desse minério e atraiu garimpeiros de todas 
as partes do país na década de 1980, o que causou 
grande devastação na região;
 gás natural: concentra-se na reserva de Urucu, em 
Coari, no Amazonas; teve sua exploração iniciada 
após a década de 1990. Essa reserva pode ser usada 
para a produção de energia como alternativa às hidrelé-
tricas.
uu RICARDO, Fany; ROLLA, 
Alicia (Org.). Mineração em 
Terras Indígenas na Amazônia 
brasileira. São Paulo: Instituto 
Socioambiental, 2005.
 O tema central do livro é a 
discussão entre a preservação 
da Floresta Amazônica e da 
cultura indígena contra a 
exploração do patrimônio 
mineral. Debate também 
a regulamentação da 
mineração e a ocupação 
ilegal em Terras Indígenas.
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O RELEVO E O EXTRATIVISMO MINERAL
Na Região Norte predomina um relevo de baixas altitudes, que corresponde às 
depressões amazônicas e às planícies ao longo dos grandes rios. 
A formação da região é bastante complexa, composta de imensas jazidas minerais, 
nas quais se instalaram diversos projetos de exploração desde meados do século XX,

Como podemos explicar a aparente contradição entre natureza diversificada e solos pobres resposta?

A aparente contradição entre a natureza diversificada e os solos pobres, pode ser explicada porque em algumas regiões a própria natureza produz grande quantidade de matéria orgânica, que é depositada sobre o solo, dando origem ao húmus, material que traz fertilidade ao solo.

Como podemos construir entre natureza diversificada e solos pobres?

Como podemos explicar a aparente contradição entre natureza diversificada e solos pobres? RESPOSTA: A integração entre os diferentes elementos naturais, como solo, umidade relativa do ar, temperatura e vegetação, resulta nesse tipo de paisagem, um processo regulado pelo conjunto e não apenas por elementos isolados.