Como funcionava a Política dos Governadores e como ela possibilitou?

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O que foi a “política dos governadores” na Primeira República?

    Publicado: Quarta, 10 de Março de 2021, 14h21 | Última atualização em Quinta, 15 de Abril de 2021, 11h39 | Acessos: 3236

    Como funcionava a Política dos Governadores e como ela possibilitou?

    Com a Proclamação da República, em 1889, teve início também um momento muito conturbado para o Brasil. De um lado, monarquistas ainda se posicionavam contra o novo regime. De outro, conflitos internos pelo poder deixavam o país rachado politicamente. Nos primeiros cinco anos, dois governos militares: Deodoro da Fonseca viu o fracasso de sua política econômica e logo deu lugar a Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”, que enfrentou a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, vencendo ambas e ficando conhecido como o “consolidador” do novo regime.

    Em 1894 teve fim a “República da Espada” e o poder foi passado para os civis. Prudente de Morais assumiu, mas um problema persistia: o Brasil estava fragmentado, as disputas se davam nacionalmente entre os estados e localmente em enfrentamentos violentos pelo poder. Não havia estabilidade política. O Poder Moderador e a conciliação, estabelecidas no Segundo Reinado, não havia tido substituição à altura.

    A solução foi dada pelo quarto presidente da República, este da nossa foto, Manuel Ferraz de Campos Sales (1898-1902). Um pacto excludente, que refazia a estabilidade entre as elites e criava um modus operandi para a República brasileira: o presidente daria e receberia apoio dos governadores nos estados e dos coronéis nos municípios. Essa rede estabelecida reduziria a força das oposições e garantiria, por boa parte do tempo, os mesmos grupos no poder ao longo de toda a Primeira República. Emerge daí o coronelismo, o clientelismo, o voto de cabresto, as fraudes eleitorais e outras características que estudamos, desde os tempos de escola, sobre esse período da nossa história que vai até 1930.

    Porém, é importante lembrar duas coisas: 1) essas práticas não eram infalíveis. Por vezes a oposição conseguia vitórias. Em outras ocasiões, disputas internas dividiam os detentores do poder; 2) além do uso da força, o convencimento também era importante. Por vezes, trabalhadores votaram nos candidatos indicados pelos coronéis em troca de favores, alimentos e benefícios.

    Campos Sales foi, portanto, responsável em organizar as diretrizes da política brasileira no novo regime, na República recém-nascida. Diretrizes excludentes que mantiveram uma plutocracia – ou seja, um grupo pequeno de pessoas abastadas – no poder por décadas. O viés autoritário e elitista já dava as cartas, naquela época, à política brasileira. As mesmas famílias, no poder nas províncias desde a época imperial, continuaram a se propagar no comando dos estados. Pais, filhos, netos, se sucedendo no Executivo, Legislativo e Judiciário nas esferas municipal, estadual e federal. Uma continuidade que vemos, em muitos casos, se estender até hoje. Para comprovar, basta uma rápida pesquisa nos sobrenomes que ainda estão, em muitos estados e municípios, liderando a política local e, consequentemente, tendo grande influência nos rumos do país.

    Imagem:

    Fotografia Manuel Ferraz de Campos Sales, presidente da República. [1898-1902]. Coleção Fotografias Avulsas. BR RJANRIO O2.0.FOT.473

    Este homem tem relação importante com a chamada “política dos governadores”, ponto fundamental para se compreender a Primeira República. Quem foi ele? O que foi a “política dos governadores”, também conhecida como “política dos estados”? Como ela funcionava? Como era articulada? Nos próximos dias vamos te contar essa história em detalhes! Aguarde!

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    O coronelismo foi uma experiência típica dos primeiros anos da república brasileira. De fato, essa experiência faz parte de um processo de longa duração que envolve aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais do Brasil. A construção de uma sociedade vinculada com bases na produção agrícola latifundiária, desde os tempos da colônia, poderia contar como um dos fatos históricos responsáveis pelo aparecimento do chamado “coronel”.

    No período regencial, a incidência de levantes e revoltas contra a nova ordem política instituída concedeu uma ampliação de poderes nas mãos dos proprietários de terra. A criação da Guarda Nacional buscou reformular os quadros militares do país através da exclusão de soldados e oficiais que não fossem fiéis ao império. Os grandes proprietários recebiam a patente de coronel para assim recrutarem pessoas que fossem alinhadas ao interesse do governo e das elites.

    Com o fim da República da Espada, as oligarquias agro-exportadoras do Brasil ganharam mais espaço nas instituições políticas da nação. Dessa maneira, o jogo de interesses envolvendo os grandes proprietários e a manutenção da ordem social ganhava maior relevância. Os pilares da exclusão política e o controle dos grandes espaços de representação política sustentavam-se na ação dos coronéis.

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    Na esfera local, os coronéis utilizavam das forças policias para a manutenção da ordem. Além disso, essas mesmas milícias atendiam aos seus interesses particulares. Em uma sociedade em que o espaço rural era o grande palco das decisões políticas, o controle das polícias fazia do coronel uma autoridade quase inquestionável. Durantes as eleições, os favores e ameaças tornavam-se instrumentos de retaliação da democracia no país.

    Qualquer pessoa que se negasse a votar no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou perseguição pessoal. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos se consolidassem no poder. Com isso, os processos eleitorais no início da era republicana eram sinônimos de corrupção e conflito. O controle do processo eleitoral por meio de tais práticas ficou conhecido como “voto de cabresto”.

    Essa falta de autonomia política integrava uns processos onde deputados, governadores e presidentes se perpetuavam em seus cargos. Os hábitos políticos dessa época como a chamada “política dos governadores” e a política do “café-com-leite” só poderiam ser possíveis por meio da ação coronelista. Mesmo agindo de forma hegemônica na República Oligárquica, o coronelismo tornou-se um traço da cultura política que perdeu espaço com a modernização dos espaços urbanos e a ascensão de novos grupos sociais, na década de 1920 e 1930.

    Apesar do desaparecimento dos coronéis, podemos constatar que algumas de suas práticas se fazem presentes na cultura política do nosso país. A troca de favores entre chefes de partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como o poder econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes políticos.

    Por Rainer Sousa
    Graduado em História

    O que era a Política dos Governadores e como ela funcionava?

    Denominada "política dos governadores", significou, na prática, que o governo central deveria respeitar as decisões dos partidos que mantinham o poder em cada estado, desde que estes elegessem bancadas no Congresso absolutamente fiéis ao presidente da República.

    O que foi a Política dos Governadores e a política do café com leite?

    Política do café com leite derivou-se da "Política dos Governadores" e visava a predominância do poder nacional por parte das oligarquias paulista e mineira, executada na República Velha a partir da Presidência de Campos Sales (1898-1902), por presidentes civis fortemente influenciados pelo setor agrário dos estados de ...