Quanto tempo depois do parto posso fazer abdominal

Menos de um mês após dar à luz a Kalu, seu primeiro filho, Aline Becker compartilhou a volta aos exercícios físicos no Instagram. Embora alguns de seus seguidores tenham estranhado a retomada tão rápida aos treinos, o tipo de parto escolhido por ela fez com que isso fosse possível.

“Uma paciente que teve o parto natural, após 10 a 15 dias, já pode voltar a fazer seus exercícios habituais – de forma gradual e com acompanhamento médico. Mesmo se ela sofreu episiotomia ou laceração (uma abertura feita por incisão para ajudar na passagem do bebê), após esse período, os pontos já começam a cicatrizar”, diz Juliana Sperandio, ginecologista especializada em cirurgias minimamente invasivas pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Outro fator que influencia é o histórico de quem deu à luz. “Se a pessoa já era ativa fisicamente antes, isso ajudará com que ela volte mais rapidamente aos hábitos antigos. Mas é importante entender que cargas e volumes de treinos não devem ser os mesmos de antes da gravidez. Pegar pesado na volta pode causar dores e, em alguns casos, até rompimento de pontos”, avalia Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo.

Para quem fez cesárea, recuperação é mais lenta

Já para quem, por necessidade ou escolha, faz o parto abdominal, conhecido como cesárea, a recuperação pode demorar até mais que o dobro.

“É uma cirurgia que passa por sete camadas diferentes da região abdominal, então vai impactar na recuperação e consequentemente no retorno aos exercícios físicos. Em geral, entre 30 a 40 dias é o período de repouso antes de voltar aos treinos, mas vai depender do organismo de cada mulher”, esclarece Sperandio.

Exercícios mais indicados

Para suas pacientes, a médica conta que sempre recomenda que associem exercícios aeróbicos com movimentos focados em ganho muscular. “Isso pensando no bem-estar físico dessa mulher. Vai ajudá-la a recuperar massa magra, diminuir o colesterol, cuidar do coração…”, comenta.

Outra dica da especialista são exercícios que fortaleçam a região do assoalho pélvico, área bastante afetada no pós-parto. Os movimentos devem ser indicados por profissionais como o fisioterapeuta pélvico, para evitar lesões e o possível agravamento de disfunções.

“O pilates, que ajuda a fortalecer várias partes do corpo, também tem exercícios focados para isso”, complementa Buzatto.

Pressão estética

Em seu consultório, Sperandio comenta que vê a pressão que as mulheres colocam em si próprias para voltar à forma anterior. “A maternidade, assim como a menopausa, é um marco na vida das mulheres, pela questão hormonal mesmo, que muda muita coisa no corpo. É um processo de aceitação que deve ser encarado com paciência”, afirma, explicando que a retomada ao “corpo de antes” pode demorar até um ano.

“Acompanhado da mudança estética, vem, ainda, seu novo papel dentro do círculo familiar, suas novas funções. Isso sem dúvidas pede adaptação”, completa Sperandio.

Quanto tempo após o parto a mulher pode voltar aos exercícios? Qual é a intensidade e frequência semanal adequada para este período? Há exercícios indicados e contra indicados? Essas são algumas dúvidas que passam pela cabeça das mamães frescas que sentem uma falta danada de voltar à ação.

Antes de recomeçar, é preciso levar em consideração o tipo de parto realizado e as condições físicas da mulher, segundo o médico ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Brígida José Marcos. “Após o parto normal, a paciente poderá executar atividades físicas 15 dias depois, enquanto após a cesárea, a retomada de atividades físicas leves deve ser feita passados 30 dias, período suficiente para que a parede abdominal crie resistência no local da incisão”, diz ele, assinalando que este retorno deve estar alinhado com o médico obstetra assistente, capaz de indicar ou contraindicar atividades.

No caso do parto normal, a retomada deve ter início com caminhadas leves de uma hora diária, que podem ser parceladas em períodos de 15 ou 30 minutos. “Na academia, os exercícios leves devem dar ênfase ao abdome, a fim de que a forma física do local volte ao que era antes da gravidez”, diz ele.

Musculação, ginástica e esportes podem ser realizados, desde que com algumas adaptações e restrições acertadas com médico obstetra e treinador, diz a educadora física da academia Fit Premium, Janaina Plácido. “No caso de cesariana devem ser evitadas atividades que elevem os membros superiores, como movimentos acima da cabeça, para prevenir dores na altura da cicatriz. Abdominais lentos, pouco amplos e com poucas repetições são indicados. Os exercícios devem ser lentos e progressivos”, fala.

As atividades aquáticas, como hidroginástica ou natação, são uma boa indicação, por serem exercícios de menos impacto. Porém, elas merecem atenção especial em relação ao período a partir do qual podem ser realizadas. “Apenas após o término do puerpério, 40 dias depois do parto, período esse em que o útero volta à sua anatomia normal. Antes disso, a mulher fica sujeita a adquirir infecções”, diz José Marcos.

“Mamá” turbinado

A atividade física é altamente benéfica na lactação, pois ajuda em muito o incremento da produção de leite. O ideal é praticar exercícios sempre após o esgotamento dos seios, pois o seu peso atrapalha a movimentação da mulher. Em se tratando de atividades aeróbicas, a produção de ácido lático provocaria cólicas no bebê, outro ponto a favor da amamentação antes dos exercícios.

Ativa ou sedentária?

Exercitar-se durante a gestação depende do quadro clínico da mulher e se ela já realiza atividades físicas:

Sedentárias

Elas jamais devem começar atividades físicas só porque engravidaram. Os únicos exercícios que lhes são permitidos são hidroginástica, caminhadas e ioga. Aliás, a ioga é recomendada a todas as gestantes que pretendem ter parto normal, independente­men­te de serem ou não atletas ou sedentárias.

Atletas

A sua atividade física deverá se orientar pelo quadro clínico (alto risco: hemorragias, ameaça de aborto, hipertensão arterial) e pelo condicionamento físico.

José Marcos , médico ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Brígida.

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