Quantas latas de energético posso tomar por dia?

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Quantas latas de energético posso tomar por dia?

Paciente precisou ser internado depois de ter insuficiência renal e cardíaca decorrente do consumo excessivos de energéticos (Foto: Ja San Miguel / Unsplash)

Um jovem de 21 anos passou a sofrer de insuficiência cardíaca e renal após consumir dois litros de energéticos diariamente ao longo de dois anos. O caso foi detalhado no BMJ Case Reports.

De acordo com o relatório, que é assinado por médicos do hospital St. Thomas e da universidade King's College, ambos do Reino Unido, o paciente tomava quatro latas de 500 ml da bebida todos os dias. Essa quantidade contém cerca de 640 mg de cafeína – a dose diária considerada segura para esse alcaloide é de até 400 mg, segundo a agência federal americana Food and Drug Administration (FDA).

Além disso, para diminuir a sonolência e traze uma sensação de vitalidade, energéticos também contêm substâncias como a taurina, que, junto com cafeína, impulsionam o trabalho cardíaco. "[Essas bebidas] são conhecidas por aumentarem a pressão arterial, e podem precipitar uma série de arritmias, como fibrilação atrial e ectopia supraventricular e ventricular. Esses efeitos crônicos também podem levar à insuficiência cardíaca", escreveram os autores do relatório.

Ao ser internado, o paciente reportou que, nos quatro meses anteriores, vinha sofrendo com uma falta de ar progressiva, ortopneia (desconforto para respirar na posição deitada), perda de peso e mal-estar geral. Segundo os médicos, ele não tinha histórico de cardiomiopatia ou morte cardíaca súbita na família e havia parado de fumar há três anos.

O jovem também negou consumir álcool e drogas, e afirmou que, quando parava de tomar energéticos, tinha enxaquecas. Com isso, ele tinha grande dificuldade de deixar esse hábito.

O caso médico ainda reporta que, anteriormente, o paciente havia percebido sintomas ocasionais de dispepsia (sensação de dor desconforto na área superior do abdômen), tremores e batimentos cardíacos acelerados. No entanto, ele não consultou um médico para investigar esses problemas na época. "Três meses antes da hospitalização, ele não pôde continuar seus estudos universitários devido por causa da letargia e do mal-estar", adicionaram os autores.

Dessa forma, o jovem acabou sendo internado numa unidade de terapia intensiva (UTI). "Essa experiência foi extremamente traumatizante por vários motivos", ele relatou no caso médico. "Primeiro, eu estava sofrendo de delirium e tinha problemas de memória a ponto de não conseguir lembrar por que eu estava na UTI. Em segundo lugar, eu estava constantemente com medo porque tinha dificuldade para me mover ou falar, o que acabou me levando à insônia. Frequentemente, ficava acordado até de manhã cedo. Por fim, eu ficava frustrado quando não conseguia pensar em quais palavras poderia usar quando queria algo; isso muitas vezes me levava a ser tomado por ansiedade e depressão."

Felizmente, o jovem apresentou melhoras no hospital, e não precisou de um transplante cardíaco – embora médicos apontem que há a possibilidade de um transplante renal ser necessário no futuro.

"Acho que deveria haver mais conscientização sobre os energéticos e o efeito de seu conteúdo. Acredito que eles são muito viciantes e muito acessíveis para crianças pequenas. Acho que os rótulos de advertência, assim como os de cigarros, deverim ser feitos para ilustrar os perigos potenciais dos ingredientes de uma bebida energética", opinou o paciente.

Os autores do relatório médico observam que "o mecanismo subjacente da insuficiência cardíaca induzida por energéticos permanece obscuro", mas apontaram a importância de se considerar o consumo dessas bebidas quando pessoas são internadas com uma cardiomiopatia que, aparentemente, não tem explicação. "Mais pesquisas são necessárias para identificar os fatores de suscetibilidade, a quantidade segura de consumo de bebida energética e os mecanismos subjacentes de toxicidade", consideraram os especialistas.

Quantas latas de energético posso tomar por dia?
Reportagem: Thaís Manarini / Edição: MdeMulher /

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Como o desejo de que o dia tenha bem mais de 24 horas não passará disso, ou seja, de um desejo, as pessoas vivem procurando maneiras de fazer o tempo disponível render. Uma delas é mandar energéticos goela abaixo para ficar a mil. O indício de que se trata de um comportamento cada vez mais corriqueiro vem do Serviço de Administração em Abuso de Substâncias e Saúde Mental, nos Estados Unidos.

Em um documento recente, o órgão revela que, entre 2007 e 2011, aumentou em 279% o número de indivíduos acima de 40 anos visitando o pronto-socorro após a ingestão da bebida. Prova de que não são apenas os jovens baladeiros que se entopem de latinhas.

Leia também: Energético ameaça o coração

Outro dado intrigante: em 2011, quase 60% desses atendimentos emergenciais estavam associados somente ao uso dos energéticos – isto é, não havia álcool ou drogas na jogada. A situação americana está longe de surpreender especialistas brasileiros. Afinal, essa parece ser uma realidade também por aqui. “Devido à rotina atribulada, muita gente já acorda cansada”, nota o cardiologista Daniel Pellegrino dos Santos, do Hospital do Coração, na capital paulista.

Daí, às vezes só com a ajuda da bendita cafeína, principal composto das bebidas estimulantes, para aguentar o tranco. Só que existe um limite para seu consumo. “Adultos, por exemplo, podem ingerir no máximo 2,5 miligramas de cafeína por quilo de peso”, informa Santos.

Isso significa que uma mulher de 60 quilos precisaria parar nos 150 miligramas. “Acontece que, nos energéticos, a quantidade de cafeína varia de 80 até 500 miligramas”, avisa a cardiologista Luciana Janot Matos, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Coração em risco

E o excesso cobra seu preço. Quem paga mais caro, geralmente, é o coração. “A cafeína instiga o sistema nervoso simpático a liberar hormônios estimulantes, como adrenalina e noradrenalina”, explica a médica. Algo preocupante, pois essa dupla propicia o aumento da frequência cardíaca e o estreitamento dos vasos sanguíneos, fazendo a pressão decolar. Em sujeitos com problemas prévios nas artérias – muitas vezes silenciosos -, o efeito eventualmente serve como estopim para um infarto ou derrame.

Esses hormônios excitantes ainda são capazes de fazer o coração bater em ritmo pra lá de apressado, quadro conhecido como arritmia. “Quando há um histórico de doença cardíaca, a aceleração pode ser fatal”, avisa Daniel Daher, presidente do Grupo de Estudos em Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

O fato de seu coração estar aparentemente livre de enroscos não serve de argumento para abusar das latinhas. Especialmente para quem já atingiu os 40 anos de idade. “Com o passar do tempo, sobe a probabilidade de a pessoa ter sido exposta a fatores de risco como pressão alta, obesidade, tabagismo, dieta inadequada, entre outros”, lembra Daher.

Os energéticos seriam, então, um ingrediente extra na equação bombástica. Fora que uma parcela daqueles que à primeira vista esbanjam saúde – são magros, comem direito e fazem exercícios – possuem um risco aumentado de males cardíacos por causa da herança genética. Mais um motivo para espiar o rótulo e evitar se entupir de cafeína.

Bebida ácida

A recomendação vale por outras razões, como barrar a gastrite. Isso porque tanto a cafeína como os hormônios excitantes despejados na corrente sanguínea contribuem para a maior produção de ácidos que irritam a mucosa do estômago, o que explica a sensação de queimação. O estado de agitação ainda favorece a ocorrência de tremores involuntários pelo corpo todo, inclusive nas pálpebras. Para piorar, no dia seguinte a tendência é sentir uma espécie de ressaca, com sonolência e tudo mais. “Aí, crescem as chances de lançar mão da bebida novamente”, raciocina o cardiologista Rui Póvoa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Se as consequências da falta de comedimento já são temerosas nos adultos, imagine em crianças e adolescentes. “Eles são mais suscetíveis aos efeitos da cafeína. Sem contar que seu sistema cardiovascular está em formação”, enfatiza a cardiologista Grace Bichara, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

As preocupações vão além: é comum que os energéticos sejam misturados a bebidas alcoólicas. Segundo levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp, dos mais de 50 mil jovens entrevistados em 2010, pelo menos 60,5% relataram já ter consumido alguma bebida alcoólica, sendo que 15,4% adicionaram o energético ao copo.

“O perigo é que a mistura potencializa o efeito estimulante do álcool, motivando sua procura em outras ocasiões”, alerta Sionaldo Ferreira, professor de educação física da instituição. Levantamentos também apontam que a coordenação motora e o tempo de reação são afetados, abrindo brecha para acidentes.

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A cafeína não está sozinha

Embora a maioria das chateações decorrentes dos energéticos esteja relacionada à presença dessa substância, há prejuízos que se manifestam graças a outras características do líquido. Sua acidez é um exemplo, como registra um estudo da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Nele, dentes bovinos, cuja composição é semelhante à dos nossos, foram imersos no líquido durante 15 minutos, quatro vezes ao dia, por cinco dias.

O resultado não foi nada positivo. “A bebida removeu o cálcio dos dentes e tornou a superfície do esmalte porosa”, atesta Lídia Morales Justino, professora de odontologia e orientadora da pesquisa. “Isso cria condições para a deposição de corantes ali, culminando em mudança de cor”, completa. Colocando tudo na balança – do coração ameaçado aos dentes manchados -, você há de convir que uma boa noite de sono ainda é a melhor pedida para repor as energias. Energético? Só de vez em quando e com moderação.

Gás natural

Falta disposição para trabalhar ou assistir às aulas da faculdade?  Antes de recorrer aos energéticos para encontrar o vigor perdido, que tal se questionar a quantas andam seu sono, sua dieta e a frequência na academia? É que os três fatores, quando levados a sério, fornecem a energia necessária para você aguentar o corre-corre. “Parece simples, mas a maioria das pessoas não dorme pelo menos oito horas diárias, tem uma alimentação desequilibrada ou não faz exercícios pelo menos quatro vezes por semana”, lamenta o cardiologista Daniel Daher, da SBC.

Os efeitos do excesso de energético pelo corpo

Contrações musculares

A descarga de adrenalina e noradrenalina no organismo pode desencadear contrações involuntárias nos músculos.

Fasciculação

Os níveis elevados de hormônios estimulantes correndo pela circulação fazem as pálpebras tremerem.

Infarto e avc

As substâncias que conferem excitação também geram endurecimento das artérias. No cérebro, o aperto pode levar a um derrame. No coração, a um ataque cardíaco.

Erosão dentária

O pH baixo dos energéticos fomenta um desequilíbrio bucal. Assim, o cálcio sai dos dentes, alterando a superfície do esmalte.

Gastrite

Os hormônios liberados por causa da cafeína da bebida favorecem a produção de ácidos no estômago. Isso explica a possibilidade de queimação.

Fontes: Daniel Pellegrino dos Santos, cardiologista do Hospital do Coração; Luciana Janot Matos, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein; Lídia Morales Justino, professora do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina

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Pode tomar 2 latas de energético?

Limite o consumo a no máximo dois drinques por dia. No caso dos energéticos mais populares e comuns, o limite de duas doses por dia é razoável e seguro para adultos saudáveis. No caso dos energéticos líquidos não concentrados, como o Red Bull e o Monster, isso equivale a 500 ml por dia.

Quanto de energético Pode

A dose recomendada de cafeína para adultos é de até 400mg por dia. Uma lata de energético de 250ml, por exemplo, já possui sozinha entre 80 e 90 mg de cafeína.

O que acontece se tomar 2 litros de energético?

"[Essas bebidas] são conhecidas por aumentarem a pressão arterial, e podem precipitar uma série de arritmias, como fibrilação atrial e ectopia supraventricular e ventricular. Esses efeitos crônicos também podem levar à insuficiência cardíaca", escreveram os autores do relatório.