Qual é o método que Descartes usa para chegar à verdade eu penso, logo existo?

Joel Santos de Marselha

René Descartes em sua obra Meditações analisa a tradição com um olhar metódico, acerca da dúvida, a fim de romper com seus conceitos de realidade, por acreditar que são incertos e duvidosos. Ele começa colocando em foco a questão da existência de si, das coisas, de Deus e da veracidade da matemática, a partir desses elementos ele coloca tudo em dúvida, a fim de encontrar um fundamento que seja claro e distinto.

Descartes coloca tudo em dúvida, isto é, tudo aquilo que não é claro e distinto. Ele duvida dos sentidos, do sonho (ou da realidade), da matemática e de Deus. Ele começa colocando em dúvida os sentidos e afirmando que os sentidos nos enganam. Se os sentidos nos enganam, resta então, buscar algo que garanta a veracidade das coisas, mas, uma outra grande fonte de engano é o sonho, “Porque não pode impedir que os mesmos pensamentos que temos quando acordados ocorram também quando estamos dormindo” (DESCARTES apud MARQUES, 1993, p.68). Deus também é colocado em dúvida, ou seja, ele pode ser enganador.

A única coisa que, para Descartes, não era colocado em dúvida eram os cálculos matemáticos, por exemplo, um mais dois é igual a três, o quadrado tem quatro lados (seja no sonho ou na vigília o resultado desses cálculos será sempre verdade). Mas isso, o levou a supor que Deus, poderia ser enganador, inclusive a respeito da matemática. Com tudo isso ele chega à conclusão de que se ele é enganado, então ele existe, o que o levou a descobrir o cogito (eu pensante), que vai garantir a verdade ao retornar ao sujeito – EU-HOMEM.  Então, a primeira certeza é essa, “penso logo existo”, “sou uma coisa pensante” que sente, duvida e não duvida etc.

Descartes ainda não se conhece, só sabe que é uma coisa pensante e que existe. Mas ele se vê sozinho porque esse eu pensante, descoberto até agora, é um “eu” subjetivo, ou seja, individualista, isso não o satisfaz, porque para fazer ciência é preciso descobrir se há alguma verdade objetiva.

Isso leva Descartes a analisar as idéias, adventícias, adquiridas pelos sentidos, as inventadas, fruto da imaginação, e perceber que são adquiridas por ele próprio, isto é, tanto as idéias adventícias quanto as inventadas são causadas pelo cogito. O que fez com que Descartes analisasse as idéias inatas, as quais não procedem dele, e chegar assim à idéia de onipotente, perfeito, infinito, soberano, eterno, imutável, onisciente e criador universal de todas as coisas. E partindo do principio de causalidade, “o pior não pode criar o melhor”, chegando assim à conclusão da existência de Deus. Com isso a prova da existência de Deus garante ao filósofo a sua segunda certeza, de que não só ele, Descartes, existe como ser pensante, mas também Deus existe.

Sendo assim, ele chega à conclusão de que Deus existe, e que não é enganador, caso fosse enganador ele não seria perfeito, nem criador, garantia essa dada pelo entendimento, pautado assim pela razão.

O que vai fundamentar todo o pensamento cartesiano, a respeito de todo esse processo é o cogito. Deus é esse que garante o cogito e o cogito garante Deus. O fundamento das verdades claras e distintas procuradas por Descartes é encontrado no cogito. E essa é a chave central de toda descoberta de Descartes, se penso logo existo.

Da dúvida e do pensamento de que tudo era falso, Descartes chega a essa verdade firme, à qual atribui o caráter de primeiro princípio. Descartes não quer dizer que ele existe necessariamente nem que a frase “eu existo” seja verdadeira, mas sim que essa frase, sob certas condições, é necessariamente verdadeira. Quando questionado, Descartes expressa mais claramente sua opinião sobre a espécie de coisa deste eu. No discurso, ele diz que o eu é uma substância cuja inteira essência e natureza só consistem em pensar.

Portanto ao chegar ao final deste artigo percebe-se a existência do homem pelo fato do mesmo pensar, porque o pensamento é por natureza, uma característica própria de todo ser pensante.

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Referências

MARQUES, Jordino. Descartes e sua concepção de homem, São Paulo, Loyola, 1993.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. 2 ed. São Paulo: Atual, 2004.

DESCARTES, René. Meditações. 3.ed.São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Qual é o método que Descartes usa para chegar à verdade eu penso, logo existo?

Cogito, ergo sum é uma frase de autoria do filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650). Em geral, é traduzida para o português como "penso, logo existo"; embora seja mais correto traduzi-la como "penso, portanto sou". Na quarta parte da versão francesa de Discurso sobre o Método (1637), essa frase é formulada como je pense, donc je suis;[1] nesse sentido, cogito ergo sum é a sua versão latina.

Descartes alcança essa conclusão após duvidar da verdade de todas as coisas. A seu ver, mesmo que ele duvidasse de tudo, não poderia duvidar de que ele mesmo existe pelo menos enquanto "coisa que pensa"[2] (res cogitans). Entretanto, na meditação segunda de Meditações Metafísicas (1641), essa conclusão aparece como "Eu sou, eu existo" ("Je suis, j’existe").[2][3][4]

A Demonstração do Cogito[editar | editar código-fonte]

A demonstração do Cogito dá-se de maneira bastante breve no Discurso do Método, mas é muito mais extensa e detalhada nas Meditações Metafísicas. Para chegar ao “cogito, ergo sum”, Descartes estabelece dois movimentos: primeiro, demonstrar as razões que o levam à dúvida hiperbólica; e segundo, demonstrar como a dúvida hiperbólica leva à certeza indubitável de que ele mesmo existe enquanto coisa que pensa. Delineemos, a seguir, esses dois movimentos meditativos que o levam ao cogito.[5]

Meditação Primeira[editar | editar código-fonte]

Descartes deixa claro que o propósito de suas meditações é estabelecer o conhecimento sob bases sólidas e seguras.[6][7] Nesse sentido, ele rejeita – como se fosse totalmente falso – tudo aquilo que pudesse supor a menor dúvida.[7][8]

Em seguida, ele estabelece três pontos[9][10] para especificar como esse processo de rejeição ocorrerá, que são:

I. Negação daquilo que se baseia nos sentidos, já que é claro que os sentidos às vezes nos enganam e que não é prudente confiar naqueles que um dia nos enganaram.[7][11]

II. Negação das coisas que se apresenta em um sonho, já que não há indícios concludentes de que podemos distinguir a vigília do sono e, portanto, não podemos saber se estamos sonhando agora ou se estamos acordados.[7][12]

III. Negação dos paradigmas matemáticos. Esse é um ponto mais complicado, pois parece que, acordando ou dormindo, 2 + 3 = 5; que, mesmo em sonho, 2 + 3 nunca será igual a 7.[13] Para negar essa objeção, Descartes apontará para o fato de que raciocinamos errado em relação às demonstrações mais simples da matemática.[7] Entretanto, ele irá se concentrar principalmente no apontamento da possível existência de um “gênio maligno” que poderia fazê-lo crer que 1 + 1 = 2, mesmo que isso não fosse verdadeiro.[14] Nesse sentido, a suposição do gênio maligno parece promover a negação não só de suas crenças matemáticas, mas também de o restante de suas opiniões.[15]

Diante desses pontos, Descartes conclui que deve rejeitar tudo aquilo que recebera em sua crença como verdadeiro e considerar todas as suas antigas opiniões como falsas. Esse é momento em que ele assume a suspensão do juízo[16] e a dúvida hiperbólica.

Meditação Segunda[editar | editar código-fonte]

Descartes percebe que, ao duvidar de tudo, ele não poderia negar que há a própria dúvida. Então ele admite que “penso, logo sou” deve ser o seu primeiro princípio firme e indubitável que sustentará o fundamento do conhecimento.[17] Em outras palavras, tentando negar tudo como falso, acabava-se afirmando a existência do pensamento. Descartes duvidava e isso era indubitável, i. é, que Descartes duvidava era aquilo que conseguia resistir ao gênio maligno, pois o próprio Descartes precisaria, para ser enganado pelo gênio maligno, existir enquanto aquele que é enganado (ou aquele que pensa).[18]

Assim, “cogito ergo sum” se torna o primeiro princípio firme e indubitável de sua jornada meditativa.[17] Ele é o ponto arquimediano de sua filosofia.[19] De sua própria existência enquanto coisa que pensa, então, Descartes não pode duvidar, já que, enquanto pode pensar, ele próprio é uma coisa que pensa.[2] Essa “coisa que pensa” é aquilo “que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente”.[20] Em contrapartida, ele só pode afirmar que é uma coisa que pensa enquanto pensa. Se cessar o seu pensar, cessasse simultaneamente o seu existir.[2]

As Objeções ao Cogito[editar | editar código-fonte]

Ao longo da história do pensamento, diversos filósofos se enveredaram na tentativa de objetar o argumento cartesiano.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)[editar | editar código-fonte]

A objeção de Leibniz consiste em apelar que haveria na demonstração do cogito uma circularidade. Isto é, o “eu” que existe já está pressuposto ao assumir “eu penso”.[21]

Friedrich Nietzsche (1844-1900)[editar | editar código-fonte]

Embora Nietzsche, em Além do bem e do mal, §16, não chegue a se referir diretamente a Descartes, fica claro que ele está se referindo ao pensamento cartesiano e estabelecendo uma crítica ao “cogito ergo sum”.[22]

Ele coloca que, ao decompor o processo lógico que leva Descartes ao “penso, logo sou”, é possível detectar algumas pressuposições por trás da frase, tais como:

  • Eu sou aquilo que pensa;
  • Deve existir algo que pensa;
  • O pensamento não pode existir sem algo para efetivá-lo;
  • “Pensar” é a atividade de um ente que é;
  • “Pensar” é o efeito de um ente que é;[23]
  • Um ente é a causa do pensar;[23]
  • O “eu” sabe o que significa “pensar”;
  • O “eu” difere o pensar de outros fenômenos que ocorrem nele;
  • Existe um “eu”; etc.

A crítica de Nietzsche se norteia aqui no sentido de que haveria uma dificuldade – ou quem sabe impossibilidade – de fundamentar esses pressupostos sobre um suporte inabalável. Desse modo, por meio da demonstração do cogito, Descartes não construiria um conhecimento sem pressupostos e nem o firmaria em bases sólidas e seguras, como pretendia.[22]

Bertrand Russell (1872-1970)[editar | editar código-fonte]

Russell objetará que, no máximo, Descartes poderia inferir que há o pensamento, e não que “eu penso”.[21]

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Solipsismo
  • Racionalismo
  • Dualismo
  • Dúvida Hiperbólica

Referências

  1. DESCARTES, René. Discours de La Méthode (PDF). [S.l.: s.n.] pp. 23–23. Consultado em 15 de junho de 2017
  2. a b c d DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 46–46
  3. DESCARTES, René. Méditations Métaphysiques (PDF). [S.l.: s.n.] pp. 9–9. Consultado em 15 de junho de 2017
  4. Também atribui-se erroneamente a Descartes uma frase semelhante, que é “puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe”; em latim, “dubito, ergo cogito, ergo sum”; em português: “porque eu duvido, eu penso; porque eu penso, eu existo”. Embora essa frase pareça sintetizar bem a proposta cartesiana, ela é de Antoine Léonard Thomas e está em seu Éloge de René Descartes. (Cf. THOMAS, Antoine Léonard. Éloge de René Descartes. [S.l.: s.n.] pp. 32–32. Consultado em 15. Jun. 2017.)
  5. O primeiro movimento corresponde sua Meditação Primeira e o segundo, a sua Meditação Segunda. Ambos são etapas das Meditações Metafísicas, que são resumidas em seu Discurso sobre o Método.
  6. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 29–29
  7. a b c d e DESCARTES, René (2013). Discurso do Método. Porto Alegre: L&PM. pp. 63–63
  8. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 30–30
  9. Também pode-se considerar o argumento do gênio maligno como um quarto ponto, embora nas Meditações Metafísicas ele surja como um contraponto em relação a resistência dos paradigmas matemáticos ao argumento do sonho.
  10. No Discurso do Método, Descartes estabelece o ponto III antes do II, mas nas Meditações Metafísicas essa ordem é invertida, i. é, primeiro ele utiliza o argumento dos sonhos e, em seguida, nega os paradigmas matemáticos. Isso ocorre porque ele utiliza argumentos diferentes nas duas obras para chegar à suspensão do juízo. Na verdade, no Discurso do Método essa ordem não importa, mas nas Meditações Metafísicas, em que Descartes elabora mais amarradamente o argumento do cogito, a ordem dos argumentos passa a importar.
  11. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 31–31
  12. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 32–33
  13. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 35–35
  14. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 35–36
  15. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 36–37
  16. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 36–38
  17. a b DESCARTES, René (2013). Discurso do Método. Porto Alegre: L&PM. pp. 64–64
  18. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 42–43
  19. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 41–42. Arquimedes, para tirar o globo terrestre de sua posição e transportá-lo para outro lugar, nada pedia senão um ponto que fosse fixo e assegurado. Assim, terei direito de conceber altas esperanças, se for feliz o bastante para encontrar uma coisa que seja certa e indubitável.
  20. DESCARTES, René (2005). Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes. pp. 47–48
  21. a b MARCONDES, Danilo (2015). Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar. pp. 173–173
  22. a b NIETZSCHE, Friedrich (2013). Além do bem e do mal. São Paulo: Escala. pp. 34–36
  23. a b É interessante notar que, na interpretação nietzschiana, o “ergo” (“logo”) é um conectivo que sugere relação de causa e consequência. Assim, “penso” seria uma premissa e “sou” seria a conclusão que se segue dessa premissa. Nesse sentido, Nietzsche questiona por quais razões deve aceitar essa premissa e acreditar nessa relação de causa-e-consequência. Essa interpretação, entretanto, será questionada posteriormente.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • DESCARTES, René. Discurso do Método. Porto Alegre: L&PM, 2013.
  • DESCARTES, René. Discours de La Méthode. Consultado em 15. Jun. 2017.
  • DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
  • DESCARTES, René. Méditations Métaphysiques. Consultado em 15. Jun. 2017.
  • MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
  • MARINHO, Elan. O que significa "penso, logo sou"?. Universo Racionalista, 2017.
  • NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. São Paulo: Escala, 2013.
  • Qual é o método que Descartes usa para chegar à verdade eu penso, logo existo?
    Portal da filosofia

Qual é o método usado por Descartes?

O método de Descartes é o método da dúvida: a dúvida metódica ou dúvida cartesiana. Para a razão bem funcionar, é necessário limpar o terreno da mente de todo preconceito, é preciso, num primeiro momento duvidar de tudo, principalmente o que já se tem estabelecido como verdade absoluta.

Como Descartes chegou à conclusão penso logo existo?

De acordo com o pensamento do filósofo, ao duvidar de algo já estaria pensando e, por estar duvidando, logo pensando, estaria existindo. Descartes entendeu que ao duvidar, estava pensando, e por estar pensando, ele existia. Desta forma, a sua existência foi a primeira verdade irrefutável que ele encontrou.

O que é preciso para conhecer a verdade segundo Descartes?

René Descartes é responsável pelo desenvolvimento do racionalismo cartesiano, segundo o qual o homem não pode alcançar a verdade pura através de seus sentidos: as verdades residem nas abstrações e em nossa consciência, na qual habitam as ideias inatas.

Qual é a primeira certeza que Descartes chega como ele chega até ela?

Pensando, é coisa pensante, sendo coisa, existe. Desta forma, Descartes declara: penso, logo existo (cogito ergo sum). Foi alcançada, então, a primeira certeza, a certeza da existência própria.