Qual e a função do intérprete de Libras?

No ano de 2005, o então Presidente da República, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que regulamentou a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. 

No artigo 21 deste decreto foi estabelecido que todas as instituições de “ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos.” (Decreto 5.626, de dezembro de 2005)

Por esse motivo, na maioria das escolas em que há alunos surdos matriculados, que usam a Língua de Sinais, vemos o profissional intérprete de Libras. Mas qual é o seu papel em sala de aula?

Talvez podemos confundir, achando que o intérprete tem a mesma função do professor. Mas não é bem assim. O papel do intérprete é ouvir a aula do professor e traduzi-la em Libras para o aluno surdo para que ele tenha acesso ao conteúdo assim como os outros na sala de aula, diferente do professor, que ministra a sua aula, seu conteúdo e o explica aos alunos.

O intérprete também pode fazer a mediação inversa. Caso o aluno surdo queira fazer alguma pergunta ou dizer algo ao professor ou aos colegas de classe, o intérprete traduz oralmente a fala dele. Mas visto que esse trabalho envolve pessoas, o que acontece na prática, no dia a dia de um intérprete em sala de aula? Muitas podem ser as suas dificuldades.

Pode acontecer de o aluno surdo não saber Libras mesmo já estando no ensino fundamental ou médio. Então vem a primeira dificuldade: como transmitir o conteúdo para esse aluno? Muitos intérpretes acabam tendo que ensinar primeiro a língua de sinais para o aluno, embora talvez não tenham formação para isso.

Outra dificuldade é a relação dele com os professores e/ou o grupo gestor. Muitas vezes o intérprete precisa esclarecer algumas questões com relação à comunidade e à cultura dos surdos. Além disso, os professores nem sempre levam em conta o aluno surdo na hora de fazer seu planejamento, o que pode acarretar em um improviso do intérprete na hora da aula.

E visto que os intérpretes não têm formação em todas as disciplinas que são lecionadas no ambiente escolar, podem surgir dúvidas quanto ao vocabulário, como produzir materiais adequados, que tipo de metodologia usar para uma melhor aprendizagem do surdo.

Outro ponto importante a se destacar é a relação pessoal que geralmente surge entre o aluno e o intérprete. Com o passar do tempo, eles podem ficar bastante apegados e achegados um ao outro. Para o surdo, o intérprete talvez seja a única pessoa na escola que sabe se comunicar com ele e que o entende.

Por sua vez, o intérprete muitas vezes sente empatia pelo surdo e suas dificuldades em aprender os conteúdos, em interagir com os colegas e também se comunicar com os professores, e isso faz com que ele faça mais do que muitos acreditam ser seu papel.

Em conclusão, ser um intérprete de Libras em sala de aula é mais do que finalizar um trabalho ou um projeto. Atuar nessa área envolve muitos sentimentos como empatia, misericórdia e amor por alguém que na maioria das vezes é desfavorecido. Ser intérprete de Libras é se sentir confiante, mas às vezes inseguro, importante mas às vezes não visto, sentir pena, e muitas vezes satisfeito.

Em 26 de julho é comemorado o Dia do Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse profissional é importantíssimo para a inclusão social plena das pessoas com deficiência auditiva, inclusive para o seu processo educacional.

Em contextos sociais específicos, como uma consulta no hospital, na compra de passagens na rodoviária, na realização de uma denúncia na delegacia, na sala de aula ou até mesmo na realização de um contrato de aluguel, é possível notar a importância da tradução/interpretação entre Libras e Língua Portuguesa. Esse é um trabalho que visa garantir a compreensão linguística, a mediação cultural e a participação social em Libras e em português em diferentes contextos.

Qual e a função do intérprete de Libras?
Fonte: Pexels.

Historicamente, no Brasil a atuação do tradutor/intérprete de Libras tem se dado majoritariamente em contextos educativos, em especial na sala de aula. Seja nas escolas bilíngues ou nas escolas inclusivas com estudantes que possuem deficiência auditiva, esse profissional tem garantido a relação linguística e o diálogo entre estudantes surdos e pessoas ouvintes, não usuárias da língua de sinais.

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Tem sido assim antes mesmo do reconhecimento da Libras como língua da comunidade surda sinalizante brasileira, em 2002, pela Lei 10.436. Nos cotidianos das escolas, muitos professores não possuem formação e apoio à aprendizagem da Libras, materiais didáticos, nem estrutura de trabalho que favoreçam uma abordagem de ensino visual, tal qual é apontado nos livros “Leitura e escrita na educação de surdos: das políticas às práticas pedagógicas” e “Práticas pedagógicas no ensino de Língua Portuguesa escrita para surdos: desafios, experiências e aprendizagens”.

Apesar de o Decreto 5.626, de 2005, que regulamenta a Lei 10.436 (Lei da Libras), sublinhar a importância do professor bilíngue para a atuação na escola com surdos, essa não é a realidade presenciada na maioria das vezes.

A falta de uma política de formação do professor bilíngue em Libras e Língua Portuguesa e da produção de materiais didáticos bilíngues é gritante no Brasil. Essa realidade tem feito com que o trabalho do profissional tradutor/intérprete de Libras se concentre na atuação na sala de aula, interpretando o professor e sua aula. Isso é um desafio que precisa ser enfrentado, uma realidade que precisa ser mudada, como muitos tradutores/intérpretes de Libras, educadores e a comunidade surda têm apontado.

Em 2021, a Lei 14.191 inseriu a Educação Bilíngue de Surdos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) como modalidade. Agora a Educação Bilíngue de Surdos é modalidade independente de ensino, fora da Educação Especial. E o que isso quer dizer? Que a educação dos estudantes surdos é linguística e intercultural, uma vez que as comunidades surdas são culturalmente visuais, além de constituírem uma minoria linguística.

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Esse reconhecimento da Educação Bilíngue de Surdos como modalidade independente reafirma a importância e urgência de professores fluentes em Língua de Sinais, a fim de garantir trocas e discussões linguisticamente ricas e aprofundadas entre professores e alunos.

Nesse contexto, longe de perder seu papel fundamental no processo educativo, o tradutor/intérprete de Libras muda seu espaço de atuação: das salas de aula, vai para o estúdio tornar acessíveis vídeos e filmes importantes para o processo de ensino-aprendizagem dos estudantes; vai traduzir materiais, informes, documentos, notícias da instituição; vai para as reuniões com a comunidade escolar e as famílias, uma vez que muitas não sabem ou não usam Libras.

Para o Dia do Intérprete de Libras, é importante reforçar que o reconhecimento da Educação Bilíngue como modalidade deve também trazer mais reconhecimento, compreensão e valorização desse profissional. Sem o tradutor/intérprete de Libras, fica difícil imaginar uma escola bilíngue em toda a sua potência e expressão, porque o bilinguismo não fica apenas na sala de aula: ele ultrapassa o portão, ele transborda a escola.


Tiago Ribeiro é professor e orientador pedagógico da Educação de Jovens e Adultos do Instituto Nacional de Educação de Surdos.

Qual é a função do intérprete de Libras?

Esse profissional é o responsável por fazer a ponte comunicativa entre surdos e ouvintes (como são chamadas as pessoas que escutam), unindo duas línguas, o português e a Libras, que possuem estruturas muito diferentes.

Qual é a função do intérprete?

O Intérprete irá mediar a comunicação entre o surdo, professores e colegas através da LIBRAS, que possibilita a interação de ambos. Quando não há essa mediação a comunicação é bloqueada.

Qual a função do intérprete de Libras na Educação?

O profissional intérprete é indispensável para o desenvolvimento da comunicação e inclusão da pessoa surda na sociedade, à inserção do intérprete de Libras na educação básica necessita de planejamento por parte das escolas através de metodologias ativas que permitam desenvolver além da expressão desse estudante a ...

Qual a função do intérprete na sala de aula?

O intérprete participa das atividades, procurando dar acesso aos conhecimentos e isso se faz com tradução, mas também com sugestões, exemplos e muitas outras formas de interação inerentes ao contato cotidiano com o aluno surdo em sala de aula.