Quais os objetivos do ensino de artes para a aprendizagem dos alunos do ensino fundamental anos iniciais?

RESUMO

Este artigo traz reflexões sobre o ensino de Arte disposto nos documentos curriculares da Educação Básica. Deste modo, este estudo é de teor qualitativo, bibliográfico e documental e tem por objetivo analisar como o ensino de Arte se insere a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) nos currículos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. O ensino de Arte é importante para o desenvolvimento da capacidade criadora, poética e artística ao se explorar a sensibilidade, a emoção e a fantasia presentes nas diferentes linguagens como as artes visuais, a música, o teatro e a dança. O breve relato histórico apresentado na pesquisa mostra o percurso do reconhecimento da Arte no contexto escolar e demonstra a sua importância para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. As concepções e tendências de seu ensino remetem ao desenvolvimento da expressão e criatividade com ações nas diferentes áreas de conhecimento. Pesquisas realizadas nos documentos oficiais revelam que seu ensino tem como propósito ampliar os aspectos sociais do aluno, bem como ajudá-lo na construção do conhecimento, oportunizando compreender sua realidade e desenvolver sua criatividade. Dessa maneira, esse trabalho procurou elucidar o problema da pesquisa ao analisar por meio da tabela comparativa questões pontuais acerca do ensino da disciplina de Arte na BNCC e nos PCN’s, com possibilidades de outras discussões possíveis a partir do que foi até então acumulado. 

Palavras-chave: Currículos de Arte; Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Tendências; Concepções;

1.           INTRODUÇÃO

A Arte sempre fez parte da vida do ser humano, é parte da sua cultura e de sua história. Como instrumento de leitura do mundo e de si mesma, é importante para o desenvolvimento da criatividade e do senso estético. Contudo, durante muito tempo o ensino de Arte se resumiu a tarefas pouco valorizadas, repetitivas e sem muita importância. Este panorama tem mudado em virtude das novas propostas curriculares.

Diferentes linguagens pertencem ao meio em que os alunos estão inseridos e correspondem às novas perspectivas de ensino, permitindo-se desenvolver competências e habilidades como criar, produzir, sentir, exteriorizar sobre os fenômenos artísticos.

Assim, para entender a perspectiva das propostas curriculares, esta pesquisa questiona: como o ensino de Arte se insere na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

Como objetivo geral, a pesquisa se propõe a analisar as propostas do ensino de Arte refletidas na BNCC e nos PCN’s. Como objetivos específicos elencaram-se: (a) averiguar a importância do ensino de Arte no desenvolvimento dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental e; (b) conceituar as tendências e concepções do ensino de Arte.

Para isto, na primeira seção apresenta-se um breve percurso histórico, descrevem-se as dificuldades encontradas em algumas escolas no ensino de Arte e elencam-se acontecimentos que contribuíram para mudanças, como a lei nº 9.394/96, os PCN’s e a BNCC.

Na segunda seção discute-se a Arte nos PCN’s e na BNCC nos anos iniciais do Ensino Fundamental e apresentam-se etapas e modalidades da Educação Básica propostas por estes documentos. Na última seção apresenta-se a importância do ensino da Arte no desenvolvimento dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental como modo de a criança se expressar, entender a sociedade e o contexto que a cerca.

Diante do problema da pesquisa e de seus objetivos, o método escolhido para a pesquisa é o de abordagem qualitativa, bibliográfica e documental, pois se buscou analisar dados dispostos nas tabelas comparativas das aproximações e distanciamentos entre os PCN’s e a BNCC.

A pesquisa embasou-se em fontes confiáveis como livros, artigos, dissertações e teses que trazem informações relevantes sobre as mudanças ocorridas nos currículos e a importância do ensino em comparação às diferentes metodologias desta área de conhecimento. Na BNCC, por exemplo, a disciplina de Arte exerce um papel relevante na aprendizagem, onde o processo de elaboração do conhecimento artístico é tão importante quanto o produto final. Essa disciplina valoriza também uma conexão contextual social e cultural envolvendo as artes visuais, a música, a dança e o teatro.

Nesta perspectiva, percebeu-se que, ao valorizar a Arte, vislumbra-se um ensino de qualidade voltado para o desenvolvimento artístico, poético e criativo da criança a fim de estimular o seu desenvolvimento seja na coordenação motora, na fala, na expressão dos sentimentos para compreender a si mesma.

2.           REVISÃO DA LITERATURA

Pretendeu-se nesta pesquisa explicitar o percurso do ensino de Arte no Brasil, sua história de conquistas e desafios. Propôs-se discutir como o seu ensino se insere nos PCN’s e na BNCC e conceituar concepções e tendências desta área de conhecimento para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

2.1.      BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DA ARTE NO BRASIL

A arte sempre esteve presente ao longo do tempo, tendo nas manifestações artísticas do homem primitivo as primeiras constatações nas artes rupestres. No Brasil, além das pinturas rupestres encontradas em várias regiões, como, por exemplo, no Parque Nacional da serra da Capivara no Piauí, a arte também estava presente nos artesanatos e pinturas feitas pelos povos indígenas. No decorrer da história, diversos acontecimentos também marcaram o ensino de Arte no Brasil.

Em 1826, no Rio de Janeiro, é inaugurada a “Escola Imperial das Belas-artes”, que pretendia promover o ensino de Arte nas bases acadêmicas no país. Porém, por ser constituída pela corte brasileira, o ensino era tradicional e a linguagem mais elitizada, o que acabou por dificultar o acesso das camadas mais populares.

Foram criados no Rio de Janeiro, em 1856, os “Liceus de Artes e Ofícios de Bethencourt da Silva”, com objetivo de formar artistas, incluindo pessoas das classes menos favorecidas. Até este momento o ensino de Arte era voltado para as cópias de pessoas importantes e paisagens que não faziam parte do contexto pelo qual o aluno vivenciava, sem respeitar as expectativas ou a valorização das paisagens locais.

Apenas em 1920, possivelmente influenciado pelo caráter técnico do desenho, o ensino de Arte entra oficialmente nos currículos escolares. Na Escola Tradicional, ainda vigente no século XIX, o professor era o detentor do conhecimento, que acabava por transmitir verdades de modo mecanizado, sem considerar o contexto dos alunos. Este modelo utiliza do exercício de cópias do natural, desenho representativo dos modelos vivos (como cópias de flores e frutas) e desenhos de construções geométricas.

Com o movimento da Escola Nova, o ensino deixa a estética modernista e passa a se preocupar com as experiências e expectativas dos alunos, atentando-se ao desenvolvimento natural da criança, tornando importante a manifestação de sua expressividade e o modo de ver o mundo, cuidando com a influência que poderia macular a genuína e espontânea expressão infantil.

Em meados de 1990, com a promulgação da LDB nº 9.394/96, a Arte foi instituída como componente curricular obrigatório, tornando-se uma disciplina com conteúdo próprio, dividindo-se em: artes visuais, música, teatro e dança.

Em 1997, com a necessidade de um documento que pudesse ser norteador para o ensino da Arte, foram desenvolvidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’S). Embora não fossem obrigatórios, garantiam que todas as crianças tivessem acesso a um conjunto de conhecimentos tidos como necessários.

Na sequência surge a BNCC, que traz a ampliação das possibilidades e experiências a serem adquiridas por meio da Arte, propondo tornar as crianças protagonistas de seu aprendizado, possibilitando a elas a expressão de seus sentimentos e de sua criatividade por meio dos processos artísticos.

2.2 A ARTE NOS PCN’S E NA BNCC DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Os PCN’s e a BNCC são documentos que definem as etapas e modalidades da Educação Básica, que proporcionam os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento. O primeiro deles é composto por diretrizes desenvolvidas pelo Governo Federal com o objetivo de conduzir os professores mediante orientações fundamentais referentes a cada disciplina, abrangendo tanto a rede pública quanto a rede privada de ensino. Apesar de não ser obrigatório, desempenha um papel de nortear a prática pedagógica.

As modalidades artísticas específicas no currículo de Arte para os anos iniciais do Ensino Fundamental são compostas por cinco conteúdos gerais, que visam à expressão e comunicação, aos elementos básicos, à diversidade artística, à Arte na sociedade e diferentes culturas. Além disso, o documento orienta explorar as Artes Visuais, Música, Teatro e Dança para promover a formação artística e estética do aluno e a sua atuação na sociedade.

Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, p. 49), o “[...] conjunto de conteúdos está articulado dentro do processo de ensino e aprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos norteadores: produzir, apreciar e contextualizar”, os quais juntos formam a “Metodologia Triangular”.

A Abordagem Triangular, proposta por Ana Mae Barbosa (1991), na qual foi fundamentada os PCN’s, preocupou-se em desenvolver um conhecimento crítico tanto para os alunos quanto para os professores. A “Metodologia Triangular” propõe “desenvolver a capacidade de formular hipóteses, julgar, justificar e contextualizar julgamentos diferentes acerca de imagens e de Arte” (BARBOSA, 1991, p. 64). Baseia-se em três pilares – contextualização histórica, apreciação artística e o fazer artístico – que podem ser utilizados pelo professor de forma e sequência que melhor se adéque à sua prática docente.

Por meio dos PCN’s, a Arte foi reconhecida como uma disciplina e por considerar o processo mais relevante do que o resultado evoluiu no que se refere à qualidade do seu ensino.

Após os PCN’s, através uma normativa surge a BNCC com a função de nortear todo o trabalho do componente curricular desta disciplina. Centrada em quatro campos de linguagem, sendo elas as Artes Visuais, a Música, a Dança e o Teatro, a Arte articula conhecimentos relacionados aos fatores artísticos e abraça a prática da criação, da produção e da reflexão artística.

Segundo a BNCC (BRASIL, 2018, p. 193) “a aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores”, para assim proporcionar a troca de culturas e aperfeiçoar a exploração de igualdades e diferenças, contribuindo para o respeito às diferenças e a multiculturalidade.

Este documento sugere que o desenvolvimento das linguagens seja associado às seis dimensões do conhecimento, que visam promover a construção de uma aprendizagem mais significativa. São elas: a criação, a crítica, a fruição, a estesia, a expressão e a reflexão.

A BNCC orienta que os alunos experimentem mudanças na orientação curricular que permeava a Educação Infantil e ampliem o campo de experiências, interações e brincadeiras que conduzem a aprendizagem e às percepções das novas dimensões do conhecimento artístico.

Conforme a BNCC (BRASIL, 2017, p. 199), com o compromisso de garantir aos alunos as habilidades associadas à alfabetização e ao letramento, a Arte deve proporcionar o ingresso à leitura, à criação e à elaboração de múltiplas linguagens artísticas, colaborando para o desenvolvimento de habilidades associadas à linguagem verbal e não verbal.

Diferente do PCN’s, na BNCC a Arte foi incorporada à área de conhecimento denominada como “Linguagens”, que agrupa às áreas de Língua Portuguesa, Educação Física e Língua Inglesa. O documento estabelece as competências específicas de cada área, mas aponta que juntas elas satisfazem as competências gerais da Educação Básica.

2.3 TENDÊNCIAS E CONCEPÇÕES DO ENSINO DA ARTE

Em dado momento da história, a disciplina de Arte sai do referencial de desenhos e se volta a uma mudança nos processos de elaboração dos conhecimentos artísticos que, anteriormente, era somente, um trabalho de reprodução contínua de imagens por meio da observação e cópia.

Esta mudança vem ao encontro do que Campos, Teixeira e Goelzer (2014) colocam sobre como a Arte se transformou e ocupou o seu espaço na sociedade, pois “[...] ajuda a compreender as condições íntimas dos indivíduos, uma vez que, através dos seus sentimentos expressam por múltiplos meios das diversas linguagens artísticas, seja ela a música, dança, teatro e artes visuais” (CAMPOS; TEIXEIRA, GOELZER, 2014, p. 2).

Barbosa (2001) orienta que o professor explore a Arte nas mais diversas formas para desenvolver a sensibilidade e a emoção de maneira poética e artística. A criação artística, a história da arte e a análise de obras devem ir ao encontro das necessidades, interesses e desenvolvimento do aprendiz. A forma de organização e o tema devem ser respeitados, assim como seus valores, sua estrutura e sua contribuição para a cultura. As atividades com materiais alternativos podem desenvolver o perceptivo, o afetivo e o intelectual, propiciando à criança a construção de saberes e o desenvolvimento da criatividade.

Para Santomauro (2009), ao relacionar a criatividade com a imaginação, tornar-se-á mais fácil explorar os conteúdos em cada área de conhecimento, dando a possibilidade de unir os contextos de sala de aula ao espaço não escolar, que é o campo que a criança tem maior domínio. Além disso, a Arte numa concepção de criação, sensibilidade e emoção torna-se uma ferramenta para aprimorar a coordenação motora fina e grossa, ampliar a comunicação oral e corporal, melhorar a escrita e traçado, desenvolver a criatividade e o lado estético essencial para o desenvolvimento cognitivo, sensível e cultural das crianças.

Para tanto, deve haver sempre um objetivo que conecte o texto, os desenhos e as colagens à atividade proposta. O progresso de cada linha de produção, de cada estágio de conclusão e de cada progresso deve ser avaliado.

Embora o professor tenha recebido apenas uma formação linguística, é necessário buscar os conhecimentos artísticos necessários, pois é direito do aluno experimentar diferentes linguagens. Entretanto, o professor na sua formação traz consigo diversas estratégias para trabalhar a Arte em sala de aula com foco no desenvolvimento cognitivo, intelectual, emocional e cultural de cada aluno.

2.4 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ARTE NO DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS

Atualmente nos deparamos com novas gerações de crianças na área educacional que desafiam o ensino tradicional. Os alunos dessas novas gerações não se transformaram somente em relação à tecnologia de uma época para outra, pode-se dizer que se transformou também a maneira como eles aprendem, a sua criatividade e sua produção.

Esses indivíduos chamados de geração Z (nascidos de 1990 a 2010) e geração Alfa (nascidos após 2010) são indivíduos de gerações que estão sempre em busca de novidades, conseguem executar multitarefas, são críticos, dinâmicos e exigentes. Acostumados com interatividade, estas gerações não concebem o mundo sem um dispositivo eletrônico e sem estímulos criativos e dinâmicos.

Daí a importância ao estímulo e à criatividade desde a infância, para que na vida adulta tornem-se autores de sua própria aprendizagem. E para que isso aconteça, escola e professores devem estar preparados para as mudanças e transformações que ocorrerão.

Com todas essas demandas é preciso repensar o ensinar e o aprender. O professor precisa estar intimamente envolvido com a maneira de conduzir a Arte e como exerce o seu papel de mediador. Cabe a ele o domínio completo da matéria ensinada e das técnicas e procedimentos, sejam eles tecnológicos ou não, com o objetivo de satisfazer os anseios dos indivíduos destas gerações que, ao serem estimulados para o desenvolvimento artístico, poético e criativo tornam-se na vida adulta autores transformadores de valores fundamentais à vida humana.

Para Barbosa (2016), a Arte é tão importante quanto as demais disciplinas e seu ensino não pode ser visto apenas como um momento de descontração. Para a autora (BARBOSA, 2016), é necessário que os educadores sejam capacitados para tal, preparados para desenvolver e estimular o aluno para conhecimento do mundo.

Deve-se, portanto, permitir que a criança desenvolva livremente sua arte e sua própria forma de pensar e incentivá-la a isso tanto na escola como na família.

Assim as aprendizagens vão além dos saberes artísticos. É preciso promover um ensino sólido, agradável e prazeroso, com várias possibilidades para o desenvolvimento da sensibilidade, da emoção e da criatividade. Realizar isso de forma poética e artística, que podem ser provenientes das diferentes linguagens oferecidas e refletidas no ensino de Arte, e se tornar um suporte para seu desenvolvimento cognitivo, emocional e cultural, tão importantes para a formação desta geração.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar as propostas de ensino de Arte refletida na BNCC e nos PCN’s nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para isto, foi necessário conceituar as tendências e concepções do ensino deste componente curricular e averiguar a sua importância no desenvolvimento dos alunos. Estes procedimentos visam a orientar o percurso de ensino e aprendizagem investigando como ela se insere na BNCC (BRASIL, 2018) e nos PCN’s (BRASIL, 1997).

Deste modo, para responder à problemática e aos objetivos da pesquisa, os procedimentos metodológicos se deram através de uma pesquisa qualitativa, bibliográfica e documental.

Inicialmente, o levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica se deu por meio de fontes confiáveis como livros, artigos, documentos oficiais, dissertações e teses, entre outros. É um trabalho minucioso em busca de uma base fundamental para a pesquisa e um objeto facilitador no desenvolvimento de grande número de dados existentes. Para isto, é preciso um “[...] planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação” (BOCCATO, 2006, p. 266).

Sobre a pesquisa qualitativa, ela é definida como um tipo de investigação voltada para os aspectos importantes para o pesquisador, pois “os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social” (GOLDENBERG, 1997, p. 50).

Como o problema gerador é como o ensino de Arte se insere na BNCC e no PCN’s, a pesquisa analisou os documentos mencionados, tabelas estatísticas, artigos científicos, revistas, relatórios, as leis e regulamentos, normas e pareceres, livros, entre outros (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). A análise documental dos currículos foi necessária para localizar informações importantes nos documentos a partir das questões que interessam à pesquisa.

Portanto, a pesquisa documental oferece uma ampla gama de estudos e favorece a observação do processo de maturação ou de desenvolvimento dos indivíduos, além de seus grupos sociais.

3.           DESENVOLVIMENTO: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para explicitar a problemática da pesquisa, apresentamos tabelas comparativas das aproximações e distanciamentos entre os PCN’s e a BNCC. Cada tabela discute aspectos importantes como as dimensões ou objetivos do conhecimento, as relações com a produção de Arte e cultura, as modalidades ou linguagens trabalhadas e os processos avaliativos.

Os PCN’s surgem na década de 90 e, apesar de não serem obrigatórios, apresentam orientações metodológicas que servem como ponto de partida para a elaboração do currículo da escola e para o trabalho docente.

Já a BNCC é um documento de caráter normativo, criado e aprovado pelo Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação. Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996).

A tabela a seguir apresenta a Arte no currículo da escola e a sua importância como disciplina, que era tratada como uma matéria complementar, sem importância, trazendo somente reproduções de imagens sem possuir um sentido. A partir do momento em que foi incluída como disciplina e componente curricular foram atribuídas a ela várias formas de expressões no processo de ensino e aprendizagem, trazendo o contexto cultural para a sala de aula.

Tabela 1. A relação da Arte no currículo e a sua importância como disciplina.

PCN’s

BNCC

A Arte no currículo escolar

Contemplam atividades que envolvem as quatro linguagens: dança, artes visuais, teatro e música, e as diferentes manifestações culturais. Contempla três eixos: o fazer artístico, a história da arte e a leitura de obras.

Os temas a serem tratados são trazidos pelo professor, mas os alunos devem se sentir livres para criar, dando vazão à sensibilidade de maneira plena, com a observação e incentivo do professor.

Comentários: Nos PCN’S, o aluno aprende basicamente a fazer trabalhos artísticos, a apreciar e a refletir sobre eles. Na BNCC, o aluno é levado a explorar diferentes linguagens e suas práticas, permitindo uma vivência e troca de experiências (currículo oculto), assim aprimorando suas percepções.

A importância da Arte como disciplina

Classificada como área de conhecimento específico, a proposta da Arte é desenvolver o pensamento artístico e a percepção estética. A sensibilidade e a imaginação nas produções, a apreciação e conhecimento das artes produzidas por si e pelo próximo, pela natureza e pelas diferentes culturas.

A Arte é incorporada na área de linguagens. É importante na interação crítica dos alunos com as diversidades do mundo, favorece o respeito às diferenças e o diálogo intercultural, propicia a troca entre culturas e favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças entre elas.

Comentários: Nos PCN’s e na BNCCa Arte é vista como instrumento de reconhecimento das diversas culturas ao perceber o mundo em sua complexidade, contextualizar saberes e o respeito entre as suas diversidades.

Apesar de nomeados de maneira diferente, as “dimensões do conhecimento” para a BNCC e “eixos norteadores” para os PCN’s, são as formas que os documentos propõem para se pensar na organização curricular, mais especificamente nas relações possíveis entre a dinâmica da sala de aula e os conteúdos a serem trabalhados.

Tabela 2. Eixos norteadores e as dimensões em cada documento

PCN’s

BNCC

Dimensões ou eixos norteadores

Três eixos norteadores:

(a) Produção: o fazer artístico, a liberdade de criação do aluno e dos produtores sociais de arte, mas com acompanhamento do professor;

(b) Fruição: processo de apreciação, produção do aluno e a diversidade histórico-social;

(c) Reflexão: construção de conhecimento sobre o trabalho artístico do aluno, como produção artística situada histórica e culturalmente, com ênfase nas suas significações.

Seis dimensões do conhecimento:

(a) Criação: o fazer artístico em atitude intencional e investigativa com desafios, negociações e inquietações;

(b) Crítica: relações provenientes de experiências vividas e manifestações artísticas e culturais. Aqui também se articulam ações e pensamentos propositivos.

(c) Estesia: articula a sensibilidade e a percepção em relação ao espaço, ao som, à emoção sensível ao próprio corpo na sua totalidade.

(d) Expressão: exteriorizar e manifestar as criações individuais e coletivas.

(e) Fruição: sensibilizar, deleitar nas participações artísticas e culturais.

(f) Reflexão: Construção de argumentos, ponderações sobre fruições, experiências e criação artística e cultural.

Comentários: Em comparativo, os processos de criação, fruição e crítica, listados pela base se relacionam respectivamente com os processos de produção, fruição e reflexão listados nos PCN’s. Os outros três pontos que a BNCC extrapola em comparação aos PCN’s podem ser entendidos como uma tentativa de tornar mais densa a construção do conhecimento relacionado à Arte. Tanto nos PCNs quanto na BNCC a proposta é articular na prática os eixos ou dimensões, porém mantendo-os em seus próprios espaços.

Para apresentar as relações entre Arte e Cultura e as suas linguagens e a pretensão de unir o contexto cultural e social propomos as discussões na tabela a seguir:

Tabela 3 – Os aspectos da Arte e cultura e a suas modalidades

PCN’s

BNCC

Arte e cultura

(a) Relaciona o processo de criação artística com o mundo social e cultural.

(b) Da ênfase nos temas transversais como a “pluralidade cultural”, busca as diferentes maneiras de estudar as manifestações artísticas e sua diversidade, pensada tanto sincrônica quanto diacronicamente.

(a) Processos reflexivos acerca da diversidade cultural.

(b) Propõe uma atenção significativa ao trabalho contextualizado e situado, possibilitando refletir sobre os contextos históricos e culturais que fundamentaram a produção artística.

Comentários: Ao comparar a BNCC e o PCN’s percebe-se que a reflexão sobre a diversidade cultural está presente em ambos os documentos, com a diferença nas orientações dadas pelo PCN’s no que se refere à relação desse campo com os temas transversais.

Modalidades ou linguagens da Arte

Proposta geral e específica nas modalidades: Artes Visuais, Dança, Teatro e Música.

Proposta das diferentes linguagens da Arte em duas unidades temáticas:

a) Artes visuais, Dança, Música e Teatro.

b) Artes Integradas

Comentários: A formação continuada do professor é necessária para os trabalhos com as diversas linguagens que são exigidas nos dois documentos. A BNCC traz a sensibilidade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades. Os PCN’s recomendam atividades expressivas e espontâneas para que os alunos conheçam cada vez mais a área da música, das artes plásticas, das artes cênicas e da dança.

Apresentamos a seguir a tabela que visualiza a forma como os PCN’s e a BNCC orientam o processo de ensino e aprendizagem e a avaliação.

Tabela 4 – Aspectos do ensino e aprendizagem e as concepções de avaliação

PCN’S

BNCC

Ensino e aprendizagem

Separa em três blocos de conteúdo. O primeiro bloco (expressão e comunicação nas artes visuais) é pensado a partir da ideia do fazer, o segundo (artes visuais como objeto de apreciação significativa) é a partir da ideia de ler, ou seja, do apreciar e refletir sobre as produções, e o terceiro (artes visuais como produto cultural histórico) é pensado a partir da obra em relação ao contexto histórico e cultural que é produzida e circula.

Nomeia-se “dimensão do conhecimento” cada uma das quatro linguagens (música, dança, artes visuais e teatro) que compõem o currículo. A última unidade temática nomeada como “artes integradas” é pensada a partir das possíveis articulações entre essas linguagens. O documento aponta os possíveis agrupamentos com unidades temáticas como possibilidades, mas não os compreende como modelos obrigatórios.

Comentários: Acreditamos ser fundamental a reflexão acerca de como os documentos apresentam estes aspectos por estar diretamente ligado com a relação teórico-prática da atuação de professores em sala de aula.

Avaliação

Propõem processos avaliativos específicos para cada modalidade artística.

Tem o princípio de compreender o processo do aluno dentro de suas produções e não necessariamente sua atuação, atentando às habilidades específicas de cada um.

Não propõe de forma tão explícita processos avaliativos.

Comentários: É importante frisar que, por mais que não haja explicitamente no texto da BNCC propostas para processos avaliativos, as competências e habilidades apresentadas por este documento extrapolam, em certa medida, o que se propõe os PCN’s. Ao articular a Arte com questões culturais e sociais, ser capaz de circular nas diversas expressões culturais, respeitar a multiplicidade e dialogar com as mais diversas formas de expressão, já possibilita uma avaliação.

4.           CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa científica abordou a questão de como o ensino da Arte se insere na BNCC (BRASIL, 2017) e nos PCN’s (BRASIL, 1997) dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Neste trabalho buscou-se elencar tópicos relevantes como a importância e valorização do ensino de Arte no contexto escolar, como componente curricular essencial para o desenvolvimento artístico e cultural do aluno. Além disso, foi necessário conceituar as tendências e concepções que permearam o seu ensino, enfatizando o compromisso e a garantia de qualidade a um conjunto de conhecimentos tidos como necessários à educação.

O objetivo geral deste trabalho foi analisar as propostas de ensino de Arte refletidas na BNCC e nos PCN’s, que conduzem os professores mediante as orientações curriculares em sua prática.

O ensino de Arte passou por diversas mudanças. Os professores, por exemplo, alteraram a sua forma de condução dos conteúdos considerando as orientações curriculares de cada documento e a sua formação.

A BNCC e os PCN’s são documentos que proporcionaram os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento, cada uma abordando diferentes objetivos curriculares. Ambos visam proporcionar aos estudantes uma educação de qualidade e relevância para a formação do cidadão.

Os PCN’s trouxeram a Arte como disciplina favorecendo uma estreita relação com as demais disciplinas do currículo, com objetivos e métodos definidos para alcançar a aprendizagem, definindo a sua importância para a elaboração do currículo escolar e para o trabalho docente. O documento orienta um trabalho no qual os alunos sejam capazes de dominar com propriedade as linguagens da Arte como a música, dança e teatro, realizando projetos pessoais ou em grupos com autonomia, além de procurar desenvolver o pensamento artístico e a percepção estética dos alunos em relação às suas produções, ao próximo, à natureza e às diferentes culturas.

Arte na BNCC é apresentada ligada aos componentes curriculares de Língua Portuguesa, Educação Física e Língua Inglesa que conjuntamente compõe a área do conhecimento “Linguagens”. O documento propõe que os alunos sejam estimulados a criar suas próprias formas a partir de seus sentimentos, suas ideias e suas percepções sobre o mundo, exteriorizando e refletindo sobre as formas artísticas.

O documento também orienta que se englobem as Artes visuais, a dança, a música e o teatro articulando os saberes produzidos e os fenômenos artísticos. Essas linguagens são consideradas dentro de suas especificidades, mas compreende-se também que essas experiências acontecem de diversas formas. Assim, é de extrema importância que a Arte mantenha uma relação com as outras linguagens, possibilitando ao sujeito a experiência e vivência artística nas multiculturalidades.

Observou-se neste trabalho, nas tabelas comparativas entre a BNCC e os PCN’s, que ao longo dos anos esses documentos vêm sendo usados como norteadores para o ensino dentro da sala de aula, ajudando e possibilitando a construir um ensino de qualidade.

As mudanças ocorridas no decorrer da história possibilitaram a valorização do ensino de Arte, proporcionando ao professor e ao aluno a valorização da diversidade cultural, considerando o processo de aprendizagem e não só o resultado final.

O presente trabalho serve como base e como direcionador para os professores e gestores dos anos iniciais do Ensino Fundamental no ensino de Arte, principalmente na fase da elaboração do projeto político pedagógico, na qual lhes é exigido a participação direta, possibilitando embasamento teórico pelo conhecimento da história e das exigências da BNCC e dos PCN's.

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Quais são os objetivos da arte no ensino fundamental?

Objetivos do ensino de Arte A disciplina Arte deve garantir que os alunos vivenciem e compreendam aspectos técnicos, criativos e simbólicos em música, artes visuais, teatro, dança e suas interconexões.

Qual a importância da arte nos anos iniciais do ensino fundamental?

A arte valoriza a organização do mundo da criança, assim como o relacionamento com o outro e com o seu meio. Estimular o ensino da arte nesta perspectiva tornará a escola um espaço vivo, contribuindo assim para o desenvolvimento pleno de seus educandos.

Qual o principal objetivo do ensino da arte na educação infantil?

A Arte na Educação Infantil é uma importante ferramenta da educação, pois estimula o desenvolvimento das crianças. Afinal, por meio da arte, é possível aprender, adquirir novas habilidades e enxergar diferentes perspectivas e sensações a respeito de um mesmo ponto, por exemplo.

Qual a importância da arte no processo de ensino e aprendizagem?

Qual é o papel da arte na educação. O estudo artístico auxilia o aluno a desenvolver e a trabalhar várias características, como o foco e a concentração, a disciplina, a imaginação, o senso crítico, a criatividade, a resiliência, além de aumentar o repertório cultural e histórico do estudante.