Quais as principais linguagens artísticas que se utilizam de tecnologia?

Quais as principais linguagens artísticas que se utilizam de tecnologia?

Foi-se o tempo em que a aula de Arte só tinha ênfase nas artes plásticas e se resumia a desenhos e pinturas. Hoje, o bom currículo da disciplina deve contemplar as quatro linguagens: artes visuais, música, teatro e dança - o que nem sempre é cumprido em virtude da formação dos professores, muitos deles especialistas em apenas uma das áreas. Assim, se o educador estudou Música, por exemplo, essa linguagem acaba enfatizada no currículo. Para os especialistas, o ideal é trabalhar as quatro de forma integrada.

O fazer pedagógico na disciplina é baseado na chamada metodologia ou proposta triangular, defendida por Ana Mae Barbosa, da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (USP), que contempla três eixos norteadores: reflexão, apreciação e produção. Priscila de Souza, professora da EE Gabriela Mistral, em São Paulo, trabalha dentro dessa abordagem. "Por meio desse tripé, o ser humano vivencia a arte em todas as suas dimensões, independentemente da linguagem escolhida."

No Ensino Fundamental, cada conteúdo deve ser ensinado levando em consideração os três eixos. A aprendizagem de temas como o Modernismo, o Barroco e o Expressionismo requer do estudante reconstruir esses conceitos em interações sucessivas, além de pesquisar, escutar narrativas, participar da fruição de obras, executar trechos de peças musicais compostas nesses períodos e ler e redigir textos, entre outras atividades.

 

Ao propor projetos, é preciso prever a apreciação e a pesquisa


Mirian Celeste Martins, docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretora do Rizoma Cultural, ambos em São Paulo, acrescenta que nessa fase da escolarização o ideal é trabalhar com base em projetos e não de forma estanque. "Cada um deve focalizar um conceito, que pode ser desenvolvido numa determinada linguagem", afirma. É interessante que o trabalho provoque o que a especialista chama de "nutrição estética", ou seja, que o mesmo conceito possa ser ampliado em conexões com outros conceitos, obras e linguagens.

Um exemplo citado por Mirian é o da materialidade. Para abordá-lo, o professor levanta o que os alunos sabem sobre materiais, ferramentas e suportes utilizados em arte. Feito isso, é possível pensar em ações expressivas, de apreciação e de pesquisa, que podem ser implementadas para ampliar o contato com uma ou mais linguagens artísticas.

Mesmo admitindo que as modalidades possam ser trabalhadas em séries diferentes de um ciclo - se artes visuais e teatro forem eleitos nas primeiras, por exemplo, e dança e música nas demais -, aquelas não contempladas em determinada fase podem ser abordadas durante a apreciação de espetáculos ou por meio da apreciação de produções em vídeos ou pôsteres, por exemplo.

Assim como em outras disciplinas, recomenda-se também que a aprendizagem seja significativa. Por isso, Rosa Iavelberg, diretora do Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, lembra a importância de conhecer a realidade do aluno. "Do que um adolescente gosta? O que interessa a ele?", questiona.

Desse modo, nas artes visuais, por exemplo, o grafite pode ser a porta de entrada para alguns conceitos da área, pois é algo bem próximo do interesse dos alunos nessa idade - assim como a integração de mídias. Rosa acrescenta que nessa faixa etária a arte contemporânea interessa mais aos alunos e, assim, com base nela, fica mais fácil trabalhar outros períodos históricos.

O importante nessa fase da vida é o aluno "fazer pensando" e "pensar fazendo". Ou seja, não apenas priorizar a prática e deixar que a aula de Arte seja "lazer", mas refletir sobre ela, das mais variadas formas. Veja a seguir quatro situações didáticas essenciais para o ensino de Arte, do 6º ao 9º ano.

1 Produção inspirada em mestres consagrados
O que é Realização de atividades com base em obras de e conteúdos de artistas consagrados.
Quando propor Como parte de sequências e projetos didáticos.
O que o aluno aprende A reconhecer conteúdos, estilos e conceitos de Arte, ganhando instrumentos para o próprio fazer artístico.
Como propor É preciso buscar as principais referências no conteúdo a ser desenvolvido em sala de aula. A possibilidade de que os estudantes já tenham tido contato com os temas é maior e, consequentemente, o interesse deles também. A ideia de uma parceria com grandes artistas consagrados faz com que os alunos aprendam novos estilos, traçados etc. É importante variar conceitos, movimentos artísticos e técnicas empregadas. Quadros famosos, como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci (1452-1519), e O Grito, de Edvard Munch (1863-1944), podem ser utilizados num exercício em que são apresentados sem o rosto do personagem retratado para que os estudantes completem a obra de um jeito próprio. Em teatro, os jovens podem ser instigados a reproduzir trechos de peças famosas, como Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), com linguagem moderna e mais próxima do universo deles. Em música, reescrever a letra de canções consagradas é um exercício precioso para desenvolver noções de ritmo e fraseado.

2 Percurso de criação pessoal
O que é A hora em que, apoiado nos mais diversos suportes das linguagens, o aluno pode criar uma obra.
Quando propor Semanalmente.
O que o aluno aprende A fazer um trabalho de autoria, usando diferentes recursos artísticos para expor suas ideias.
Como propor O estudante deve ser apresentado a diferentes meios, suportes e ferramentas e estimulado a usá-los e descobrir combinações entre eles. O ideal é que ele ganhe consciência das escolhas feitas e dos resultados alcançados.

3 Interpretação de sons e imagens
O que é Em artes visuais, leitura de reproduções e de originais. Em dança, fotos e vídeos de apresentações. Em música, audições guiadas de diferentes estilos - ópera, canto orfeônico, concerto etc. Em teatro, apreciação de peças ao vivo e/ou exibidas em vídeo. Os estudantes devem perceber questões ligadas a luz, som, cenário e figurino como produtores de sinais enriquecedores da linguagem teatral. A fruição da obra artística é um elemento formador da capacidade de produzir, criticar e desfrutar de arte - um momento precioso para que os jovens articulem sentimentos e pensamentos.
Quando propor Como parte inicial de qualquer projeto ou sequência didática.
O que o aluno aprende A ampliar o repertório para utilizar nas produções artísticas de sua autoria, expondo ideias e percepções próprias.
Como propor Levando para a sala reproduções, promovendo visitas virtuais a museus e exposições na internet e levando a turma a exposições, peças teatrais e espetáculos musicais e de dança.

4 Fala, leitura e escrita sobre Arte
O que é Expressão de ideias diante de obras e do contato com artistas - ao vivo ou por meio de vídeos e biografias.
Quando propor Durante o ano todo, depois do contato com alguma obra de qualquer linguagem.
O que o aluno aprende A expressar ideias por escrito e oralmente, incorporando novos conceitos, e a desenvolver o senso crítico - fundamental para avaliar o que está produzindo.
Como propor É preciso se valer de textos de diversos gêneros, incluindo críticas, biografias e entrevistas com artistas, bem como a encomenda de críticas em que os jovens tomem posição sobre aquilo que viram, leram e ouviram. A promoção de debates e seminários deve explorar efeitos, intenções e interpretações de obras e ou de seus autores. É importante incentivar o estudante a utilizar as vivências para definir, para si, os conceitos relacionados à arte - por exemplo, os diferentes estilos de dança, como o balé clássico e a dança contemporânea, com base em experiências corporais com essas técnicas ou de vídeos sobre o tema. Essa definição, independentemente da linguagem, faz com que os jovens passem a utilizar com mais segurança o vocabulário e os termos específicos da área.

Expectativas de aprendizagem

Ao fim do 9º ano, os estudantes devem ser capazes de:

  • Perceber as pequenas variações dos elementos da linguagem visual, como tons e semitons das cores, diferenças de textura e forma etc.
  • Valorizar o(s) autor(es) dos objetos culturais, intérpretes das músicas e canções apreciadas, conhecendo sua biografia e suas principais obras.
  • Produzir objetos culturais visuais, individualmente e em grupo, utilizando suportes, materiais e técnicas variados.
  • Reconhecer diferentes ritmos musicais.
  • Apreciar peças teatrais da comunidade e pertencentes ao contexto jovem.
  • Criar e construir cenas que contenham enredo/história/conflito dramático, personagens/diálogos, local e ação dramática definidos.

Fonte Orientações Curriculares, da prefeitura do município de São Paulo

Proposta de plano plurianual

6º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Desenho em papel com diferentes instrumentos: riscazdores (carvão, pastéis secos, pastéis de óleo, lápis de cor e grafite) e processos líquidos (aguarela e guache).

Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Animações (técnica stopmotion) com uso de câmeras de telefone celular: bidimensionais (com recortes) e tridimensionais (com objetos), integrando trilha musical.


6º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Técnica vocal: noções básicas sobre a produção de som, postura, respiração, afinação e classificação vocal.

Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Pantomima, a arte de narrar com o corpo, com atividades de mímica, improvisação e interação com diferentes objetos, sem o uso da voz. As apresentações individuais podem ser feitas num festival para a comunidade.


7º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Relações entre o corpo e o espaço: dança. Exibição de vídeos para a análise de diferentes estilos (balé, dança contemporânea e street dance) e elementos.

Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Dança. Reprodução de uma coreografia coletiva consagrada (videoclipe ou filme musical) para ser apresentada para a comunidade escolar.


7º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • Fotografia: enquadramento, escala de cinzas, escolha de temas. Apreciação da obra de fotógrafos famosos, como Marc Ferrez (1843-1923), Henri Cartier-Bresson (1908-2004), Cristiano Mascaro, Sebastião Salgado e Walker Evans (1903-1975).

Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Fotografia. Produção de uma fotonovela em que sejam trabalhados conceitos de fotografia, expressão corporal, enredo, ação e conflito dramáticos. Organizados em grupos, os alunos devem escrever um roteiro com base em pesquisas e na apreciação de fotonovelas de diferentes épocas.


8º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Arte e mídia: interferência na mídia impressa, colagem na história da arte e as relações entre arte e publicidade.

Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Esculutura: do bi ao tridimensional. Apreciação de produções de artistas como Amilcar de Castro (1920-2002), Lygia Clarck (1920-1988) e Franz Weissmann (1911-2005) e produção de obras para a montagem de uma exposição.


8º ano - 2º semestre
Sequências didáticas

  • O registro visual: pintura e fotografia. Análise de artistas viajantes, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e Albert Eckhout (1610-1666), saídas fotográficas e atividades de pintura de paisagens

Atividades permanentes

  • Mostra fotográfica. A cada dois meses, mudar o tema da exposição, explorando novas temáticas e locais.
  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.


9º ano - 1º semestre
Sequências didáticas

  • Música: ritmos brasileiros. Exibição de vídeos para a análise de diferentes ritmos nacionais (samba, forró, xaxado, xote e bossa nova).

Atividades permanentes

  • Mostra fotográfica. A cada dois meses, mudar o tema da exposição, explorando novas temáticas e locais
  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.


9º ano - 2º semestre
Atividades permanentes

  • Visitas mensais a museus, igrejas, galerias e patrimônios artísticos.

Projetos didáticos

  • Arte e reprodutibilidade. Produção de um grande estêncil nos muros internos e/ou externos da escola após trabalhar conceitos de circulação de arte e reprodutibilidade, apropriação e street art.

Quer saber mais?

Contatos

  • EE Gabriela Mistral, R. Major Baracca, 587, 02232-000, São Paulo, SP, tel. (11) 2240-1033
  • Marisa Szpigel
  • Mirian Celeste Martins
  • Priscila de Souza
  • Rosa Iavelberg


Bibliografia

  • Didática de Ensino de Arte, Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque e Terezinha Telles Guerra, 200 págs., Ed. FTD, tel. (11) 3598-6200, 80,30 reais

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Formação continuada

Quais são as linguagens artísticas que possamos utilizar a tecnologia?

Essa sintonia entre a técnica e os materiais ou os recursos tecnológicos utilizados está presente em qualquer uma das linguagens artísticas, seja nas artes visuais, na dança, na música, no teatro, no cinema, na arquitetura, na moda, na literatura.

Quais linguagens fazem parte da arte e tecnologia contemporânea?

Características da Arte Contemporânea Houve a ampliação da abrangência de linguagens artísticas com a inclusão de dança, música, moda, fotografia, pintura, teatro, escultura, literatura, performances, happenings, instalações, videoarte, entre outras.

Quais são as 4 principais linguagem artísticas?

A Arte abrange ao menos quatro linguagens bem definidas: artes visuais, mú- sica, teatro e dança. Há ainda outras linguagens, como o cinema e a performance, que adentram o currículo de Arte, mas são as quatro anteriores que o estruturam.

Qual é uma das mais recentes expressões artísticas que utilizam a tecnologia?

Utilizando-se de um novo recurso tecnológico deve-se estudar a melhor forma de apropriação técnica deste recurso. Em relação ao conteúdo, foram escolhidos três movimentos artísticos do séc. XX: o Futurismo, Dada e Pop Arte, como exemplos de diferentes posturas dos artistas face a tecnologia.