O que pode estar causando o aumento da emissão de dióxido de carbono na atmosfera terrestre ao longo dos anos?

O aquecimento global é um fenômeno de longo prazo causado pela emissões de gases que intensificam o efeito estufa, oriundos de uma série de ações humanas, e que tem levado ao aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da Terra.

De acordo com a NASA, a agência espacial norte-americana, o ano de 2020 empatou com 2016 como o mais quente na história. Segundo cientistas do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA (GISS, em inglês), a temperatura média global em 2020 foi 1,02ºC maior em comparação com o período entre 1951 e 1980. Por outro lado, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, em inglês), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, cravou que 2020 foi o segundo ano mais quente da história. As instituições têm métodos diferentes para a análise dos dados brutos sobre temperatura, o que causa a diferença nos resultados.

Os dados referentes a 2020 reforçam a tendência de aquecimento dos últimos 15 anos. Ao longo desse período, foram registrados os dez anos mais quentes da história. Ainda, os últimos sete anos consecutivos (2014-2020) foram os mais quentes desde que se começou a medição da temperatura média global. A tendência de aumento de temperatura média do planeta no longo prazo é o que configura o aquecimento global.

Para chegar à conclusão de que há variação na temperatura, positiva ou negativa, cientistas consideram a comparação com o período pré-industrial, fase que antecedeu a utilização de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, para a geração de energia e o desenvolvimento de maquinários. Desde meados do século 20, os cientistas coletam dos sobre fenômenos do tempo, como temperatura, precipitação e tempestades, e mudanças nas correntes oceânicas e na composição química da atmosfera.

Boom das emissões de gases do efeito estufa

Com a Revolução Industrial, petróleo e carvão tornaram-se fonte de geração de energia para a expansão das atividades econômicas, o que levou à maior emissão de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Essas substâncias, que também são encontradas naturalmente na atmosfera, assim como vapor d'água (H2O), funcionam como um cortina, impedindo que a energia do sol absorvida pela Terra durante o dia seja emitida de volta para o espaço.

Essa dinâmica natural acontece, principalmente, na troposfera, a camada atmosférica mais próxima da superfície terrestre, localizada entre 10 quilômetros a 12 quilômetros de altitude. Graças ao efeito estufa, a temperatura média da superfície terrestre mantém-se em cerca de 15°C. Porém, quando os gases de efeito estufa se encontram em excesso na atmosfera, mais calor é aprisionado.

O aquecimento global resulta, assim, do desequilíbrio entre a emissão de gases de efeito estufa e a capacidade que o planeta tem de absorver essas substâncias. Quando há um descompasso entre a quantidade de gases emitida e a absorção de carbono pelo planeta, a maior concentração de gases de efeito estufa na atmosfera leva ao aumento da temperatura média global e, por sua vez, ao aquecimento global. A presença dos gases na atmosfera pode durar por décadas.

Depois da industrialização da sociedade, fábricas e empresas em geral passaram a emitir gases de efeito estufa de forma massiva e desregrada. Além disso, a demanda intensa por recursos naturais para atender à população crescente e os processos produtivos sobrecarregaram o planeta. Com base nos dados sobre o período pré-industrial, estima-se que as atividades humanas foram responsáveis por aumentar a temperatura média global entre 0,8ºC e 1,2ºC, conclusão respaldada pelo Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). O IPCC é o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que avalia o "estado da arte" das pesquisas científicas sobre mudanças climáticas, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como propõe opções de adaptação e mitigação.

Em qualquer cenário, um fato é certo: as mudanças climáticas, consequentes do aquecimento global, já causam efeitos dramáticos em diversos lugares no mundo. Secas, enchentes, incêndios florestais, furacões destrutivos estão em ascensão pelo globo e deixam um rastro negativo de perdas humanas e econômicas. Em 2020, o Fórum Econômico Mundial apontou pela primeira vez apontou as mudanças climáticas como o principal risco global no longo prazo e a degradação ambiental aparece como uma ameaça existencial para a humanidade.

Frear o aquecimento global é o grande desafio do nosso tempo. Depois da assinatura do Acordo de Paris, em 2015, tratado internacional para combater o aquecimento global com a adesão de 195 nações, o objetivo é limitar o aumento da temperatura média a 1,5ºC até 2100, em relação à época pré-industrial, e evitar a todo custo que ultrapasse 2ºC. Esse cálculo é feito com base em modelos climáticos que analisam quais seriam os efeitos das mudanças climáticas na Terra caso as emissões de gases efeito estufa continuem no mesmo ritmo ou reduzam.

Este vídeo da NASA mostra o aquecimento da Terra de 1880 a 2020. As cores ondulantes representam o aumento médio de temperatura no período, que tem se intensificado nos últimos anos:

Principais causas do aquecimento global

Dentro da comunidade científica, a maioria dos pesquisadores climáticos – cerca de 97% deles – concorda que a causa principal para o aquecimento global que a Terra atravessa é uma só: as ações antropogênicas, aquelas derivadas de atividades humanas. Desde 1760, ano que marcou o início da Revolução Industrial, os modos de produção e de vida das pessoas passaram a depender sobremaneira de combustíveis fósseis, a exemplo de petróleo e carvão, como fontes de energia para as atividades econômicas.

Como vimos, a queima desses materiais leva à emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) na atmosfera. Por sua vez, tais substâncias ganharam esse nome porque elas têm a característica de aprisionar calor na atmosfera do planeta, simulando o efeito de uma estufa literal. No cultivo de plantas, elas são usadas para manter a temperatura necessária para o crescimento de cada espécie. Quanto maior a emissão de gases de efeito estufa, maior será a retenção de calor, o que leva ao aumento da temperatura média global.

Por mais que o clima da Terra tenha sofrido alterações nos últimos 4 bilhões de anos, com períodos de aquecimento e de glaciação, a velocidade do fenômeno atual é uma evidência da responsabilidade da ação humana. De acordo com um estudo publicado em 2019 na Nature, um dos principais periódicos científicos do mundo, a Terra está aquecendo de forma mais rápida e por um período de tempo mais longo do que em qualquer outro momento dos últimos 2.000 anos, sinais de um aquecimento global antropogênico sem precedentes.

Além do desenvolvimento das atividades econômicas, entre 1800 e 2015, a população global disparou de 910 milhões de pessoas para mais de 7.3 bilhões. A expectativa é que chegaremos a 9.7 bilhões de pessoas em 2050, segundo a ONU. O aumento explosivo da população mundial e o modelo insustentável de produção e consumo pressionam água, terra, minerais e outros recursos naturais e matérias-primas que são necessários para a produção de alimentos, para geração de energia que ilumina casas, movimenta fábricas e transportes, bens de consumo e outras demandas das sociedades.

Desmatamento e práticas agrícolas insustentáveis

Além das emissões causadas por indústrias e fábricas, as mudanças no uso do solo também contribuem para liberação de gases efeito estufa. O desmatamento é uma importante fonte de emissões. Durante a fotossíntese, plantas e árvores absorvem dióxido de carbono e liberam oxigênio na atmosfera, o que faz parte do mecanismo de regulação natural do clima do planeta. Quando a vegetação é derrubada, o carbono é liberado, o que aumenta as emissões de CO2 e contribui com o aquecimento global – cerca de um quinto das emissões do planeta têm origem no desmatamento e na degradação de florestas.

Outra área que contribui com o aumento da temperatura do planeta é a agropecuária praticada de forma insustentável. Além de estimular a derrubada de florestas para a abertura de novas áreas agricultáveis, vacas e bois produzem metano durante a digestão: arrotos e fezes dos animais são fontes do gás, que aprisiona até 30 vezes mais calor na atmosfera do que o CO2. Então embora haja mais CO2 na atmosfera do que o metano, isoladamente, o metano é um gás de efeito estufa mais destrutivo.

Consequências do aquecimento global

Desde o período pré-industrial, a temperatura média global aumentou cerca de 1ºC. Pode parecer irrelevante, mas não é. Ao contrário da percepção que se tem com a variação da temperatura no dia a dia, quando um grau a mais ou a menos faz pouquíssima diferença, a alteração no clima do planeta pode ser dramática para as espécies da biodiversidade e para os ecossistemas.

De acordo com um relatório especial do IPCC sobre o aquecimento global, mesmo no cenário mais otimista, de aumento de 1,5ºC até o final deste século , cerca de 14% da população do planeta ficará exposta a ondas de calor severas ao menos uma vez a cada cinco anos. No cenário de aumento de 2ºC, o índice da população vulnerável ao calor extremo aumentará para 37%. Em 2019, uma onda de calor intensa que atingiu a França matou cerca de 1.500 pessoas, sendo que metade delas tinha mais de 75 anos. As temperaturas chegaram a 46ºC, um recorde no país. Dados mostraram o aumento de 9,1% de óbitos no verão em comparação com a média nacional.

Com um aumento de 1,5ºC, as regiões localizadas nos trópicos terão dias mais quentes com até 3ºC a mais – no cenário de aumento de 2ºC, a temperatura aumentará em 4ºC. No caso de um aquecimento superior a 1,5ºC, o dobro de megalópoles que hoje sentem efeitos de estresse térmico estará exposto ao risco, o que deixará vulneráveis cerca de 350 milhões de pessoas até 2050. Temperaturas mais altas levam a eventos extremos diversos, como tempestades, enchentes e secas. As mudanças na atmosfera alteram o funcionamento de ecossistemas e da biodiversidade de plantas, animais e outras formas de vida.

Espécies se adaptaram ao longo de milênios para sobreviver. A velocidade com que o clima está mudando, porém, ameaçam sua existência. No cenário de aumento de 1,5ºC, cerca de 6% dos insetos, 8% das plantas e 4% dos vertebrados vão ter suas abrangências geográficas determinadas pelo clima reduzidas a mais da metade. Com um aumento de 2ºC na temperatura média global, os índices aumentam para 18%, 16% e 8%, respectivamente. Entre os inseto em risco estão as abelhas, polinizadores essenciais para manter a produtividade de plantações, incluindo a agricultura para a produção de alimentos para pessoas.

Outra ameaça grave associada ao aquecimento global é o aumento do nível do mar, provocado tanto pela expansão térmica da água devido ao aquecimento dos oceanos, quanto pelo derretimento de geleiras. De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, em inglês), órgão ligado ao governo dos EUA, o nível do mar já aumentou entre 21 a 24 centímetros desde 1880. Detalhe: em média, ao menos um terço dessa alta aconteceu nos últimos 25 anos. Em algumas regiões, o nível do mar aumentou até 20 centímetros desde o início das medições por satélite, em 1993.

As implicações do aquecimento global para a vida das pessoas

A vida humana depende dos recursos naturais: desde a alimentação até a extração de minérios para a produção de computadores e smartphones, que precisam de fontes de energia para permanecerem conectados. Com o desequilíbrio de mecanismos aparentemente simples para o dia a dia, como o ciclo de chuvas para a agropecuária, todos os setores da sociedade terão que se adaptar. Em casos extremos, populações inteiras serão forçadas a migrar em busca de lugares com maior disponibilidade de água e de terras produtivas. Com o aumento do nível do mar, a erosão de cidades costeiras forçará populações litorâneas a se moverem para outros lugares. Nações insulares correm risco de desaparecer por completo, caso o aquecimento global continue no mesmo ritmo.

Os efeitos do aquecimento global também são percebidos na agricultura por causa de períodos mais longos de estiagem, com algumas regiões recebendo menor volume de chuva do que o previsto, e outros eventos extremos mais frequentes, como chuvas e frios mais intensos, por exemplo. Além disso, há consequências diretas para a saúde humana. Gases de efeito estufa podem levar à incidência de doenças respiratórias. A poluição do ar é responsável por 7 milhões de mortes por ano, de acordo com sociedades médicas e a Organização Mundial da Saúde. Gases oriundos da combustão envolvendo veículos automotores, processos industriais, usinas térmicas que utilizam combustíveis fósseis pesam nessa conta.

O aumento da temperatura do planeta resulta em mortes causadas por ondas de calor extremas, como a que atingiu a França, em 2019, e matou cerca de 1.500 pessoas, sendo que metade delas tinha mais de 75 anos. As temperaturas chegaram a 46ºC, um recorde no país. Dados mostraram o aumento de 9,1% de óbitos no verão em comparação com a média nacional. De acordo com um estudo publicado no periódico Proceedings of the Nacional Academy of Sciences (PNAS), temperaturas mais altas também têm relação com o aumento de 2% em questões de saúde mental, como estresse, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.

A depender da cidade em que se vive, o aumento da temperatura vai interferir inclusive nos empregos. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mudanças climáticas vão resultar em perda de empregos por causa de eventos extremos, danos à infraestrutura pública e privada, impactos nas condições de trabalho e segurança ocupacional (com interferência em condições de saúde e produtividade no trabalho), e migração forçada devido à diminuição de renda.

Em um planeta mais quente, atividades realizadas ao ar livre, como a construção civil e a agropecuária, vão ter que se adaptar às transformações do clima. Além disso, aqueles que ficam dentro de escritórios vão depender de ar-condicionado para manter o ambiente confortável. Da mesma forma, tempestades e enchentes afetam a infraestrutura urbana, provocam o caos nos transportes e não raro ceifam vidas humanas. Já estiagens severas comprometem o abastecimento de água nas cidades e inviabilizam negócios.

Como se vê, as implicações práticas das mudanças climáticas são vastas e numerosas e perpassam diferentes aspectos da vida em sociedade. Ao mesmo tempo, a vida humana depende do equilíbrio dos ecossistemas planetários e sua biodiversidade, que também sofrem os impactos das mudanças climáticas. Os impactos nocivos e crescentes sobre geleiras, oceanos, natureza, economias e condições de vida humana afetam as gerações presentes e futuras. Daí a urgência de agirmos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater a crise do clima.