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Indígenas protestam na estrada de Belo Monte (PA) Foto: Alison Albuquerque/ Blog do Sidalécio/Fotos Públicas (10/02/15) RENAN ALBUQUERQUE Tanto saberes locais quanto científicos em sociedades amazônicas, tendem a ser atingidos por impactos referentes a grandes projetos de investimentos (GPIs), sendo o Estado o maior financiador dessa fragmentação territorial e desfiliação sociocultural, com efeitos opostos à sustentação do bioma, a exemplo do que se percebeu a partir de dotações orçamentárias históricas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A esse respeito, tome-se o ocorrido em novembro de 2012, quando foi aprovado financiamento de R$ 22,5 bilhões para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu/PA. A obra é de alto impacto socioambiental. O valor atinge 80% do custo da obra, calculado em R$ 28,9 bilhões. É o maior empréstimo de todos os tempos feito pelo BNDES para um único projeto amazônico, que conta ainda com apoio privado. No contexto do Estado do Amazonas, Banco do Estado do Amazonas (BEA), Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), Cigás e Porto de Manaus passaram por mudanças relacionadas à privatização. Também feiras, mercados, parques, praças de alimentação, cemitérios e praias têm sido total ou parcialmente privatizados. A concessão da água em Manaus à empresa Águas do Brasil, do Grupo Solvi, dono da Águas do Amazonas, que administra o abastecimento na capital, configura-se o mais novo negócio do ramo, totalizado em R$ 3,4 bilhões. São fatos que indicam a existência de uma disposição governamental para o desenvolvimento do Amazonas, mas sem propostas sólidas de governança do Estado — e nada muito diferente acontece na Amazônia de forma global. A perspectiva aponta que o planejamento efetivado para promover a evolução do bioma não parece ser adequado, posto que importa modelos externos e torna miméticas as ações. Apesar disso, grande parte dos GPIs ganha força no Legislativo a partir de propostas do Poder Executivo, indicando que o Estado fortalece a si próprio e a seus interesses na medida da conveniência, granjeando apoio a partir de partidarismos margeados por divisões de cargos e apoios eleitorais. Em amplos sentidos, sintomas de GPIs constituem injustiças socioambientais geradas a partir de implantação das obras, as quais acirram conflitos devido à competição de classes, evidenciada a partir da intervenção em sociedades amazônicas. A crescente disseminação de projetos de aproveitamento do potencial mineral, madeireiro e hídrico da natureza é exemplo regional de implicações que a configuração atual do capitalismo impõe a territórios ancestrais. No embate, saberes locais e científicos são problematizados. E ao deixarem de ser inseridas dentro da esfera de ações realizadas no intuito de modificar a realidade amazônica, populações locais são penalizadas por serem tomadas enquanto detentoras de saber supostamente desqualificado. Elas não são convidadas a participar de modificações sociais de seu tempo e a elas é negado a integração na construção de novos territórios, via correlação entre saberes científicos, os quais, por sua vez, são valiosos e consistentes, mas não são tomados pelo governo como bases diretivas de construção de planos de desenvolvimento. * Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios waimiri-atroari, sateré-mawé, hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária. Amazônia Real A agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma organização sem fins lucrativos, criada por jornalistas mulheres em 20 de outubro de 2013, em Manaus, no Amazonas, Norte do Brasil. Sua missão é fazer jornalismo ético e investigativo, pautado nas questões da Amazônia e de seu povo. A linha editorial é voltada à defesa da democratização da informação, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos. ([email protected]) O que foram os grandes projetos para a Amazônia?Os grandes projetos na Amazônia foram programados obedecendo à uma política de desenvolvimento regional para aproveitamento do seu potencial energético, quer na forma de geração de energia hidrelétrica, ou de exploração madeireira das áreas inundáveis, assim como o poten- cial mineral através do Projeto Grande Carajás.
Quais foram os primeiros projetos a serem implantados na Amazônia?A exportação da borracha gera riquezas nunca antes vistas na região, o que permite construir as primeiras grandes obras, como o Teatro da Paz (Belém, 1878) e o Teatro Amazonas (Manaus, 1898). Estradas de ferro, como a Madeira-Mamoré, também são erguidas.
O que eram os grandes projetos?Os Grandes Projetos são empreendimentos econômicos de larga escala que visam à produção (geração de capital) por meio da exploração dos recursos naturais da Amazônia, bem como a organização e controle do território e, caracterizam- se, principalmente, pela grandiosidade das construções, da mobilização de capital e de ...
Quais os objetivos dos grandes projetos implantados na Amazônia?Resposta: A finalidade desses planos era intensificar a integração da Amazônia na economia do país e promover a ocupação territorial e a elevação do nível de segurança na área por meio do alargamento da fronteira econômica e, com isto, realizar a manutenção de altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
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