Em um parque de diversões existe um brinquedo que oferece premiação

Há 25 anos, Porto Alegre vira o endereço do Park Tupã nos meses de inverno. Atualmente, a equipe está localizada em um terreno na Avenida Praia de Belas, próximo ao shopping de mesmo nome. São cerca de 90 pessoas, incluindo os donos, administradores, funcionários, suas famílias e sete crianças. Eles são responsáveis por transportar, montar e fazer funcionar o parque de diversões, que tem 41 anos de história e, atualmente, conta com 21 brinquedos.

Cada família carrega sua residência móvel e se adapta aos locais onde vai passar uma temporada. Depois do período por aqui, a próxima parada será em Blumenau, Santa Catarina. Durante o verão, dividem-se entre Curitiba, no Paraná, e Florianópolis, a capital catarinense. Quando ocorre a Festa da Uva, em Caxias do Sul, também vão para lá.

Conheça a rotina das famílias que passam o ano viajando e, nas férias, visitam suas casas.

Em família

Quem chega ao parque encontra, na bilheteria, uma mulher de sorriso simpático e voz forte oferecendo ingressos e passaportes ao público e dando informações a quem precisa. É Andrea Pereira, 38 anos, 20 como funcionária do local.

Aos 18 anos, quando morava em Balneário Camboriú, Andrea foi visitar o parque, que passava uma temporada em sua cidade. Conheceu Arleno Pereira, um dos operadores dos brinquedos, hoje com 48 anos. Resultado? Ela e Arleno se casaram e Andrea passou a trabalhar no Tupã. Os dois têm um filho, João Pedro, 10 anos.

“Quando a gente é jovem, voa, né? Não vê problema em nada. Fui visitar e nunca mais saí do parque”, conta ela.

Mas Andrea também não é de reclamar: “Considero a vida boa. Trabalho, não falta. A dificuldade é a escola do meu filho, tem que trocar a toda hora. Mas ele também gosta de viver aqui. Nos dias de folga, sempre temos algo pra conhecer em cada cidade diferente: uma praia, um shopping...”.

Arleno, hoje, não trabalha mais nos brinquedos. Ele ajuda a administrar o parque e trabalha em setores como elétrica e manutenção. De Foz do Iguaçu, morou em diversas cidades. Quando passou por Sapucaia do Sul, se juntou ao parque.

“Aqui, todo mundo aprende a fazer um pouco de tudo. Os quatro anos em que viajei sozinho foram mais difíceis. Mas não existe trabalho fácil. Depois, com a Andrea, ficou melhor”, diz ele.

Nos 30 dias de férias que tiram por ano, Andrea e Arleno descansam em Maringá, no Paraná, onde possuem uma casa.

“Estamos investindo para ter um lugar para viver quando nos aposentarmos”, finaliza ele.

Temporariamente separados

O motor-home onde vivem Sidinei Mafra, 47 anos, e Verônica Mafra, 37, com os filhos, Felipe e Pedro, de 15 e três anos, respectivamente, anda mais vazio. É que Verônica está no Rio de Janeiro com o caçula, na casa de sua mãe, para tratar de um problema de saúde.

No parque, Sidinei sempre trabalhou diretamente nos brinquedos, desde 1994, quando entrou para a equipe. Atualmente, é responsável pelo Evolution – um dos brinquedos mais radicais do parque. Ele cuida da manutenção, ajuda a montar e desmontar, auxilia o público que chega para se divertir e garante: quem chega ao local só para brincar nem imagina o trabalho que dá para manter o parque funcionando.

“Qualquer barulho diferente que o brinquedo faz, eu já noto. Às vezes, até já sei onde está o problema. A segurança é prioridade”, diz ele.

O primogênito de Sidinei nasceu no parque. Aos 15 anos, ele dá uma ajuda para o pai, eventualmente. Para seu futuro, porém, pretende seguir outra profissão: caminhoneiro.

“Ele quer mudar, mas não quer deixar de pegar a estrada. Está no sangue”, diz Sidinei, orgulhoso.

"Trabalho que não acaba"

O casal de donos do parque, Índia e Hugo Mayer, de 61 e 67 anos, respectivamente, vem de famílias que conviveram com estradas durante a vida.

“Meu pai tinha um parque pequeno, eu passei a infância viajando. O Hugo era artista em um circo. Nos conhecemos quando eu tinha 15 anos. Com 16, casei com ele. Desde então, viajamos juntos. No início, dormíamos em barracas”, conta Índia.

A base da família está em um apartamento em Balneário Camboriú. Mas o casal não vai ao local há um ano.

“Saímos pouco do parque, pois nosso trabalho exige muita responsabilidade. Tem a preocupação com a segurança dos brinquedos, a conservação de tudo, o atendimento aos clientes...”, diz a dona.

Os clientes, aliás, são apontados por Hugo como a parte boa de administrar um parque: “Conhecemos muita gente, de muitos lugares. Eu gosto disso. O resto, é trabalho que não acaba mais”.

Apesar do cansaço, ele e a esposa não cogitam a possibilidade de mudar de vida ou de curtir a aposentadoria.

“Acho que, se fizermos isso, a gente morre. Quando vamos para a nosso apartamento, em poucos dias, já queremos voltar. No motor-home, na estrada, me sinto mais livre”, conta Índia.

Segunda e terceira gerações

No que depender de Jerusa Mayer, 42 anos, o futuro do Tupã está garantido. Filha de Índia e Hugo, ela cuida da parte financeira do parque.

“A rotina é pesada, mas vicia. As pessoas, geralmente, passeiam em um motor-home e moram em uma casa. A gente mora no motor-home e passeia em casa”, conta ela, que revela passar apenas duas ou três semanas por ano em Balneário Camboriú, na casa da família.

O trabalho começa por volta das 8h e só termina quando o parque fecha, após as 22h, de terça a domingo. Nas segundas-feiras, quando toda a equipe está de folga, Jerusa ainda precisa fazer um balanço da semana e enviar documentos para um sócio do parque, em Santa Catarina. Além da rotina pesada, outros fatores dificultam o trabalho.

“Quando era mais jovem, tudo era mais fácil. Até os problemas, como um caminhão que estragava na estrada, viravam uma festa. Hoje, já temos mais preocupações. Uma delas é a violência. Não podemos nem pensar em ter um veículo com problemas no caminho, pois existe o risco de assaltos”, diz ela.

Cinco escolas em um ano

A trajetória de Jerusa no parque começou aos 13 anos. Antes disso, morou com uma avó em Laguna, Santa Catarina. Mas ainda passou alguns anos estudando em escolas nas cidades onde o parque estava. Nesta época, segundo Jerusa, o Tupã era menor e viajava mais, pois não conseguia passar muito tempo em uma mesma cidade, como atualmente.

“Eu chegava a passar por 10, 12 escolas por ano. Não eram todas as instituições que recebiam bem as crianças que iam passar só um tempo. Às vezes, sofria preconceito”, conta.

O filho dela, José Vitor, oito anos, também acompanha a família. Mas a rotina dele é menos complicada.

“Ele passa por cinco escolas por ano. Mas, como o parque tem um roteiro específico ao longo do ano, meu filho sempre retorna para as mesmas escolas. Ele até conhece alguns colegas”, diz.

Nos finais de semana, José convida seus coleguinhas para um passeio no parque. Afinal, para uma criança, tem seu lado bom morar no local onde todos se divertem.

“Ele fica todo orgulhoso. Mas não sei se ele vai querer seguir neste trabalho. Como ainda é pequeno, fala de várias profissões”, conta a mãe.

Casa no meio do público

Ângela Paim é a primeira a chegar a todas as cidades onde o parque vai receber o público. Ela é a responsável por providenciar um terreno que possa receber os brinquedos e os motor-homes e acertar a documentação exigida pelas prefeituras.

“O parque só sai de um lugar quando está tudo pronto na cidade seguinte. O que facilita é que esta é uma empresa antiga, já conhecida, com profissionais que entendem do assunto”, diz ela, que chegou ao Tupã há 10 anos: “Recebi o convite do seu Hugo (dono do parque) após a morte do Beto Carrero (dono de um dos maiores parques de diversões da América Latina, falecido em 2008), com quem trabalhei por muitos anos”.

Desde esta época, a vida nômade é normal para Ângela e seu marido, Antônio Carlos Pereira da Silva, que ajuda na recepção do parque. Do lado de fora do motor-home onde o casal vive, um tapete e duas cadeiras com almofadas recebem os visitantes. Em dias de parque cheio, a fila do Túnel do Terror, que fica logo ao lado de onde o veículo está estacionado, alcança o local e não é difícil ver alguém usando os assentos para descansar.

“Eu não me importo! É normal estar no meio das pessoas. Nas segundas-feiras, que é o dia de folga, aqui é como na casa de qualquer família: tem passeio, tem churrasco...”, diz Ângela.