Como podemos preservar as línguas e as culturas indígenas no Brasil?

Iniciativas no Brasil buscam preservar línguas indígenas

Como podemos preservar as línguas e as culturas indígenas no Brasil?

Das 1.300 línguas indígenas que existiam quando os europeus chegaram ao Brasil, há mais de 500 anos, restam cerca de 180.

Por Nelza Oliveira para Infosurhoy.com – 10/05/2012

RIO DE JANEIRO, Brasil – O Brasil é conhecido como o grande país das Américas onde se fala uma única língua, o português.

Não é verdade.

Ainda se falam no país cerca de 180 línguas indígenas.

Mas já foram muitas mais. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, há mais de 500 anos, havia cerca de 1.300.

Iniciativas de registro e documentação de línguas indígenas agora tentam preservar as que conseguiram sobreviver.

"Temos casos de etnias com apenas10 falantes, na eminência de extinção porque os que falam já estão bem idosos e vão morrer daqui a bem pouco tempo", diz Glauber Romling da Silva, 26, doutorando em linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Para manter, temos que ter adultos falando e crianças aprendendo."

Silva faz parte da equipe do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin), coordenado pelo Museu do Índio, que é vinculado à Fundação Nacional do Índio (Funai).

Iniciado em junho de 2009, o Prodoclin é realizado em parceria com a Fundação Banco do Brasil e Unesco e trabalha atualmente na documentação de 13 línguas indígenas.

Silva coordena o projeto da língua Paresi-Arawak, do estado do Mato Grosso, falada por cerca de 2.000 pessoas.

"O trabalho gera um acervo para o Museu do Índio e para a própria comunidade, além de subprodutos como ortografia, gramática, material pedagógico e o que os indígenas quiserem fazer com o material", explica Silva.

Além da equipe de especialistas do Prodoclin, o trabalho é realizado pelos próprios indígenas treinados pelo projeto em todas as lições que envolvem a documentação – softwares específicos, áudio, vídeo, transcrição e tradução.

"O registro pode ser das mais variadas formas, desde um depoimento até o pajé fazendo uma reza", conta Silva, complementando que todos os registros são sempre discutidos com a comunidade antes da documentação. "Há manifestações culturais que eles não querem abertas ao público, só para membros da comunidade."

O Brasil continua sendo o país com uma das maiores densidades linguísticas indígena – ou diversidade genética – e com a menor concentração demográfica por língua, segundo o Prodoclin. A média é de cerca de 200 falantes por língua.

Algumas línguas são faladas por até 30.000 indígenas, como Tikuna e Kaingang. Mas há casos extremos como o do Xetá, com apenas dois conhecedores, já anciãos.

"As famílias se preocupam com a perda da língua, com as crianças que não querem mais falar e outras que não aprendem", diz a indígena Kaingang Márcia Nascimento, 30, da Aldeia Bananeiras, no município de Nonoai, no Rio Grande do Sul. "Dentro da minha aldeia, todos falam entre si em Kaingang e não em português."

Depois de dez anos dando aula na escola de sua aldeia, Márcia deixou pela primeira vez a comunidade em julho de 2010, quando foi cursar mestrado em linguística na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no Rio de Janeiro.
"O meu desejo é voltar e trabalhar com a escrita, elaboração de material na nossa língua para ser usado na escola da aldeia porque a gente tem muita carência de livros e cartilhas", diz Márcia, que é bolsista da Fundação Ford.

Como podemos preservar as línguas e as culturas indígenas no Brasil?

Cultura indígena no currículo

A Lei n° 11.645, de 2008, determina que o currículo oficial da rede de ensino do país deve incluir as histórias e as culturas das populações afro-brasileira e indígena.

"Se esses livros estiverem reforçando estereótipos como aqueles de que os índios falam apenas o Tupi, o Deus deles é o tupã e que são os bons selvagens que andam de tanga e pena na cabeça, essa inclusão é desnecessária", diz Silva. "Mas, se os materiais didáticos estiverem usando fontes de pesquisas atuais, sem generalizar povos tão diferentes entre si e não incluindo ideias oníricas do século XIX, é uma boa iniciativa."

Em 2011, foram oferecidas 243.599 vagas – da creche ao ensino médio – nas 2.953 escolas indígenas do país, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

Gersem Baniwa, coordenador geral de educação escolar indígena do MEC, diz que considera uma grande conquista que 52% dos alunos indígenas já utilizam material específico.

"Não é nada fácil produzir material didático bilíngue indígena e de qualidade", afirma Baniwa. "Com o trabalho nas escolas, novas abordagens históricas nos livros didáticos, a gente nota que o preconceito quanto aos povos indígenas é menor."

Aos 87 anos, com mais de 60 dedicados às línguas indígenas, o linguista Aryon Rodrigues diz que, mesmo com as iniciativas surgidas nos últimos 15 anos, o país avançou pouco para preservá-las.

"Os índios continuam sendo ignorados, sobretudo pelo sistema acadêmico brasileiro", defende Rodrigues. "Apenas umas 10 universidades das cerca de 200 do país têm algo em relação ao tema, até mesmo em regiões onde há registros numerosos de indígenas como os estados do Amazonas e Mato Grosso."

Em 1999, Rodrigues criou o Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília (UNB), dedicado à pesquisa científica das línguas e culturas indígenas. Ele também estabeleceu uma classificação das línguas indígenas faladas no Brasil, que ainda é a mais utilizada pela comunidade científica que se dedica ao tema.

O laboratório da UNB, que já estudou e documentou 33 línguas, investe também na formação de profissionais indígenas, que ainda falam a língua nativa, por meio de um programa de pós-graduação em linguística. A ideia é que o indígena se torne especialista em sua própria língua.

Nos últimos oito anos, 12 indígenas concluíram os cursos de mestrado e doutorado.

Ana Suely Cabral, vice-coordenadora do laboratório de linguística da UNB, com 30 anos de experiência no tema, alerta para que "não se crie preconceito nas tribos onde a língua nativa se perdeu".

Ela explica que, ainda que falem apenas português, as tribos que continuam a viver em comunidade ainda preservam sua cultura e história.

"Às vezes vemos alguns índios andando de carro, assistindo à TV, com equipamentos modernos e pensamos: 'Não é mais indígena'", diz a professora. "Quando entramos na aldeia e vivemos com o seu povo, descobrimos que mantêm sua cultura, sua identidade, apenas se reestruturam."

Estima-se que, na época do Descobrimento, o Brasil tinha mais de 1.000 povos indígenas, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas.

Atualmente são 817.963, representando 0,42% da população total, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o Censo de 2000, houve um crescimento de 11,4% – mais 84.000 pessoas – no número de brasileiros que se autodeclaram indígenas.

O crescimento estaria relacionado à nova postura dos indígenas. Por séculos, eles foram alvo de pressões políticas, econômicas e religiosas, despojados de suas terras e estigmatizados devido a seus costumes. Mas agora os povos nativos estão reassumindo e recriando suas tradições.

O Censo não inclui tribos de índios isolados, que nunca foram contatados. Estima-se que haja de 20 a 40 povos nessas condições, segundo Rodrigues.

"São pequenos grupos que conseguiram sobreviver a toda sorte de perseguição", diz Rodrigues.
Fonte: http://infosurhoy.com/cocoon/saii/xhtml/pt/features/saii/features/society/2012/05/10/feature-02

Como podemos preservar as linguagens e culturas indígenas no Brasil?

Para preservarmos as culturas e línguas indígenas no Brasil, podemos criar um espaço apenas para isso, como por exemplo um museu especifico para a historia indígena, mostrar mais a cultura indígena nas escolas e teatros e disponibilizar musicas na língua do mesmo.

O que fazer para preservar a língua indígena?

Como medida para reverter a extinção de muitas línguas indígenas, uma das ações é fazer com que os sistemas de educação favoreçam o uso de uma língua ancestral, já que elas são carregadas de conhecimento em áreas de estudos como agricultura, biologia, astronomia, medicina e meteorologia.

Qual é a importância da preservação da língua e da cultura indígena brasileira?

As línguas são muito mais do que apenas formas de se comunicar, elas trazem consigo também os saberes que marcam a identidade e o pensamento de um povo - seus traços culturais, conhecimentos ecológicos, imaginário religioso e também sua história e a forma específica de conceber a realidade.

Qual a importância de se preservar a cultura indígena?

A divulgação da cultura indígena pode sensibilizar a população para a importância de viver de forma sustentável e, assim, utilizar práticas conservacionistas e transmitir para as futuras gerações o conhecimento adquirido por esses povos. A valorização da cultura indígena é um dever de todos os países do mundo.