Os mecanismos que assegurem a excreção renal de fármacos são os mesmos que intervêm na formação da urina, uma função do néfron, unidade anátomo-fisiológica dos rins. Esses mecanismos compreendem a filtração glomerular, a secreção tubular ativa e a reabsorção tubular passiva. Show Em um primeiro momento o fármaco é filtrado ou secretado para a luz tubular; em um próximo passo pode ser eliminado com
a urina ou reabsorvido, ativa ou passivamente, pelo epitélio tubular. Já a secreção tubular ativa não é afetada pelo teor de ligação a proteínas plasmáticas, é um transporte mediado por carreadores que apresenta alta velocidade, podendo ser saturável. Muitas substâncias de caráter ácido são transportadas por um sistema destinado a secreção de substâncias de ocorrência natural, como o ácido úrico. As bases orgânicas são transportadas por outro sistema que secreta base endógena, como a histamina, assim pode ocorrer competição entre ácidos ou entre bases orgânicas pelo sítio de ligação de seu carreador. Por exemplo, a probenicida retarda a excreção urinária da benzilpenicilina, o que aumenta sua vida média no organismo e consequentemente a duração de seu efeito farmacológico. Ambos os sistemas de transporte podem ser bidirecionais, entretanto o transporte de substâncias exógenas é predominantemente secretor. Esse mecanismo é influenciado pelas propriedades físico-químicas do fármaco e pH urinário. Ácidos orgânicos fracos, por não se dissociarem em pH ácido, são reabsorvidos. Podemos acelerar sua excreção alcalinizando a urina, o que os converte em formas ionizadas não livremente difusíveis. Fatores fisiológicos ou patológicos com a função renal influenciam decisivamente na excreção de fármacos por esta via. Em presença de insuficiência renal, fármacos e metabólitos ativos excretados fundamentalmente pelo rim podem acumular-se, ocasionando efeitos tóxicos. Para evitar tal ocorrência são necessários ajustes nos esquemas terapêuticos. O fator idade figura entre os fatores fisiológicos, como um dos principais interferentes na excreção renal de fármacos. Em recém-nascidos e prematuros, a filtração glomerular e o fluxo plasmático renal são aproximadamente 30 a 40% inferiores aos dos adultos, somente aproximando-se a estes aos três meses de idade, logo a cinética dos fármacos nestas crianças será totalmente diferenciada, devendo ser levada em conta nos regimes terapêuticos de substâncias administradas no período pós-natal. A reabsorção tubular renal de ácidos e bases fracas em suas formas não ionizadas (lipossolúveis) se processa por difusão passiva no nível dos túbulos proximal e distal, sendo potencialmente bidirecional. Porém, como a água é progressivamente abstraída do lúmen tubular ao longo do néfron, o aumento da concentração intraluminal do fármaco cria um gradiente de concentração para retrodifusão. Gostou do conteúdo e ficou interessado em saber mais? Siga acompanhando nosso portal e fique por dentro de todas nossas publicações. Aproveite também para conhecer nossos cursos e ampliar seus conhecimentos. Os rins são os principais órgãos que excretam as substâncias hidrossolúveis. O sistema biliar contribui para a excreção até o ponto em que o fármaco não é reabsorvido do trato gastrintestinal. Em geral, a contribuição de intestino, saliva, suor, leite materno e pulmões à excreção é pequena, com exceção à exalação de anestésicos voláteis.
A excreção via leite materno pode afetar o lactente (ver tabela Fármacos contraindicados a nutrizes
Fármacos contraindicados a mães que amamentam ). O metabolismo hepático muitas vezes
aumenta a polaridade e a solubilidade em água do fármaco. Os metabólitos resultantes, assim, são mais prontamente excretados. A filtração renal responde pela maior parte da excreção de fármacos. Cerca de um quinto do plasma que alcança o glomérulo é filtrado pelos poros no endotélio glomerular; quase toda a água e a maioria dos eletrólitos são reabsorvidas passiva ou ativamente dos túbulos renais de volta à circulação. Entretanto, os
compostos polares, que são responsáveis pela maioria dos metabólitos de fármacos, não podem ser difundidos de volta à circulação e são excretados, a não ser que exista mecanismo de transporte específico para a reabsorção (p. ex., glicose, ácido ascórbico e vitaminas B). Com o envelhecimento, há diminuição da
excreção renal de fármacos
Eliminação renal Define-se melhor a farmacocinética como a reação do corpo ao fármaco; isso inclui Absorção Distribuição ao longo dos compartimentos corporais Metabolismo Excreção leia mais , (ver tabela
Efeito do envelhecimento sobre o metabolismo dos fármacos
Efeito do envelhecimento no metabolismo* e na eliminação de alguns fármacos
); aos 80 anos de idade, a depuração tipicamente reduz-se à metade do que era aos 30 anos. A excreção renal de fármacos também pode mudar de acordo com várias condições de saúde. Em pacientes criticamente enfermos, a
lesão renal
Lesão renal aguda Lesão renal aguda (LRA) é a diminuição rápida da função renal ao longo de dias a semanas, causando acúmulo de produtos nitrogenados no sangue (azotemia) com ou sem redução na quantidade de débito... leia mais pode diminuir temporariamente a excreção de fármacos
pelos rins; em contraposição, a depuração renal aumentada (p. ex., em pacientes criticamente enfermos que podem ser mais jovens e ter função renal intacta) pode intensificar a excreção renal de fármacos, resultando em concentrações plasmáticas subterapêuticas de certos fármacos, especialmente antimicrobianos, em crianças e adultos [para revisão, ver
(1
Referência acerca da excreção Os rins são os principais órgãos que excretam as substâncias hidrossolúveis. O sistema biliar contribui para a excreção até o ponto em que o fármaco não é reabsorvido do trato gastrintestinal... leia mais )]. Os princípios da passagem transmembrana
governam o controle renal de fármacos. Os fármacos ligados às proteínas plasmáticas permanecem na circulação e apenas os fármacos que não se ligam a proteínas encontram-se no filtrado glomerular. As formas não ionizadas de fármacos e seus metabólitos tendem a ser reabsorvidos imediatamente dos líquidos tubulares. O pH urinário, que varia de 4,5 a 8,0, pode afetar a reabsorção e a excreção do fármaco porque o pH urinário determina o estado de ionização de um ácido ou base fraco (Difusão passiva Difusão passiva ). A acidificação da urina aumenta a reabsorção e diminui a excreção de ácidos fracos e, por outro lado, diminui a reabsorção de bases fracas. A alcalinização da urina tem efeito oposto. Em alguns casos de dose excessiva, esses princípios são utilizados para aumentar a excreção de bases ou ácidos fracos; p. ex., a alcalinização da urina para aumentar a excreção de ácido acetilsalicílico. A magnitude em que essas modificações no pH urinário alteram a taxa de eliminação do fármaco depende da contribuição da via renal para a eliminação total, da polaridade da forma não ionizada e do grau de ionização da molécula. A secreção tubular ativa no túbulo proximal é importante na eliminação de muitos fármacos. Esse processo, dependente de energia, pode ser bloqueado por inibidores metabólicos. Quando a concentração do fármaco estiver elevada, o transporte secretor pode alcançar o limite superior (transporte máximo); toda substância tem seu transporte máximo característico. Ânions e cátions são manuseados por mecanismos de transportes separados. Normalmente, o sistema secretor de ânion elimina metabólitos conjugados com glicina, sulfato ou ácido glicurônico. Os ânions competem entre si pela secreção. Essa competição pode ser usada terapeuticamente; p. ex., a probenecida bloqueia a secreção tubular normalmente rápida da penicilina, resultando em concentrações plasmáticas mais elevadas de penicilina por período de tempo mais longo. No sistema de transporte de cátions, os cátions ou bases orgânicas (p. ex., pramipexol e dofetilida) são secretados pelos túbulos renais; esse processo pode ser inibido por cimetidina, trimetoprima, proclorperazina, megestrol ou cetoconazol. Alguns fármacos e seus metabólitos são extensivamente excretados na bile. Como são transportados através do epitélio biliar contra um gradiente de concentração, é necessário transporte secretor ativo. Quando as concentrações plasmáticas do fármaco forem elevadas, o transporte secretor pode aproximar-se do limite superior (transporte máximo). As substâncias com propriedades físico-químicas semelhantes podem competir pela excreção. Os fármacos com peso molecular de > 300 g/mol e que contêm tanto grupos polares como lipofílicos têm maior probabilidade de serem excretados na bile. Moléculas menores são, geralmente, excretadas apenas em quantidades negligenciáveis. A conjugação, especialmente com ácido glicurônico, facilita a excreção biliar. No ciclo êntero-hepático, o fármaco secretado na bile é reabsorvido do intestino para a circulação. A excreção biliar elimina substâncias do corpo apenas até o ponto em que o ciclo êntero-hepático é incompleto — quando alguma parte do fármaco secretado não é absorvida do intestino. Visão Educação para o paciente Direitos autorais © 2022 Merck & Co., Inc., Rahway, NJ, EUA e suas afiliadas. Todos os direitos reservados. O que é a secreção tubular ativa?A secreção tubular ativa no túbulo proximal é importante na eliminação de muitos fármacos. Esse processo, dependente de energia, pode ser bloqueado por inibidores metabólicos.
Como ocorre a reabsorção tubular dos fármacos?A reabsorção significa o retorno de substâncias da luz dos túbulos renais para a corrente sanguínea. Os fatores que influenciam nessa reabsorção são: pH urinário e pK do fármaco. Quando os ácidos e bases estão na sua forma apolar, serão reabsorvidos em nível renal.
Onde ocorre a secreção tubular?Na alça de Henle e no túbulo distal, substâncias também são reabsorvidas. Além da reabsorção, ocorre a secreção no túbulo renal, que é um processo oposto ao da reabsorção. Na secreção, as substâncias presentes nos capilares são lançadas no interior do túbulo renal, o que garante a sua eliminação pela urina.
Quais são os processos envolvidos na excreção dos fármacos?A excreção dos fármacos do organismo geralmente se dá por via renal ou biliar e é facilitada devido à metabolização dos fármacos nas fases de oxidação/redução e conjugação/hidrólise, já que podem aumentar a hidrossolubilidade dos fármacos.
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