Quem apoia o Lula e esquerda ou direita?

Os sinais estão definitivamente trocados nestes tempos de nova política, ou do que se convencionou chamar como tal. Duas importantes lideranças brasileiras representam bem essa troca de sinais. Cada um deles melhorou a vida dos adversários ideológicos e prejudicou os que mantinham a esperança de que fossem representar a consolidação do pensamento que anunciaram defender. Lula se elegeu dizendo que “é muito difícil ser de esquerda” e Bolsonaro saiu vitorioso das urnas, anunciando claramente, que representava sim, a vitória da direita nas eleições presidenciais do Brasil.

Depois que ganharam o poder, Lula fortaleceu a direita – daí a vitória de Bolsonaro e este, indiscutivelmente presta um grande serviço à organização popular de esquerda, que pelo enorme desgaste que ostenta, não conseguiria recuperar-se tão cedo, a não ser, como começa a acontecer com a ajuda de Bolsonaro.

Explico:

Lula desmantelou a imagem da esquerda, inclusive dos que se posicionaram todo o tempo contra o PT, como foi o caso dos comunistas seguidores de Roberto Freire. Depois do seu desastrado governo e da Dilma, a imagem que ficou foi de uma esquerda corrupta, incompetente, que quebrou a Petrobras e deixou um passivo de 14 milhões de desempregados. Isso facilitou a vitória da direita de Bolsonaro.

Com pouco tempo no poder, Bolsonaro já retribuiu para os movimentos populares de esquerda, o que ela sozinha não conseguiria fazer em 20 anos. O movimento estudantil que mais parecia um reduto do Pc do B e do PT, ganhou grande oxigênio com a estupidez de Bolsonaro em cortar 30 por cento dos recursos da educação. A esquerda, que não tinha mais a autoridade moral para mobilizar os estudantes brasileiros recebeu de presente a reoxigenação do movimento estudantil, que por uma questão de sobrevivência, aumentou a sua mobilização e vai colocar os jovens, novamente, como protagonistas para outra mudança significativa no Brasil. Nem parece que Bolsonaro defendeu a ditadura que não reconhece, pois não percebeu que o golpe de 64 sofreu seu primeiro grande revés, quando matou o estudante Edson Luis em 1968, no Rio de Janeiro. Os estudantes, apesar de todas as proibições voltaram para as ruas e, anos mais tarde, no movimento das diretas de Dante de Oliveira, que redemocratizou o Brasil, foram decisivos para a reconquista da democracia no Brasil.

Traduzindo tudo isso: já dá pra perceber que Lula é de direita e Bolsonaro é de esquerda. Sinal dos tempos.

  • Felipe Souza - @felipe_dess
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

12 julho 2022

Quem apoia o Lula e esquerda ou direita?

Crédito, EPA

Legenda da foto,

Anitta disse que apoia Lula nestas eleições e que dará apoio irrestrito à campanha

O apoio à campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), feito pela cantora Anitta, causou um alvoroço nas redes sociais na segunda-feira (11/7) e ficou no topo dos assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.

Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem o apoio declarado de celebridades como o cantor Gusttavo Lima e o jogador de vôlei Maurício Souza.

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Mas qual o peso do apoio destas personalidades nas eleições? A BBC News Brasil ouviu cientistas políticos para entender se eles podem fazer a diferença nas urnas.

Os entrevistados afirmam que, sozinhos, esses apoiadores não são capazes de mudar o resultado. Mas são figuras com milhões de seguidores nas redes sociais e, por isso, são relevantes para a construção do eleitorado.

Somando Instagram (62,9 milhões), TikTok (20,3 milhões) e Twitter (17,6 milhões), Anitta tem mais de 100 milhões de seguidores. Nas mesmas redes sociais, Gusttavo Lima soma mais de 75 milhões — 43,7 milhões apenas no Instagram.

Claro que muitos dos seguidores se repetem entre estas redes, mas ainda assim isso dá uma medida do grau de influência que personalidades assim têm.

Ao lado de Lula, ainda aparecem nomes como o youtuber Felipe Neto e os cantores Mano Brown, Ludmilla, Pabllo Vittar e Chico Buarque.

Enquanto Bolsonaro conta com o apoio de diversos sertanejos, como Zé Neto e Sérgio Reis, além de jogadores de futebol como Ronaldinho Gaúcho e Felipe Melo.

Professor de Ciência Política na ESPM, Paulo Ramirez diz que a relevância desses famosos cresceu de maneira significativa junto com o papel cada vez mais decisivo da internet nos últimos anos, demonstrado nas últimas eleições em diversos países.

"No Brasil, em 2018, as redes estavam tomadas por bolsonaristas. Mas, desde então, os movimentos de esquerda tiveram tempo para aperfeiçoar suas estratégias e aumentar sua força nas redes", afirma.

Ele cita como um efeito disso a ida para o segundo turno de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, nas últimas eleições municipais.

'O neutro não existe'

Ramirez afirma que toda figura pública, seja ela artista, jogador de futebol ou mesmo um pensador, exerce uma influência política.

"Até mesmo mesmo os que dizem não querer influenciar ninguém, acabam exercendo um papel político. Um exemplo é a cantora Elba Ramalho, que foi criticada depois de parar um show para condenar uma manifestação pró-Lula. Não existe neutralidade. Sempre tomamos partido, inclusive quando somos neutros", afirma.

Para ele, os atos desses influenciadores têm um peso importante, porque eles muitas vezes são vistos como exemplos por seus seguidores, principalmente os mais jovens.

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"Até pouco antes de março, os cartórios eleitorais registravam recordes negativos de registros de novos títulos. Mas, no instante em que a Anitta e outros artistas iniciaram uma campanha para que as pessoas de 16 a 18 anos tirassem o documento, esse recorde foi invertido, e quase 3,5 milhões de adolescentes tiraram o documento.

"Como os defensores do Lula manifestaram esse desejo de atrair os jovens, a expectativa é que a maior parte desses votos seja para ele", diz.

Segundo ele, os mais jovens são mais influenciados pelas redes porque fogem dos meios tradicionais para se informar, como os jornais e as propagandas eleitorais, "que só mostram o lado bonito".

O professor explica que, ao mesmo tempo, o eleitorado com mais de 35 anos não é composto por "nativos virtuais" — aqueles que já nasceram com computador em casa — e são menos impactados pelos influenciadores.

Pablo Ortellado, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) e que pesquisa como temas políticos são difundidos nas discussões de redes sociais, avalia que esses influenciadores atuam como um exército digital dos políticos.

"Eles são importantes no âmbito da disputa digital, mas não é possível dizer que são capazes de desequilibrar a disputa. É muito difícil determinar isso. Um peso eles têm, mas o tamanho a gente não sabe", afirma Ortellado.

O pesquisador da USP diz que, devido ao fato desses influenciadores falarem com muita gente, o empenho desses famosos pode favorecer os políticos, que por isso cortejam tanto o apoio dos influenciadores.

Mas Ortellado ressalta, no entanto, que nenhum apoio determina o resultado das eleições, e que o mais importante na disputa é criar um apoio definido em determinados meios sociais.

"O meio do teatro é muito lulista, por exemplo. Então, quando você vai a um show ou teatro, vai ter manifestação nesse sentido. Isso deixa o bolsonarista que está lá muito desconfortável e é mais relevante que o apoio do Chico Buarque de maneira isolada. O mesmo acontece no humor e sertanejo para o Bolsonaro", explica.

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Ortellado afirma que o que faz a diferença para Bolsonaro não é um humorista específico, mas sim ter dominado a maior parte desse campo para que isso cause um apelo e incômodo nas demais pessoas que frequentam aquele espaço. O mesmo serve para as redes sociais. Algo que é considerado mais difícil.

Pablo Ortellado aponta que as pesquisas mostram que os mais jovens estão votando à esquerda, enquanto o bolsonarismo predomina entre os mais velhos.

Crédito, Divulgação

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Apoiador de Bolsonaro, Gusttavo Lima tem mais de 75 milhões de seguidores somando TikTok, Instagram e Twitter

Em redes sociais, isso significa, segundo ele, que o TikTok tem mais jovens e, consequentemente, mais eleitores de esquerda. Enquanto o Facebook tem mais interações entre os mais velhos, o que favorece a direita.

"Essa briga do digital não é pelos mais jovens, mas pelo eleitor no geral porque a maior parte dos eleitores brasileiros usam as redes. A exceção são os pobres que moram em lugares remotos", afirma Ortellado.

Estrela global

O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira afirma que o fato dessa publicação da Anitta ter atingido o topo dos assuntos mais comentados do Twitter demonstra a importância dela.

"A gente tem que considerar que a Anitta não é uma influencer qualquer. Ela ganhou holofotes e é praticamente uma estrela global. Há tempos, ela vem ganhando o debate público e polarizando com o bolsonarismo. Por conta da morte (de um lulista) no Paraná, ela resolveu se posicionar, e isso tem um efeito enorme no debate público", diz Teixeira.

O professor da FGV afirma que, aliado a outros fatores, o peso da opinião dos influenciadores é vital para as campanhas políticas.

"Mas não é um influencer que vai reverter a imagem de um político. No fim das contas, as pessoas votam mais pela barriga e pelo bolso. O que eles ajudam é a dar uma relevância ao debate e as pessoas a terem elementos. As pessoas não vão votar porque a Anitta pediu, mas ela com certeza pode somar mais um ponto no processo."

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Quem apoia o PT é de direita ou esquerda?

O Partido dos Trabalhadores (PT) é um partido político brasileiro de centro-esquerda à esquerda. Fundado em 1980, integra um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América Latina.

Quem é de direita apoia quem?

Eles apoiam o conservadorismo, e o liberalismo econômico, e opõem-se ao socialismo, e ao comunismo.

Quem é de direita e quem é de esquerda?

Há um consenso geral de que a esquerda inclui progressistas, sociais-liberais, ambientalistas, social-democratas, democrático-socialistas, libertários socialistas, secularistas, socialistas, comunistas e anarquistas, enquanto a direita inclui neoliberais, liberalismo econômico, conservadores, reacionários, ...

Quais são os partidos de esquerda?

Dentre os grupos de centro-esquerda, estão os social-democratas, progressistas e também alguns socialistas democráticos e ambientalistas (em particular ecossocialistas), esses no sentido tradicional.