Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?

11/12/2020

Notícias, Sociedade

Dos cerca de 180 mil óbitos no Brasil por Covid-19, 809 são de militares brasileiros. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) perdeu 457 soldados na Itália

Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?
Foto: Acervo Iconographia/reprodução

Dos cerca de 180 mil óbitos no Brasil por Covid-19, 809 são de militares brasileiros, segundo dados obtidos pela revista Época.

Isso representa quase o dobro do número de brasileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) mortos na Itália, na Segunda Guerra Mundial, que vitimou 457 militares brasileiros, de acordo com o Boletim Especial do Exército de 2 de dezembro de 1946.

O coronel reformado Luiz Augusto Sydrião Ferreira, de 84 anos, perdeu seu filho, general de brigada Carlos Augusto Fecury Sydrião Ferreira, de 53 anos, chefe do Centro de Inteligência do Exército, para a Covid-19.

“Nos piores dias, ofereci minha vida no lugar da dele, mas Deus achou melhor que fosse ele. Agora é uma nova vida que está surgindo ali, pertinho do quartel. Só quem perde um filho pode avaliar o que a pessoa sente”, emocionou-se o coronel, que lamentou não ter podido se despedir do filho quando ele estava internado no Hospital das Forças Armadas, em razão das restrições impostas a pessoas com a doença.

Apesar de ter votado em Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas eleições, o coronel Sydrião reviu seu apoio ao presidente por causa de sua conduta pública no enfrentamento à Covid-19, especialmente depois da morte do filho. “Não aprovo essa postura contra os cuidados devidos. Ele fala muita coisa que não deveria falar. E seus filhos interferem muito na administração dele. Não votaria novamente”, lamenta o coronel.

Fonte: Época

Depois de a página ter trazido a alegação oficial do Exército Brasileiro de que a história dos “Três de Montese” foi aumentada e falsificada (veja aqui e aqui), houve quem quisesse saber sobre o caso real, documentado e fotografado, que se passou nas proximidades de Precaria, já perto de Soprassasso/Castelnuovo di Vergato. Este é o post de hoje.

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Da esquerda para a direita: José Graciliano, Clóvis da Cunha Paes e Aristides José da Silva

O caso

Uma patrulha brasileira foi enviada para estabelecer contato com tropas inimigas, o que na prática era fazer com que os inimigos revelassem suas posições. Eram homens da 5ª Companhia, do II Batalhão, do 1° Regimento de Infantaria. Conforme o capitão Walter de Menezes Paes, que era o oficial de operações do III Batalhão, do 1° Regimento, no contexto em que se deu a patrulha, 23/24 de janeiro de 1945, várias outras frações de soldados foram mandadas para pontos diferentes do dispositivo que o regimento ocupava, todas elas para “fazer os alemães darem as caras”, pois, com o inverno e a neve alta, era pouca a atividade da tropa contrária aos brasileiros.

Segundo Walter, a maioria das patrulhas foi e voltou sem ser hostilizada, pelo menos no batalhão dele. Está no livro “A lenda azul: a atuação do 3º Batalhão do Regimento Sampaio na Campanha da Itália”, obra de 1991. Nos outros batalhões as missões também foram cumpridas dentro do planejado e em algumas os alemães entregaram as posições e foram obrigados a responder as provocações e invasões dos territórios ocupados por eles.

Um desses lugares foi perto de Precaria. Ali, após avançar dentro da suposta “terra de ninguém”, que compreendia as zonas em disputa entre as duas forças conflitantes, os soldados da 5ª Cia foram recebidos a tiros pelos infantes do Reich, sendo que três deles foram mortos e um, justamente o sargento Ignácio Loyola de Freitas Virgolino, que comandava a patrulha, foi ferido e levado prisioneiro pelos alemães, só sendo recuperado no final da guerra, encontrado em Bolonha, em um hospital.

Depois do tiroteio, os alemães enterraram os brasileiros e colocaram uma cruz de madeira improvisada em que se lia: 3 tapfere Brasilianer– 24 -01-945 (foto abaixo, com a escrita correta em alemão). Em uma tradução direta, seria: três bravos brasileiros.

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Como mostram as fotos de exumação dos cadáveres, tiradas por Horácio Gusmão Coelho, fotógrafo oficial da FEB, em março de 1945, após a FEB ter ultrapassado Castelnuovo di Vergato, os corpos dos soldados estavam praticamente intactos, sendo possível sua identificação apenas pelas fotos dos desaparecidos em combate. Além disso, estavam também com as plaquetas de identificação. Os rostos, os alemães cobriram com as capas de neve que as vítimas usavam. Por conta disso, e do chão congelado, foram preservados.

Depois de identificados, foram levados para Pistoia, onde foram enterrados. As mortes foram oficializadas entre 15 e 31 de maio de 1945 e tornadas públicas, por meio da imprensa carioca, em 05 de junho de 1945. Em 1960, foram transladados para o Brasil e hoje estão no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro/RJ.

Quem eram os homens?

Na Hemeroteca Nacional, a primeira notícia sobre a morte dos Pracinhas apareceu em 11 de setembro de 1956, escrita pelo repórter e ex-combatente, Paulo Vidal. O título da matéria era “Heróis Esquecidos IX”. Nela, Paulo revelou os nomes dos soldados enterrados pelos alemães eram: Aristides José da Silva (Leopoldina/MG), José Graciliano Carneiro da Silva (Recife/PE) e Clóvis da Cunha Paes de Castro (Açaré/CE). Até então a informação não era pública, circulava internamente entre ex-combatentes e no meio militar.

José Graciliano era filho de João Graciliano Carneiro da Silva e de Teresa Jesus Albuquerque e Silva. Ele morava no Bairro Coqueiral, no Recife/PE. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 93 em Pistóia.

Clóvis da Cunha Paes de Castro era de Assaré, no Ceará. Os pais dele eram Arthur Moreira Paes de Castro e Maria José da Cunha. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 91.

Aristides José da Silva estava no Exército desde 1942, morava em Leopoldina, em Minas Gerais. Seus pais eram Antônio José e Inês Francisca, que quando ele foi para a FEB, era viúva. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 94.

A versão de Amiden

Segundo o ex-combatente Jamil Amiden, no livro “Eles não voltaram” (1960, p.89-91), tudo começou na madrugada de 23 de janeiro de 1945, quando chegou uma ordem para que soldados do 1º Regimento de Infantaria partissem em reconhecimento para os lados do morro do Soprassasso. Deveriam alcançar a localidade de Precaria e buscar contato com o inimigo. A ordem foi transmitida pelo 2° Tenente Gervásio Dechamps. O tenente teria pedido voluntários, ao que ninguém se ofereceu. Foi quando ele disse que escolheria e de imediato, alguns homens mudaram de ideia e se apresentaram.

Um dos grupos foi comandado pelo Sargento Virgolino Loyola (Ignácio Loyola de Freitas Virgolino, do Pará). Andaram um bom pedaço e quando chegaram em Precaria, havia vestígios do inimigo, porém,os alemães não estavam ali, tinham se escondido um pouco mais para frente. Quando os brasileiros perceberam, já estavam levando morteiros e rajadas.

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O sargento Loyola (Do livro de Jamil Amiden)

Aristides, que estava mais atrás e que Loyola tinha ido buscar para acompanhá-lo lado a lado, foi o primeiro a cair. Avisaram o comando pelo rádio e foi dada a ordem para que avançassem mesmo assim.

Os brasileiros viram que os tiros partiam de uma casa e o cabo José Graciliano tentou dar um jeito de chegar até lá, mas quando já estava bem perto, os alemães mandaram uma granada que o matou na hora.

O sargento então mandou todo mundo atirar ao mesmo tempo na casa e no tiroteio pegaram de volta o corpo do Graciliano, colocando-o do lado do de Aristides. Abrigaram-se e ao contar seus homens, Loyola percebeu que faltava o esclarecedor, Clóvis da Cunha, que tinha ido à frente do grupo. Mesmo na confusão, ele escutou Clóvis pedindo socorro e foi até lá. Nisso percebeu que também estava ferido e mesmo assim trouxe o soldado para junto do grupo, porém, ele já chegou morto. Vendo que nem ele mesmo ia conseguir sair dali e que já estava sangrando bastante, Loyola ordenou aos homens que partissem e o deixassem ali com os três mortos.

A ordem foi seguida e mais tarde naquela noite os alemães foram conferir o estrago. Foi quando acharam Loyola ainda respirando e o levaram prisioneiro, tendo enterrado os outros três e colocado a inscrição em alemão. Os corpos foram achados em março, após o avanço brasileiro por sobre Soprassasso/Castelnuovo.

O nome de Aristides foi usado pelos alemães em uma propaganda contra os brasileiros, onde diziam que o fim dos homens da FEB seria a morte, igual aquela do Pracinha da ilustração. (Imagem abaixo)

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Nome do Pracinha morto foi usado em propaganda

Além de sair no livro, versão de Amiden também foi publicada na íntegra na edição de natal de 1960, no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.

A versão de Vidal

Outra versão, a de Paulo Vidal, do jornal de 1956, é bem próxima da que foi dada por Amiden, que possivelmente deve ter adaptado a história de Paulo com situações mais dramáticas. Conforme Paulo, “um civil italiano tinha procurado um Tenente brasileiro para avisar que ali perto, alemães tinham enterrado três soldados brasileiros”. “Foram verificar o fato e era verdade. Três covas rasas cavadas pelos alemães, contendo os corpos dos três soldados brasileiros”, escreveu ele no Tribuna da Imprensa, em 1956.

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Imagem integral da cruz, que ilustrou a matéria de Vidal

Segundo Vidal, a patrulha já havia ultrapassado as linhas alemãs, quando foi pressentida e recebeu os primeiros impactos. O repórter também escreveu que eles conseguiram pedir apoio de artilharia, e que no meio da confusão, o grupo acabou se dispersando, tornando-se alvo fácil para os alemães. Um soldado de apelido “Português” teria socorrido o sargento Virgolino, alvejado com uma rajada de metralhadora na altura do peito. Nesse momento foi que o sargento mandou que todos recuassem e o deixassem ali.

Depois que os corpos foram encontrados, o comando do Regimento foi informado do ocorrido, mas segundo Paulo pressupõe, não deu muita atenção ao fato. “Acreditamos que mesmo nos arquivos da FEB não se pode esclarecer muito a respeito desse episódio – o que demonstra à sociedade, uma pelo menos má vontade (não se sabe de quem) em relação às coisas da FEB”.

O repórter revelou ainda que os três foram promovidos pós mortem em 29/06/1945. “Ninguém sabe ao certo o que fizeram os três soldados que foram enterrados pelos alemães. É possível que o cabo Graciliano – um pernambucano de Recife – vendo-se perdido, reuniu os dois soldados, Clóvis e Aristides, resolvendo com eles vender caro a vida”, acrescenta Paulo.

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O sargento Loyola depois da guerra, com a filha. Do Diário de Notícias

A mesma versão saiu em 20 de dezembro de 1960 no Tribuna da Imprensa e em de 05 de setembro de 1970, no “Correio da Manhã”. Em ambas, os editores dos jornais mudaram apenas uma palavra ou outra, porém, mais de 95% do texto se repetiu.

Versão do Exército Brasileiro

A versão oficial do Exército Brasileiro, em sua página de notícias, em texto datado de 30 de abril de 2018, ainda que sem citar qualquer fonte, descreve o que aconteceu em Precaria da seguinte maneira:

Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?
Monumento em Precaria. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália

“Poucas centenas de metros adiante, encontra-se a localidade de Precaria, palco de um dos eventos mais emblemáticos da trajetória da FEB na Itália. A região também estava na rota rumo à conquista de Castelnuovo e no itinerário de um Grupo de Combate do 1º Regimento de Infantaria, composto por nove homens. No deslocamento, os brasileiros foram atacados por tropas alemãs. O Cabo José Graciliano Carneiro da Silva e os Soldados Clóvis da Cunha Paes e Castro e Aristides José da Silva guarneceram o retraimento dos companheiros. Eles resistiram até o fim com seus próprios meios ao fogo de armas automáticas e granadas de morteiro. A tenacidade do trio foi reconhecida pelos adversários, que, de maneira incomum, sepultou os Pracinhas em uma cova simples, sob uma cruz com a inscrição ‘3 Tapfere – Brasil – 24/1/45’ (3 Bravos do Brasil)”.

A inscrição na cruz, na versão do Exército, foi erroneamente modificada e traduzida, como mostra a foto no começos deste texto. Como dito anteriormente, o Exército não apresentou fontes para as afirmações que publicou.

Confirmação

O observador avançado do 6º Regimento de Infantaria, Newton A. Mello, anotou o fato no diário dele e confirmou que os três corpos foram encontrados enterrados, juntos, em Precaria. “Deverão ter sido realmente épicos dos seus feitos. Aquela sepultura simbolizará, séculos a fora, a bravura dos filhos do Brasil”, publicou na obra “Meu Diário de Guerra”, p. 171.

Já o comandante da Cia de Obuses do 6º Regimento, Domingos Pinto Ventura, também confirmou o achado dos corpos e acrescentou que “o sargento Virgolino foi levado pelos alemães, que o trataram e o curaram, tendo sido entregue ao comando brasileiro no dia do cerco das divisões inimigas, a 29 de abril de 1945”. Segundo ele, os homens mortos eram da 5ª Cia do 1º Regimento de Infantaria. A missão do grupo era sair de Torre di Nerone e estabelecer contato com os alemães pela Cota 720, justamente um dos pontos mais guarnecidos pelos tedescos (Livro “Minha Vida”, p.72)

Reconhecimento tardio

Em 19 de junho de 2012, 67 anos depois, autoridades brasileiras e italianas homenagearam os três soldados do 1º Regimento com um pequeno monumento em Precaria. Ao contrário dos três de Montese que tiveram os relatos de morte modificados para uma versão fictícia, não houve músicas e nem séries para homenagear os dois nordestinos e o mineiro mortos naquela refrega.

Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?
Foto da inauguração do monumento em 2012. Monumento em Precaria. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália

A foto abaixo é da exumação dos corpos dos três. Temos outras em que é possível identificar os mortos pelos rostos, no entanto, preferimos não colocar as imagens por serem fortes e por respeito à memória dos três.

Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?
Esta é a foto da exumação dos corpos em Precaria. Os sacos brancos fechados são os soldados

Agora o monumento faz parte da rota da FEB na Itália e é visitado por turistas e autoridades regularmente. O sargento Loyola morreu em 07 de março de 1966.

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Fotos das comemorações no monumento em 2018. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália
Quantos soldados brasileiros foram para Segunda Guerra Mundial e quantos morreram?

Quantas pessoas o Exército brasileiro matou na Segunda Guerra Mundial?

Total de mortes.

Quantos soldados brasileiros foram pra 2 guerra?

Nosso país enviou cerca de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e 42 pilotos e 400 homens de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB).

Qual foi o soldado que mais matou na Segunda guerra?

Simo Häyhä, a “morte branca”, é considerado o maior atirador de elite da história, tendo abatido mais de 500 homens durante a resistência finlandesa à invasão soviética de 1939.

Quantos pracinhas brasileiros morreram na guerra?

Total das Operações.