Qual é o impacto da desvalorização do real nas exportações e importações brasileiras?

A variação cambial é um dos pontos mais importantes para o comércio internacional. Ela dita qual tipo de comércio será feito e qual será o impacto dos produtos em cada região. Com a pandemia do coronavírus, o Brasil tem visto a cotação das moedas estrangeiras aumentar, e isso traz tanto impactos negativos quanto positivos para o país. 

Na mudança constantes das cotações do dólar e euro no cenário atual, importação e exportação passam a ter novas particularidades que refletem esse contexto, as quais falaremos a seguir.

Fixação da cotação

Nesse momento, contratos que foram firmados com a garantia de um valor específico de dólar, por exemplo, se firmados em 2019 antes da pandemia, trazem consequências específicas para cada parte. 

Enquanto a parte contratada, vendo-se obrigada a prestar o serviço ou fornecer o produto no valor antigo, é prejudicada, a parte contratante vê-se privilegiada pelas circunstâncias, tendo seus custos diminuídos e ganhando maior competitividade no mercado por possuir esta vantagem financeira.

Qual é o impacto da desvalorização do real nas exportações e importações brasileiras?

Importação brasileira

As importações lidam com vários cenários. Primeiramente, pode haver a escassez de produtos que chegam com a moeda estrangeira em cotações antigas, ou seja, mais baratos para o consumidor final, mas geram dificuldade posterior de novas compras e giro por conta do aumento do preço final influenciado pela cotação atual mais alta. 

Já novos contratos terão como consequência a lotação de armazéns. Isso porque empresas não conseguem fazer o giro suficiente destas mercadorias importadas para o consumidor final.

Qual é o impacto da desvalorização do real nas exportações e importações brasileiras?

Exportação brasileira

O cenário é, em sua maioria, positivo para os exportadores desde o início da pandemia, como já falamos em nosso blog. Em fevereiro, além da pandemia do coronavírus se alastrar pela China, a gripe aviária já afetava granjas da região, o que fez aumentar a demanda chinesa por carne bovina brasileira, além de outros produtos processados.

Com muitos mercados compradores do Brasil também afetados, é claro que exportações tendem a diminuir. Porém, os brasileiros que fecharam contratos sem a fixação do dólar hoje veem seus lucros subirem quando a moeda é convertida para o Real.

Por fim, com o Real desvalorizado, os produtos brasileiros se tornam ainda mais competitivos no mercado internacional, inclusive ainda mais visados por conta da necessidade de insumos alimentícios e outras matérias-primas ligadas à alimentação e saúde se mostrando altamente necessárias durante a crise de saúde mundial. 

A moeda brasileira tem sido apontada de forma recorrente como a divisa com pior desempenho entre todos as moedas comparáveis do mundo.

O processo de forte desvalorização poderia servir como um importante estímulo à indústria nacional e uma importante ferramenta de aumento da competitividade dos nossos produtos, no entanto, o que temos acompanhado é que a balança tem pesado mais nos problemas que nas oportunidades.

De que forma o dólar mais caro pode ser aliado do Brasil e o que tem acontecido até aqui?

Acompanhe nossa análise a seguir.

Balança comercial e corrente de comércio

Segundo dados do Ministério da Economia, o Brasil construiu até o final do mês de setembro, um superávit comercial de aproximadamente US$ 42,2 bilhões, volume 17% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

Se os saldos comerciais do último trimestre deste ano seguir a mesma trajetória que foi apresentada até o mês de setembro, estamos prestes a ver um dos maiores saldos comerciais de toda a série histórica do Ministério da Economia.

Se confirmado, um superávit comercial de US$ 58 bilhões, será o terceiro maior registro anual nominal da história brasileira.

Acontece que esse resultado comercial tem sido construído sobre bases não muito consistentes. De modo bastante resumido, é correto dizer que o superávit primário mais elevado visto nos últimos anos é reflexo da insuficiência de demanda doméstica.

Você leu mais acima que o resultado deste ano é 17% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Ao olhar mais detalhadamente é possível perceber que as exportações dos nove primeiros meses deste ano recuaram cerca de 7,7% na comparação com os nove primeiros meses do ano passado. Estamos exportando menos que em 2019.

Já que o volume de importações é 14,4% menor nos mesmos termos, nos foi permitido construir um resultado comercial sensivelmente melhor que no ano passado. Lembrando que as importações refletem, não apenas o encarecimento dos produtos importados, uma vez que a nossa moeda perdeu bastante valor desde o ano passado, mas também a crise que estamos enfrentando desde 2015.

A construção dos resultados comerciais deste ano é motivo de orgulho nacional, pelo menos até a segunda página.

Conta de transações correntes

No que diz respeito à conta de transações correntes, a moeda desvalorizada trouxe bons números ao país em 2020.

Para simplificar, enquanto a balança comercial registra todos os recursos financeiros enviados ou recebidos do exterior quando há troca de mercadorias entre residentes e não-residentes, a balança de transações correntes, agrega além dos números da balança comercial, os registros que envolvem o pagamento de serviços e de rendas enviadas e recebidas do exterior como, por exemplo, lucros, salários, juros etc. a balança comercial é, portanto, uma “subconta” da conta de transações correntes.

A conta de transações correntes, importante indicador do setor externo, tem registrado sucessivos superávits em 2020, o que não é muito comum ao Brasil, afinal, é nessa conta que ficam registrados, por exemplo, os lucros de multinacionais domiciliadas no Brasil enviados ao exterior.

Segundo o Banco Central do Brasil, no mês de setembro o Brasil registrou o sexto superávit mensal consecutivo nesta conta. Em doze meses encerrados em setembro deste ano, o déficit registrado foi de US$ 20,7 bilhões, abaixo dos US$ 47,9 bilhões registrados nos doze meses encerrados em setembro do ano passado.

De janeiro a setembro de 2020, a despeito dos sucessivos resultados positivos, o déficit acumulado foi de US$ 6,5 bilhões. Em 2019, o déficit acumulado nos nove primeiros meses do ano havia sido de US$ 36,7 bilhões.

A diminuição do déficit em transações correntes foi possibilitada pelo aumento dos resultados comerciais, pela diminuição dos serviços contratados como, por exemplo, viagens de brasileiros ao exterior, e pela diminuição do rendimento das empresas estrangeiras domiciliados no Brasil, por exemplo.

De maneira análoga ao resultado da balança comercial, uma parte da “melhora” dos dados externos tem sido possibilitada pela própria crise.

Conta financeira

Outra conta importante que registra saída e entrada de recursos financeiros no país é a conta financeira. E para essa outra conta o aumento do clima de incerteza prejudicou bastante o ingresso de recursos produtivos no país.

De forma bastante simplória seria correto imaginar que a desvalorização da moeda brasileira atrairia muito capital produtivo estrangeiro ao país, ademais, quando a nossa moeda está mais desvalorizada, os nossos produtos e empresas ficam relativamente mais baratos ao investidor estrangeiro.

Com relação à chegada deste tipo de capital ao país, não foi o que aconteceu, e são inúmeros os motivos dessa frustração.

O aumento do clima de incerteza global impediu que volumes maciços de investimentos produtivos migrassem ao Brasil, tal como aconteceu na crise de 2008, quando a crise do subprime atingiu forte e primeiramente as economias mais desenvolvidas, deixando a cargo dos países emergentes o papel de fazer reproduzir o capital especulativo e produtivo.

De janeiro a setembro de 2020 os investimentos produtivos que ingressaram no país somaram aproximadamente US$ 28,5 bilhões, abaixo dos US$ 52 bilhões registrados em 2019 ou dos cerca de US$ 78 bilhões registrados em 2011.

De modo geral, enquanto a conta de transações correntes têm “entregado” bons números, refletindo a falta de tração da atividade econômica nacional e a desvalorização da moeda brasileira, a conta financeira não tem registrado o mesmo movimento.

Impactos no câmbio

Desde o começo deste século o Brasil não tem encontrado dificuldade em relação às contas externas.

A entrada da China na Organização Mundial do Comércio, o aumento dos preços das commodities agrícolas e minerais no mercado internacional e o crescimento da economia nacional na primeira década dos anos 2000 permitiu ao país uma relativa tranquilidade quando o assunto é balanço de pagamentos.

Estamos observando o comportamento destas contas a partir do aumento do endividamento público, decorrente da pandemia, da sensível diminuição da taxa básica de juros e da maxidesvalorização cambial que experimentamos em 2020.

Apesar de relativo controle, pode haver uma mudança importante de direção quando o Banco Central entender que é hora de aumentar a taxa básica de juros, quando, e se, o dólar americano voltar a valer R$3,80 ~ R$ 4,00, ou quando os esforços do governo estiverem voltados para diminuir o impacto fiscal causado pela pandemia deste novo vírus.

Veremos.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

Qual o efeito da desvalorização do real sobre as exportações e importações brasileiras?

Quando há uma desvalorização cambial, em geral o efeito é positivo para a balança comercial do país. Isso ocorre porque os bens importados ficam mais caros relativamente, e os bens produzidos no país ficam mais competitivos no exterior (mais baratos para quem compra).

Qual é o impacto da desvalorização do real na economia brasileira?

A depreciação do real ante o dólar afeta principalmente a inflação e o comércio internacional. A respeito dos impactos sobre a dinâmica inflacionária, tem-se que insumos importados, por exemplo, ficarão mais caros, aumentando custos de produção, ônus que será repassado aos preços finais.

Quais as consequências da desvalorização do real para o balanço entre importações e exportações?

Na hipótese de uma valorização do dólar (uma desvalorização do real), caem as importações e aumentam as exportações. Com a redução das importações, a demanda por dólares cai. O aumento das exportações, por sua vez, aumenta sua oferta. Novamente os dois movimentos – oferta e demanda de dólares – atuam.

Porque a desvalorização do real é bom para o setor exportador?

A valorização do dólar no Brasil implica em desvalorização do Real e vice-versa. Quando ocorre a desvalorização do Real os efeitos sobre os preços de produtos de exportação são positivos, ou seja, tais produtos se valorizam em reais. É o que vem ocorrendo neste momento em nosso país com a soja, por exemplo.