Qual a importância da participação da comunidade em preservar os sítios arqueológicos?

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Resumo

O presente relatório descreve as atividades realizadas em dupla com o colega de especialização José Luiz Lopes Garcia, no âmbito do Projeto de Intervenção Atividades Educativas Centradas no Patrimônio Arqueológico: Uma Alternativa Pedagógica, aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, matriculados no Colégio Estadual Dom Abel SU. As atividades foram organizadas e aplicadas em forma de oficinas, que contemplaram o conceito de patrimônio cultural e patrimônio arqueológico. A última oficina, após a discussão teórica, referiu-se a uma escavação simulada, onde os discentes puderam compreender como ocorre a pesquisa arqueológica em campo a fim de se localizar os vestígios arqueológicos. Entende-se que o projeto de intervenção realizado é uma Educação Patrimonial, uma vez que as ações pedagógicas prezaram por um diálogo acerca do patrimônio cultural no intuito de que os alunos reconheçam seus patrimônios culturais, bem como realizem práticas de salvaguarda. Dessa forma, contemplam-se no relatório os autores que nortearam a aplicação do projeto e os resultados obtidos.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Patrimônio Arqueológico; Arqueologia; Preservação

Introdução

O presente relatório tem por objetivo descrever a aplicação do projeto de intervenção no Colégio Estadual Dom Abel SU, localizado no município de Goiânia, no âmbito da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, oferecida pela Universidade Federal de Goiás. As atividades foram destinadas aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, com idade entre 10 a 12 anos. O principal objetivo do projeto consistiu na realização de uma Educação Patrimonial a fim de sensibilizar os alunos sobre a importância de reconhecer e preservar o seu patrimônio cultural, principalmente o patrimônio arqueológico.

Entendemos que o patrimônio cultural é um conjunto de bens materiais e imateriais, como as crenças, as manifestações culturais, as celebrações e festividades, os saberes, os acervos bibliográficos, as obras de arte, as danças, os lugares, os vestígios arqueológicos, a paisagem, as cachoeiras, rios, dentre outros. O patrimônio cultural é fundamental para a sociedade por fazer a mediação entre passado, presente e futuro, como apontado por Gonçalves;

O patrimônio é usado não apenas para simbolizar, representar ou comunicar: é bom para agir. Essa categoria faz a mediação sensível entre seres humanos e divindades, entre mortos e vivos, entre passado e presente, entre céu e terra e entre outras oposições. Não existe apenas para representar ideias e valores abstratos e ser contemplado. O patrimônio, de certo modo, constrói, forma as pessoas.

É justamente a partir da concepção de que o patrimônio cultural constrói a identidade individual e coletiva que se torna imprescindível o seu reconhecimento por parte da comunidade que o gera, a fim de não ocorrer sua destruição. No que se refere ao patrimônio arqueológico, da fragilidade dos sítios e do número elevado da sua destruição no decorrer do tempo, se faz necessário atividades de sensibilização sobre a sua preservação e as medidas que devem ser tomadas quando em contato com ele. O intuito não é conscientizar as pessoas, mas sensibilizá-las, propor e realizar reflexões da importância do patrimônio arqueológico.

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Os nossos pressupostos teóricos foram baseados nas discussões realizadas por autores como Mário Chagas, Márcia Bezerra, Flávio Leonel Abreu da Silveira e Paulo Freire. Para tais, a educação é uma das formas de se realizar o reconhecimento e a preservação do patrimônio cultural, tomando ciência da sua importância para a formação individual, a construção de sua cultura e identidade.

Assim, no decorrer do presente relatório apresentamos o nosso referencial teórico e a metodologia utilizada; descrevemos como ocorreu a aplicação do projeto e os resultados esperados; nos anexos constam as fotografias de cada etapa realizada.

1. Referencial Teórico e Metodologia

Atualmente, uma das maneiras de se abordar a questão do patrimônio cultural em espaços de educação formal ou não formal nomeia-se de Educação Patrimonial. A realização de ações voltadas para a sensibilização sobre os patrimônios culturais ocorrem há vários anos, principalmente em museus. De acordo com Mario Chagas (2006), na segunda metade do século XIX a formação de cientistas e a produção científica brasileira tinham como base de apoio os museus, visto que ainda não haviam sido criadas universidades no país. Dessa forma, antes da institucionalização de um dispositivo legal para a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, os museus produziram e executaram práticas de preservação e atividades educativas anteriores à criação da concepção do que seria patrimônio. Para o autor, a educação patrimonial está presente no Brasil desde as práticas educativas dos museus no século XIX, bem como no serviço educativo do Museu Nacional.

Uma das problemáticas levantadas por Chagas corresponde à tentativa de se estabelecer um marco zero para a educação patrimonial, especificamente o 1º Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos, realizado em 1983 no Museu Imperial. Ao definir uma data e um local, para Chagas, desconsideram-se as contribuições de outros autores, que em seus textos apresentam e sugerem o desenvolvimento de práticas educacionais tendo por base manifestações consideradas como patrimônio cultural, são eles: Anísio Teixeira, Waldissa Russio, Paulo Freire, Gustavo Barroso, dentre outros.

Paulo Freire, dentre os autores citados acima, em seu livro Pedagogia da Autonomia, especificamente no capítulo Ensinar exige reconhecimento e assunção da identidade cultural, ressalta a importância de nos assumirmos enquanto seres históricos, sociais e culturais. Para Freire, a identidade cultural, que faz parte da dimensão individual dos educandos, não é algo que deve ser desprezado, pois é fundamental que na prática educativa ocorra o respeito, a “assunção de nós por nós mesmos”. Nesse sentido, o professor não pode ignorar a cultura dos seus alunos, como se fosse algo externo ao ambiente da escola. Os discentes possuem visões de mundo, crenças e valores que, em um âmbito geral, se divergem um dos outros. Cabe ao docente instigar o reconhecimento dessa diversidade cultural e a valorização dos patrimônios culturais, como meio de fortalecimento da identidade e das memórias individuais e coletivas. Nesse sentido, percebemos na fala de Paulo Freire a importância de uma educação voltada para a cultura, para os bens culturais, ou seja, para o patrimônio cultural, consagrado ou não.

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As concepções de Paulo Freire estão presentes nas primeiras e atuais discussões sobre a Educação Patrimonial. No Guia de Educação Patrimonial Maria Lourdes Parreira Horta, Evelina Grunberg e Adriane Queiroz Monteiro apresentam pela primeira vez o termo Educação Patrimonial, definindo-o como um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural. Para tais, o reconhecimento do patrimônio cultural por parte da comunidade que o produz garante a sua preservação sustentável, sendo fundamentais ações que potencializem as discussões sobre os patrimônios culturais, no intuito de fortalecer os sentimentos de identidade e cidadania. No Guia, as autoras ressaltam que a

Educação Patrimonial é um processo de alfabetização cultural, como propõe Paulo Freire em sua ideia “empowerment”. De acordo com Bezerra e Silveira;

Nosso propósito não é o de discutir as idéias de Freire, mas mostrar que a visão de uma prática educativa fundamentada na cultura não surge com a Educação Patrimonial. Na verdade, o próprio “Guia Básico de Educação Patrimonial”, publicado pelo Iphan em 1999 (HORTA,GRUNBERG & MONTEIRO), inspira-se de forma inequívoca em Freire ao afirmar, em suas primeiras páginas, que “a Educação Patrimonial é um processo de alfabetização cultural” (Idem: 6). Em artigo posterior, Horta (2003:1) deixa claro que a Educação Patrimonial pode ser um instrumento de “alfabetização cultural” (...) como propõe Paulo Freire em sua idéia de “empowerment”.

Assim, a Educação Patrimonial tem, por base, discussões anteriores à produção do Guia, que contribuíram imprescindivelmente para a metodologia e as práticas adotadas atualmente. Inclusive, é importante ressaltarmos que no anteprojeto de criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), elaborado por Mário de Andrade, foi destacada a importância da educação no processo de salvaguarda do patrimônio.

Nos anos 2000, verificamos uma intensificação da realização da Educação Patrimonial por meio de normativas do IPHAN, como por exemplo: 1) a promulgação da Portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002, que torna obrigatória a Educação Patrimonial em processos de licenciamento ambiental; 2) a criação das casas do patrimônio, que define lugares específicos para a realização da Educação Patrimonial; 3) a promulgação da Instrução Normativa nº 001, de 25 de março de 2015, que ampliou as exigências para a execução da Educação Patrimonial no licenciamento ambiental. Devido à obrigatoriedade da realização de ações educativas concatenadas às pesquisas arqueológicas do licenciamento ambiental, as comunidades do entorno dos empreendimentos participam de discussões, palestras, cursos e exposições sobre o patrimônio arqueológico. Isso faz com que a população participante dessas ações se aproprie do patrimônio arqueológico, entendendo-o como um bem importante para a geração e a transmissão das memórias, bem como para a construção da identidade individual, coletiva e étnica.

A área da Arqueologia que se predispôs a discutir a questão social da pesquisa, dos impactos causados e qual pode ser a contrapartida entre o pesquisador e a sociedade, é nomeada de Arqueologia Pública. Surgiu anteriormente ao 1º Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos, realizado em 1983, no Museu Imperial, e visa à criação e aplicação de ações que levem ao público leigo resultados das pesquisas, dos bens arqueológicos encontrados nas escavações etc. Bezerra e Silveira destacam a importância da Arqueologia Pública e chamam a atenção para a pouca produção acadêmica sobre os resultados alcançados com as ações, sendo necessária uma maior atenção por parte dos educadores patrimoniais e ambientais, e dos técnicos do campo do patrimônio.

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Compreendemos que a Arqueologia Pública tem uma relação intrínseca com a Educação Patrimonial, ambas não devem ocorrer apenas no âmbito do licenciamento ambiental, mas em diversos espaços, seja na educação formal e não formal. É pensando justamente nisso e na emergência de se levar à sociedade a sensibilização a respeito do reconhecimento e da preservação do patrimônio cultural, que o projeto de intervenção foi elaborado e executado.

Com a realização da Educação Patrimonial, o público-alvo é instigado a refletir sobre os seus patrimônios culturais, a promover práticas de reconhecimento e salvaguarda de seus bens; além disso, torna-se mais participativo e crítico na sociedade. A participação da comunidade no processo de tombamento, de registro e de inventário dos patrimônios culturais é imprescindível.

Na metodologia utilizada as atividades foram divididas em quatro etapas subsequenciais, utilizando-se quatro dias no total. A primeira etapa correspondeu ao contato com a escola selecionada para a execução do projeto, no caso o Colégio Estadual Dom Abel SU, e à elaboração dos planos de aula para a realização das oficinas, onde foi apresentado e detalhado o projeto. O agendamento ocorreu de acordo com a disponibilidade da Instituição de Ensino, no caso, para o mês de agosto/18.

A segunda etapa consistiu na realização das oficinas de Educação Patrimonial e Arqueologia aos discentes do 6º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Dom Abel SU, com 32 alunos. Essas oficinas tiveram a duração média de 1 hora e 30 minutos e ocorreram em três momentos.

1ª Oficina - foram introduzidos os conceitos de patrimônio cultural, com a exemplificação de bens culturais do município de Goiânia e do Bairro onde os discentes residem. Com isso, puderam correlacionar o que é patrimônio cultural e que esse patrimônio tem um órgão cuidador no Brasil inteiro, no caso, o IPHAN;

2ª Oficina - com o foco na arqueologia, tratou da explicação sobre o Cerrado, as mudanças do espaço, dos povos que habitaram a região e como as pesquisas arqueológicas e o resgate/identificação das peças arqueológicas contribuem para o estudo da habitação e cultura humana. Foram apresentadas as metodologias de trabalho em campo, os mitos e a realidade sobre essa ciência, dentre outras questões.

3ª Oficina - foi a simulação de uma escavação arqueológica, especificamente de peças cerâmicas, que foram devidamente preparadas com desenhos rupestres e uma letra em cada peça, enterradas em um espaço adaptado dentro da escola. Cada peça enterrada teve um registro, uma letra. Quando resgatadas (desenterradas) as letras foram colocadas todas juntas, mostrando uma mensagem surpresa para os pequenos pesquisadores.

2. Aplicação do Projeto

Conforme o programado, foi escolhida a escola estadual CEPI Dom Abel S.U, que atua com regime integral com seus alunos. O primeiro contato foi feito com o diretor da escola, que transferiu de imediato para o professor de História, Sr. Paul. O encontro ocorreu em junho/2018, quando apresentamos o projeto ao professor. A reação foi bastante positiva e as outras etapas do projeto ficaram marcadas para agosto.

No dia 23 de agosto de 2018 foram comprados os potinhos em cerâmica para serem desenhadas as figuras rupestres em cada um deles (Anexos “Os Potes”).

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No dia 25 de agosto de 2018 foi feita a preparação do “Local do Sítio” (Anexos “Preparação do Sítio”), escolhemos uma área interna da escola ao lado da quadra de esportes. O local é de terra batida com restos de entulho contemporâneo, foi limpo para marcação das quadrículas e abertos quatro buracos em cada uma, onde foram enterrados os potinhos (Anexo “Colocação dos Potes”).

No dia 28 de agosto de 2018 foi realizada a apresentação, com os conceitos de Patrimônio Cultural (Anexos “Patrimônio Cultural”) e a exemplificação de bens culturais do município de Goiânia e do Bairro onde os discentes residem; com isso, pode-se correlacionar que esse patrimônio conhecido tem um órgão cuidador no Brasil inteiro, o IPHAN.

No mesmo dia foi realizada a oficina, com o foco na arqueologia, onde foi tratado sobre o bioma Cerrado, as mudanças do espaço, dos povos que habitaram a região e como as pesquisas arqueológicas e o resgate/identificação das peças arqueológicas contribuem para o estudo da habitação e cultura humana (Anexos “Apresentação Patrimônio Arqueológico”). Foram apresentadas as metodologias de trabalho em campo, os mitos divulgados pela mídia e a realidade sobre essa ciência. Foi mostrado o que é arqueologia, o que se faz, quem é o arqueólogo e o que ele faz, a diferença entre o arqueólogo e o paleontólogo (Anexos “Apresentação Patrimônio Arqueológico”).

Na sequência, foi realizada a simulação de uma escavação arqueológica, onde foi explicado sobre a montagem das quadriculas (Anexos “O dia do Resgate”), sua utilidade e os procedimentos a serem realizados. Os alunos vivenciaram como é um resgate na prática, com suas ferramentas utilizadas na escavação para encontrar os vestígios arqueológicos que estavam enterrados.

Após o término do resgate das peças em cerâmica, os alunos foram questionados sobre as figuras que tinham em cada um dos potes, despertando a observação de que não havia somente uma figura rupestre, mas também uma letra (Anexos “Avaliação do que se encontrou”). Quando todos visualizaram as letras, direcionamos para a formação de uma frase, colocando cada possuidor dos potes na ordem de formação da seguinte frase, “Todos temos a mesma origem” (Anexos “A Mensagem”).

Após o término das atividades de campo, os alunos foram direcionados para a sala de aula, onde responderam a uma avaliação pré-elaborada com perguntas direcionadas para cada uma das atividades que participaram (Anexos “Avaliação escrita”).

3. Resultados Obtidos

Durante as oficinas desenvolvidas no Colégio Estadual Dom Abel SU, o que mais chamou a atenção foi a integração dos alunos com os mediadores das oficinas. A participação, por meio de perguntas e complementação sobre cada assunto, foi intensa com praticamente todos os alunos. Na oficina de campo, onde resgataram os vestígios arqueológicos, o envolvimento de todos foi excelente, muitas perguntas e satisfação ao encontrar os potes que estavam enterrados.

Elaboramos um questionário com foco nas atividades realizadas, a fim de compreender de forma mais objetiva como o assunto foi assimilado pelos alunos e se houve mudanças na compreensão sobre o que são arqueologia e patrimônio cultural. O questionário é composto por seis questões referentes às três oficinas aplicadas:

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  1. Descreva o que você compreendeu sobre o patrimônio cultural.
  2. O patrimônio cultural de Goiânia é importante? Justifique sua resposta.
  3. Como o Cerrado era há 10 mil anos?
  4. O que é o arqueólogo e qual a sua importância para a sociedade?
  5. O que são os sítios arqueológicos?
  6. Você gostou da atividade prática (a escavação)? Por quê?

Ao total foram 16 questionários respondidos. Em sua maioria foram respondidas todas as perguntas, alguns deixaram algumas, poucos responderam parcial e poucos responderam sem entender. Isso, basicamente, devido a alguns alunos terem participado somente da oficina da escavação simulada; não estavam presentes quando das explanações.

Na planilha abaixo é possível verificar quantas questões foram respondidas:

Tabela 1 – Dados das questões respondidas no questionário sobre as oficinas

PerguntasRespondeu corretamenteRespondeu sem entenderNão respondeu
Imparcial Parcial
Descreva o que você compreendeu sobre patrimônio cultural 13 5
O patrimônio cultural de Goiânia é importante? Justifique sua resposta. 14 1 4
Como o Cerrado era há 10 mil anos? 15 1 3
O que é o arqueólogo e qual a sua importância para a sociedade? 16 4
O que são os sítios arqueológicos? 15 1 3
Você gostou da atividade prática (a escavação)? Por quê? 15 1

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Em relação ao patrimônio cultural, tema da questão nº1, em âmbito geral, os alunos definiram como aquilo que pertence a eles individualmente e coletivamente, sendo importante. Outros, por sua vez, definiram como algo (objeto, festa, lugar, dentre outros) que vem da cultura ou que é igual à cultura. Nas respostas descritas abaixo verificamos esses dois pontos:

“Patrimônio cultural é uma coisa que pertence a mim”.

“Que vem de geração a geração e que é nosso”.

“O patrimônio cultural é o que a gente acha importante para nós e que vem de cultura”.

“Patrimônio cultural é aquilo que é nosso que é igual cultura”.

Durante a explicação da definição de patrimônio cultural, ressaltamos que é patrimônio aquilo que uma pessoa ou comunidade considera como importante para a sua cultura, história e memória, que tem um caráter de pertencimento. Dessa forma, muitos alunos entenderam como algo que pertence a eles e que precisa e requer cuidados de preservação e de transmissão. Apresentamos separadamente as palavras patrimônio e cultura e enfatizamos que o patrimônio é gerado, ressignificando e construído a partir da cultura, por isso a presença da palavra cultura nas respostas da questão número 1.

Sobre a questão nº 2, se o patrimônio cultural de Goiânia é importante, todos responderam que sim, no entanto, apenas alguns alunos justificaram sua resposta. Na oficina teórica a respeito do patrimônio cultural foram apresentadas fotografias dos patrimônios culturais de Goiânia, como a Estação Ferroviária, o Grande Hotel, o Monumento às Três Raças, o Arraiá do Cerrado, o pequi, dentre outros. Muitos desses bens culturais são conhecidos pelos alunos, no entanto, ainda não havia sido criado, pela maioria, um olhar sobre a importância deles para a construção de uma identidade goiana.

Ao apresentarmos algumas fotografias da década de 1950, que representam determinados pontos de Goiânia, os alunos foram instigados a citarem o nome a localização atual desse bem e a pensarem nas modificações realizadas. Como, por exemplo, as modificações da Estação Ferroviária, não apenas no âmbito do prédio, mas do número de pessoas que ali passava, da passagem do Trem; a Estação como um dos principais pontos de chegada à capital. Outro exemplo correspondeu ao Palácio das Esmeraldas, cuja fotografia exposta mostrava o gado sendo conduzido à sua frente, algo improvável atualmente. Pensar sobre esses bens despertou nos alunos a possibilidade de conhecer um passado e um presente a partir do patrimônio cultural, significou identificar-se enquanto goiano, de preservar e transmitir as memórias, como citado por uma aluna no questionário:

“Sim, é muito importante para mim e para todos. É importante para nossa memória.”

A segunda oficina tratou sobre o Cerrado; como era esse bioma há dez mil anos e a importância do arqueólogo para o seu estudo. Por meio de slides e explanação, o arqueólogo apresentou a vegetação e a grandiosa fauna que habitou partes de onde hoje é Cerrado, mas que na época era Caatinga. Assim, os discentes responderam a questão nº 3, “Como o Cerrado era há dez mil anos?”, ressaltando a grandiosa fauna, a Caatinga, os cactos, um ambiente muito seco e quente. As respostas dos discentes demonstrou que eles tiveram domínio do conteúdo exposto.

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As questões nº 4 e nº 5 foram elaboradas a partir da oficina sobre a Arqueologia, em específico sobre a importância do(a) arqueólogo(a) e o que são sítios arqueológicos. No que se refere à relevância do arqueólogo para a sociedade, muitos apontaram que como pesquisador ele encontra vestígios do passado, o que é fundamental para conhecer a história e o modo de como os seres humanos viviam em épocas pretéritas.

“Eles são importante, pois acham coisas que podem explicar o nosso passado, por exemplo, os jeitos que eles viviam no período anterior.”

“Porque eles mostram várias coisas antigas que acham nos sítios arqueológicos.”

“Ele acha peças importantes do passado.”

“O arqueólogo, pelo o que eu sei, é aquela pessoa que sai pra procurar artefatos antigos, já se diz que quando eles acham ficam felizes porque acharam uma coisa que foi colocada ou enterrada lá há anos”.

“São pessoas que escavam para achar coisas antigas. Pode falar o que aconteceu no passado.”

“São as pessoas que cavam para encontrar alguma coisa do tempo antigo.”

Em relação à definição de sítios arqueológicos, os alunos caracterizaram como o local onde os arqueólogos escavam ou onde encontram muitas peças antigas sobre o passado. As respostas estão de acordo com a explicação dada pelos mediadores.

A última pergunta foi sobre a escavação simulada: “Você gostou da atividade prática (a escavação)? Por quê?”. Todos responderam que sim e as justificativas corresponderam à experiência de realizar uma atividade parecida ao do arqueólogo e por terem encontrado os potes de cerâmica. As respostas foram:

“Achei coisas antigas.”

“Foi divertido encontrar coisas antigas.”

“Sim, porque agora aprendi que não posso cavar desesperadamente.”

“Sim, eu acho que é muito bom escavar coisas, eu e meu primo fazíamos isso.”

“Sim! Porque achamos coisas! Aprendemos bastante.”

“Sim. Foi divertido e fiz coisas que não fiz antes”.

“Sim. Foi legal porque a gente escavou e achou potinho. Mas eu queria outro potinho o meu era pequeno.”

“Eu não gostei, eu amei, foi muito bom, eu queria fazer isso mais vezes e os arqueólogos são muito legais, são nota 10 (coração) amei.”

“Gostei muito porque explica o trabalho do arqueólogo e é bem interessante.”

“Sim, porque eu gostei, porque foi divertido e foi espetacular.”

“Sim. Porque ensina como retirar o objeto da terra”.

“Gostei. Foi bom até poder sentir a expressão de um arqueólogo quando acha um artefato antigo, isso é bom. Foi bom cavar e tal, ainda mais se estiver com alguém ou amigo seu, poder expressar essa experiência vivida é ótimo”.

“Porque foi bem legal, adorei os professores que nos ajudaram, foi bem legal”.

“Gostei muito, espero ter isso de novo, quando eu crescer talvez vou ser um arqueólogo.”

“Sim, porque era muito legal e interessante.”

“Eu fiquei bobo, foi muito bom”.

“Eu gostei muito da escavação porque a gente cavou, tirou potes, fez frases, mais coisas, etc...”

“Sim e gostei porque depois de escavar a gente ganhou um pote.”

A partir dessas respostas fica evidente que os alunos apreciaram a atividade prática e aprenderam noções básicas sobre a arqueologia e o patrimônio arqueológico.

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Por meio das oficinas aplicadas, buscamos desenvolver uma reflexão por parte dos alunos acerca de seu patrimônio cultural, com um olhar mais específico para o patrimônio arqueológico. Muitos dos alunos não conheciam a profissão do arqueólogo ou o significado e importância do patrimônio arqueológico, resultando, a partir das atividades realizadas, um novo olhar sobre essa temática, integrando o patrimônio arqueológico às suas vivências, identidade e memória.

Anexos

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Qual é a importância de preservar os sítios arqueológicos?

PATRIMÔNIO NACIONAL Os sítios arqueológicos brasileiros têm contribuído para a construção da história do povoamento do continente americano, inclusive com dados que contrapõem teorias aceitas internacionalmente.

Como cidadão pode colaborar na prevenção dos sítios arqueológicos?

“Quando alguém encontra um objeto arqueológico, é muito importante entrar em contato com o Iphan, que vai providenciar a destinação correta do material”, esclarece Lemos. “O objetivo é a conservação em um local que tenha as condições adequadas para abrigar cada tipo de material”, completa.

Por que é importante preservar os sítios arqueológicos do Brasil onde estão os sambaquis?

Devido a sua importância histórica e científica, os sambaquis atraem pesquisadores do Brasil e do exterior, mas também bem do cidadão comum. Nesses termos, considera-se que tais sítios, integrados em roteiro turístico, podem contribuir para a economia do local em que se situam.

O que devemos fazer para proteger o patrimônio arqueológico brasileiro?

O Patrimônio Material é regulado pelo Decreto Lei nº 25, de 1937, da Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, e pode ser preservado por meio de ações de: Tombamento: É o mais antigo instrumento de proteção, e consiste em proibir a destruição de bens culturais tombados, colocando-os sob vigilância do Instituto.