Candido Portinari (Brodósqui, SP-1903 / Rio de Janeiro, RJ-1962)Pintor expressionista, gravador, ilustrador e professor. Show
Candido Portinari foi um dos pintores brasileiros mais famosos. Portinari pintou quase cinco mil obras (de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão como O Lavrador de Café à gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956 e que em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro). Destacou-se também nas áreas de poesia e política. Durante sua trajetória, ele estudou na Escola de Belas-Artes do Rio de Janeiro; visitou muitos países, entre eles, a Espanha, a França e a Itália, onde finalizou seus estudos. No ano de 1935 ele recebeu uma premiação em Nova Iorque por sua obra "Café". Deste momento em diante, sua obra passou a ser mundialmente conhecida. Dentre suas obras, destacam-se: "A Primeira Missa no Brasil", "São Francisco de Assis" e Tiradentes". Seus retratos mais famosos são: seu auto-retrato, o retrato de sua mãe e o do famoso escritor brasileiro Mário de Andrade. No dia seis de fevereiro de 1962, o Brasil perdeu um de seus maiores artistas plásticos e aquele que, com sua obra de arte, muito contribuiu para que o Brasil fosse reconhecido entre outros países. A morte de Candido Portinari teve como causa aparente uma intoxicação causada por elementos químicos presentes em certas tintas. “O vigário João Rulli desejava encomendar uma porteira e não se entendiam, peguei um papel e desenhei a porteira. O padre ficou olhando para mim e disse: – Amanhã chegará o frentista para ornamentar a fachada da nova igreja. Você deve ir vê-lo e aprender. Ricardo Luini era o nome do meu escultor. (…) Quando terminou, deu-me uma prata de dois mil réis e uma viagem
a Ribeirão Preto. Pessoa muito boa”. Falar de um dos artistas mais prestigiados do Brasil após os monumentos literários escritos por Antonio Bento (de Araujo Lima)[1] e Antonio Carlos Callado[2] entre tantos outros, é, no minimo, tautológico, uma vez que esses autores já estudaram, examinaram, aclararam, e observaram minuciosamente todas as suas preocupações sociais com o homem e seu comportamento. Não menos importante é o “Projeto Portinari[3]” que seu filho, João Candido, implantou a partir de 1979 e que reúne vasto acervo documental sobre a obra, vida e época do artista, cuja sede está no Campus da PUC-RJ. O tema central da obra de Candido Portinari é o ser humano e sua temática social, repleta de situações aflitivas e dolorosas ou aquelas que lembram sua infância na sua terra natal, verdadeiramente líricas. Candido Portinari - BiografiaCandido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, em Brodósqui, no interior do estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebe apenas a instrução primária e desde criança manifesta sua vocação artística. Começa a desenhar em 1909, e pouco depois (1912 ca.) participa da restauração da Igreja de seu povoado natal. Sua vida como pintor – penso que sempre o foi desde seu nascimento – começou em 1918 quando foi para o Rio de Janeiro e iniciou seu aprendizado no Liceu de Artes e Ofícios. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, com Rodolfo Amoedo, Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Carlos Chambelland. 1922-1928: Desde 1922, Portinari concorria sempre aos “Salões” com retratos de seus amigos, que inicialmente passaram inobservados, até que o retrato de Paulo Mazuchelli lhe rendeu alguns prêmios. Naquele 1928 Portinari, com o retrato do poeta Olegário Mariano[4], ganhou o prêmio de Viagem ao Estrangeiro; partiu para Paris e visitou – 1929-1930 – visitando também a Inglaterra, a Itália e a Espanha, percorrendo museus e galerias. Declarou antes de sua partida: “entendo que a estadia na Europa não deve ser aproveitada pelo pintor para uma produção intensa e quase nada meditada, como têm feito alguns colegas. Considero-o um prêmio de observação. O que vou fazer é observar, pesquisar, tirar da obra dos grandes artistas – do passado nos museus, ou do presente nas galerias – os elementos que melhor se prestem à afirmação de uma personalidade. Procurarei encontrar o caminho definitivo de minha arte fazendo estudos e nunca quadros grandes... .” Importante: conheceu e casou-se com Maria Martinelli (1912-2006) que se dedicou a todos os aspectos materiais relativos às necessidades do casal, transformando-se, por vontade própria, em marchand e administradora. Sabe-se que sempre reuniu material sobre o marido, arquivando recortes de jornais, revistas, cartas e fotos que se tornaram a base do acervo documental e da pesquisa do “Projeto Portinari”. Volta ao Brasil no início de 1931, volta com novas tendências e com a ideia dominante de fazer uma pintura brasileira, se aproximando mais de poetas e intelectuais modernistas de São Paulo. Vê-se que o pintor descobriu o Brasil – a exemplo de Oswald de Andrade (1925, ca.) – em Paris. Expõe no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova York e o MOMA adquire a tela "Morro do Rio[5]" (Figura 2). A obra é comprada e incluída no acervo do Museu, que organiza em 1940, uma exposição exclusiva do artista brasileiro em Nova York, quase como consequência do sucesso da obra “Café” na Exposição Internacional de Pittsburg (1935) que projetou e inseriu seu nome no cenário internacional da arte e que, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, foi adquirida pelo MNBA-RJ. Portinari já era o artista capaz de utilizar o academicismo de sua formação, fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista moderna. 1937-1945: Vivíamos um período que insistentemente Gustavo Capanema – Ministro da Educação e Saúde Pública – queria dar visibilidade às propostas “modernas” que circulavam nos ambientes intelectuais da capital federal durante o Estado Novo, materializada através da construção de um “moderno” edifício para o MEC – Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, et allis – e importante na vida de Portinari que compôs afrescos mostrando nosso “Ciclo Econômico” além dos cartões para os azulejos que revestem as paredes externas do edifício, que foram fabricados pela Osirarte, em São Paulo (1943, ca.). Em 1944, um acontecimento maior com a realização mural e azulejos sobre a vida de São Francisco para a Capela do Complexo da Pampulha em Belo Horizonte – leia-se Oscar Niemeyer – que completaria com a “Via Sacra” em 1945[6]. Uma digressão que mostra uma quase concomitante amoralidade no uso da arte pelos regimes totalitários. A exemplo do que havia acontecido na Itália de Mussolini com “Il Ritorno all’Ordine” e o “Grupo Pesaro” aproveitado por Margherita Sarfatti, também Portinari não foi um "pintor oficial", nem a sua arte “engajada”. Tanto no contexto do nacionalista Estado Novo (1937-1945) bem como no então Fascismo Italiano as imagens daqueles artistas foram utilizadas pelo Regime da mesma maneira que a obra portinariana, tão somente, porque possuíam uma linguagem e uma imagística conveniente. Na Itália o movimento representava “um retorno à ordem” após longo período de tumultos socializantes, e no Brasil, o “Ciclo Econômico” representava uma “brasilidade” pronta para uma nova etapa de grande desenvolvimento[7]. Em ambos os casos não foi possível combinar arte e política. 1947-1954: Participante da intelectualidade brasileira numa época de notável mudança na atitude estética e na cultura do País e influenciado pelos problemas da nossa realidade nacional é levado à militância política e como consequência exilou-se no Uruguai. Em 1951 já o vemos de volta ao Brasil figurando com relevância na Iª. Bienal de São Paulo, em uma sala particular. Apareceram, porém os primeiros problemas de saúde; o mais grave em 1954 caracterizado como uma grave intoxicação pelo chumbo presente nas tintas que usava. 1952-1956: Criou os dois painéis “Guerra e Paz” (14 x 10 m cada um) encomendados pelo governo brasileiro para presentear a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. As duas obras foram criadas com o apoio de cerca de 180 estudos iniciais que duraram a maior parte dos quatro anos do projeto. A execução final demorou 9 meses. Na concepção do diretor do Projeto Portinari, João Cândido... “essa obra-síntese constitui o trabalho maior de toda a vida do pintor. O mais universal, o mais profundo, também, em seu majestoso diálogo entre o trágico e o lírico, entre a fúria e a ternura, entre o drama e a poesia.” Na avaliação do artista Enrico Bianco, “Guerra e Paz são as duas grandes páginas da emocionante comunicação que o filósofo/pintor entrega à humanidade.” 1960-1962: Depois de viver os últimos anos sem grandes pinturas, Portinari sofreu diversas recaídas da doença. Sua última exposição individual em vida aconteceu em julho de 1961, na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro. Desobedecendo a ordens médicas, Portinari continua a pintar para uma grande exposição em Milão. No começo do ano de 1962 sua saúde se deteriora muito e nos primeiros dias de fevereiro ele é internado e morre na manhã do dia 06 de fevereiro. 2012: A propósito dos restauros dos painéis de “Guerra e Paz”: “Esta não é apenas uma exposição de arte. Esta é uma grande mensagem ética e humanista e que se dirige ao principal problema que o mundo vive hoje em dia: a questão da violência, da não cidadania, da injustiça social. Esta é a grande mensagem de toda a vida de Portinari e que ficou sintetizada nesses trabalhos finais que ele deixou” – João Candido Portinari. Obras ComentadasEste desenho (O pé e o machado) a carvão sobre papel kraft de Portinari é, no mínimo, curioso. Trata-se, de acordo com o Catálogo Raisonée do artista, de um dos "desenhos para transporte" para a pintura mural "Pau-Brasil"; que foi realizada em 1938, para o "Grande Salão de Audiências do Ministério da Educação". Por ser um "desenho de transporte" está admiravelmente acabado. De que se tratava afinal? Após a concepção do tema e do desenho e obtida sua aprovação por parte do comitente, o artista, em geral, apresentava um desenho detalhado do projeto final. O "desenho de transporte" ou o "desenho guia" era então reproduzido em tamanho natural sobre papel grosso ou ainda cartão. Este tinha seus contornos furados ou marcados com carvão para que, quando justaposto à parede já previamente preparada – com o reboque ainda úmido – o desenho pudesse ser facilmente transferido. O tal contorno transferido era rapidamente repassado formando assim o contorno final da figura. As cores eram aplicadas em seguida e somente a prática indicava ao artista que tonalidade adquiririam quando secas. Qualquer correção necessária significava a destruição do trabalho que havia sido feito, daí ser condição "sine qua non" a extrema habilidade e firmeza no traço, por parte do artista. Neste pequeno fragmento se percebe um desenhista que conhece a fundo o corpo humano e sua interpretação através do desenho onde, a enorme riqueza técnica e a expressão transmitida através da forma importam tanto ou mais que a cor. Na verdade, trata-se de um
fragmento de um desenho de cerca de 280x250 cm onde os personagens eram distorcidos, alongados e transfeitos para transmitir-nos o efeito dramático, suas proporções heroicas sem a necessidade de pontuar as diferenciações dos tipos étnicos que retratava. Três amigas no morro[8] "Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio" O quadro em questão é um perfeito exemplo da série marrom também chamada "brodosquiana", fase que se inicia em 1933 - 1934 e paulatinamente vai sendo transformada até 1940; sem sobressaltos ou cisões bruscas; aliás, como de costume em toda a obra "portinaresca". Considerando-se o mítico prestígio do artista e a imensa difusão iconográfica de sua obra, permito-me indicar que a obra aqui apresentada é representativa de um período em que obras muito conhecidas e prestigiadas foram produzidas; tais como, "O Circo", "O Futebol" e "O Morro"; esta última, hoje pertencente à coleção do MOMA-NYC. A obra nos apresenta uma superfície dominante de tons marrom, terra e roxo, matizada com alguma luz que ilumina as três figuras femininas de porte conspícuo, caracterizadas pelo abandono das proporções e pelo alongamento das silhuetas que lhes dá um claro endereço "neoclássico", que deve ser percebido como a recuperação da tradição pictórica enunciada por Jean Cocteau que para tal cunhou o termo "rappel à l’ordre". Pinceladas espontâneas bem substituem os humildes abrigos do morro e, efeitos claro-escuro emoldurando o tema principal nos fazem sentir a paisagem e nos transmite uma sensação de quietude que contrasta com a severidade do horizonte. A fatura pictórica dessa obra faz parte de uma fase geralmente aceita como a ruptura de Portinari para com o academismo, que também trás no seu âmago a representação da presença humana a qual se torna uma constante na obra do pintor. Não creio que faltem obras para enriquecer a bibliografia sobre Candido Portinari; os grandes teóricos, críticos e estudiosos de arte já escreveram sobre a abrangência de sua obra ou escolheram um recorte específico. Felizmente o debate não está encerrado. Portinari vive! Obras de Candido PortinariConsiderando-se que sua produção pode chegar a cerca de 5.000 obras, temos a oportunidade de ver neste recorte de 30 trabalhos a óleo, desenhos a crayon e grafite, gravuras sobre metal e litogravuras; uma amostragem significativa das obras do grande artista que através dos gigantescos murais sobre a evolução econômica do Brasil, no atual Palácio Capanema[9], mostra um momento dos mais significativos em sua carreira, apesar de infinitamente menos conhecidos que os painéis de “Guerra e Paz” da ONU[10]. Edifício originalmente concebido para ser a sede do MEC, testa a utilização da arquitetura funcionalista de “matriz corbuseana” no país, além de introduzir novos elementos. Foi construído (1936-1945) em um momento em que o Estado aspirava passar uma sensação de modernidade, de avanço intelectual, o que se refletiu tanto no projeto do edifício quanto no contexto histórico em que se insere. Falar de um dos artistas mais prestigiados do Brasil após os monumentos literários escritos por Antonio Bento (de Araujo Lima)[11] e Antonio Carlos Callado[12] é, no minimo, tautológico uma vez que esses autores já examinaram, aclararam, estudaram e observaram minuciosamente todas as suas preocupações sociais com o homem e com seu comportamento. “Candinho” as retratava sob sua ótica severa aproveitando parte da arte moderna européia (1928-1931) que pode ver, analisar e incorporar parcialmente à sua linguagem (leia-se, Escola de Paris e Retorno a Ordem), conquistando grandes admiradores no seu próprio país e no exterior. Conforme havia prometido, na Europa estudou e pesquisou muito e pintou muito pouco, sem dúvida uma forma inteligente de não submissão a um novo colonialismo patrocinado pelo Enba. Com visão conspectiva distinguimos uma obra com primazia figurativa moderna relacionada em maior ou menor gráu com o cubismo e surrealismo. Estamos falando de “modernismo” cujo mérito foi a desconstrução dos sistemas estéticos da arte tradicional... . Aquietem seus ânimos, respirem fundo e procurem a essência no retrato de uma menina negra a qual, a exemplo da maioria dos outros desenhos, logramos completá-los pela percepção, uma vez que involuntariamente nos fixamos no extraordinário poder de sua expressão facial. Que dizer da densidade, do peso dos corpos, o volume dos músculos e a força concentrada nos pés ou nas mãos, das formas escultóricas robustas como o que vemos nos “cortadores de cana”. Mesmo quando examinamos “o coelho” (lote nº ...) percebemos nele volume e “estado de alerta” tão bem representados por um único olho e pelas orelhas estiradas (lote nº ...). Já no “Frevo” com suas figuras não ancoradas à terra, são evidentes as deformações do pés e mãos dos que dançam simbolizando seu trabalho manual e agrário. É a permanente marca do gênio! CríticasPortinari marcou, com seus Retirantes, seus Meninos de Brodowski, seus quadros de lavradores o abismo
que ainda existe entre a natureza brasileira, entre o País brutalmente grandioso que nos surge à mente quando dizemos, como se disséssemos palavra mágica, “Obrasil”, e a vidinha que montou no Brasil o homem imitador da Europa e dos Estados Unidos. Sua pintura daqueles tempos é um protesto contra essa falta de intimidade que existe entre nós e aquilo que se chama realidade brasileira. É um clamor contra o fato de ainda estarmos tão superpostos à paisagem e não vitoriosamente fincados nela, como
estão os pés dos pretos, dos caboclos, dos tapuias, dos cafusos, dos curibocas e dos imigrantes. Da última vez que vi Portinari, seus olhos estavam rasos d'água. Se não me engano, foi no Castelo; eu ia em busca de uma condução e ele vinha com sua Maria. Foi muito pouco o que dissemos. Estava magro; abraçou-me profundamente e disse: Imagine, não posso pintar mais, estou proibido pelo médico. Era a hora da tarde em que as coisas são iluminadas de través e os olhos azuis de Portinari com as lágrimas que não queriam descer me apareceram como se contassem também sobre sua obra imortal. Maria não deixou muito tempo para conversa; ele não deveria comover-se. Tive vontade de sair atrás dele e dizer: Você já nos deu tanto. Você já nos deu a obra mais grandiosa que um pintor pode oferecer à sua terra, já nos acumulou de uma riqueza que vai varar os tempos, por isso, pode descansar sem preocupação por não estar mais pintando. Eles já estavam longe e as palavras morreram no meu pensamento. Só depois da morte de Portinari que eu estive na ONU e vi, no deslumbramento do apogeu de sua arte, o painel Guerra e Paz. Cada figura me apareceu facetada: astro ou pedra preciosa, com luz própria e eu tive vontade de dizer àquela gente toda que passeava pelo saguão, homens e mulheres vindos de todas as partes do mundo: Vejam vocês aí está
nossa glória, aí está o painel de nosso maior pintor. Eu também nasci no Brasil como ele, Portinari… Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa
gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros — camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem — são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura. Nestes dias de desorientação, de funambulismos e
de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens. Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar... "A partir de Café, o humano, compreendido em termos
sociais e históricos, torna-se a tônica da arte de Portinari, voltada para a captação da realidade natural e psicológica, para uma expressividade, ora serena e grave, ora desesperada e excessiva. A nova problemática encaminha-o, a exemplo dos mexicanos, para o muralismo, em que procura magnificar sua busca duma imagística nacional, alicerçada no trabalho e em suas raízes rurais. (...) Após 1947, a arte de Portinari conhece uma nova modificação. São postas de lado, ao mesmo tempo, a dramaticidade
expressiva e a preocupação social. (...) Os novos temas de Portinari são sobretudo históricos - A Primeira Missa no Brasil, Tiradentes (...). A viagem a Israel parece conferir uma nova dimensão à arte de Portinari. (...) Ao mesmo tempo em que se deixa seduzir pela cor, Portinari começa a fazer experiências com a abstração geométrica, influenciado pelo cubismo cristalino do francês Jacques Villon, pintor que admirava há algum tempo. (...) A busca dum rigor geométrico aliado a uma paleta clara e
sonora não mascara, entretanto, o esvaziamento que a pintura de Portinari vem sofrendo nos últimos anos de sua atividade artística". "(...) Quando começou a abordar esta temática (retirantes) não havia ainda preocupações sociais marcantes na obra de Portinari. Aparecem apenas famílias acampadas nos arredores de seu povoado. (...) Também não
tinham a designação de retirantes. Algumas dessas composições possuem inegável beleza plástica (...) Começaram a ser produzidos a partir de 1935. (...) Somente mais tarde a série dos retirantes assumiria uma feição acentuadamente social na carreira do mestre brasileiro. Não apenas em virtude da Grande Guerra iniciada em 1939, como em face do apelo aos recursos de expressão que caracterizariam em seguida a parte mais notável de sua obra. Esta fase social culmina com a grande tela Retirantes e com
a composição O Morto na Rede, pertencentes ao acervo do Masp. (...) Os retirantes pintados nos últimos anos da vida do artista já não eram apenas quadros sociais. Tornaram-se igualmente soluções de problemas formais. (...) De qualquer modo, em suas três fases distintas, Os Retirantes de Portinari permanecerão como alguns dos trabalhos mais significativos e pungentes da arte brasileira de todos os tempos". "O mundo de Portinari: à medida que, atraídos por ele, nós nos movemos nele através do pensamento, cheios de assombro - de medo talvez - mas aceitando seus elementos macabros com a mesma naturalidade com que nosso inconsciente acolhe os mais fantásticos sonhos que nos perturbam na hora do sono, vamos chegando, aos poucos, à percepção de que não estamos diante de um mundo apenas imaginário e sim diante da recriação intensificada e fantástica do mundo que Portinari conhece, o de
sua terra natal, o Brasil. Disto seus quadros são a prova. Neles vemos a paisagem, pisamos o chão; vemos seus trabalhadores e sua pobreza - não descritos com aflição, descritos. E descritos com amor. Não amor pela miséria e o trabalho incessante e sim amor por mulher, homem, criança - que, ricos ou pobres, são para ele objeto de amor. Ele os pinta com plena aceitação. 'Bem-aventurados os humildes' é o que parece dizer, do fundo do coração. E sem as condições em que vivem em sua terra brasileira
nada tem, pelo que vemos, de invejável herança, a vida que levam, pela bondade que deles se exala, vale a pena ser vivida. Trabalham; casam-se e sustentam família; seus filhos brincam. E não existem, no tesouro das artes, quadros mais eloquentes do que esses, que pintam a felicidade de crianças que brincam". "(...) Não se pode dizer, no entanto,
que tenha havido uma estética oficial, se compreendermos por tal um estilo que o Poder adota como seu e o impõe. Não se pode, portanto, afirmar que Portinari tenha sido um pintor oficial (...). Houve foi uma recuperação por parte do Poder da tática adotada pelo movimento modernista, onde o governo utilizará o apoio a Portinari como exemplo do seu mecenato. Mas se não houve uma arte oficial, não significa que o estilo de Portinari não pudesse também ser assimilado pela ideologia do Poder. No que
se refere ao aspecto temático, se a orientação de Portinari não correspondia a um patriotismo evidente e épico, como talvez fosse o desejo do governo, não significa que não pudesse ser recuperado. A dignidade que o artista confere ao trabalhador, o destaque que dá ao personagem popular, enfim, todos aqueles assuntos que ele abordou não podiam ser negados por um poder para quem a questão social (mesmo que dentro de uma ótica populista) constituía uma das bases de sua política. Mas se a pintura de
Portinari pôde ser recuperada, foi principalmente porque a sua concepção formal era conciliável com a estratificação simbólica de uma ideologia conservadora. (...)" "Candido Portinari começa a ganhar ressonância na cena artística carioca entre 1928 e 1931, período que sucede a eclosão mais violenta do modernismo no Brasil, período que começa a perceber as vanguardas históricas como parte do legado da história da arte ocidental, e não mais como paradigma absoluto para os novos artistas. Iniciada após o refluxo das vanguardas, a obra de Portinari dialogou com inúmeras tradições visuais da arte europeia, desde aquelas do Primeiro Renascimento, até a obra de seu contemporâneo Pablo Picasso. Através de sua espantosa capacidade em absorver as mais diversas maneiras, Portinari trafegou com indisfarçável facilidade por esquemas formais criados por Botticelli, Picasso, Pisanello, De Chirico, Holbein, Paul Delvaux... Portinari produziu suas obras experimentando procedimentos pictóricos de artistas antigos e contemporâneos, sempre acrescentando a cada um desses 'experimentos' soluções de forte cunho pessoal, que ainda aguardam um entendimento mais profundo. (...) De volta ao Brasil, já sem os traços acadêmicos, mas também sem o radicalismo dos artistas vanguardistas, Portinari acabou sendo eleito pelos protagonistas do movimento modernista local (Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros); como principal motor para a constituição de
uma arte moderna no Brasil: uma arte que tentava distanciar-se das convenções da Academia, mas atenta para não se 'perder' na abstração ou em outros 'excessos' vanguardistas". Depoimentos"Arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem com toda alma, à interpretação sincera do nosso
meio" "Não pretendo entender de política. Minhas convicções, que são fundas, cheguei a elas por força da minha infância pobre, de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista. Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer
artista consciente sente o mesmo". "Vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visitado tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí no Brasil, eu nunca pensei no Palaninho. Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodósqui como
ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor. Quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra. Eu uso sapato de verniz, calça larga e colarinho, mas no fundo eu ando vestido como o Palaninho". Portinari; seus pensamentos, suas frases"Saí correndo, tive tempo ainda de apanhar o trem em movimento. A última imagem que me ficou gravada na memória foi a de meu pai, levantara-se para se despedir, ainda posso vê-lo... não teve tempo de me dizer nada"... "O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável" "A viagem à Europa para um moço que observa é útil. Temos tempo de recuar. Temos coragem de voltar ao ponto de partida. Eu sou moço" "Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social" "Quanto à pintura moderna, tende ela
francamente para a pintura mural. Com isso, bem entendido, não quero afirmar que o quadro de cavalete perca o seu valor, pois a maneira de realizar não importa" "E a causa disso tudo é ainda o governo, que se obstina a não ter, como no México se observa, interesse direto pelas coisas da arte" "Aos homens honestos, aos brasileiros
sinceros, aos patriotas de fato é que falo, para que analisem tal assunto com frieza" "Estão me impedindo de viver" "E por assim haver disposto o essencial, deixando o resto aos doutores de Bizâncio, bruscamente se cala e voa para nunca-mais a mão infinita, a mão-de-olhos-azuis de Candido
Portinari" EntrevistasJoão Candido Portinari – Projeto Portinari / Agência FAPESP: 03/11/2010 / Por Fábio de Castro Pesquisador das áreas de engenharia de telecomunicações e de matemática, João Candido Portinari deixou a carreira acadêmica de lado há 35 anos, quando decidiu se dedicar integralmente a um projeto grandioso: localizar, digitalizar e catalogar as mais de 5 mil obras de seu pai, Candido Portinari (1903-1962), um dos principais artistas brasileiros. O Projeto Portinari conseguiu disponibilizar em forma digital praticamente toda a obra do artista. De acordo com João Candido, a iniciativa é uma forma de corrigir uma consequência perversa da importância e do reconhecimento da obra de seu pai: com a maior parte de seus quadros dispersa em coleções privadas de todo o mundo, o pintor que dedicou sua vida a retratar o povo tem sua obra inacessível ao público geral. Depois de 20 anos de pesquisas, qualificadas por João Candido como “um verdadeiro trabalho de detetive”, toda a obra foi catalogada. Nos últimos 13 anos, o Projeto Portinari tem divulgado a obra do pintor por todo o Brasil, realizando exposições itinerantes em comunidades afastadas, com foco especial nas crianças. O próximo passo do projeto será grandioso: trazer de volta ao Brasil, temporariamente, a obra Guerra e Paz: dois painéis de 14 metros de altura que foram concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas, em Nova York. Com a sede passando por uma grande reforma, o Projeto Portinari conseguiu a guarda dos dois painéis até 2013. A obra, concluída em 1956, foi a última de Portinari e causou sua morte. Durante os cinco anos em que trabalhou nos painéis de 140 metros quadrados, o pintor já estava intoxicado pelo chumbo das tintas a óleo. Ele morreria no início de 1962 em decorrência do envenenamento. Considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra, os painéis de Guerra e Paz serão apresentados em dezembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cidade onde foram apresentadas ao público brasileiro por uma única vez antes de serem embarcados para os Estados Unidos, há 53 anos. Em seguida, serão submetidos a uma restauração que poderá ser acompanhada pelo público, em processo que levará alguns meses. Após o restauro, passarão por diversas cidades, acompanhados de 120 estudos preparatórios executados por Portinari entre 1952 e 1956. No dia 21 de outubro uma exposição com reproduções das 25 obras de Portinari que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada na sede da Fundação, em São Paulo. Na ocasião, João Candido concedeu à Agência FAPESP a seguinte entrevista: O Projeto Portinari fez a digitalização de praticamente todas as obras de seu pai. Quais foram as dificuldades encontradas para realizar o levantamento de uma
obra tão extensa? Quanto tempo levou esse processo? Qual é a natureza dessa documentação? O Projeto Portinari tem uma sede física ou se concentra no universo virtual? Podemos dizer que, em relação ao tamanho de sua obra, Portinari é pouco conhecido? Com a conclusão da catalogação e digitalização das obras, o Projeto Portinari cumpriu sua missão? Como é desenvolvido esse trabalho? Como é a reação das crianças? Podemos dizer que a
força do trabalho de Portinari vem da preocupação com a questão social? O excluído é o personagem central da obra do pintor? Quais
são os outros temas importantes em Portinari? Trata-se de fato de um paradoxo? Além da temática religiosa, o que é mais presente em sua obra? O senhor é pesquisador do ramo de engenharia
de telecomunicações. Como foi sua carreira acadêmica? Ainda atua na área? Guerra e Paz no Brasil – Entrevista com João Cândido PortinariEntrevista com o Fala CulturaHá 54 anos, a mais poderosa obra de Cândido Portinari – os painéis Guerra e Paz – deixavam o Brasil a caminho de seu lar definitivo: a sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Agora, pela primeira vez em mais de meio século, o povo – primeiro do Brasil, e depois, do mundo – poderá ver pessoalmente toda força humana, e a grande mensagem de esperança e paz pintada sobre os grandes painéis. Graças ao trabalho do Projeto Portinari, a obra fará uma turnê por diversas cidades, até o ano de 2013, quando será devolvida à ONU. Guerra e Paz são dois painéis de aproximadamente 14 por 10 metros cada, pintados a óleo sobre madeira compensada naval. Enquanto um representa todos os males e horrores da guerra, o segundo representa uma visão éterea e esperançosa dos tempos de paz, criando um expressivo contraste. A obra foi encomendada pelo governo brasileiro, para presentear a ONU, e receberam quatro anos de dedicação de Cândido Portinari – que trabalhou incessantemente para concluí-las, apesar de já saber que estava sendo envenenado pelas toxinas presentes em suas tintas. Infelizmente, Portinari não pôde presenciar a inauguração dos painéis em Nova York – devido ao seu envolvimento com o Partido Comunista, ele foi impedido de entrar nos EUA, que vivia o período da Guerra Fria. Por questões de segurança, o saguão do edifício da ONU, onde os painéis foram instalados, é um ambiente bastante inacessível ao público. Contudo, agora, com o anúncio de uma grande reforma do edifício das Nações Unidas, surgiu uma oportunidade inédita de expor os painéis em outros países. Em 2010, Guerra e Paz finalmente chegou às terras brasileiras. Então, permaneceram expostas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro – o que remeteu à cerimônia realizada antes da partida dos painéis para Nova York, em 1956, no mesmo teatro. Em 12 dias, a exposição atraiu mais de 44 mil visitantes. A partir de amanhã (7), será a vez de São Paulo conhecer a grandiosa obra. O local escolhido é o Salão dos Atos, no Memorial da América Latina. Além dos painéis – que serão expostos pela primeira vez após sua restauração – o público poderá desfrutar de 100 estudos preparatórios originais para a realização da obra. A exposição permanecerá aberta até 21 de abril. Para marcar esse momento marcante nas artes visuais do nosso país, conversamos com exclusividade com João Cândido Portinari, filho de Cândido Portinari e diretor do Projeto Portinari. Confira: Imagino
que o processo de trazer Guerra e Paz para o Brasil deve ter sido bastante complicado, tanto pelas dimensões da obra quanto pelas negociações envolvidas. Nos conte um pouco de como foi todo esse trabalho. Trazê-los à tona? E
quando surgiu a ideia de trazer os painéis para o Brasil? E quanto ao Projeto Portinari? É um assunto recorrente a dificuldade enfrentada para manter os legados dos artistas brasileiros – e, nesse cenário, o Projeto Portinari é um exemplo de sucesso. Qual é o segredo, na sua
opinião? Só para encerrar nossa entrevista, existe algum recado que você gostaria de deixar aos nossos leitores paulistanos, do que eles podem esperar da exposição que começa amanhã? Um momento histórico e único“Os
painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que eu já fiz. Dedico-os à humanidade”. A frase, dita pelo artista brasileiro Candido Portinari (1903-1962), tenta explicar a grandiosidade dos painéis que estão em exposição no Memorial da América Latina, em São Paulo, até dia 20 de maio de 2012. Cada um dos murais tem 14 metros de altura por 10 metros de largura e pesam mais de 1 tonelada, mas a grandiosidade das obras não pode ser medida apenas pelo tamanho dos painéis e sim pela tocante mensagem de paz que destina ao mundo. “Esta não é apenas uma exposição de arte. Esta é uma grande mensagem ética e humanista e que se dirige ao principal problema que o mundo vive hoje em dia: a questão da violência, da não cidadania, da injustiça social. Esta é a grande mensagem de toda a vida de Portinari e que ficou sintetizada nesses trabalhos finais que ele deixou”, disse João Candido Portinari. João Candido, filho do artista, é o responsável pela realização do projeto, que trouxe as obras para o Brasil. Terminadas em 1956, as obras permanecem atuais. As expressões de sofrimento das mães no painel que mostra A Guerra, por exemplo, podem ser comparadas a fotos de mães que sofreram recentemente no conflito na Síria. Segundo João Candido, essa comparação foi feita por um professor de Uberlândia (MG) que visitou a exposição e lhe mandou, por e-mail, uma fotomontagem comparando a mãe síria à pintura de Portinari. “Ela estava numa posição de desespero absolutamente idêntica a de uma mulher que estava no painel da Guerra”, falou João Candido. Todo o trabalho que resultou em Guerra e Paz foi produzido por Candido Portinari entre os anos de 1952 e 1956. O trabalho foi encomendado pelo governo brasileiro para presentear a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, onde os painéis foram instalados no hall de entrada, com acesso restrito ao público. Uma grande reforma no edifício da sede da ONU, que teve início em 2010, deu a inédita oportunidade de trazer esses painéis ao Brasil. A primeira etapa da exposição ocorreu no Rio de Janeiro, em dezembro de 2010, reunindo mais de 44 mil visitantes. Em São Paulo, mais de 150 mil pessoas já visitaram Guerra e Paz. Até 2014, as obras ficarão em exposição pelo mundo, até que voltem em definitivo para a sede da ONU. Os imensos painéis só puderam ser transportados porque Guerra e Paz consiste numa espécie de quebra-cabeça, composta por 28 placas de madeira compensada naval. No Brasil, as obras passaram por um processo de restauração, realizado entre fevereiro e maio de 2011 no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Com Guerra e Paz também estão sendo expostos 100 estudos preparatórios, além de documentos históricos como cartas, recortes de jornais e fotografias que contam, em detalhes, a criação dos painéis. João Candido tinha apenas 13 anos quando o pai deu início às obras. “Eu vi um ato de heroísmo. É claro que naquela época eu não tinha condições para perceber isso. Eu só via um homem que pintava de manhã até de noite, em condições extremamente árduas. Ele trabalhava num galpão que era um antigo estúdio de televisão, emprestado pela Rádio Tupi, sem janelas, com teto de zinco e que chegava à temperatura de 45 graus Celsius. Ele tomava limonada o tempo todo para tentar sobreviver”, lembra. Segundo João Candido, o pai levou quatro anos fazendo os estudos para as obras e as pintou em apenas nove meses. Guerra e Paz foram os dois últimos e maiores painéis criados por Portinari. Enquanto fazia o estudo preparatório para os dois painéis, os médicos o aconselharam a parar de pintar por causa do processo de envenenamento pelas tintas. Portinari rejeitou o conselho médico. “Foi fatal. Havia aquela proibição médica, que ele não respeitou. Mas ele não podia deixar de passar a maior mensagem da vida dele, a de paz”, disse o filho. Em 6 de fevereiro de 1962, Portinari morreu em consequência do envenenamento pelo chumbo presente nas tintas que usava. O gigantismo das obras impressiona o público. A professora aposentada Nilsa Papaleo visitou a exposição na última sexta-feira (11). “Fico encantada em ver como uma pessoa pode fazer uma arte desse tamanho. Fiquei espantada [em saber] como transportaram, já que é um painel imenso. E aí me explicaram que é como um quebra-cabeça, todo dividido, que eles desmontam. É muito bonito, impactante”, disse ela, à Agência Brasil. Para ela, as obras apresentam a sociedade em que vivemos. “E continua do mesmo jeito”. O médico Luiz Martinelli já tinha visto a obra na ONU. “Mas ver aqui é diferente. Estamos em casa. No nosso país é diferente. É mais gostoso”, disse. “Particularmente eu gosto mais de A Paz. Eu sou da paz”, brincou. “Em A Guerra, vemos as pessoas sofrendo. É uma imagem mais chocante. A paz sempre é mais bonita”. Após receber a dica de um professor, que contou que a obra era da ONU, o estudante Pablo de Lima Almeida decidiu ir à exposição com um grupo de amigos. À Agência Brasil, contou ter gostado mais do painel que retrata a paz. “É mais bonito”, disse ele. Já a aposentada Cristina Figueiredo, que sempre gostou de arte, decidiu visitar a exposição antes que ela terminasse. O impacto das obras, segundo ela, é grandioso. “Eu tinha visto Guernica, do Picasso, que também é impressionante. Mas este aqui tem o nosso colorido, o colorido brasileiro, o que para mim é muito importante”, falou, lembrando da atualidade da obra. “Li em algum lugar que ele (Portinari) retrata a guerra como uma coisa que sempre pertenceu à humanidade. Ele não retrata uma (única) guerra, como é o caso de Guernica, que aborda a Guerra Civil Espanhola. Ele retrata a guerra que sempre existiu na humanidade e que, infelizmente, continua existindo”, disse. Essa grande mensagem do artista Candido Portinari ao mundo, os imensos painéis que formam a obra Guerra e Paz, deve permanecer no Brasil por um tempo maior do que o esperado. No Memorial da América Latina, em São Paulo, onde está exposta atualmente, a exposição foi prorrogada até o dia 20 de maio, com entrada franca. Depois, ela deve ter como destino a capital mineira, Belo Horizonte (MG), antes de atravessar o oceano, seguindo provavelmente para a Noruega e para a China. Elaine Patricia Cruz Características principais das obras de Candido PortinariRetratou questões sociais do Brasil; Principais obras de Candido PortinariMeio ambiente Cronologia, Exposições e Prêmios1910 ca. - Realiza os primeiros estudos numa escola rural de
Brodósqui, São Paulo AcervosAcervo Banco Itaú S.A. - São
Paulo SP Exposições Individuais[13] 1929 - Rio de Janeiro RJ - Candido Portinari: pintura, no Palace Hotel Exposições Coletivas1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa Exposições Póstumas1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP Listagem parcial das Homenagens, títulos e prêmios1940 – Chicago (Estados Unidos) – A Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor, Portinari: His Life and Art, com introdução do artista Rockwell Kent 1946 – Paris (França) – Legião de Honra, concedida pelo governo francês 1950 – Varsóvia (Polônia) – Medalha de Ouro, pelo painel Tiradentes (1949), concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz. 1955 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Medalha de Ouro, como melhor pintor do ano, concedida pelo International Fine Arts Council. 1956 – Nova Iorque (Estados Unidos) – Prêmio Guggenheim de Pintura, por ocasião da inauguração dos painéis Guerra e Paz na sede da ONU de Nova York. BibliografiaFilho, Mário – A infância de Portinari, Edições Bloch, Rio de Janeiro - 1889. Moreira, Marcos – A vida dos grandes brasileiros - Editora Três - 2010. Drummond de Andrade, Carlos - Estive em casa de Candinho. In: Confissões de Minas. In: Poesia e prosa: volume único. 8ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 1354-1356. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira). Andrade, Mário de. Portinari, amico mio: cartas de Mário de Andrade a Candido Portinari- Org., introd., notas Annateresa Fabris. Campinas, SP: Mercado de Letras, Ed. Autores Assoc.; Rio de Janeiro: Projeto Portinari, 1995. 160 p. (Coleção Arte: Ensaios e Documentos). Bento, Antonio. Portinari- Apres. Afonso Arinos; pref. Jayme de Barros. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Léo Christiano, 2003, 396 p. Il Fabris, Annateresa. Candido Portinari- São Paulo, SP: Edusp, 1996. 191 p. il. (Artistas Brasileiros, 4.) Kent, Rockwell - Portinari: his life and art. apres. Josias Leão. Chicago, IL: Chicago Univ., 1940, 116 p. il. Luraghi, Eugenio - Disegni di Portinari, Turim, ITA, 1955, 188 p. il. Luraghi, Eugenio -Israel: disegni di Portinari. pref. Arie Aroch. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan; New York: H. N. Abrams, 1957, 148 p. il. Portinari, Antônio. Portinari menino- Apres. Antonio Callado. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 1980. 172 p. il. Portinari, Candido. Sentido social del arte. [Buenos Aires]: Centro Estudiantes de Bellas Artes, 1947, 38 p. il. (Cuadernillos de Cultura). Portinari, Candido. Poemas de Candido Portinari- Pref. Manuel Bandeira. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 1964. 105 p. il. Livro das Virtudes para Crianças [1] Araujo Lima, Antonio Bento; “Portinari”; Léo Christiano Editorial Ltda.; RdJ, 2003. [2] Callado, Antônio Carlos; “Retrato de Portinari”; MAM-RJ; Deptº de Imprensa Oficial; RdJ, 1956. [3] www.portinari.org.br [4] Olegário Mariano Carneiro da Cunha (1889-1958) foi um poeta, político e diplomata brasileiro, filho de José Mariano Carneiro da Cunha e de sua esposa, Olegária da Costa Gama, heróis pernambucanos da Abolição e da República. Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Sua carreira política começou em 1918 (representante do Brasil na Missão Melo Franco, como secretário de embaixada na Bolívia). Foi deputado; foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940, delegado da Academia Brasileira de Letras na Conferência Inter-Acadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal entre 1953 e 1954. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume “Angelus”, em 1911. Segundo os biógrafos da Academia Brasileira de Letras, da qual foi membro, a partir de 1926, “sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o "poeta das cigarras", por causa de um de seus temas prediletos. Freqüentador da roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Coelho Neto, Martins Fontes; em 1938, em concurso promovido pela revista “Fon-Fon”, foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo e prestigioso autor de “Via Láctea”. Nas revistas Careta e Para Todos, escrevia sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos. De sua suma importância vale lembrar Manuel Bandeira: “Em última instância, melhor que bater pé na questão da matrícula do poeta (expressão de Manuel Bandeira) nesta ou naquela escola é reconhecer, com Júlio Dantas (e com todos os outros comentaristas), que Olegário “é, acima de tudo, um poeta de forte e relevante personalidade”. Sua cantiga foi breve e faiscante como a das cigarras que tão bem cantou. Não foi um navegador de águas profundas, nem era esse o seu desígnio. Foi, entretanto, mestre e mago nas águas cristalinas, correntes e cantantes de um lirismo arrebatador.” Vide: www.academia.org.br http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/cinquentanos_da_morte_da_cigarra.html. [5] Importante: De 13 a 19 de novembro, 2006; crianças da “Oficina” produziram o painel "Intervenção no morro de Portinari" em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra. A idéia partiu do fato da pintura mostrar o contraste socioeconômico entre a cidade e a favela daquela época . Sabe-se que a situação social pouco mudou... . [6] A igreja permaneceu durante 14 anos proibida ao culto. Para o arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral, a igrejinha era apenas um galpão. De nenhuma valia era a existência da Via Sacra – 14 painéis de Candido Portinari, considerada uma de suas obras mais significativas. Os painéis figurativos externos também são de Candido Portinari, ficando a cargo de Paulo Werneck o painel abstrato. Os jardins são assinados por Burle Marx. [7] Ver “Portinari e o Mecenato Capanema”; Maria de Fátima Fontes Piazza, Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em História Cultural. Florianópolis, SC, 2003. [8] Esta obra acha-se reproduzida na página 95 do livro "Candido Portinari" editado pela FINAMBRAS/PROJETO PORTINARI em homenagem aos 50 anos do MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO Assis Chateaubriand (MASP) – Buenos Aires; em setembro de 1997. [9] Gustavo Capanema Filho (1900-1985.) foi um intelectual e político brasileiro de longa carreira. Bisneto do engenheiro e físico Guilherme Schüch, barão de Capanema (1824-1908), que instalou em 1855 a primeira linha telegráfica do Brasil, e que a dirigiu por mais de trinta anos. [10] Graças aos esforços de João Portinari, filho do pintor, em dezembro de 2010, os dois painéis retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. [11] Araujo Lima, Antonio Bento; “Portinari”; Léo Christiano Editorial Ltda.; RdJ, 2003. [12] Callado, Antônio Carlos; “Retrato de Portinari”; Jorge Zahar Editor Ltda.; RdJ, 2003. [13] Informações utilizadas para as exposições individuais, coletivas e póstumas foram retiradas do site www.itaucultural.org.br VideosO que ocasionou a doença e a morte de Cândido Portinari?No começo de 1962, a prefeitura de Barcelona convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Candido Portinari morre de intoxicação pelas tintas que utilizava nas telas.
Onde morreu Portinari?Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, BrasilCandido Portinari / Local de falecimentonull
O que ele retratava em suas obras?Suas pinturas costumam trazer temas que retratam as condições em que vivia o povo brasileiro na primeira metade do século XX. Portinari teve muito êxito ao destacar questões sociais, festas populares, o trabalho na roça, a infância, entre outros assuntos.
Qual era o medo de Cândido Portinari?Desde pequeno também, Portinari recebe influência religiosa do catolicismo, em 1956 passa para a tela a figura do diabo (próximo do lobisomem da crença popular brasileira), que perpetua em sua memória de criança. Ele afirma que tinha um medo danado do diabo.
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