O que o escritor Gonçalves Dias quis expressar com o poema Canção do Exílio?

O que o escritor Gonçalves Dias quis expressar com o poema Canção do Exílio?

Ela está presente em nosso parnasiano Hino Nacional. Foi lida e relida por outros escritores, tais como Casimiro de Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Oswald de Andrade, dentre outros, bem como por Chico Buarque e Tom Jobim, em “Sabiá”, clássico da MPB. Assim é a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, publicado em 1843, poema que pode ser considerado o passaporte do escritor para a imortalidade literária, composto enquanto o poeta se encontrava em Coimbra estudando, missão idealizada por sua família abastada, preocupada com a educação desta figura pública que representou o exotismo do território brasileiro recém-independente e as tradições dos indígenas, numa observação lírica desta nação ainda em processo formativo, incipiente, caldeirão de culturas oriundas do violento processo de colonização desde o século XVI, em linhas gerais, uma poesia em busca da identidade nacional.

O poema se encontra devidamente organizado em Poesia Lírica e Indianista, acompanhado de notas e apresentação da pesquisadora Márcia Lígia Guidin, publicação da Série Bom Livro, da editora Ática, uma das melhores versões para quem se interessa pelo olhar pedagógico do poema, constantemente presente em vestibulares e parte da formação básica do nosso público estudante. Para entender a proposta da Canção do Exílio, torna-se relevante investigar um pouco sobre a jornada deste agente do discurso do romantismo brasileiro, autor que integra, ao lado de Gonçalves de Magalhães, o posto de figura de renome da poesia indianista, ufanista e reinterpretada posteriormente por diversos escritores, alguns deles, mencionados na abertura desta crítica. Dias tomou o ambiente brasileiro e as tradições indígenas como mote para as suas criações, num caminho poético pavimentado também por composições repletas de lirismo envolvendo amor, saudade e desejo.

Simples, mas representativo, Canção do Exílio traz rimas oxítonas, versos de sete sílabas, conhecidos por redondilhas maiores, sem adjetivação, mas ainda assim, funcional como uma espécie de louvor para a sua pátria longínqua, em especial, a sua natureza exuberante, exaltada nas passagens deste poema de cinco estrofes, formado por três quartetos e dois sextetos, rimados nos versos pares, recurso ausente nas demais passagens desta composição que reflete sobre Brasil e Portugal sem precisar citá-los, numa abordagem do exílio físico e geográfico do escritor que declama sobre o sabiá, ave representativa dos maranhenses, a sua terra natal. Tomado pelo patriotismo oriundo da quebra de aliança entre as duas nações, antes integrantes de uma relação de colonizador e colonizado e, agora, preocupado em criar a sua própria estrutura cultural, Gonçalves Dias insere em sua poesia os elementos encontrados em seus estudos historiográficos e etnográficos sobre a figura do índio, símbolo de primitivismo para os europeus.

O poeta se esforçou para que a sua poesia pudesse expressar com naturalidade os ideais indígenas. Dias é de uma tradição que acreditava na missão de beleza da poesia, numa postura de compositor que tinha como direcionamento, a liberdade, a justiça, a vocação superior, em suma, parte de um grupo de escritores que se viam superior aos mortais, quase que mediúnicos em suas visões ufanistas e intelectuais. Era uma época de indagação sobre como erguer, na literatura, as etnias que representam o já multicultural povo brasileiro. Assim, ao trazer o “outro” para a poesia, descreve os seus costumes, bem como delineia as paisagens e belezas de sua terra, num olhar poético idílico, unificando características clássicas com o que existia de mais moderno, neste caso, no bojo da produção literária romântica do século XIX.

Canção do Exílio (Brasil, 1846)
Autor: Gonçalves Dias
Editora: Dimensão
Páginas: 8

Leonardo Campos

Tudo começou numa tempestuosa Sexta-feira 13, no começo dos anos 1990. Fui seduzido pelas narrativas que apresentavam o medo como prato principal, para logo depois, conhecer outros gêneros e me apaixonar pelas reflexões críticas. No carnaval de 2001, deixei de curtir a folia para me aventurar na história de amor do musical Moulin Rouge, descobri Tudo sobre minha mãe e, concomitantemente, a relação com o cinema.

Gonçalves Dias é um escritor brasileiro da primeira geração romântica. Ele nasceu em 10 de agosto de 1823, no estado do Maranhão, e morreu, vítima de um naufrágio, em 3 de novembro de 1864. Filho de um português e de uma brasileira descendente de índios e negros, o poeta estudou em Portugal, onde compôs o seu famoso poema Canção do exílio, em 1843.

Como principal representante da primeira fase da poesia romântica brasileira, suas obras trazem uma perspectiva indianista e nacionalista, em que o índio idealizado e a floresta são símbolos máximos da nacionalidade brasileira. Além de poemas nativistas, ele escreveu poesia de cunho amoroso, em que se percebe a idealização da figura feminina tão característica do romantismo.

Leia também: Romantismo no Brasil – características do movimento em terras brasileiras

Biografia de Gonçalves Dias

O que o escritor Gonçalves Dias quis expressar com o poema Canção do Exílio?
Gonçalves Dias.

Gonçalves Dias (Antônio Gonçalves Dias) nasceu em 10 de agosto de 1823, em Caxias, no Maranhão, e morreu em 3 de novembro de 1864, em um naufrágio. Seu pai era português e sua mãe, de descendência indígena e negra. Era, portanto, o poeta resultado da mistura das três raças que deram origem ao povo brasileiro. No entanto, em 1829, o pai casou-se com outra mulher e levou o filho com ele.

Em 1838, após a morte do pai, Gonçalves Dias foi para Portugal, com o intuito de estudar Direito, em Coimbra, e formou-se em 1845. No ano seguinte, em 1846, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1854. Em 1846, sua peça de teatro Leonor de Mendonça foi censurada pelo Conservatório Dramático do Rio de Janeiro com a justificativa de que havia incorreções na linguagem. Em 1849, passou a trabalhar como professor de latim e história no Colégio Pedro II. No mesmo ano, foi um dos fundadores da revista Guanabara.

Em 1851, viveu uma desilusão amorosa, quis casar-se com a jovem Ana Amélia Ferreira do Vale (1831-1905), mas a mãe da moça não permitiu o casamento, por ser o poeta “bastardo” e filho de uma “mestiça”. Ele acabou se casando, em 1852, com Olímpia Coriolano da Costa. O casamento não deu certo e, legalmente, acabou em 1856.

“De 1854 a 1858, Gonçalves Dias morou na Europa, onde trabalhou na Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Já no Brasil, em 1861, ele viajou pelo Norte do país, pois fazia parte da Comissão Científica de Exploração. No entanto, em 1862, voltou à Europa para tratar de problemas de saúde relacionados à tuberculose, e foi na volta para o Brasil que ele perdeu a vida no naufrágio do navio Ville de Boulogne.”

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Características literárias de Gonçalves Dias

Gonçalves Dias faz parte da primeira geração do romantismo no Brasil, também chamada de “indianista” ou “nacionalista”, portanto, são características de suas obras:

  • Perspectiva indianista: o índio como personagem principal

  • Nacionalismo ufanista: enaltecimento da pátria

  • Cor local: características da floresta e da cultura indígena

  • Herói nacional: indígena brasileiro

  • Símbolos nacionais: índio e floresta

  • Bucolismo: idealização da natureza

  • Amor idealizado

  • Mulher idealizada

  • Perspectiva teocêntrica

  • Retomada de valores medievais

Leia mais: Álvares de Azevedo – principal nome da segunda geração romântica brasileira

Obras de Gonçalves Dias

Poesia

  • Primeiros cantos (1846)

  • Segundos cantos (1848)

  • Sextilhas de frei Antão (1848)

  • Últimos cantos (1851)

  • Os timbiras (poema épico indianista) (1857)

Prosa

  • Meditação (1846)

  • Memórias de Agapito (1846)

Teatro

  • Patkull (1843)

  • Beatriz Cenci (1843)

  • Leonor de Mendonça (1846)

  • Boabdil (1850)

Exemplos de poemas de Gonçalves Dias

Apesar de ter escrito algo de prosa e peças de teatro, Gonçalves Dias é mais conhecido e respeitado pela sua poesia. Entre as suas “poesias americanas”, isto é, indianistas, um dos poemas mais aclamados é “I-Juca-Pirama”, publicado no livro Últimos cantos. Esse poema épico conta a história de um guerreiro indígena tupi, capturado pela tribo rival, que será devorado em um ritual de antropofagia:

Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro

Assola-se o teto que o teve em prisão,
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.

Esse guerreiro tem um pai velho e cego. Preocupado com o pai, ele pede para continuar a viver, pois é seu único apoio. Os timbiras entendem esse apelo como um ato de covardia, e, na prática antropofágica, os índios acreditavam que assimilavam as características da pessoa devorada, então jamais devorariam um covarde. O chefe da tribo manda soltar o prisioneiro e justifica-se:

— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.

Humilhado, o índio tupi volta para o seu pai. Ao saber do que aconteceu, o pai pede ao filho que o leve até a tribo dos timbiras, onde entrega seu filho ao chefe para ser devorado. No entanto, o chefe rejeita a oferta, pois acredita que o jovem guerreiro é um covarde. O pai, revoltado, diz ao filho:

Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Ser a presa de vis Aimorés.

Esse é o ápice do poema, que, na sequência, vai centrar-se na honra do povo tupi, pois o jovem guerreiro precisa mostrar que é corajoso, voltar a ser o orgulho de seu pai e de sua tribo, mas, para isso, o chefe timbira precisa ser convencido. Dessa forma, esse poema indianista e nacionalista é uma metáfora do Brasil. O povo tupi representa o povo brasileiro, que precisa mostrar sua coragem e que não pode perder a sua honra, o seu orgulho nacional.

Nesse mesmo livro, é possível ler o seu poema lírico amoroso “Olhos verdes”. Nele, o eu lírico usa uma metonímia — olhos verdes — para referir-se ao ser amado:

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Tem luz mais branda e mais forte,
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
[...]

Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
[...]

Dizei vós; Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem espr’ança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mi!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

Veja também: Castro Alves – vida e obra do “Poeta dos Escravos”

Canção do exílio

O que o escritor Gonçalves Dias quis expressar com o poema Canção do Exílio?
O sabiá é um de nossos símbolos nacionais.

Canção do exílio, poema escrito em 1843, quando Gonçalves Dias estudava em Portugal, é a obra mais popular do autor. Aliás, um trecho desse poema foi inserido na letra de nosso Hino Nacional: “Nossos bosques têm mais vida/ Nossa vida, no teu seio, mais amores”.

É um poema que simboliza bem a essência da primeira geração romântica brasileira, pois tem cunho nacionalista. Obviamente, trata-se de um nacionalismo ufanista, que enaltece o país, com ausência de críticas, já que objetiva despertar nos brasileiros e brasileiras o amor pela sua pátria.

O poema já foi parafraseado e parodiado diversas vezes, e continua sendo um símbolo de nacionalidade. É composto em redondilha maior (sete sílabas poéticas), em consonância com a retomada que o romantismo faz da Idade Média, em que esse tipo de verso era usado em algumas cantigas trovadorescas. Nesse poema, o eu lírico afirma que não há lugar melhor do que o seu país e termina por criar dois símbolos nacionais: a palmeira e o sabiá:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

O que queria dizer Gonçalves Dias com o poema Canção do Exílio?

A Canção do Exílio é um poema romântico (da primeira fase do romantismo) do escritor brasileiro Gonçalves Dias (1823-1864). A composição foi criada em julho de 1843, quando o autor se encontrava em Coimbra, e ressalta o patriotismo e o saudosismo em relação à terra natal.

Qual a mensagem que o poema Canção do Exílio transmite?

Um dos poemas nacionais mais famosos tematiza a saudade de quem está longe do seu país. A cor local, expressa pelo cenário da natureza, constrói o Brasil como um lugar paradisíaco sobre o qual se sente nostalgia e desejo de retorno: “Não permita Deus que eu morra / Sem que eu volte para lá”.

Qual a finalidade do texto Canção do Exílio?

O poema acima que se chama canção do exílio tem essa denominação porque trata de um importante escritor, Gonçalves Dias, que foi exilado do país porque realizava suas constantes expressões de opinião acerca da situação política presente naquela época, que demonstravam indignação acerca da realidade.

O que quer dizer o título do poema Canção do Exílio?

O título faz alusão a terra do autor, da saudade que ele tem por não estar mais lá. Exílio significa que a pessoa está fora de sua terra natal, por escolha própria ou por determinação da lei. No caso o autor, Gonçalves Dias, fala das belezas da sua terra em forma de poesia rítmica, daí o termo canção.