O desenvolvimento da moral segundo Lawrence Kohlberg possui semelhança com a teoria de Piaget

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O desenvolvimento da moral segundo Lawrence Kohlberg possui semelhança com a teoria de Piaget

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Logo, não se pode dizer que haveria uma fase durante a qual a criança 
pequena carece de moral e, em seguida, apenas uma outra durante a qual ela 
já pensa e sente moralmente. Não: se é verdade que há uma fase pré-moral, 
também é verdade que, quando construída a moral, o indivíduo ainda se modi-
ficará a respeito de sua relação com ela.
Piaget havia se contentado com três níveis, limitando-se, por motivos metodoló-
gicos, ao desenvolvimento do juízo moral, portanto, à sua dimensão racional: o 
nível da anomia, pré-moral, portanto; o nível da heteronomia, no qual a moral é 
legitimada por intermédio da referência a alguma fonte exterior de autoridade 
(pode ser a religião, os pais, os amigos, o grupo, a sociedade, etc.); e, finalmente, 
O juízo moral e a ética8
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o nível da autonomia, no qual a moral é legitimada por intermédio de raciocínios 
pessoais que presidem a legitimação, ou não, de determinados valores, princípios 
e regras. Note-se que Piaget já afirmava que, na maioria dos seres humanos, cos-
tuma prevalecer a heteronomia, que convive com algumas “ilhas” de autonomia.
No meio do século passado, um psicólogo americano, Lawrence Kohlberg, 
retomou a teoria e os estudos de Piaget a respeito do desenvolvimento do juízo 
moral (Piaget passou o resto da vida dedicado ao que ele chamou de epistemo-
logia genética), elegendo a virtude “justiça” como objeto privilegiado da moral, 
e identificando três níveis (pré-convencional, convencional e pós-convencional, 
cada qual subdividido em dois subníveis) entre a fase de radical heteronomia 
e aquela de franca (e rara) autonomia, na qual são legitimados, nas próprias 
palavras de Kohlberg (1981, p. 19), “princípios universais de justiça, de reci-
procidade, de igualdade de direitos humanos e de respeito pela dignidade dos 
seres humanos enquanto indivíduos”.
As pesquisas realizadas por Kohlberg e equipe foram replicadas nos quatro 
cantos do mundo, e os dados coletados tendem a atestar a sua validade e uni-
versalidade. Porém, é claro, nem todos concordam com o eminente psicólogo 
americano – como sempre acontece nas ciências humanas –, notadamente os 
chamados culturalistas, que acreditam que a moral varia de forma e conteúdo 
dependendo da cultura na qual estão imersos os sujeitos. Não vou entrar aqui 
nessa discussão: limito-me a informar que ela existe (de minha parte, aceito a 
abordagem kohlberguiana). 
Uma pergunta pode aqui ser formulada: aceita a descrição dos estágios acima 
apresentada, nos dias de hoje, verifica-se alguma mudança em relação aos 
dados coletados há mais de 50 anos? Houve uma regressão? Uma evolução?
[...]
 Dica de estudo 
Filme: Quem somos nós. Direção: Betsy Chasse, Mark Vicente, William Arntz. EUA: 
PlayArte, 2005, 108 min. Esse filme apresenta a construção neuropsicossocial do self e suas 
interações dentro da sociedade.
Ética e responsabilidade profissional 77
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A evolução do juízo 
moral e agir adulto
Biaggio (2002), escrevendo sobre o pensamento de Kohlberg, faz uma retomada da 
evolução dos estudos sobre a moral e ressalta que a psicologia apresenta várias teorias 
desde Freud. A maioria desses estudos trata a questão da moral como sentimento de 
culpa, oriundo da ansiedade em relação à possível perda do amor dos pais, ou o medo 
da punição pelos desejos não aceitos.
Bandura, Sears e Grinder (apud BIAGGIO, 2002), na mesma linha avaliada por 
Biaggio, sustentam que a consciência, ou moralidade, pode ser comparada ao fenô-
meno da resistência à extinção. Eles explicam que a criança ou o sujeito é punido inú-
meras vezes pelo comportamento não aceito que ele acaba desaparecendo. A moral, 
para esses teóricos, é algo que vem de fora para dentro, que vai se internalizando e 
tornando-se próprio da pessoa.
A evolução do juízo moral e agir adulto9
Ética e responsabilidade profissional78
Com o construtivismo, surgem ideias de uma construção da moral pelo indivíduo, o 
sujeito humano torna-se agente do seu processo moral. Nessa corrente, o julgamento moral 
faz com que o indivíduo saia da heteronomia e busque a autonomia.
Partindo do paradigma cognitivo, evolutivo e construtivista de Piaget, o psicólogo 
norte-americano Lawrence Kohlberg (1963) realizou pesquisas sobre juízo moral e desen-
volvimento moral e confirmou que todas as pessoas, em todas as culturas, passam pelos 
estágios descritos por Jean Piaget. Para Kohlberg, o desenvolvimento cognitivo dá-se com a 
equilibração dos estágios, mas a estruturação necessária para esse desenvolvimento é a no-
ção de justiça. O autor chega a defender um paralelismo entre o desenvolvimento cognitivo 
e o moral. Com o resultado de suas pesquisas (BIAGGIO, 2002; ARAÚJO, 1999), postulou 
a existência de uma sequência hierárquica universal composta por seis estágios de desen-
volvimento do juízo moral, reunidos de dois em dois, em três níveis, apresentados a seguir.
9.1 Nível pré-convencional
Neste nível é feita a orientação para a punição e a obediência. O bem se define em fun-
ção da obediência literal às regras e às ordens concretas, pressupondo pressão e castigos.
• Estágio 1: moralidade heterônoma
Nesse estágio, o bem é definido como obediência às regras e à autoridade. O castigo ou 
os danos físicos às pessoas são evitados, a perspectiva social é egocêntrica e muitas vezes é 
confundida com a autoridade. A moralidade é definida em termos de suas consequências 
físicas para o agente: se a ação é punida, está moralmente errada; se não é, está moralmente 
correta. Para Kohlberg (apud BIAGGIO, 2002, p. 24), “A ordem sociomoral é definida em ter-
mos de status de poder e de posses em vez de o ser em termos de igualdade e reciprocidade”.
• Estágio 2: o estágio hedonista instrumental de trocas
O bem é a satisfação de necessidades e a manutenção de uma rígida igualdade de trocas 
concretas. A ação moralmente correta é definida em termos do prazer ou da satisfação das 
necessidades das pessoas (hedonismo). A igualdade e a reciprocidade emergem como olho 
por olho, dente por dente. Os sujeitos podem dizer que um marido deve roubar para salvar 
a vida da mulher porque ele precisa dela para cozinhar, ou porque ele poderia vir a precisar 
que ela salvasse sua vida. É um estágio nitidamente egoísta, em que a moral é relativa e o 
ato moral é visto como instrumento para satisfação do prazer pessoal. Se perguntarem para 
uma criança nessa fase se é correto roubar um doce, ela comumente responderá desta forma: 
“Está certo se o doce estiver gostoso; se for ruim, não”.
9.2 Nível convencional
O bem é definido em função da conformidade e manutenção das regras, dos papéis e 
das expectativas da sociedade ou de alguns grupos como a religião ou a dominação política.
A evolução do juízo moral e agir adulto
Ética e responsabilidade profissional
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• Estágio 3: o estágio de conformidade às expectativas e relações interpessoais
Um bom desempenho do papel social é o que define o bem nesse estágio. O comporta-
mento moralmente certo é o que leva à aprovação dos outros. Trata-se da moralidade e do 
conformismo a estereótipos do tipo: “é dever de todo bom marido salvar a vida da mulher”. 
Há uma compreensão da regra: “faça aos outros aquilo que você gostaria que fizessem a 
você”, mas há dificuldade em colocar-se no lugar do outro. A visão é egocêntrica.
• Estágio 4: orientação para a lei e a ordem, o estágio do sistema social e da consciência
O bem é definido como o cumprimento do dever social em função da ordem e do 
bem-estar da sociedade. Nesse estágio, distingue-se claramente o ponto de vista social do 
acordo interpessoal e adota-se a perspectiva do sistema que define papéis e regras, julgando 
as relações interpessoais. Há, nessa fase, grande respeito pela autoridade, pelas regras fixas e 
pela manutenção da ordem social. Deve-se cumprir

Qual a relação entre Piaget e Kohlberg?

Segundo Kohlberg, o que ele e Piaget propõem é que afetividade e cognição possuem uma base estrutural comum e paralela, e que os julgamentos morais não são puramente cognitivos, mas possuem componentes afetivos e motivacionais.

Qual é a diferença entre o trabalho de Kohlberg e Piaget?

Kohlberg, tal como Piaget, enfatiza a importância da maturação de estruturas cognitivas e a sequência invariável de estágios de desenvolvimento para que a criança seja capaz de assimilar as regras. A diferença fundamental entre eles está na discussão sobre a existência ou não de princípios morais universais.

Quais as principais diferenças estudadas entre as teorias de J Piaget e L Kohlberg acerca da relação entre desenvolvimento cognitivo e moralidade?

Para KOHLBERG existem seis estágios no desenvolvimento moral, dividido em três níveis. Lembremos que Piaget estudou somente a vida moral até a adolescência e Kohlberg até o desabrochar pleno da maturidade e da vida moral. Kohlberg não dá muita importância ao comportamento moral externo.

Qual o desenvolvimento da moral Segundo Lawrence Kohlberg?

Teoria do Desenvolvimento Moral. A teoria do desenvolvimento moral é a mais conhecida de Kohlberg. Sua teoria, assim como a de Piaget, é universalista. Não afirma a universalidade das normas, mas a das estruturas que permitem a aplicação das normas em contextos precisos e proporcionam critérios para o juízo moral.