Influências negativas de eventos climáticos na produção agrícola no Sudeste

Existe uma ampla relação entre clima e agricultura no espaço rural. Isso acontece porque as práticas agrícolas são extremamente dependentes das variações atmosféricas, o que quer dizer que alguns fatores, como a quantidade de chuvas, a temperatura e outros elementos, interferem na produção das lavouras.

Sendo assim, algumas espécies de vegetais são mais propícias de serem cultivadas em regiões que apresentam os tipos climáticos mais adequados para a sua manutenção. Apesar disso, a sociedade vem desenvolvendo técnicas para diminuir esses efeitos, como a criação de espécies híbridas e a construção de espaços artificiais que permitam o plantio de vegetais em localidades atípicas.

No entanto, essas técnicas – a maioria delas muito avançada – costumam apresentar um custo maior e nem sempre a mesma qualidade que as originais, no caso dos alimentos. Por esse motivo, antes de iniciar a lavoura, é preciso saber se o que vai ser cultivado consegue se manter no tipo climático em questão, além de outros fatores serem avaliados, como o solo, a disponibilidade de água, etc.

No período da colonização, por exemplo, a coroa portuguesa escolheu inicialmente o cultivo da cana-de-açúcar para as terras brasileiras, pois o clima da região Nordeste era o mais propício, favorecendo a produção de açúcar em larga escala. Já o café, que se adapta melhor a locais nem muito quentes e nem muito frios o ano todo, foi muito cultivado na região Sudeste do país, encontrando o seu auge na economia brasileira ao longo do século XIX.

Já a soja, por sua vez, encontrou no ambiente do Centro-Oeste brasileiro um local perfeito para a sua instalação, adaptando-se com facilidade ao clima quente e seco do Brasil Central, com uma estação quente e chuvosa e outra mais amena e com baixas umidades do ar. No entanto, essa espécie também se adapta ao clima mais frio da região Sul, sendo, por isso (e também por fatores econômicos diversos), um dos produtos mais cultivados no espaço rural do Brasil.

Portanto, podemos perceber que a influência do clima na agricultura é um tema importante, de forma que conhecer as particularidades de cada espécie e também as condições geográficas do ambiente é algo necessário para o bom desempenho do setor agrário na economia. Assim, é evidente que períodos de seca extrema ou de severas anomalias climáticas podem prejudicar a produção e todas as atividades socioeconômicas dela dependentes.

Influências negativas de eventos climáticos na produção agrícola no Sudeste

Algumas plantações podem sofrer com a seca ou com anomalias climáticas diversas


Por Me. Rodolfo Alves Pena

Influências negativas de eventos climáticos na produção agrícola no Sudeste
A agricultura brasileira não se beneficia das mudanças climáticas, e será drasticamente impactada nas próximas décadas. (imagem: Jennifer Poole)

Quando falamos sobre mudanças climáticas, a maioria das pessoas tende a tratar os agricultores como “vilões do clima”, excluindo-os de qualquer discussão relativa ao meio-ambiente. Mas a realidade é que a agricultura brasileira não se beneficia das mudanças climáticas, e será drasticamente impactada nas próximas décadas.

Hoje, 70% dos brasileiros se sustentam através da agricultura familiar, muitos deles de maneira sustentável, e uma grande parcela em situação de subsistência e pobreza. Isso equivale a cerca de 4,4 milhões de famílias. Esta parcela da população fornece a maior parte dos alimentos que consumimos e não é a grande responsável pelo desmatamento.

Dados públicos do IBAMA revelam, na verdade, que os 25 maiores desmatadores do país são grandes empresas, políticos e banqueiros cujas centenas de autuações chegam a valores superiores a 6 bilhões de reais, 10% do total de multas aplicadas por devastação da flora desde 1995. A imensa maioria deles jamais pagou suas multas e acumula outras dívidas com o poder público.

As mudanças climáticas impulsionadas pelos maiores desmatadores vão afetar principalmente os agricultores menores, que são mais vulneráveis às flutuações do mercado e podem desestabilizar toda a base do agronegócio no país.

Conheça os 25 maiores desmatadores da Amazonia:

Durante meses, analisamos mais de 284 mil multas por desmatamento nos últimos 25 anos. Descobrimos que os maiores destruidores do meio ambiente são algumas das pessoas mais ricas e poderosas do Brasil. https://t.co/hXafzvWKPS pic.twitter.com/vKyrQMc0Bx

— The Intercept Brasil (@TheInterceptBr) January 31, 2020

Já é fato bem conhecido e comprovado que a concentração de gases do efeito estufa aumentou nos últimos 150 anos, e que as ações do ser humano tem influência nisso. Mesmo que alguns locais do planeta estejam esfriando, outros estão aquecendo, e na média o que observamos é um aquecimento global.

A grande questão é que as mudanças climáticas existem, mas elas não significam que o mundo vai acabar, mas sim que ele vai mudar. Pesquisadores como Nereu Streck e Cleber Maus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) argumentam que o aumento de gases do efeito estufa parece ser inevitável, pois a queima de combustíveis fósseis não deve diminuir em nível global a curto e médio prazo.

Impactos no trigo e na soja

A princípio, a injeção destes gases na atmosfera pode ser benéfica para a agricultura, pois aumenta a eficiência da fotossíntese em culturas como a soja. No entanto, o aumento na temperatura que vem com essa injeção pode anular estes efeitos benéficos, causando um estresse na planta que compromete a sua produtividade. Isso vale para o rendimento de culturas como trigo e soja, por exemplo, que podem inclusive ter sua produtividade prejudicada.

Impactos na cana-de-açúcar

Já um estudo publicado por Marin et al. de 2013 sugere que o cenário de aquecimento global beneficiará a cana de açúcar, que pode ter um aumento de até 54% de produtividade no Sul Brasileiro. Além disso, a produtividade da cana no centro-norte de São Paulo também aumentaria, assim como a área cultivável no Sudeste.

— Valt Ze (@Valtzen) March 12, 2020

Isso significa que, com o aquecimento global, mais regiões apresentariam um clima favorável à produção de cana de açúcar, um cenário na verdade muito bom para produção brasileira de açúcar e combustível.

Impactos no milho

Já algumas culturas, como o milho, podem ter impactos variados dependendo do local. Estudos como o de Dalmolin et al. de 2018 sugerem que na metade sul do estado do Rio Grande do Sul, o aquecimento global pode aumentar a produtividade do milho, enquanto na porção norte a produtividade vai cair, por exemplo.

Impactos no café

Já para cafeicultores, as notícias são bem piores. Como sugere um estudo de Bunn et al. de 2015, altas temperaturas reduzirão a qualidade e a produtividade tanto de café Arábica quanto Robusta, principalmente em regiões de baixa altitude.

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Outro estudo de Delgado Assad et al. Mostra que em São Paulo, Goiás e Minas Gerais, 95% das regiões aptas a produzir café serão perdidas, e no Paraná esse número chega a 75%. Isso significa que a área cultivável no Brasil vai ficar restrita apenas às regiões de maior altitude.

Além disso, estudos como o de Ghini et al. Sugerem que as condições climáticas se tornarão cada vez mais favoráveis para o surgimento de pragas nas próximas décadas, como nematóides e o bicho mineiro. Elas também se tornarão cada vez mais resistentes aos pesticidas.

No entanto, nem tudo está perdido. Outros estudos como o de Zullo Jr. et al. em 2011 indicam que o extremo Sul do Rio Grande do Sul, por exemplo, terá um número muito maior de regiões aptas ao cultivo do café com o aquecimento global. Isso significa que a produção pode migrar para o Sul e para outros países como Uruguai e Argentina.

Conclusões

E, na verdade, este é o conceito principal que os produtores precisam absorver sobre as mudanças climáticas: As culturas vão mudar. O que um produtor produz hoje na sua fazenda, não conseguirá mais produzir amanhã, o que causará uma desestruturação gradual no agronegócio brasileiro ao longo das próximas décadas.

Influências negativas de eventos climáticos na produção agrícola no Sudeste

Para que o agronegócio brasileiro esteja preparado e não entre em colapso, deixando milhões de famílias no campo sem amparo, precisamos entender que o aquecimento global existe e, principalmente, juntar esforços científicos para compreender qual será seu impacto na produção brasileira ao longo das próximas décadas e qual a melhor maneira de mitigá-lo.

Quais as consequências das mudanças climáticas para a agricultura?

O impacto da agricultura na mudança climática compreende os seguintes fenômenos. Depleção e degradação do solo (erosão do solo, redução da matéria orgânica, salinização, acidificação, perda de fertilidade).

Quais as influências das condições climáticas na agricultura?

Assim, por exemplo, a combinação de ventos fortes com baixas temperaturas pode trazer sérios danos à vegetação em desenvolvimento. Por sua vez, temperaturas muito elevadas associadas à baixa pluviosidade (pouca chuva) podem afetar o florescimento e o crescimento de frutos jovens.

Como as condições climáticas impactam na agricultura brasileira?

Sendo assim, o aumento das temperaturas em função das mudanças climáticas, resultará no aumento do consumo de água pelos produtores rurais e na redução da disponibilidade de água, colocando em risco a capacidade de produção.

Como as mudanças climáticas influenciam na agropecuária?

Na prática, a ausência de chuvas durante longos períodos dificulta o desenvolvimento das plantações, como o enchimento de grãos e crescimento de frutos, além de reduzir a qualidade das pastagens para a alimentação animal.