Como saber se estou com a espinhela caída?

Alguns motivos de oração que chegam ao conhecimento da Dona Maria Rezadeira possuem nomes bem característicos, como espinhela caída, mau olhado e, segundo ela, o pior deles, o mal de simioto. “A criança fica magrinha. E em menino homem, de cada 100, só um escapa”, alertou.

Conheça cada uma delas

Como saber se estou com a espinhela caída?
Espinhela caída: é um nome popular para um mal que provoca dor no peito, nas costas e pernas, além de forte cansaço. A espinhela é um osso flexível, parecendo um nervo, na altura da boca do estômago, que pode envergar para dentro. Para saber se está com espinhela caída, a benzedeira mede da ponta do dedo mindinho ao cotovelo.  Depois, compara com a medida entre um ombro e outro. Se não coincidir, o diagnóstico é positivo.

Como saber se estou com a espinhela caída?

Mal do simioto: na tradição popular, quando uma criança está com quadro avançado de desnutrição, logo se imagina que ela está com mingua ou mal do simioto. Também é chamada de doença do macaco em razão da magreza extrema do enfermo. Entre as causas prováveis estão alergias a lactose, glúten e outros alimentos, parasitoses ou infecções.

Como saber se estou com a espinhela caída?

 Mau-olhado: Também conhecido como olho gordo, é a crença de que a inveja de alguém, demonstrada pelo olhar, transmita uma energia negativa que prejudique a realização de algum sonho, cause doenças ou provoque estragos. O alvo do olho gordo pode sentir desânimo, cansaço e ter a impressão de que nada do que faça dá certo.

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Toda quarta e sexta-feira, dona Lili, 80, deixa as portas de sua casa abertas para quem quiser se benzer. Quando a reportagem chegou à residência, no bairro Estrela Dalva, na região Oeste da capital, duas mães esperavam para benzer seus filhos, e, na saída, por volta de 16h45, outros dois pais chegavam também trazendo seus filhos. “Bença, vó. Tô todo sujo de escola. Tem como benzer hoje, vó?”, disse o pai, segurando o filho no colo. “Tem. Ainda tem sol, né?”, respondeu dona Lili.

Benzedeira há mais de 40 anos, ofício que aprendeu com a mãe, a senhora natural de Ponte Nova, na Zona da Mata, conta como começou. “Lá em casa, mãe passou pra mim, falou ‘umas oração’, e eu fui fazendo. Não tive escola, o que eu sei está tudo guardado na cabeça. Agora a espinhela, um senhor aqui da rua que me ensinou a medir. Que é esse ossinho (disse apontando para o colo), para lá e para cá, aí que a gente sabe. Mau-olhado minha mãe me ensinou, é uma oração bem pequenininha”, disse.

Para saber se a espinhela está caída, tira-se a medida. Com um fio de algodão ou uma toalha, a benzedeira mede da ponta do dedo mínimo à ponta do cotovelo. Depois de um ombro ao outro. Se coincidirem as medidas, a espinhela está normal. Se não, está caída.

Viúva, católica, dona Lili mora com a filha e os dois netos e recebe em sua casa pessoas de várias partes da cidade, com um sorriso no rosto e sua fé. “Hoje veio uma porção de gente da Pampulha, todos com a espinhela caída. Acho que benzi uns 12 homens. Eu benzo até gente que é evangélico. Jesus é um só. E até enquanto Deus me der força eu vou benzer”, afirma.

No corredor estreito de cimento batido que dá acesso ao cômodo onde dona Lili realiza os atendimentos, em meio a plantas dependuradas, tanque de lavar roupa e um periquito azul na gaiola, a enfermeira Vanessa Silveira, 41, aguardava para benzer a filha. “Eu acredito e acho que mal não faz. Sempre quando ela não dorme bem à noite, fica mais irritada, ou, quando não se alimenta, eu trago para benzer, porque eu vejo que melhora. É como se estivesse tirando uma energia ruim e colocando a boa”, diz a mãe.

A dona de casa Maria, 83, também moradora da região Oeste, conta que aprendeu o cantar em voz baixa e o chacoalhar de ramos de ervas de arruda vendo as benzedeiras a que ela levava os filhos. No entanto, parou de benzer porque estes não aprovam a prática. No caso de dona Lili, a filha também não tem interesse em seguir com a tradição, mas a benzedeira já foi procurada por outras pessoas. “Teve uma senhora que já veio, trouxe um caderno. Eu falei umas orações pra ela, e ela escreveu tudo”, lembra.

Segundo o professor convidado da pós-graduação de ciência da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Faustino Teixeira, essa tradição típica do catolicismo se mesclou com outras religiões. “Caracteriza-se por muita reza, pouca missa, muitos santos, pouco padre. Não se acabou, mas a linha de continuidade da tradição foi se enfraquecendo em razão de nem sempre filhos seguirem a trajetória dos pais, além do fato de ser muito perseguida por outras tradições”, analisa.

Documentário. A diretora Sílvia Batista Godinho decidiu dar espaço para as muitas histórias de mulheres responsáveis pelo tratamento místico em comunidades e produziu o documentário “Benzedeiras”. Filmado em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), na região metropolitana, o documentário chama atenção para a resistência da tradição e está disponível no YouTube.

Decreto. Em 2016, a então presidente Dilma Rousseff assinou o Decreto 8.750, que cria o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, onde as benzedeiras também têm espaço.

Pesquisas mostram que funciona

A ciência vem se interessando em decifrar como as experiências espirituais e religiosas se manifestam no cérebro humano e afetam, por exemplo, a saúde das pessoas. Uma das descobertas de neurocientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, publicada na revista “Neuroscience Social”, é que essas práticas ativam áreas cerebrais ligadas à concentração e à recompensa, assim como acontece em situações que envolvem amor, sexo, drogas, música e jogos.

Outras pesquisas já demonstraram que, de modo geral, as pessoas com maior envolvimento religioso tendem a ter melhores níveis de felicidade, menos casos de depressão, de suicídio e de uso de drogas. No entanto, algumas formas de religiosidade podem ser deletérias.

As pesquisas científicas que abordam a cura pela espiritualidade têm crescido exponencialmente. Nos Estados Unidos, cinco universidades tinham incluído a espiritualidade em seus currículos acadêmicos em 1993. Sete anos depois, o número subiu para 65, e, em 2004, 84 escolas médicas ofereciam disciplinas optativas ou obrigatórias.

Minientrevista

Maria Bezerra
Assistente social e benzedeira
Escola de Benzedeiras

O que é o benzimento?

Sim. Periodicamente realizamos oficinas de benzimento porque acreditamos que é possível ensinar o que se aprende do mesmo jeito que era antes. Não é preciso ter o dom. As benzedeiras com quem aprendi me provaram que não precisa ser parente de uma ancestral direta, pois a nossa família cósmica está aí para acessar e compartilhar o conhecimento dela.

O que sente quando está com espinhela caída?

Espinhela caída Também conhecida por Lumbago é a designação popular de uma doença caracterizada por forte dor no peito , nas costas e pernas, além de um cansaço anormal que acomete o indivíduo, ao submeter-se a esforço físico.

Onde fica espinhela caída?

A espinhela caída é nada mais do que um nome dado a um deslocamento do osso do meio tórax. Esse osso é flexível e pode se deslocar nos adultos por carregar excesso de peso e nos bebês?

Como saber se estou com o peito aberto?

Para medir o peito, Deise explica que é necessário pegar um pano que não estique e medir a distância entre as dobras dos cotovelos da criança. ''Você deita por cima do pano e se não fechar é porque ela está com o peito aberto, aí tem que colocar no lugar'', conta.

Qual o chá que é bom para espinhela caída?

O chá de erva-doce é recomendado para espinhela caída e age, também, como calmante.