Como os portugueses e outros viajantes descreveram o que era novo para eles

Nesta minha pequena lista estão pessoas que nos dão a conhecer mundos antes que eles desapareçam, pessoas que viajam apesar de todos os obstáculos, viajantes que descomplicam o mundo — e que sabem que viajar com crianças não é um bicho-de-sete-cabeças — e aqueles cuja principal ocupação é vadiar. Estão incluídos aqueles que fotografam (o mundo) pró mundial, aqueles que só compram bilhete de ida — e não sabem quando vão voltar a casa —, os que consomem pouco e nos ensinam muito, aqueles que mergulham com tubarões e exploram paisagens prístinas e que arregalam os olhos quando voltam à superfície. A vida deles não passa por "estudar, conseguir um bom emprego, casar e ter filhos". O mundo deles não tem esses limites. Para eles, corre sempre tudo bem desde que estejam a viajar — mesmo que alguma coisa corra mal. "Fica sempre uma excelente história para contar."

Ana Abrão

Bastaria olhar com atenção para a cor dos olhos das mulheres e dos homens de Kalash, minoria não muçulmana que vive nas montanhas a noroeste do Paquistão que não conheceríamos se Ana Abrão não tivesse esta paixão assolapada, este desígnio de descobrir pequenos grupos étnicos com características culturais únicas, viajar até eles e viver as suas vidas — e registar o máximo possível. "As sociedades são dinâmicas, estão em constante mudança. Uma geração nunca quer fazer as mesmas coisas que a geração anterior. Pelo contrário, quer mudança. Ninguém quer fazer o mesmo que os seus avós, vestir as mesmas roupas ou ouvir as mesmas músicas. Quanto mais educada e instruída é uma geração, menos ela quererá preservar as tradições. A tradição é como um avô sem neto: não tem futuro", explica à Fugas, Ana, autora do livro Outros Mundos, focada em dar a conhecer mundos antes que eles desapareçam — e para que não desapareçam. Ficamos ansiosos à espera do mundo através dos seus olhos.

Dez contas de Instagram para seguir em 2023 Ana Abrão

Ana Sofia Martins

“Se formos pensar nos obstáculos, não saímos de casa”. A frase vale para todos — e ganha uma dimensão hercúlea se pensarmos em pessoas com mobilidade reduzida e alguma limitação, deficiência ou incapacidade, seja ela permanente ou temporária. 2022 foi o ano em que nos cruzámos com a Ana Sofia Martins, que nunca deixou de explorar o mundo apesar de um acidente de viação aos 23 anos que a obrigou a passar a viajar na companhia de uma cadeira de rodas. "Há tanto mundo...”, suspira a autora do projecto JustGo, onde promove boas práticas de turismo acessível para pessoas com mobilidade reduzida — e porque “de um momento para outro todos precisamos que o mundo seja acessível”; porque um dia "todos perdemos mobilidade". Porque nunca corre tudo, tudo bem. "Se o mundo não está adaptado, temos que nos adaptar nós. Temos que ir.” Em 2022, foi à Turquia, a Espanha, à Alemanha e à Áustria. E os planos para 2023 passam por uma road trip pelos Estados Unidos, passando por algumas cidades e alguns parques naturais.

Dez contas de Instagram para seguir em 2023 Ana Sofia Martins

Andreas Noe

Razões não faltam para Andreas Noe estar nesta lista — e nem vale a pena alegar que ele não é português porque quem o conhece bem sabe que o coração deste alemão encontrou um país que o arrebatou e que The Trash Traveler, o seu alter-ego, um verdadeiro super-herói, prometeu defender com todas as energias. É através da sua conta de Instagram que espalha as ideias e os projectos — de preservação do ambiente e especialmente da costa portuguesa e das suas praias — que borbulham na sua cabeça mirabolante e é nesta rede social que encontramos uma espécie de comunidade de pequenas e grandes associações e amigos do ambiente que Trash vai conhecendo e juntando numa grande corrente. Seja a apanhar milhões de beatas, a recolher plástico à volta do país em bicicleta ou a coleccionar pedacinhos de microplástico, este especialista em Biologia Molecular, surfista de prancha reciclada e caravanista minimalista vegetariano convicto desde os quatro anos tem "muitos projectos na cabeça" para 2023. "Não sei bem, mas sei que vou fazer muita coisa", confessou à Fugas depois de um ano cheio — de plástico, de palavras e de acções. Construir uma casa de plástico e "viver como Robinson Crusoe" numa praia remota? Percorrer a costa portuguesa desta vez por via marítima num meio de transporte reciclado? Pregar o sermão anti-consumo de plásticos (ao som do ukelele) para os Açores e a Madeira? Não percam os próximos episódios porque nós também não.

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Catarina Leonardo

Chama-lhes viagens "desafiantes" e partilha as suas aventuras com o objectivo de "descomplicar". Recentemente, a sua conta de Instagram ficou repleta de fotografias de uma aventura na Arábia Saudita com a filha de oito anos. "É um mundo diferente no que toca a rotinas, comida, clima, hábitos e formas de viver", enumerou Catarina Leonardo num dos seus posts em que, apesar de tudo — de não recomendar este como primeiro destino para viajar com uma criança, principalmente devido ao calor e às distâncias entre cidades —, voltou a defender que viajar com crianças é tudo menos um bicho-papão. "A Maria tem tantos anos de viagem como de vida e muito provavelmente por isso não noto grandes dificuldades de adaptação." A filha andou imenso, observou, fez mil perguntas e em vários sítios disse que não queria ir embora. "Como sempre, vale muito, muito a pena. É impagável vê-la crescer e ter contacto com histórias e pessoas fabulosas que surgem no caminho." Essa aventura ("trouxe muitas histórias, várias peripécias, e imensos sorrisos e palavras trocadas que irei guardar no coração", contou à Fugas) é apenas uma das lições desta Wandering Life, que nos mostra o quão pequenos somos. Em 2023, Catarina quer muito explorar alguns países de África.

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Diogo Tavares

É um vadio — e é por isso que tem que fazer parte desta lista, porque há um ano estava a pedalar o Norte Mais a Norte de Portugal (400 quilómetros entre Paralela e Caminha) e porque há coisa de um mês percorreu 730 quilómetros de Norte a Sul da Jordânia, de Dana ao Mar Vermelho, atravessando quase sem sombras o deserto de Wadi Rum. Está nesta lista por isso, porque na sua agenda de 2022 não constam dias no escritório ou reuniões enfadonhas de trabalho (mas sim viagens à Guatemala, ao Chile, ao Egipto, à Islândia e às "montanhas malditas" entre a Albânia, Montenegro e Kosovo, percorrendo as florestas e os maciços montanhosos de granito dos Picos dos Balcãs, uma aventura na sua van com o filho pelo interior profundo de Portugal, e ainda travessias no Gerês, trilhos na Serra do Alvão e da Estrela e caminhadas com burros de Miranda) e porque o seu registo fotográfico, cada vez mais apurado, nos convida a começarmos a treinar para um destes dias irmos atrás dele por esse mundo fora.

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Filipa e Diogo

Viajantes e mergulhadores, Filipa e Diogo viajam juntos desde 2007, casaram em 2009, tiraram um curso de mergulho dois anos depois no Egipto e nunca mais pararam — têm mais de 450 mergulhos cada um e juntos já visitaram mais de 140 regiões do mundo pertencentes a mais de 70 países. Seguimos as migalhas que vão deixando pelo caminho porque normalmente apresentam-nos aquilo a que chamam de "destinos c", locais "que ninguém conhece" e que a maior parte das pessoas "nem sabe onde ficam no mapa". "Chegávamos a um sítio e ficávamos desiludidos. Há tanta publicidade sobre determinados sítios que parece que chegas lá e que já o conheces. Não há novidade." Foi assim que "o chip mudou", explica à Fugas Filipa Frias. Vanuatu no top três de uma lista que inclui Palau, Wallis e Futuna, Coreia do Norte, Tibete, Butão, Nova Caledónia e Antártida, entre muitos outros destinos, onde provavelmente já mergulharam. "Mergulhar é quase como uma surf vibe", descrevem os Intrepid Jumpers, acabados de chegar de uma viagem ao Paquistão e às Maldivas — melhor mergulho do ano? Fuvahmulah. "Saímos do mergulho num estado de alegria algo hipnótico. É um estado meio transe. 'Foi o MELHOR mergulho da minha vida!!'", sorri Filipa. Mergulhar faz com que tenham "amigos em todo o mundo" e com que descubram pontos no planeta quase prístinos. "Um bom mergulho acaba por exigir destinos mais fora da caixa. Nos sítios onde toda a gente vai, o coral fica desgastado. É super-difícil chegar a Raja Ampat e ainda bem." Em 2022, Filipa e Diogo também exploraram o Sri Lanka e a Arábia Saudita. Em 2023, querem mergulhar nas Bahamas, ir à Nova Zelândia e ao Afeganistão.

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Mara Mures

Se ainda acreditamos que o Instagram é uma janela aberta para o mundo, não há como não seguir a conta de Mara Mures, artista plástica de 25 anos que saiu de Portugal a 3 de Fevereiro de 2022 rumo à Argentina com a sua bicicleta e ainda não voltou a casa. "A ideia inicial era ficar por três meses e já cá estou há dez", contou à Fugas (desde Iguazú) numa pausa da sua aventura, que partilha no Instagram na forma de fotografias, de desenhos — que vende para ajudar a financiar a viagem — e de experiências. Já lá vão Chile, Uruguai, Brasil... No horizonte estão Paraguai, Bolívia e Peru. "Gostava de passar por todos os países da América do Sul, mas ainda é só uma ideia. Vou sem grandes planos e vou construindo a viagem a cada dia que passa." Nos alforges e pendurado na bicicleta, a jovem da Bajouca (Leiria) leva a tenda e o saco-cama, roupa, utensílios de cozinha e comida q.b., as ferramentas para a bicla e outras para pintar a guache o mundo que vai desvendando.

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Rui Barbosa Batista

"Em viagem, quando algo corre mal… no fundo corre bem: Fica sempre uma excelente história para contar”. A frase é mesmo de Rui Barbosa Batista, conhecido pelos seus amigos e pares por ter uma agenda de viagens surpreendentemente elástica. 2022 foi assim: Iraque, Escócia, Cuba, Canadá, Alemanha, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa, Guiné-Conacri e, ufa, Omã. Rui Bornfreee Batista ama "pessoas, gente inspiradora, dificuldades em fronteiras, transportes públicos épicos, imprevistos, momentos caricatos e os locais mais genuínos e puros". Transforma tudo em histórias, que, mais cedo ou mais tarde, são contadas de uma forma transparente e apaixonada e sempre na perspectiva das pessoas que conhece pelo caminho. "Viajo de forma minimalista e ao sabor da liberdade do imprevisto. Tenho tanta vontade de partilhar quanto a de aprender", diz à Fugas este viajante incorrigível com uma longa lista para 2023 (São Tomé e Príncipe, Paquistão, Equador, Angola, Venezuela, Guiana e Suriname), que, apostamos, vai mesmo cumprir. "Somos do tamanho do mundo que conhecemos. Pena esta frase não ser minha [risos]." Ele é, no mínimo, grande.

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Sandrina e Tiago

Como muitos de nós, Sandrina e Tiago cresceram a aprender que a vida é "estudar, conseguir um bom emprego, casar e ter filhos". Quando perceberam que "faltava algo" e que "a vida é demasiado curta", decidiram mudar de rumo — ele estava ligado à Enfermagem, ela era Educadora Social — para dedicarem parte do tempo à paixão pelas viagens. Hoje fotografam, filmam e escrevem sobre as suas explorações, em que o denominador comum, salvo raras excepções, é a natureza, que defendem com um lema — "A natureza não é um destino, é um motivo" — e salvaguardam com pequenas, grandes decisões que vão tomando em cada percurso que seguem ou partilham nas redes sociais. São "passos sustentáveis", como sublinham, que de certa forma ajudam a não repetir os erros do passado e do presente e consequentemente a prevenir novos "danos irreversíveis" na paisagem que todos nós nos habituamos a lamentar à medida que vamos conhecendo o mundo. Valorizam e procuram promover "valores de turismo responsável, equilíbrio social e experiências locais".

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Tânia Muxima

Nenhum sítio é demasiado longe, demasiado alto ou demasiado remoto. Ponto. O limite de Tânia Muxima são as suas próprias forças, a energia que precisa para ir daqui ali, de preferência com a sua fiel amiga, a bicicleta que a tem acompanhado em aventuras por todo o mundo. "A minha bicicleta não tem noção, mas tem-me levado a lugares incrivelmente bonitos e a conhecer pessoas que me têm ensinado muito", escreveu na Fugas durante a pandemia, altura em que aproveitou para avançar com a construção do seu próprio lar (na zona da Figueira da Foz), um espaço à medida de si própria e das suas viagens: simples, verde, verdadeiramente sustentável e montado peça a peça com o coração. No ano que acaba, Muxima liderou grupos à Jordânia, à Guatemala e à Suíça — onde trabalha quatro meses num refúgio de montanha — e atravessou as Ilhas Canárias de bicicleta durante um mês. Em 2023, promete levar-nos de novo a África. "Quero continuar a viver como gosto, com a minha carrinha, as minhas pranchas, a minha bicicleta, a natureza, as montanhas, o oceano, as viagens, sempre rodeada da minha família e amigos."

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Como os portugueses e outros viajantes descreveram essa terra?

Resposta: Eles descreviam tudo aquilo que era novo, ou seja, tudo aquilo que não haviam conhecido e que estão aprendendo. Explicação: Os português conheciam tudo aquilo que viam, através de sua memorias e objetos diferentes.

Como os viajantes portugueses descreviam as paisagens do Brasil?

No caso do Brasil, vastas literatura e iconografia são produzidas desde a chegada dos portugueses no século XVI até o século XIX: os relatos e registros pictóricos descrevem as novas paisagens projetando imagens variadas da terra e do homem.

Como os portugueses descreveram as paisagens do Brasil?

Resposta. Como um paraíso, sendo a terra que daria muita riqueza pros portugueses.