Cite algumas estratégias de resistência indígena a dominação europeia

Atualmente, várias pesquisas históricas manifestam expressa preocupação em colocar um fim aos silêncios que permanecem com relação a determinados temas. De fato, essa operação revisionista e inovadora empreende a valorosa tarefa de recontar o passado por meio de referenciais que, por razões diversas, eram arbitrariamente descartados. Com o passar do tempo, esse novo conhecimento rompe as barreiras do circuito acadêmico e ocupa espaço nos livros didáticos e salas de aula.

Para que esse processo seja potencializado, é imprescindível que os professores tenham a oportunidade de renovar seus instrumentos didáticos e ampliar o seu inestimável capital intelectual. Por fim, o maior beneficiado nesse processo é o aluno, que passa a ter um novo tipo de relação com os conteúdos históricos e passa a combater os velhos paradigmas e diretrizes que explicavam nossa realidade. Afinal de contas, enxergar o passado com outros olhos abre novas possibilidades de lidar com o cotidiano.

Prestigiando esta gama de implicações, sugerimos neste texto um minucioso trabalho de desconstrução do processo de colonização do nosso território. Geralmente, alguns livros didáticos com visão fantasiosa e romântica sugerem que o contato entre os nativos e portugueses aconteceu de forma harmoniosa e descompromissada. Em outros casos, quando admitido o conflito, muitos professores tendem a retratá-lo de forma unilateral, colocando os indígenas como presas fáceis dos portugueses.

Visando renovar esse tema para os alunos, sugerimos o trabalho com um trecho da obra “A manilha e o libambo”, do pesquisador Alberto da Costa e Silva. Colocando em evidência esse mesmo tema, ele ressalta as seguintes nuances do processo de colonização do território:

"Nem todos os brancos que chegavam do mar eram portugueses, e os povos que viviam nas cercanias do litoral logo aprenderam a distingui-los. (...) Se os surpreendiam, os portugueses os atacavam, queimavam e punham a pique. Mas às vezes, ocorria o oposto. (...) Os portugueses insistiam com os reis e notáveis do litoral para que não transacionassem com os outros europeus, por eles qualificados de piratas. E recomendavam que lhes dessem combate. (...) Por volta de 1560, os portugueses começaram a usar galés para patrulhar as costas próximas ao forte da Mina. (...) Os entrepostos nas mãos de portugueses fiéis à Coroa eram poucos e quase sempre dependentes da boa vontade dos chefes nativos, até para seus alimentos."

Através dessas considerações, o professor tem a oportunidade de expor aos alunos que o processo de colonização brasileiro teve uma dinâmica bem mais complexa. De fato, nesse contexto, observamos que os portugueses entravam em conflito com os indígenas e conseguiam subordinar as populações. Mas, em contrapartida, o mesmo pesquisador aponta que os indígenas também venciam os portugueses e demonstravam seu poder de resistência contra a colonização.

Outro ponto que vale ser ressaltado também aponta que outros “brancos” (europeus) tinham o expresso interesse em ocupar as terras brasileiras. Dessa forma, fica claro que, nas primeiras décadas do século XVI, a dominação portuguesa sofria ameaças de outros povos que também ambicionavam colonizar estas terras. Sob tal aspecto, sugerimos que o professor faça uma menção sobre as tentativas holandesas, britânicas e francesas de se ocupar o litoral brasileiro.

Por fim, destacando mais uma vez o comportamento nativo neste contexto, coloque em evidência as tentativas dos colonizadores portugueses em contar com o auxílio dos indígenas. No pequeno trecho, fica fácil destacar que os portugueses recorriam aos indígenas para evitar a dominação de outros europeus e até para a obtenção de alimentos em um território ainda desconhecido.

Dependendo da série em que a documentação é exposta, sugerimos que o professor finalize essa interessante discussão propondo a realização de um quadro em que portugueses, invasores europeus e índios sejam representados de acordo com as informações fornecidas pelo texto. Assim, com o uso do elemento criativo e lúdico, a história brasileira passa a ganhar outros olhos.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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A escravidão indígena foi a primeira tentativa da Coroa portuguesa de explorar a mão de obra no Brasil. Os portugueses encontraram inúmeras dificuldades em capturar indígenas para esse fim. Além destes conhecerem muito bem o território, os padres jesuítas tornaram-se empecilhos para a escravidão, porque defendiam os índios para serem catequizados.

A Coroa só autorizava a escravidão indígena por meio da guerra justa. Com a vinda dos negros africanos para o trabalho escravo, e tendo-se em vista a lucratividade do tráfico negreiro, a escravidão indígena foi sendo deixada de lado.

Leia também: Escravidão no Brasil: formas de resistência 

O modo de vida dos índios não se adaptou ao trabalho escravo exigido pelos portugueses nos primeiros anos de colonização brasileira.

Tópicos deste artigo

  • 1 - Contexto histórico da escravidão indígena
  • 2 - Causas da escravidão indígena
  • 3 - Escravidão entre os indígenas
  • 4 - Igreja e a escravidão indígena
  • 5 - Coroa e a escravidão indígena
  • 6 - Abolição da escravidão indígena
  • 7 - Escravidão indígena X escravidão africana
  • 8 - Resumo sobre a escravidão indígena
  • 9 - Exercícios resolvidos

Contexto histórico da escravidão indígena

Quando os portugueses desembarcaram no Brasil em 1500, buscou-se o primeiro contato com os nativos para conhecer-se melhor a região e suas riquezas.

O primeiro ciclo econômico da colônia foi o pau-brasil. Os índios retiravam as árvores das florestas próximas ao litoral e colocavam-nas nas caravelas portuguesas em troca de espelhos e bugigangas que não tinham valor comercial para os portugueses, mas chamavam a atenção dos nativos. Essa troca chamava-se escambo.

Enquanto Portugal lucrava com o comércio de especiarias das Índias, as novas terras na América serviam de entreposto, de parada das navegações vindas de Portugal para, em seguida, continuarem a viagem em direção às Índias. Enquanto isso, o comércio do pau-brasil era mantido.

A crise do comércio de especiarias e a ameaça de invasão por parte de piratas ingleses e franceses fizeram com que Portugal investisse definitivamente na posse e na exploração do Brasil. Ao contrário dos espanhóis, que encontraram ouro nos primeiros anos de colonização da América, os portugueses não tiveram a mesma sorte. O comércio do pau-brasil gerava algum lucro, mas não o suficiente para a Coroa portuguesa. Os colonizadores tentaram aproximar-se dos índios, para que estes se tornassem seus aliados e, logo depois, escravizados. Os índios colaboraram com os portugueses na expulsão de estrangeiros que tentaram invadir o Brasil.

No mesmo período que a Coroa portuguesa decidiu investir na exploração do Brasil, a Companhia de Jesus também participou dessa empreitada e enviou diversos padres para catequizar os habitantes das regiões distantes da Europa. No século XVI, a Igreja sofria os reveses da Reforma Protestante, e a criação da Companhia de Jesus foi uma das respostas ao avanço protestante na América.

Os padres jesuítas tiveram papel importante na cristianização dos colonos e na catequização dos índios. O Padre José de Anchieta aprendeu a língua tupi-guarani e foi o primeiro a fazer um dicionário sobre ela. Ele se utilizava de poesias e apresentações teatrais para evangelizar os índios.

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Causas da escravidão indígena

As causas da escravidão indígena estão ligadas principalmente ao propósito dos portugueses em colonizar o Brasil. Ao contrário do que houve na América do Norte, os colonizadores portugueses não deixaram seus reinos para morar aqui. Eles vinham apenas para explorar as riquezas do Brasil. A única mão de obra disponível era a indígena, no entanto, o trabalho escravo e em grande escala não era comum para os índios.

Os colonizadores utilizaram-se de ameaças, da força física e da propagação de doenças para forçar os índios a trabalharem para a Coroa. Várias tribos foram dizimadas por conta do conflito com os portugueses ao recusarem o trabalho escravo. Muitos índios fugiram para o interior do Brasil, evitando ser escravizados. O fracasso da escravidão indígena fez com que os portugueses optassem pela escravidão negra oriunda da África.

Escravidão entre os indígenas

A escravidão entre os índios acontecia logo após uma tribo vencer a outra em um combate. Os derrotados eram transformados em mão de obra escrava, mas o trabalho exigido não se comparava com o que os portugueses esperavam que os índios fizessem.

A escravidão entre os índios era o trabalho na tribo. Além disso, havia tribos canibais que comiam a carne dos adversários, pois acreditavam que, dessa forma, teriam as mesmas qualidades daqueles que morreram no combate. Por exemplo, se um inimigo capturado era um bom corredor, suas pernas eram comidas para que a velocidade delas fosse agregada a quem as comesse.

Veja também: Cultura indígena – aspectos marcantes e suas peculiaridades

Igreja e a escravidão indígena

Os primeiros anos da colonização efetiva do Brasil, a partir de 1530, expuseram conflitos entre a Igreja e os colonos portugueses. Os colonos queriam escravizar os índios para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, enquanto os religiosos aproximaram-se deles para catequizá-los. Os índios eram vistos como seres inferiores, que necessitavam da conversão ao catolicismo para que suas almas não fossem condenadas. Por isso, as práticas religiosas realizadas pelas tribos antes da chegada dos portugueses foram abolidas pelos padres jesuítas.

Percebendo que os colonos não cessariam de persegui-los até conseguirem capturá-los para o trabalho nas lavouras de açúcar, os padres jesuítas fugiram com os índios para o interior do Brasil, principalmente para as terras mais ao sul e ao norte da colônia. Surgiam assim as missões jesuítas, que protegiam os índios da perseguição dos portugueses e nas quais eram ensinados a doutrina católica e o preparo da terra para a plantação dos alimentos a serem consumidos nelas.

Esse avanço jesuíta foi o primeiro movimento de interiorização do Brasil. Os jesuítas alcançaram o norte da colônia, principalmente a região próxima da Floresta Amazônica. Essas expedições religiosas ao norte descobriram as drogas do sertão, produtos oriundos da floresta.

Padre José de Anchieta trabalhou na catequização dos índios e produziu o primeiro dicionário da língua tupi-guarani.

Coroa e a escravidão indígena

Para evitar o conflito entre os colonos e os jesuítas, a Coroa portuguesa determinou a guerra justa — os portugueses só poderiam escravizar os índios que tivessem entrado em conflito com os colonos, um confronto gratuito, sem provocação dos portugueses.

Abolição da escravidão indígena

A Coroa portuguesa teve mais prejuízo do que benefício com a escravidão indígena. A fuga para regiões mais distantes, a indisponibilidade para o trabalho intensivo exigido pela Coroa e a presença jesuíta na defesa dos índios fizeram com que os portugueses repensassem formas de mão de obra para a lavoura de cana-de-açúcar. A escravidão africana mostrou-se lucrativa e mais vantajosa do que a indígena.

Escravidão indígena X escravidão africana

O negro africano veio trabalhar como escravo no Brasil para atender aos anseios da Coroa de iniciar-se rapidamente a produção açucareira de forma intensiva. Com o trabalho escravo vindo da África sendo vantajoso financeiramente e atraente para os senhores de engenho do Nordeste, o tráfico negreiro intensificou-se para essa região, e, dessa forma, a escravidão indígena foi sendo substituída pela mão de obra negra.

Resumo sobre a escravidão indígena

  • O trabalho indígena na colônia foi a primeira tentativa de escravizar os índios para que trabalhassem de forma intensiva nas lavouras de cana-de-açúcar no Nordeste.
  • Conflitos entre colonos e jesuítas pela posse dos índios.
  • Guerra justa: a Coroa só admitia a mão de obra indígena se houvesse conflito entre os colonos e as tribos indígenas.
  • O tráfico negreiro mostrou-se mais lucrativo e atraente para os senhores de engenho.

Acesse também: Como ficou a vida dos ex-escravos após a Lei Áurea?

Exercícios resolvidos

Questão 1 – Podemos afirmar que a guerra justa foi:

A) justificativa para a escravização da mão de obra indígena.

B) disputa religiosa entre católicos e muçulmanos.

C) conflito entre Portugal e Espanha pela posse total da América.

D) guerra entre portugueses e piratas franceses no Rio de Janeiro.

Resolução

Alternativa A. Caso uma tribo indígena atacasse algum colono no Brasil, esse colono poderia escravizar os índios que o atacaram: era a guerra justa.

Questão 2 – Como se deu a atuação dos jesuítas com os índios?

A) Os padres jesuítas evitaram o contato com os índios, pois não queriam ser tentados a casarem-se.

B) Os jesuítas catequizaram os índios para ganhar mais adeptos à Igreja Católica.

C) Na guerra justa, os jesuítas incentivaram os índios a guerrearem contra os portugueses.

D) Os jesuítas fracassaram nos seus objetivos de catequizar os índios.

Resolução

Alternativa B. Logo após a Reforma Protestante, a Igreja Católica pretendia aumentar o número de fiéis nas terras recém-descobertas na América. Os padres jesuítas foram responsáveis por firmar a fé cristã entre os colonos e catequizar os índios.


Por Carlos César Higa
Professor de História

Quais quais foram as formas de resistência da população indígena ao domínio europeu?

A resistência indígena se dava pelas fugas dos aldeamentos missionários e de outros tipos de cativeiro, pela defesa das aldeias contra os Bandeirantes, por ataques a vilas e fazendas, pela colaboração com o europeu, bem como pelo suicídio quando presos.

Quais foram os principais movimentos de resistência indígena?

O Zapatismo é um movimento de resistência indígena mexicana contra a marginalização e também luta pela extinção do Nafta, visto pelos indígenas como exemplo de submissão ao poder americano, e pela busca da representatividade política dos povos indígenas.

Quais foram as principais formas de resistência indígena a escravidão?

Entre as diferentes formas de resistência dos escravos podem ser mencionadas as fugas coletivas, ou individuais, as revoltas contra feitores e seus senhores (que poderia ou não ter o assassinato desses), a recusa em trabalhar, a execução do trabalho de maneira inadequada, criação de quilombos e mocambos etc.

Qual foi uma forma de dominação dos europeus sobre os indígenas?

A colonização portuguesa teve como principais características a submissão e o extermínio de milhões de indígenas. O processo de colonização portuguesa no Brasil teve um caráter semelhante a outras colonizações europeias, como a colonização espanhola, que conquistou e exterminou os povos indígenas.

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