As populações indígenas foram praticamente exterminadas com a chegada

O território que hoje é o estado do Rio Grande do Sul começou a ser povoado há 12000 anos por movimentações de povos indígenas (povos originários) que permanecem até os dias de hoje. Portanto a chegada dos europeus é mais uma onda migratória – a terceira, fortemente estimulada pelo movimento colonizador caracterizado pela rapina, esgotamento ambiental e aniquilação cultural. Essa chegada, do conquistador europeu, altera radicalmente o modo de vida das populações originárias. Relatos históricos mencionam os inúmeros conflitos entre as populações nativas e os colonizadores, ocorrendo o genocídio de grande parte da população de grupos como os Charrua, os Minuano, os Guarani e os Jê. Hoje seus descendentes encontram-se em aldeamentos indígenas localizados em diferentes lugares do Estado, em luta pela retomada de seus territórios e afirmação de sua identidade e presença na sociedade.

As frentes colonizadoras portuguesas e espanholas pressionaram as populações nativas de tal forma que seu modo de vida foi radicalmente alterado. Quando os primeiros viajantes europeus percorreram o litoral gaúcho e aventuraram-se pelo Rio da Prata encontraram populações Guarani e, graças a eles muitas vezes, obtiveram o que comer. Nessa época também contataram os Charrua e Minuano e mais tarde entraram em atrito com Kaingang no planalto.

A bibliografia etno-histórica disponível permite afirmar que aproximadamente 200.000 pessoas falavam a língua Guarani na região no tempo da conquista européia. Esses ameríndios estavam distribuídos por todas as áreas de mata subtropical, que se estende ao longo do rio Uruguai e seus afluentes, ao longo do Rio Jacuí e seus tributários, ao longo da costa marítima e suas lagoas.

Os Guarani, a partir do século XVII, foram incorporados às reduções jesuíticas, e sua habilidade artesanal foi direcionada à confecção de arte barroca. Reconhecidos pela sua grande capacidade de manejo agrícola e grandes concentrações populacionais eram alvo de constantes investidas dos bandeirantes paulistas, que os levou ao extermínio. Os Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai deram origem aos atuais municípios gaúchos daquela região e suas ruínas são importantes provas da nossa riqueza histórica como as ruínas de São Miguel, consideradas Patrimônios da Humanidade pela Unesco. Os sobreviventes dos Sete Povos das Missões foram enviados para Aldeia dos Anjos (atual município de Gravataí) onde com o tempo dissiparam-se em meio à população local. Os remanescentes guarani da atualidade migraram de outras regiões e conforme políticas há muito estabelecidas foram enviados para reservas indígenas.
Os caçadores e coletores Charrua e Minuano dos séculos XVI e XVII, possíveis descendentes dos construtores de cerritos, foram mais hostis e mantiveram suas tradições e costumes frente a cultura do conquistador. Porém, seu modo de vida alterou-se devido ao inevitável contato com o europeu, bem como a incorporação de elementos da economia colonial, como o cavalo utilizado para locomoção e alimento, a caça ao gado introduzido nos campos pampeanos pelo colonizador e a participação da vida política e militar colonial, apoiando ora portugueses, ora espanhóis nas guerras de fronteira. Muitos ainda abandonaram seu modo de vida tradicional tornando-se peões, prestando serviços nas fazendas do colonizador. Finalmente, quando pressionados pela ocupação definitiva do seu território, os Charrua e Minuano se aliaram em 1730 para resistir à frente expansionista do branco. Por persistirem na manutenção de seu modo de vida em circunstâncias completamente modificadas, foram praticamente exterminados pelo exército uruguaio em 1832, sobrevivendo pouquíssimos indígenas.

No planalto sul-rio-grandense, na época da conquista, habitavam populações Kaingang e Xokleng da família linguística Macro-Jê, possíveis descendentes dos construtores de casas subterrâneas. Em um primeiro momento, esses grupos não sofreram tanto com a chegada dos europeus, pois a região do planalto não interessava à economia colonial. Porém, no século passado, já no Brasil República, políticas de incentivo à migração trouxeram ao Estado inúmeros imigrantes europeus que se instalaram na encosta e no planalto gaúcho. Assim iniciaram-se os conflitos destes com os tradicionais habitantes da região. Como consequência, foram criadas reservas indígenas para abrigar os nativos. A maior parte de seus descendentes seguem hoje confinados em territórios que lhes foram destinados no norte do Estado.

Questão 1

(ENEM – 2016)

TEXTO I

Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro.

SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).

TEXTO II

Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas.

SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da:

a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.

b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.

c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.

d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.

e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

Questão 2

(ENEM – 2015)

A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.

GÂNDAVO, P. M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).

A observação do cronista português Pero de Magalhães Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada demonstra a:

a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.

b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização.

c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena.

d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses.

e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da língua nativa.

Questão 3

Eram características dos indígenas nativos do Brasil na chegada dos portugueses, em 1500:

a) a obtenção de recursos baseada na coleta, caça e agricultura.

b) a existência de apenas um idioma comum a todas as tribos.

c) a existência de grandes cidades, como a dos astecas.

d) a ausência de artesanato.

Questão 4

Eram povos nativos do Brasil:

a) Maias e Astecas

b) Tupinambás e Guaranis

c) Tupiniquins e Apaches

d) Toltecas e Incas

Respostas

Resposta Questão 1

Letra C

Os relatos dos portugueses, principalmente do século XVI, eram carregados de preconceito em virtude da visão de cultura etnocêntrica, isto é, uma forma de pensamento de quem acredita na superioridade do seu grupo étnico.

Resposta Questão 2

Letra D

Pero de Magalhães Gândavo evidencia a incapacidade do português do século XVI de compreender as diferenças culturais dos povos nativos, o que ocasionou uma série de relatos em que o modo de vida do nativo foi considerado como “inferior”.

Resposta Questão 3

Letra A

Os povos indígenas do Brasil coletavam os recursos para sua subsistência, ou seja, para consumo próprio. Como a variedade de povos e culturas indígenas era muito grande, cada povo obtinha seus recursos de maneiras diferentes.

Resposta Questão 4

Letra B

Os povos Tupinambás e Guaranis habitavam o Brasil quando os portugueses chegaram e ambos tiveram bastante contato com os colonizadores. Os Tupinambás habitavam a região litorânea do Nordeste brasileiro até o Sudeste, e os Guaranis habitavam onde hoje está a região sul do Brasil, além de ocuparem territórios onde hoje estão o Paraguai e Argentina.


Quais são as principais causas do extermínio dos povos indígenas?

No primeiro século de contato, 90% dos indígenas foram exterminados, principalmente por meio de doenças trazidas pelos colonizadores, como a gripe, o sarampo e a varíola. Nos séculos seguintes, milhares de vítimas morreram ou foram escravizadas nas plantações de cana-de-açúcar e na extração de minérios e borracha.

O que aconteceu com a população indígena com a chegada dos europeus?

Com a chegada da primeira leva de europeus, logo no primeiro século, a população indígena foi reduzida a quatro milhões, com as doenças e o extermínio. Atualmente, no Brasil, são cerca de 450 mil indígenas distribuídos por todo o território brasileiro.

Por que a população indígena diminuiu com a chegada dos europeus?

A população indígena no país sofreu um enorme decréscimo, entre o século XVI e o século XX, passando de milhões para a casa dos milhares. Extermínios, epidemias e também escravidão foram os principais motivos dessa redução.

Por que os povos indígenas foram dizimados?

Doenças como varíola, sarampo, febre amarela ou mesmo a gripe estão entre as razões para o declínio das populações indígenas no território nacional, passando de 3 milhões de índios em 1500, segundo estimativa da Funai (Fundação Nacional do Índio), para cerca de 750 mil hoje, de acordo com dados do governo.