A mao que te apunhala eva mesma que te apedreja

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Nesta quarta-feira (12) completam-se cem anos do falecimento do poeta Augusto dos Anjos. Marcado pelos poemas críticos, Augusto é considerado o escritor que expressou de modo cru o cotidiano de seu tempo, o que não deixa de forma datada tal olhar, transcendendo décadas e influenciando poetas subsequentes.

“Eu“, única obra publicada do poeta, despedaça o padrão literário do período – marcado pelo Parnasianismo e Simbolismo -, construindo uma linguagem que foi além de sua época, por isso o livro não foi muito bem recebido pela crítica quando foi lançado. Com “Versos Íntimos”, Augusto mostra o ceticismo em relação ao amor, sendo marcado em sua obra o pessimismo. O poema “Versos Íntimos” entrou no livro Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, organizado por Ítalo Moriconi.

Por sua influência na literatura brasileira, o Livre Opinião conversou com poetas e escritores da atualidade sobre a importância dos poemas de Augusto dos Anjos na carreira e na literatura contemporânea.

Marcelino Freire

“‘Recife. Ponte Buarque de Macedo. / Eu, indo em direção à casa do Agra, / Assombrado com a minha sombra magra, / Pensava no Destino, e tinha medo!’. Todas as vezes em que eu e Lourenço Mutarelli passávamos em frente à estátua de Augusto dos Anjos, que há exatamente à boca da Ponte Buarque de Macedo, era lei a gente recitar todo o soneto do Augusto dos Anjos. Dali, partíamos os dois para as bebedeiras da noite, abençoados, finalmente, pelos versos dos Anjos. Era a primeira vez em que Mutarelli estava indo ao Recife. Augusto dos Anjos virou nosso Anjo protetor. E selou, para sempre, a nossa amizade. Literária e boêmia. Augusto me levou às sombras. Nossos Ossos tem muito do ‘osso’ do Augusto. Ninguém passa pelos versos de Augusto sem ser despertado por eles”. Marcelino é autor do romance Nossos Ossos.

Le Tícia Conde

“Para mim, ler, seja qualquer autor, é sempre muito bom em termos de poemas. Ele [Augusto dos Anjos] em específico me foi um alívio porque eu escrevia uns poemas mais obscuros, também isso envolvendo o eu, a visão única do poeta – que sempre me agradou muito. Mesmo nas palavras que ele mais comumente usou eu adorava, e usei muito!”. Le Tícia é autora do livro toda Vulva diz Cus são

Lucimar Mutarelli

“A primeira vez que li Augusto dos Anjos foi na história em quadrinhos Eu te amo Lucimar, de Lourenço Mutarelli. Lembro de ficar estarrecida com as imagens que a leitura dos poemas gerava e a contundência dos textos e o fato de não escrever sobre temas comuns à poesia. Eu dei aulas de Educação Artística durante 20 anos e lembro como os alunos ficavam fascinados quando descobriam os textos do Augusto dos Anjos, parecia que ele escrevia para eles. As minhas aulas de História da Arte, no Colégio Etapa eram integradas com a disciplina de Literatura e, eu e a professora Thaís Gasparetti usávamos os poemas do escritor como mais uma forma de chamar a atenção dos alunos”. Lucimar é autora do livro Entre o Trem e a Plataforma.

Wladimir Cazé

“Conheci sonetos de Augusto dos Anjos na adolescência, durante o ensino médio, no momento em que eu desenvolvia o gosto pela poesia, e me interessei pela temática dele. Gostava de observar o uso de vocabulário técnico-científico em poemas, coisa que me causava espanto. Anos depois comprei Eu e outras poesias e li sua obra com mais atenção. Não se trata de uma influência direta, mas acredito que podem existir traços dessas leituras na série de poemas Microafetos, que dá título a meu primeiro livro, de 2005. Embora o tom e a linguagem deles seja muito diferente da angustiada poética augustiana, existe ali um uso de palavras extraídas dos domínios técnico-científicos que alguns leitores associam ao que se vê na poesia de Augusto dos Anjos. Um exemplo de Microafetos: ‘À sombra de palmeiras simbiônicas, / uma réplica de formiga nanométrica / se conecta ao mosquito cromossômico: / elo randômico em século inorgânico’.” Wladimir é autor do livro Microafetos.

A mao que te apunhala eva mesma que te apedreja
Bruno Brum

“Um dos aspectos da poesia de Augusto dos Anjos que sempre me fascinou é a estranheza. O poeta usa palavras e formas de construção exteriores ao discurso poético convencional, se apropriando do vocabulário de outras áreas, como a biologia. Augusto soube transformar a sensação de deslocamento que sempre o acompanhou em linguagem poética da mais alta voltagem. Em diversos momentos, na minha poesia, me aproprio também de cosntruções verbais próprias da ciência, do discurso jurídico ou midiático. Augusto dos Anjos me ensinou a transformar estranheza e deslocamento em linguagem”. Bruno é autor do livro Mastodontes na Sala de Espera.

Vanessa Trajano

“Eu tinha 14 anos e havia começado a rabiscar alguns versos. Construção ininterrupta desde então, principalmente porque um amigo meu me deu EU e outras poesias de Augusto dos Anjos. Foi a ultima vez que tive duvida que poesia era ou não coisa de doido. E fui me aprofundando de tal forma no “escarra nessa boca que te beija” que entendi que coisa linda é o amargo e o doce da vida”. Vanessa é autora dos livros Mulheres Incomuns e Poemas Proibidos.

O que quer dizer a mão que afaga é a mesma que apedreja?

A mão que afaga é a mesma que apedreja. O poeta utiliza uma linguagem coloquial, convida o "amigo" (para quem escreveu o poema) a se preparar para traições, para a falta de consideração do próximo. Mesmo quando temos demonstrações de amizade e de carinho como um beijo, isso é apenas o prenúncio de algo mau.

O que fala o poema EU de Augusto dos Anjos?

A obra se destaca pela visão da vida, numa espécie de réplica à idealização dos temas praticados pelo Parnasianismo. Nessa obra, o autor exprime melancolia, ao mesmo tempo em que desafia os parnasianos, utilizando palavras não-poéticas como verme, cuspe, vômito, entre outras.

Qual é o poema mais famoso de Augusto dos Anjos?

“Versos íntimos” talvez seja o mais conhecido dos poemas de Augusto dos Anjos.

O que quer dizer o poema Versos íntimos?

Significado do poema Versos Íntimos O descrito enterro da última quimera simboliza o fim da esperança e do sonho. É passada a mensagem de que nenhuma pessoa se afeta com os sonhos perdidos de outro indivíduo, pois os seres são mal agradecidos, são como feras ariscas.