4 a vitamina c é um antioxidante por quê

A vitamina C ou ácido ascórbico é um nutriente hidrossolúvel que participa de diversos processos metabólicos. Podemos destacar a inativação de radicais livres e o aumento da absorção de ferro dietético, devido à sua capacidade de reduzir a forma férrica (Fe3+) a ferrosa (Fe2+), propiciando, assim, absorção do ferro não-heme no trato gastrintestinal. Também atua como co-fator enzimático na biossíntese de colágeno e de L-carnitina, conversão do neurotransmissor dopamina a norepinefrina, na amidação peptídica e no metabolismo da tirosina (1).

Desta maneira, a vitamina C é um nutriente essencial para seres humanos. Ela age como um antioxidante, potente agente redutor de radicais livres prejudiciais, e também nutre as células, protegendo-as de danos causados pelos oxidantes. O ácido ascórbico é o antioxidante mais eficaz presente no sangue humano e pode ser importante na proteção de doenças relacionadas ao estresse e degeneração (2).

O reconhecimento de que o consumo de vitamina C pode ter potenciais terapêuticos benéficos sobre câncer e doenças cardiovasculares renovaram o interesse em se determinar os requerimentos diários desta vitamina (3).

As doses dietéticas de vitamina C recomendadas pela RDA (Recommended dietary allowance), em 1989, foram elevadas com a criação das DRIs (Dietary Reference Intakes), em 2000. A recomendação norte-americana diária para o consumo de vitamina C foi elevada para 75 mg para mulheres e 90 mg para homens (4).

A vitamina C é absorvida no jejuno e no íleo, porções distais do intestino delgado, através de transporte ativo específico sódio-dependente. A capacidade de absorção do ácido ascórbico é limitada pela quantidade de transportadores presentes. Em adultos saudáveis, a absorção máxima é de 200 mg/dia e a biodisponibilidade diminui com o aumento de doses orais (3,5).

A quantidade e biodisponibilidade de vitamina C possuem grande variedade nas frutas e vegetais. Uma ingestão regular de uma variedade de frutas e vegetais providenciaria uma quantidade adequada de vitamina C. Na impossibilidade de uma dieta balanceada nesta vitamina, a suplementação se mostra igualmente eficaz na manutenção das propriedades antioxidantes associadas a esta vitamina, como demonstrado em estudo comparativo entre ingestão de suco de laranja e suplemento de vitamina C. A ingestão de 70 mg de vitamina C em voluntárias saudáveis durante 12 semanas, na forma de cápsulas ou suco de laranja natural, demonstrou ser igualmente eficaz na diminuição da peroxidação lipídica e manutenção das atividades antioxidantes (6).

A vitamina C natural ou sintética possui mesma estrutura química e propriedade antioxidante. No entanto, nas frutas e verduras existem bioflavonóides, além de carboidratos e proteínas, que estão associados a uma melhor absorção e estabilidade do ácido ascórbico. Assim, provavelmente suplementos contendo bioflavonóides seriam melhor aproveitados pelo organismo. Vinson & Bose (1988) realizaram um estudo para determinar qual a forma de vitamina C mais biodisponível em suplementos: se o ácido ascórbico puro ou em extrato cítrico natural contendo bioflavanóides, proteínas e carboidratos. Em oito pessoas em jejum, uma dose única de 500 mg de suplemento, nas duas formas, mostrou que a vitamina C do extrato cítrico foi 35% mais absorvida (p < 0,001) e absorvida mais lentamente (p < 0,001) do que o ácido ascórbico puro, sendo essa forma a indicada pelos autores como a melhor para suplementação (7).

Vale ressaltar que altas doses de vitamina C por via oral podem causar desconforto intestinal e diarréia, resultantes da retenção de ácido ascórbico no lúmen intestinal. Além disso, após atingir concentração máxima nos tecidos, o organismo elimina o excesso de vitamina C pelos rins, sendo os principais metabólitos excretados na urina, como o ácido ascórbico inalterado, ácido desidroascórbico, ácido oxálico e ácido 2,3-dicetogulônico (2).

Em condições fisiológicas normais, os componentes celulares não são protegidos totalmente por antioxidantes endógenos, e é bem estabelecido que antioxidantes obtidos da dieta são indispensáveis para a defesa apropriada contra oxidação e, portanto, têm importante papel na manutenção da saúde (1). Os benefícios associados ao consumo de frutas e hortaliças devem-se, em parte, à presença de antioxidantes nestes alimentos (1).

Os radicais livres, espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio (ROS/RNS), são formados endogenamente como resultantes de reações metabólicas oxidativas fisiológicas do organismo. O estresse oxidativo prejudicial pode resultar num balanço crítico entre a geração de radicais livres e defesas antioxidantes insuficientes. Este desequilíbrio pode desempenhar papel importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, na iniciação do câncer, formação de catarata, doenças inflamatórias e no processo de envelhecimento (8).

No sistema imune, a vitamina C atua como antioxidante, protegendo as células do organismo contra o estresse oxidativo, causado por infecções. Sua concentração em fagócitos e linfócitos é alta quando comparada a níveis plasmáticos, o que pode indicar um papel no funcionamento destas células. Em estudos experimentais, a vitamina C aumentou o funcionamento dos fagócitos, a proliferação de linfócitos-T e a produção de interferon, e diminuiu a replicação viral. De acordo com estudos em animais, a vitamina C aumentou a resistência do organismo a infecções virais e bacterianas (9).

Apesar de todos estes efeitos benéficos ao organismo, o uso amplo e popular de suplementos de vitamina C para prevenção e tratamento de resfriado comum gera controvérsias há mais de 60 anos.

Recente revisão Cochrane (2007) avaliou 30 estudos clínicos com total de 11.350 participantes, sobre a suplementação de 200 mg/dia de vitamina C para prevenção e tratamento do resfriado comum. A suplementação não apresentou nenhum efeito para prevenção e tratamento (duração e gravidade dos sintomas) de resfriado na população normal. Os autores concluem que o uso de altas doses de vitamina C de rotina, como profilaxia, não tem uso racional justificado na comunidade. No entanto, em dois tipos de populações, o uso de suplementos de vitamina C pode ser justificado. Os autores encontraram diminuição de 50% na incidência de resfriado comum após suplementação de vitamina C em pessoas expostas a períodos de atividades físicas extremas, por exemplo, maratona, e em ambientes muito frios ou ambos (10).

A vitamina C é importante para diversas atividades metabólicas do organismo, e destaca-se principalmente pelo combate aos radicais livres e estresse oxidativo através de seu potencial antioxidante. Sendo o estresse oxidativo relacionado a diversas doenças degenerativas (aterosclerose, diabetes), inflamatórias (artrite reumatóide, colite ulcerativa e pancreatite), neurológicas e cancerígenas, é de fundamental importância prevenir seu aparecimento através da maneira mais saudável possível: ingerir sempre alimentos ricos em vitamina C, alimentos fortificados ou suplementos alimentares que contenham essa vitamina.

Letícia De Nardi Campos

Nutricionista do Grupo de Nutrição Humana (GANEP) Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Gastroenterologia da FMUSP. Pesquisadora do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia (METANUTRI – LIM 35 – FMUSP). Especialista em Nutrição Clínica pelo GANEP.

4 a vitamina c é um antioxidante por quê

Referências:

1. Cerqueira FM, Medeiros MHG, Augusto O. Antioxidantes dietéticos: controvérsias e perspectivas. Quím Nova. 2007;30(2):441-9.

2. Aranha FQ, Barros ZF, Moura LSA, Gonçalves MCR, Barros JC, Metri JC et al. The role of vitamin C in organic changes in aged people. Rev Nutr. 2000;13(2): 89-97.

3. Li Y and Schellhorn HE. New developments and novel therapeutic perspectives for vitamin C. J Nutr. 2007;137:2171-84.

4. Food and Nutrition Board, Institute of Medicine, National Academy of Sciences, Panel on Dietary Antioxidants and Related Compounds, Subcommittees on Upper Reference Levels of Nutrients and Interpretation and Uses of Dietary Reference Intakes, and the Standing Committee on the Scientific Evaluation of Dietary Reference Intakes. Dietary Reference Intakes for Vitamin C, Vitamin E, Selenium, and Carotenoids, National Academy Press: Washington, 2000.

5. McGregor GP and Biesalskib HK. Rationale and impact of vitamin C in clinical nutrition. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2006;9:697-703.

6. Johnston CS, Dancho CL, Strong GM. Orange juice ingestion and supplemental vitamin C are equally effective at reducing plasma lipid peroxidation in healthy adult women. J Am Coll Nutr. 2003;22(6):519-23.

7. Vinson JA, Bose P. Comparative biovailability to humans of ascorbic acid alone or in a citrus extract. Am J Clin Nutr. 1988;48(3):601-4.

8. Lampe JW. Health effects of vegetables and fruit: assessing mechanisms of

action in human experimental studies. Am J Clin Nutr. 1999;70:475S-90S.

9. Hemila H Louhiala P. Vitamin C may affect lung infections. J R Soc Med. 2007;100:495-8.

10. Douglas RM, Hemilä H, Chalker E, Treacy B. Vitamin C for preventing and treating the common cold. Cochrane Database of Systematic Reviews 2007, Issue 3. Art. No.: CD000980. DOI: 10.1002/14651858.CD000980.pub3.

Porque a vitamina C é um antioxidante?

O ácido ascórbico em solução aquosa possui uma facilidade excepcional para ser oxidado, portanto essa característica faz com que ele seja um ótimo antioxidante. Isso significa que ele protege outras espécies químicas de se oxidarem, em razão do seu próprio sacrifício.

Qual é a principal função da vitamina C?

A vitamina C, também chamada de ácido ascórbico, está presente em diversas funções regulatórias do corpo, como a produção de colágeno, a absorção de ferro e o funcionamento do sistema imunológico. Também atua na formação óssea, tendões, músculos, pele e vasos sanguíneos.

O que é o efeito antioxidante?

Os antioxidantes são substâncias que promovem a inibição ou redução da oxidação de uma substância oxidável. No organismo, essa função consiste em proteger as células sadias da ação de oxidação desempenhada pelos radicais livres.

Como a vitamina é age como antioxidante?

A ação antioxidante da vitamina E envolve a inibição da lipoperoxidação das membranas celulares, impedindo assim a deterioração de ácidos graxos indispensáveis para o organismo.