Qual foi a contribuição dos indígenas para a formação do povo brasileiro?

Primeiras populações que habitaram o território do Brasil, os povos indígenas nos influenciam até hoje. Muitas comidas, palavras e hábitos indígenas fazem parte do nosso dia a dia!

Letícia Yazbek Publicado em 23/06/2020, às 12h00 - Atualizado em 16/04/2022, às 11h00

A culinária brasileira herdou vários hábitos e costumes da cultura indígena, como a utilização da mandioca e derivados (farinha de mandioca e polvilho, por exemplo).  O costume de se alimentar com peixes, frutos do mar e carne de caça também é uma herança indígena. As frutas, como cupuaçu, graviola, açaí, caju e buriti, eram muito consumidas por esses povos. Outros alimentos de origem indígena são o milho, palmito, batata e inhame.

Plantas medicinais

As práticas indígenas de cura, derivadas de ervas medicinais, são muito populares no Brasil. Muitas vezes, costumamos confiar nos conhecimentos indígenas e utilizar produtos como o pó de guaraná (contra problemas no estômago, intestinos e enxaquecas), óleo de copaíba (para tratar bronquite e outros problemas respiratórios) e semente de sucupira (contra inflamações).

De A a Z          

Muitas palavras de origem indígena, principalmente derivadas do tupi-guarani, fazem parte do nosso vocabulário cotidiano. Várias delas são ligadas a alimentos, plantas e animais, como abacaxi, mandioca, tatu, gambá, pipoca, cupuaçu, cacau, tamanduá, sabiá e samambaia. Diversas palavras em tupi se tornaram nomes de lugares, como o parque do Ibirapuera, em São Paulo, que significa lugar que já foi mato, e o município de Jericoacoara, no Ceará, que quer dizer refúgio das tartarugas. Pernambuco, Paraná, Piauí, Ipanema, Ubatuba e Bauru também são palavras indígenas. Muitos nomes próprios também têm origem indígena, como Tainá e Cauã.

Dia a dia

Objetos desenvolvidos por povos indígenas são muito comuns no dia a dia da população de várias cidades brasileiras. As redes, canoas, jangadas, armadilhas de caça e pesca e instrumentos musicais são alguns deles. O artesanato e o uso de utensílios feitos de barro e palha, como vassouras e vasilhas, também são muito utilizados. Bolsas trançadas com fios e fibras, enfeites e ornamentos com penas, sementes e escamas de peixe são usados em diversas regiões do país.

Bem limpinhos!

Quando você chega em casa, a primeira coisa que faz é tirar os sapatos? Então, saiba que isso também é uma herança da cultura indígena. O hábito de andar descalço é muito forte entre os povos indígenas. Outro costume é o de tomar banho todos os dias – os europeus tomavam banhos raros, enquanto os índios se banhavam nos rios diariamente.  Descansar em redes, usar poucas roupas e ficar de pernas cruzadas também são hábitos que fazem parte do nosso cotidiano.

Sabedoria indígena

Os povos indígenas têm grande conhecimento sobre a natureza. Observando as plantas e o solo, eles descobriram informações valiosas e aprenderam a utilizá-las no dia a dia. Os índios desenvolveram um processo de escolha de áreas para o plantio e criaram um método de plantio e colheita ainda muito utilizado por pequenos agricultores. Eles também usavam as posições dos astros no céu para orientar os calendários agrícolas, sabendo qual o momento certo de plantar cada alimento. Todos esses conhecimentos são muito úteis para os pesquisadores hoje em dia.

Parte da nossa cultura

O folclore indígena é um conjunto de lendas e mitos que continua presente na cultura brasileira. As histórias do folclore são passadas de geração para geração e costumam carregar mensagens importantes. Os mitos indígenas mais conhecidos contam a história de seres fantásticos, como curupira, saci-pererê, boitatá e Iara. As músicas e danças folclóricas e as festas populares indígenas fazem parte da cultura brasileira, influenciando as manifestações artísticas de diversas regiões do país.

Publicado em 18 de abril de 2013

Professora Sandra Libanio com um índio Pataxó, na Bahia


Sandra Saraiva Guimarães Libanio, Administradora. Professora de cursos de graduação e pós-graduação da Univiçosa/Esuv

A herança dos povos indígenas foi decisiva para que o Brasil se tornasse o país multicultural dos dias de hoje. A contribuição dos povos indígenas à formação da nação brasileira vai além de um conjunto de palavras, objetos, espécies domesticadas e técnicas de manejo do ambiente. A constituição do Brasil como um país multicultural se deve, sobretudo, à presença de centenas de grupos indígenas que habitam seu território e, ainda hoje, são parte constitutiva e atuante da sociedade brasileira. A diversidade cultural e linguística influenciou os modos de ser da população mestiça que, a partir da mistura de diferentes matrizes, caracterizaria a população brasileira atual. Vale lembrar que o índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência.

Os povos indígenas fazem parte do grupo populacional mais pobre do planeta. A informação foi divulgada, em 2010, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e se baseia em relatório que revela um dado preocupante: cerca de 15 % dos 370 milhões de índios representam um terço das pessoas mais pobres do mundo – algo em torno de 900 milhões de indivíduos que vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de U$S4 por dia.

O documento destaca fatores como analfabetismo, desemprego e discriminação. “A comunidade indígena está associada a ser pobre”, aponta o texto. Quando se trata de mercado de trabalho, os índios, mesmo capacitados, recebem a metade do valor pago aos não-índios. O estudo também informa que a discriminação e a falta de perspectiva de vida podem ocasionar o alcoolismo, o diabetes e até mesmo o suicídio. “Em algumas comunidades, o diabetes alcançou níveis de epidemia e é um risco à existência dos índios”. O aumento da Aids, em razão da prostituição, também preocupa.

As diferenças linguísticas, distâncias geográficas e precárias condições de habitação são fatores decisivos para a atual situação de pobreza dos povos indígenas. De acordo com a pesquisa, o baixo acesso a mecanismos que garantam condições de sobrevivência a essas comunidades como terra, saúde, educação e participação nas decisões políticas e econômicas em seus países têm explicações históricas. O documento conclui que a colonização e a expropriação fundiária são responsáveis por esses indicadores.

A preservação destas culturas é a única fonte de continuidade que se pode ter, pois muito de suas bases já foram perdidas ao longo do tempo. Permitir com que essa diversidade cultural permaneça trará benefícios a todos nós.

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