A nutrição enteral (NE) refere-se a todo e qualquer alimento com finalidades especiais, como ingestão controlada de nutrientes, isoladamente ou em associação, de composição definida ou estimada, exclusivamente elaborada e formulada para ser administrada por meio de sondas ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente, visando substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, de acordo com as suas necessidades nutricionais, em ambiente hospitalar, domiciliar ou ambulatorial, objetivando a produção ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas do organismo.
Todos os indivíduos que estão com o trato gastrointestinal íntegro ou que se encontram com suas funções parcialmente preservadas, com redução do apetite ao ponto de não consumirem os nutrientes mínimo necessários para o funcionamento adequado do organismo, ou então, aqueles que estão impossibilitados de se alimentarem através da via oral, devem receber NE.
A NE é feita por meio de uma sonda que chega diretamente ao estômago ou intestino delgado e pode ter diferentes vias de acesso, como:
- Nasogástrica;
- Nasoentérica;
- Faringostomia;
- Gastrostomia;
- Jejunostomia.
A forma de escolha da via de acesso fica na dependência de fatores como a duração prevista da NE, o nível de chances de aspiração ou deslocamento da sonda, a presença ou ausência de ingestão e absorção anormais, se há previsão ou não para uma intervenção cirúrgica e também viscosidade e volume da fórmula.
As atribuições dos enfermeiros na equipe multiprofissional de terapia nutricional (EMTN) para nutrição parenteral são:
1. orientar o paciente, a família ou o responsável legal quanto à utilização e controle da terapia nutricional, de acordo com suas atribuições profissionais;
2. preparar os pacientes, o material e o local para a inserção do cateter intravenoso;
3. prescrever os cuidados de enfermagem na terapia nutricional;
4. proceder ou assegurar a punção venosa periférica, incluindo a inserção periférica central;
5. assegurar a manutenção das vias de administração;
6. receber a nutrição parenteral da farmácia e assegurar a sua conservação até a sua completa administração;
7. proceder à inspeção visual da nutrição parenteral antes de sua administração;
8. avaliar e assegurar a instalação de nutrição parenteral observando as informações contidas no rótulo, confrontando-as com a prescrição médica;
9. avaliar e assegurar a administração da nutrição parenteral, observando os princípios de assepsia;
10. assegurar a infusão do volume prescrito, através do controle rigoroso do gotejamento, de preferência com uso de bomba de infusão;
11. detectar, registrar e comunicar à EMTN e/ou médico responsável pelo paciente as intercorrências de qualquer ordem técnica e/ou administrativa;
12. garantir o registro claro e preciso de informações relacionadas à administração e à evolução do paciente quanto a: peso, sinais vitais, balanço hídrico, glicosúria, glicemia, entre outros;
13. efetuar e/ou supervisionar a troca do curativo do cateter venoso, com base em procedimentos preestabelecidos;
14. participar e promover atividades de treinamento operacional e de educação continuada, garantindo a atualização de seus colaboradores;
15. elaborar, padronizar procedimentos de enfermagem relacionados a terapia nutricional;
16. zelar pelo perfeito funcionamento das bombas de infusão;
17. assegurar que qualquer outra droga e/ou nutriente prescritos não sejam infundidos na mesma via de administração da nutrição parenteral sem a autorização formal da EMTN.
Referências
Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Portaria nº 272, de 8 de abril de 1998. In: Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3 ed., São Paulo: Atheneu, 2000. p. 1667-1714.
Estima-se que 60% dos pacientes hospitalares desenvolvem algum nível de desnutrição. A condição abre caminho para infecções e retarda a evolução metabólica do paciente, interferindo em sua recuperação. Por isso, as terapias nutricionais (TN) têm tanta relevância na assistência de saúde. Para a enfermagem, a prática deve assegurar condições adequadas de preparação e administração, além do controle clínico e laboratorial e avaliação final do paciente.
A atuação em terapia nutricional para enfermeiros acontece no âmbito das equipes multidisciplinares, que atuam sobretudo em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A partir da resolução 0453/2014, o Conselho Federal de Enfermagem (Coffen) regulamenta a atuação dos profissionais nas atividades de terapia nutricional. Além disso, a autarquia estabelece uma série de normas técnicas à atividade, que tem como objetivo as boas práticas de enfermagem em favor da saúde e do bem-estar do paciente.
Por dentro das terapias nutricionais
Pacientes hospitalares estão sujeitos a diferentes necessidades nutricionais, que dependem de fatores como quadro clínico, doença de base e histórico do paciente.
As técnicas de nutrição disponíveis são:
- Nutrição Parenteral (NP): solução ou emulsão composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não. A infusão pode ocorrer em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas.
- Nutrição Enteral (NE): alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral. A solução pode ser industrializada ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais.
- Nutrição Oral Especializada (NOE): utilização de dietas alimentares acrescidas de suplementos e/ou em utilização de suplementos de dietas enterais por via oral associada a alimentação diária.
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Boas práticas: como aplicar
A equipe de enfermagem envolvida na administração da TN é formada por enfermeiros e técnicos de enfermagem. Devido à sua complexidade, é vedada aos auxiliares de enfermagem a atuação nessas práticas.
Os profissionais devem ser selecionados com base na experiência e conhecimentos acumulados sobre terapias nutricionais. Ou, preferencialmente, aqueles com especialização na área. A qualificação é feita por meio de estudos de atualização – que valem como escore para provas de título – e através de cursos de pós-graduação.
Segundo a norma técnica do Cofen, as funções primordiais da enfermagem que levam às boas práticas em TN são:
- Orientar paciente e familiares quanto à terapia nutricional, seus riscos e benefícios, tanto em nível hospitalar como ambulatorial e residencial;
- Proceder a correta armazenagem do frasco de nutrição visando a sua conservação e integridade;
- Estabelecer os cuidados específicos com a via de administração;
- Cuidados com a administração da nutrição, conferindo: prontuário, rótulo do frasco, nome do paciente, via de administração, volume e horário;
- Monitorar o paciente durante o procedimento;
- Comunicar à equipe multiprofissional as intercorrências relacionadas à terapia nutricional;
- Proceder as anotações em prontuário do paciente.
O Ministério da Saúde também mantém a resolução RCD 63 de 06/07/2000 e a Portaria 272 de 08/04/1998, que versam sobre boas práticas em terapia nutricional que incluem a atuação especializada de enfermagem.
O documento destaca a administração da TN e as medidas de segurança que envolvem o procedimento. Entre elas, elaborar e padronizar procedimentos de enfermagem relacionados à terapia nutricional. Isso inclui zelar pelo funcionamento das bombas de infusão, promover treinamentos específicos e preparar adequadamente o paciente.
Na prática, o enfermeiro frequentemente estabelece o primeiro contato com o paciente. É nesse momento que o profissional pode detectar precocemente indivíduos com perfil para TN especializada por meio de uma avaliação objetiva simples. Condições clínicas, hábitos, aspecto do paciente, histórico de variações de peso, entre outros elementos auxiliam no processo.
Além disso, cabe à equipe de enfermagem acompanhar a aceitação alimentar, bem como sintomas associados à intolerância do trato digestório, perda de peso e risco de broncoaspiração.
A aplicação dessas diretrizes só é possível a partir da colaboração da equipe e da prática baseada em evidências. Os conhecimentos científicos devem nortear a prática na TN, já que a área passa por constantes atualizações.