Os africanos que vieram escravizados para o Brasil, entre os séculos XVI e XIX, não trabalhavam somente nos engenhos de cana-de-açúcar. Como analisaremos no presente texto, existiam diferentes formas de trabalho escravo no Brasil.
Entre os séculos XVI e XVII, os engenhos de cana-de-açúcar se constituíram como principal atividade econômica no período colonial, contudo muitos escravos trabalhavam (principalmente no Rio de Janeiro, Pernambuco e em outras cidades litorâneas) como estivadores, barqueiros, vendedores, aprendizes, mestres em artesanato e serviços domésticos.
A partir dos séculos XVIII e XIX, com a ascensão da mineração em Minas Gerais e Goiás, milhares de escravos foram trabalhar nas minas e demais atividades (como a agropecuária) que movimentavam a economia nas regiões auríferas. Outras formas de trabalho escravo foram: a criação de gado no nordeste brasileiro; os trabalhos desempenhados no tropeirismo (conhecidos como tropeiros, exerciam atividades comerciais de uma região à outra); e o trabalho de zelar e tratar dos animais carregadores de mercadorias.
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Nas cidades, as formas de trabalho escravo variavam bastante. Existiam os escravos prestadores de serviço, isto é, os escravos de ganho, carpinteiros, barbeiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros, marceneiros, entre outros. As mulheres também exerciam o trabalho escravo: geralmente elas trabalhavam como amas de leite, doceiras e vendedoras ambulantes (ou seja, as chamadas “negras de tabuleiro”). Portanto, no Brasil existiu uma grande diversidade nas formas do trabalho escravo.
Leandro Carvalho
Mestre em História
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CARVALHO, Leandro. "Formas do trabalho escravo no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: //brasilescola.uol.com.br/historiab/formas-trabalho-escravo-no-brasil.htm. Acesso em 08 de novembro de 2022.
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No século XVII, os bandeirantes paulistas descobriram minas de ouro no interior do Brasil, primeiramente na região do atual estado de Minas Gerais, posteriormente nas proximidades da atual cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, e por último no Arraial de Sant’Anna, atual Cidade de Goiás, no estado de Goiás. Essa região de minas, como ficou conhecida, na época da descoberta do ouro pertencia à Capitania de São Vicente (São Paulo), entretanto a Capitania de São Vicente foi dividida e criaram-se as Capitanias de Minas Gerais e Goiás.
Durante a primeira década do século XVIII, um grande número de pessoas migrou para a região das minas. Entre essas pessoas se encontravam homens brancos europeus, colonos, africanos escravizados e indígenas e lá eles desenvolveram vários povoados, arraiais e vilas.
Na mineração, isto é, na extração do ouro nas minas, utilizava-se o trabalho dos negros escravizados trazidos da África. As minas correspondiam ao local no qual os escravos eram mais vigiados por seus senhores, que visavam evitar o contrabando de ouro.
Além da vigilância permanente, o trabalho escravo realizado na mineração apresentava péssimas condições. Muitos escravos não suportavam mais do que cinco anos nessa atividade; e rotineiramente aconteciam mortes prematuras relacionadas às condições de trabalho insalubre e aos acidentes de trabalho.
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Dessa forma, os cativos trabalhavam sob o risco de morrer através de soterramento ou afogamento causado pelo rompimento das barragens de contenção das minas – esse era o acidente de trabalho mais comum nas minas e que mais vitimava os escravos. Além disso, os cativos exerciam o trabalho sob péssimas condições de salubridade, ficavam dentro da água por muito tempo (expostos a baixas temperaturas), enquanto outros ficavam muito tempo dentro das minas, nas cavernas (onde estavam sujeitos à baixa umidade e à falta de oxigênio).
Além das péssimas condições de trabalho, os negros escravizados enfrentavam carências de alimentação e sucumbiam à proliferação de várias doenças, ocasionando um grande número de óbitos.
O trabalho escravo na região das minas não ficou somente restrito à extração do ouro, pois os escravos realizavam diferentes funções, como atividades ligadas ao transporte, comércio (ambulante) e à construção de pontes, ruas e edifícios. O trabalho nas minas foi considerado a forma de trabalho mais penosa e pesada desempenhada pelos africanos escravizados no Brasil.
Leandro Carvalho
Mestre em História
Há diferenças, sim, mas também semelhanças. Desde o início das civilizações grega e romana, a prática da escravidão era comum - em Roma, a partir do século 8 a.C. e, na Grécia, desde a civilização micênica (1500-1200 a.C.). Nos dois casos, um homem podia se tornar escravo por ter contraído dívida sem honrá-la. Era possível, ainda, passar a essa condição por ter sido vencido na guerra. Nesse caso, a vida do inimigo era poupada para que ele fosse conservado como escravo (daí a palavra latina servus). O comércio ocorria em grandes mercados, regulado por leis que previam o direito do cativo de comprar sua liberdade de volta por meio do acúmulo de um pecúlio. Isso era incomum para os escravos do campo, mas uma opção mais realista para os que viviam nas cidades e faziam biscates. Na Grécia, era rara a libertação de um escravo e o liberto não tinha direitos. Seus descendentes continuavam escravos, e as chances de alforria eram restritas. Já em Roma, era comum que escravos urbanos fossem alforriados, e seus filhos, considerados livres. Os libertos adquiriam a cidadania romana. Outra diferença: entre os romanos, os libertos passavam a ser tratados como parentes do seu antigo dono, herdando, inclusive, seu nome de família. Em duas gerações, não havia mais distinção entre os antigos donos e os descendentes de escravos. Nas duas sociedades, havia punições e maus-tratos: eles podiam ser mantidos acorrentados, marcados a ferro, sofrer mutilações e ser condenados à morte.
Consultoria Pedro Paulo Funari, doutor em Arqueologia e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pergunta enviada por Rosinei Borges de Mendonça, Jardinópolis, SP