A dependência química é um problema crônico e progressivo, caracterizado pelo consumo repetitivo de substâncias agressoras – capazes de causarem danos severos aos seus usuários. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se de um transtorno mental primário que pode provocar sérias doenças secundárias. Mas o contrário é também verdadeiro: outros transtornos mentais podem desencadear a dependência química.
Dependentes químicos sofrem os impactos negativos do uso de drogas tanto na mente como no corpo. O dependente geralmente apresenta sintomas como a compulsão pela substância, sinais de abstinência, abandono de outras atividades, falta de controle sobre a quantidade de droga, mudanças comportamentais repentinas e problemas familiares.
Por falar em família, os parentes também adoecem quando a dependência química afeta entes queridos. Não é fácil ver uma pessoa amada se prejudicando e colocando a vida em risco. Outra dificuldade é ter que lidar com mentiras, agressividade, confusões e eventuais roubos domésticos para a manutenção do vício. Os familiares dos dependentes vivem em constante vigília e sofrimento, e por isso, eles também precisam de acolhimento e cuidado.
Entendendo a codependência química familiar
A codependência química é a colaboração, ainda que involuntária e inconsciente, com o vício de outra pessoa. Em boa parte dos casos, os dependentes têm pelo menos um parente codependente na família. Essa pessoa não adota medidas para interromper o consumo das substâncias entorpecentes e, com isso, sofre consequências juntamente com o usuário de drogas.
O acompanhamento psiquiátrico pode ser útil no tratamento da codependência, ajudando tal parente a se livrar de atitudes nocivas, como a negação do vício, defesa incondicional do dependente e o pagamento de dívidas do usuário de drogas.
Importância da psiquiatria para a família do dependente químico
A dependência química mescla aspectos psicológicos, biológicos, comportamentais e sociais que, inevitavelmente, impactam o convívio familiar e desestrutura a rotina da casa.
É comum que a família do usuário de drogas passe por problemas, se sinta culpada, frustrada, sobrecarregada e impotente diante do vício. É por isso que, não apenas o dependente, mas, também os familiares, devem receber tratamento psiquiátrico.
Tratamento psiquiátrico para a família dos dependentes químicos
Quem tem familiares usuários de drogas também necessita de tratamento e apoio especializado para enfrentar esse desafio de modo que o sofrimento seja diminuído.
Para tanto, existe a terapia familiar, uma modalidade psicoterápica que envolve a família do dependente no intuito de ajudá-la a lidar com a situação, bem como, se fortalecer para auxiliar o usuário de drogas na luta contra o vício. Vale destacar que a terapia familiar contribui na reintegração dos dependentes na sociedade e, principalmente, na própria família.
Papel da família na recuperação do dependente
Um familiar saudável e mentalmente fortalecido pode ser uma importante ferramenta na recuperação do dependente químico. A família precisa se posicionar com maturidade, sabedoria e firmeza no enfrentamento do problema, estando plenamente ciente de que ela não é causadora do problema, não pode curá-lo e nem controlá-lo. Entretanto, pode olhar para o parente dependente com amor, compaixão e respeito.
Os membros da família devem adotar meios para manter a convivência familiar o mais saudável possível, evitando confrontos desnecessários ou julgamentos que provoquem o distanciamento entre os familiares e tendo sabedoria para apresentar os limites necessários.
Lembre-se que, afastar o parente do ambiente familiar é uma estratégia ineficaz, já que o isolamento e a carência podem fazer com que ele intensifique o uso de substâncias entorpecentes e se afunde ainda mais no submundo das drogas.
Mas primeiro, usando a metáfora da despressurização de um avião em queda, o familiar codependente tem que “colocar a máscara de oxigênio em si e depois auxiliar pessoas que necessitem da sua ajuda”.
Quer saber mais sobre dependência química? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!
Como a família deve lidar com um
dependente químico?
Ter um dependente químico na família pode ser um trabalho de Hércules. Além da dor de ver a pessoa se prejudicando continuamente, é preciso lidar com as mentiras, com o medo frequente de ela se enfiar em confusões, algumas vezes com o roubo de objetos pessoais. Não raro, a vida se torna um eterno estado de vigília e os parentes ficam o tempo todo esperando o novo problema que o usuário pode trazer.
Para muitos, o caminho mais fácil de acabar com o distúrbio na paz familiar é se afastar do usuário de drogas ou brigar com ele, para que interrompa o uso imediatamente. Porém, nesse momento, o que eles mais precisam é de compreensão e de apoio.
Veja dois curtos vídeos sobre como a família deve lidar com um dependente químico:
Ajudando o dependente químico
Em vez de confrontar o usuário, tornando a convivência familiar instável, a melhor maneira de abordar o uso de drogas é por meio do diálogo. Tentar entender o que levou a pessoa a usar substâncias entorpecentes e buscar ajuda para resolver esses problemas pode ajudar com que ela interrompa o uso.
Além disso, afastar o parente do ambiente familiar também pode ser um tiro que sai pela culatra. Um dos diversos motivos que podem levar alguém a usar drogas é a falta de capacidade de conexão, uma espécie de carência que faz com que ela se sinta afastada do mundo. Ao ser isolado, o indivíduo tende a fazer uso mais intenso da droga, se afundando ainda mais nesse submundo.
Posicionando-se perante o problema
Mesmo nos casos em que o usuário não reconhece o vício, a família precisa demonstrar que é contra o uso dos entorpecentes e se disponibilizar a apoiar uma busca por ajuda. Relembrar que ele tem uma doença que precisa ser tratada é um caminho, mas não deve ser feito de maneira agressiva.
Além disso, é preciso que a família esteja consciente de que ela não é a causa do vício. Para isso, existem os três Cs dos familiares dos dependentes químicos, que dizem:
- Eu não causei isto;
- Eu não posso curar isto;
- Eu não posso controlar isso.
Ter esses três ensinamentos em mente torna mais fácil manter uma posição firme de combate às drogas em casa, não assumir as responsabilidades e, principalmente, evitar a codependência.
O que é a codependência e como evitá-la?
A codependência é a colaboração com o vício de outra pessoa, que pode ser feita de maneira inconsciente. Em alguns casos, o viciado em drogas tem na família, pelo menos um parente codependente. Nesse caso, ele não toma iniciativas para interromper o uso das substâncias e acaba sofrendo com as consequências dele junto com o usuário.
Muitas vezes, os familiares pagam as dívidas dos dependentes, aluguel, fiança para retirá-los da prisão e até continuam dando dinheiro para pessoa, o que incentiva, mesmo que indiretamente, a própria dependência química. Isso pode solucionar os problemas rapidamente, mas não tiram o usuário do vício, que é a única coisa que podem evitar novos transtornos.
Buscando ajuda
Quem tem um familiar que usa drogas também precisa de apoio e de tratamento para conseguir passar por esse desafio reduzindo o sofrimento. Para isso, os grupos dos familiares de usuários são um bom caminho para encontrar forças e para pensar em estratégias para lidar com a situação.
Com ajuda, pode ser que o dependente químico aceite passar por tratamento para se livrar das drogas. Esse também é um processo que exige bastante compreensão e paciência da família. O Auxilio de um psicólogo ou um psiquiatra pode auxiliar nesse processo.