Qual foi o papel da produção de café no desenvolvimento industrial do Brasil?

Você acorda, lava o rosto, escova os dentes, vai até a cozinha, pega um filtro, abre o pacote de café e prepara a sua bebida. Se você prefere um expresso, o preparo muda, mas o calor, o sabor amargo e potente, o aroma marcante que te traz boas memórias afetivas também estão ali. Grande parte dos brasileiros só começa o dia depois deste ritual e para isso, a indústria se faz presente em diversas etapas: no cultivo, na torrefação e moagem do grão, no comércio atacadista da venda do produto, na fabricação de itens produzidos a base do café ou mesmo nos acessórios para a preparação.

Minas, a terra do café

A safra do café no Brasil alcançou 34,6 milhões de sacas em 2020, um crescimento de 41% na comparação com 2019. E Minas Gerais é, de longe, o maior estado produtor, sendo responsável por 54,9% de toda a produção nacional, segundo levantamento do Conselho Nacional de Abastecimento (Conab). E quando se faz o recorte por região do estado de Minas Gerais, o Sul e o Centro-Oeste são as regiões que apresentam a produção mais robusta: juntos representam 55,3% do total da produção mineira. Zona da Mata, Rio Doce e Central, Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste, Norte, Jequitinhonha e Mucuri também produzem o grão, ou seja, Minas é, definitivamente, a terra do café.

E essa grande produção agrícola tem importante reflexo no setor industrial. De acordo com dados da Gerência de Economia e Finanças Empresariais da FIEMG, são 10.629 empresas no setor cafeeiro, responsáveis por 62.251 empregos. “O setor cafeeiro possui uma cadeia curta entre fornecedores e compradores, tendo em vista que a maior parte da produção é exportada. Contudo, ele tem um papel relevante na geração de empregos em Minas Gerais e no Brasil”, explica o economista da FIEMG, Marcos Marçal.

Dia Mundial do Café

Em 14 de abril a indústria cafeeira mundial celebra a segunda bebida mais consumida do mundo, perdendo apenas para a água. O café foi para o Brasil e ainda é para várias de suas regiões produtoras a força propulsora do desenvolvimento socioeconômico, produzindo e distribuindo riquezas, além de ter uma grande capacidade geradora de empregos. Mais forte, mais suave, instantâneo, expresso, orgânico, descafeinado ou gourmet. O café é praticamente uma unanimidade.

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Por Flávia Carolina Costa

A história da economia durante o Segundo Reinado perpassa inevitavelmente pelo processo de expansão de um novo gênero agrícola: o café. Desde os meados do século XVIII esse produto era considerado uma especiaria entre os consumidores europeus. Ao longo desse período, o seu consumo ganhou proporções cada vez mais consideráveis. De acordo com alguns estudiosos, essa planta chegou ao Brasil pela Guiana Francesa nas mãos do tenente-coronel Francisco de Melo Palheta.

Na segunda metade do século XVIII, por volta de 1760, foram registrados os primeiros relatos noticiando a formação de plantações na cidade do Rio de Janeiro. Na região da Baixada Fluminense as melhores condições de plantio foram encontradas ao longo de uma série de pântanos e brejos ali encontrados. No final desse mesmo século, as regiões cariocas da Tijuca, do Corcovado e do morro da Gávea estavam completamente tomadas pelas plantações de café.

O pioneirismo das plantações cariocas alcançou toda a região do Vale do Paraíba, sendo o principal espaço de produção até a década de 1870. Reproduzindo a mesma dinâmica produtiva do período colonial, essas plantações foram sustentadas por meio de latifúndios monocultores dominados pela mão-de-obra escrava. As propriedades contavam com uma pequena roça de gêneros alimentícios destinados ao consumo interno, sendo as demais terras inteiramente voltadas para a produção do café.

A produção fluminense, dependente de uma exploração sistemática das terras, logo começaria a sentir seus primeiros sinais de crise. Ao mesmo tempo, a proibição do tráfico de escravos, em 1850, inviabilizou os moldes produtivos que inauguraram a produção cafeeira do Brasil. No entanto, nesse meio tempo, a região do Oeste Paulista ofereceu condições para que a produção do café continuasse a crescer significativamente.

Os cafeicultores paulistas deram uma outra dinâmica à produção do café incorporando diferentes parcelas da economia capitalista. A mentalidade fortemente empresarial desses fazendeiros introduziu novas tecnologias e formas de plantio favoráveis a uma nova expansão cafeeira. Muitos deles investiam no mercado de ações, dedicavam-se a atividades comerciais urbanas e na indústria. Para suprir a falta de escravos atraíram mão-de-obra de imigrantes europeus e recorriam a empréstimos bancários para financiar as futuras plantações.

O curto espaço de tempo em que a produção cafeeira se estabeleceu foi suficiente para encerrar as constantes crises econômicas observadas desde o Primeiro Reinado. Depois de se fixar nos mercados da Europa, o café brasileiro também conquistou o paladar dos norte-americanos, fazendo com que os Estados Unidos se tornassem nosso principal mercado consumidor. Ao longo dessa trajetória de ascensão, o café, nos finais do século XIX, representou mais da metade dos ganhos com exportação.

A adoção da mão-de-obra assalariada, na principal atividade econômica do período, trouxe uma nova dinâmica à nossa economia interna. Ao mesmo tempo, o grande acúmulo de capitais obtido com a venda do café possibilitou o investimento em infra-estrutura (estradas, ferrovias...) e o nascimento de novos setores de investimento econômico no comércio e nas indústrias. Nesse sentido, o café contribuiu para o processo de urbanização do Brasil.

A predominância desse produto na economia nacional ainda apresenta resultados significativos no cenário econômico contemporâneo. Somente nas primeiras décadas do século XX que o café perdeu espaço para outros ramos da economia nacional. Mesmo assinalando um período de crescimento da nossa economia, o café concentrou um grande contingente de capitais, preservando os traços excessivamente agrários e excludentes da economia nacional.

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Qual foi a importância do café para o desenvolvimento da indústria no Brasil?

Por meio da intensa exportação de café e importação de outros produtos necessários ao mercado interno brasileiro, várias estruturas de maquinário fabril também aportavam em terras brasileiras, já que muitos produtores de café também passaram a investir nas fábricas.

Qual foi a importância do café no século XIX?

O café foi o principal produto de exportação da economia brasileira durante o século XIX e o início do século XX, garantindo as divisas necessárias à sustentação do Império do Brasil e também da República Velha.

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