Qual a relação entre a política do pão e circo e a realidade atual em nosso país?

Para aqueles que tanto aguardaram, enfim, saindo do forno, a segunda parte do texto "O que Roma, história e política, e Jogos Vorazes têm em comum?" Lembram-se da imagem que pedi para guardarem na memória pois ela seria trazida numa próxima elucubração?

Se você não se lembra (ou não leu o texto anterior), tá tudo bem! No outro texto, quando falava da trilogia Jogos Vorazes, eu disse: "[…] quando os tributos aparecem para entreter a Capital. E onde os cidadãos da capital seriam, em um paralelo com a nossa sociedade, os ricos e empresários, somados aos políticos — guarde essa imagem que ela aparecerá em um futuro não muito distante."

E um pouco mais à frente: "Os cidadãos da capital e o entretenimento de Jogos Vorazes encenam não apenas as togas branqueadas e a política de pão e circo (guardem essa imagem porque ela fica pra uma próxima), mas também representa muito do que os nossos políticos e nossa sociedade são hoje em dia."

Pois bem, a política que ficou popularmente conhecida como a Política do Pão e Circo romana nada mais era do que distrair e dar de comer à plebe como forma de mantê-los satisfeitos com o governo, impedindo revoltas e permitindo que o imperador, a nobreza e os comerciantes seguissem sua vida confortavelmente.

O imperador realizava, de tempos em tempos, disputas esportivas e lutas entre gladiadores. Durante os eventos, eram distribuídos pães para a plebe como uma forma de minimizar a falta de acesso a alimentos. Dessa forma, o imperador dava à população certa sobrevivência, ao mesmo tempo em que os distraía de suas reclamações e insatisfações.

Por mais que os eventos fossem uma chance da plebe manifestar essas insatisfações, acabavam não fazendo nada além dos gritos e reclamações superficiais. O pão e circo fazia com que as ideias de levantes e revoltas contra o império e a nobreza fossem deixadas de lado, por sentirem suas dores amenizadas e por sentirem que tinham um lugar para reclamar onde eram ouvidos. Assim, a política cumpria o que se propunha.

Mas o que isso tem a ver com Jogos Vorazes? A trilogia diz que, ano após ano, são selecionados dois tributos de cada um dos 12 (antigamente 13) Distritos, para ir a uma arena, e duelar até a morte. Ganha os Jogos Vorazes o último tributo sobrevivente, assim como ganhavam as lutas no Coliseo o último gladiador sobrevivente. Um paralelo bem simples, não?

Na trilogia, há uma grande diferença entre os Distritos. O 13, destruído por questões políticas (ALERTA DE SPOILER), só reaparece na história um pouco mais para a frente. A Capital e os primeiros Distritos são os mais ricos e as crianças são ensinadas a acreditar que participar dos Jogos é um grande feito e tratará à elas fama e glória. Por isso, crescem sendo treinados para este momento, com um grande número de crianças e adolescentes se voluntariando anualmente.

Já os Distritos mais ao final da lista, como o 12, são os mais pobres, nos quais a principal preocupação da população é garantir a sua sobrevivência. Nesses Distritos, os tributos costumam ser sorteados, pois dificilmente alguém se voluntaria para uma morte quase certa contra os bem alimentados e treinados tributos dos Distritos ricos. A Katniss, personagem central da trama, apenas se voluntaria para tomar o lugar de sua irmã mais nova, que foi a sorteada daquele ano.

Após a seleção, todos os 24 tributos são levados à capital para serem preparados, treinados, alimentados e bem tratados antes dos jogos. Durante esse tempo, passam por diversos eventos, aparições públicas, entrevistas, entre outras formas de entretenimento. Em determinado momento são levados à arena onde os Jogos acontecem e lutam até a morte.

Assim como os gladiadores eram uma forma de entretenimento, os Jogos também o são. Seu objetivo é manter os cidadãos mais ricos felizes, enquanto distraem os mais pobres para que não se revoltem contra a Capital.

Todos esses fatos, entretanto, têm também um paralelo claro com a nossa sociedade. Primeiro de tudo, há uma grande semelhança entre os Distritos de Jogos Vorazes e os bairros e espaços das cidades, principalmente de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Ademais, assim como na trilogia, os governantes, àqueles próximos a eles e os empresários, além de ricos, controlam os demais. Eles controlam a economia e as relações, são aqueles que detém o poder e são capazes de influenciar uma gama de decisões.

A plebe são os Distritos mais pobres e são as classes média e àquelas abaixo dela na nossa atual sociedade. São as pessoas que precisam ser distraídas para evitar que se revoltem mas que, na prática, não detém poder, influência ou controle sobre qualquer aspecto da esfera pública ou mesmo privada. Note que, neste momento, falo do Brasil. Outros países ao redor do mundo possuem aspectos de participação popular bem diferentes. Mas a nossa democracia ainda é um tanto quanto jovem, e está engatinhando, aprendendo a funcionar.

Apesar de atualmente não haver mais pessoas lutando até a morte como entretenimento, foram criadas mais e mais formas: futebol, jogos olímpicos, cinema, novelas, etc. Crimes e erros que se tornam grandes escândalos, extremamente midiáticos, servem para o mesmo propósito. Lembra do impeachment da Presidente Dilma Roussef? Lembra de como cada um dos votos foi televisionado, e grande parte dos congressistas fizeram discursos altamente midiáticos, que chamassem atenção do povo, e como tudo isso foi transformado praticamente em um espetáculo?

Esse acontecimento — e muitos outros, como a transmissão das manifestações de 2013 — teve um propósito ainda maior do que o de apenas entreter a população. Ele encobriu outros problemas sociais, políticos e institucionais e, mais do que isso, serviu também para dar às classes que não detém poder ou controle, uma sensação de que detinham a ambos. Cada vez mais a Política de Pão e Circo se atualiza, se sofistica, e se adapta para dar aos cidadãos a sensação de que têm aquilo que tanto queriam, mas sem de fato conquistarem. É apenas uma sensação. Mas uma sensação que, sozinha, não garante o efeito completo proposto pela política do Pão e Circo.

Por isso ela tem ainda um outro fator. Até então, falamos apenas do Circo. De como o entretenimento ajuda a distrair as pessoas e dar falsas sensações de poder e satisfação com diversos aspectos da vida. Entretanto, o Circo sozinho não é suficiente para minimizar as revoltas e levantes. Quando combinado ao segundo fator, aí sim fazem com que a população sinta que tem tudo aquilo que queria — até certo ponto, é claro. Dão apenas o suficiente para que não se mobilizem e não se revoltem contra aqueles que dominam as esferas pública e privada.

E que segundo fator é esse? O Pão. Como dito anteriormente, o pão era dado à plebe para que a fome e falta de acesso a alimentos fossem minimizadas. Na trilogia de Jogos Vorazes não identifiquei uma forma tão direta de "dar o pão" a tantos cidadãos simultaneamente como Roma fazia. Entretanto, ao tributo vencedor dos Jogos e à sua família, eram garantidas boas condições de vida, com sustento e fartura, até o fim de suas vidas. Eles eram levados à vila dos vencedores para que pudessem desfrutar de tudo o que desejassem. Essa esperança do alimento é o mais próximo que identifiquei da real política do Pão e Circo romana.

Na atualidade, assim como o Circo, o Pão também se aperfeiçoou e se transformou. No Brasil, essa política romana, somada a diversos outros fatores, deu origem à algumas das políticas mais famosas e polêmicas do país, por exemplo, o Bolsa Família . A ideia do Pão foi adaptada às sociedades modernas como políticas assistencialistas, ou seja, uma forma do governo tentar garantir o sustento e sobrevivência daqueles que não o conseguem sozinhos.

Além de deixar a população que se beneficia desse tipo de programa, até certo ponto, mais satisfeita, aumenta a popularidade e aprovação do governo, como aconteceu recentemente com o Governo Bolsonaro após o anúncio do benefício emergencial oferecido pelo Estado em função da pandemia da Covid-19.

Apesar dos inúmeros benefícios que essas políticas trazem à vida das pessoas que os recebem, e mais ainda dos políticos que as garantem, elas também acabam por apoiar e perpetuar ciclos viciosos. A meu ver, essas políticas assistencialistas deveriam ser como um band-aid, que não resolve o seu machucado, apenas o protege para que não fique pior. Entretanto o ponto mais importante, e frequentemente esquecido ou jogado para baixo do tapete, é que o uso do band-aid é temporário.

Esse tipo de política assistencialista deveria ser utilizada enquanto o governo encontra e implanta soluções capazes de verdadeiramente tratar as feridas, de acabar com o problema central. Mas o assistencialismo, somados à Política de Pão e Circo — que funciona como um segundo band-aid posto em cima do primeiro — e à políticos cujo único objetivo é se manter no poder, acabam por formar um ciclo vicioso, que abrange cada vez mais indivíduos.

Não dá pra negar que os romanos foram extremamente inteligentes aos criar esse dispositivo, que continua famoso até os dias atuais. Mas até quando nós, como plebe, vamos continuar a aceitar e deixar que coloquem vendas em nossos olhos com jogos de futebol e novelas record de audiência, enquanto os mesmos se mantém no poder, conquistam cada vez mais riquezas e perpetuam esse ciclo vicioso dos problemas sociais?

Qual a relação entre a política do pão e circo e a realidade atual em nosso país?

A política do pão e circo atualmente é uma metáfora para denunciar ou alertar atitudes de governantes que pretendem distrair a população com a distribuição de algum benefício.

O que é a política do pão e circo Ela ainda existe no dia de hoje?

Resposta. Sim, pois a política do pão e circo, consiste em dar condições ao povo de se alimentar e ter momentos de lazer. No Brasil, em muitos lugares essa regra ainda se aplica para ter controle sobre a população.

Qual a importância da política do pão e circo nesse período?

A política do Pão e Circo, tinha como objetivo o apaziguamento da população, na sua maioria, da plebe, através da promoção de grandes banquetes, festas e eventos esportivos e artísticos, assim como subsídios de alimentos (distribuição de pães e trigo).

Como a aplicação da política de pão e circo afetam a sociedade quais são exemplos contemporâneos dessa prática?

O Pão e Circo foi de extrema importância para se buscar uma estabilidade social na sociedade romana. Com ele, as classes dominantes buscavam controlar e conter os ânimos da população pobre, evitando, dessa forma, que as rebeliões se tornassem cada vez mais constantes.

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