Introdu��o
Nos �ltimos trinta anos, o termo globaliza��o, certamente, tornou-se um dos principais conceitos empregados no vasto campo das ci�ncias humanas e sociais, especialmente, na sociologia. Uma r�pida observa��o da literatura sociol�gica mais recente revela que esta no��o vem sendo amplamente utilizada nos mais diversos campos de investiga��o da disciplina (sociologia da educa��o, do trabalho, do meio ambiente etc.). Todavia, como acontece com todo “conceito da moda”, n�o raramente o termo tem sido empregado de forma vaga, sen�o vazia, sem o devido rigor conceitual, sendo tomado, inclusive, como causa direta das mais diversas consequ�ncias sociais - sejam elas positivas ou negativas.
Para Giddens (2007), apesar de ser uma palavra fundamental para se compreender o cen�rio pol�tico, cultural e econ�mico contempor�neo, sendo debatida em todo o mundo, a globaliza��o praticamente n�o fazia parte das discuss�es acad�micas at� o final da d�cada de 1980. Consequentemente, em virtude de sua r�pida populariza��o, o conceito nem sempre se apresenta de forma clara. Para os “c�ticos”, isto �, para a velha esquerda pol�tica, argumenta o autor, a globaliza��o n�o passaria de um simples mito, uma pura ideologia propagada pelos adeptos do livre-mercado e do neoliberalismo, os quais desejam reduzir a atua��o do Estado e os gastos p�blicos com sistemas de previd�ncia social. Para os c�ticos, afirma Giddens, n�o h� grande diferen�a entre o cen�rio econ�mico atual e o de �pocas passadas, de maneira que os governos nacionais teriam ainda plenas condi��es de controlar a economia. Por sua vez, os “radicais”, isto �, os defensores da livre economia, partem de uma postura totalmente oposta: defendem que o desenvolvimento do mercado global fez com que os governos perdessem grande parte de sua soberania e capacidade de influenciar as decis�es econ�micas. A seu ver, finalmente chegamos � era do fim da soberania do Estado-na��o.
Para al�m do escopo dessas abordagens radicais de cunho marcadamente ideol�gico, est� o fato de que a globaliza��o � um fen�meno complexo, que afeta, de diferentes modos, as mais variadas dimens�es da vida social: pol�tica, economia, educa��o, trabalho, cultura, meio ambiente etc. Os processos globalizat�rios vivenciados pelas sociedades modernas no decorrer das �ltimas tr�s d�cadas caracterizam n�o apenas um fen�meno inteiramente novo, mas tamb�m revolucion�rio (Giddens, 2007), que v�m desafiando as ci�ncias sociais, em especial, a sociologia.
Para Ianni (1994), a partir do final do s�culo XX, as ci�ncias sociais se defrontaram, pela primeira vez na hist�ria, com o desafio de pensar a sociedade em uma perspectiva global. Segundo o soci�logo brasileiro, na contemporaneidade, as estruturas econ�micas, pol�ticas, hist�ricas, culturais, sociais, lingu�sticas, art�sticas, enfim, se desenvolvem cada vez mais em escala mundial. Dessa forma, o pensamento cient�fico tradicional - historicamente organizado para pensar as sociedades em n�vel nacional - n�o consegue dar conta da complexidade inerente ao mundo global. Esse momento hist�rico, conforme o autor, marca uma profunda mudan�a epistemol�gica nas ci�ncias sociais, em que o paradigma cl�ssico da sociedade nacional come�a a ser substitu�do pelo paradigma da sociedade global.
Partindo de tais considera��es iniciais, este ensaio tem como seu objetivo central tecer uma reflex�o e uma revis�o sociol�gica em torno do conceito de globaliza��o. De forma mais precisa, o intuito � desenvolver uma an�lise, com base no olhar te�rico de alguns autores que se dedicam, de modo mais ou menos aprofundado, ao exame da tem�tica em quest�o. Para tanto, foram escolhidos seis eixos de reflex�o: 1- globaliza��o e economia; 2- globaliza��o e Estado; 3- globaliza��o e rela��es tempo-espa�o; 4- globaliza��o e cultura; 5- globaliza��o e mundo do trabalho; 6- globaliza��o e educa��o.
Globaliza��o e economia
Uma das principais marcas do mundo globalizado, sem d�vida, � o entrela�amento das atividades econ�micas locais, regionais e nacionais, constituindo um gigantesco sistema econ�mico global. A emerg�ncia desse sistema est� vinculada, principalmente, ao desenvolvimento de novas tecnologias de comunica��o, as quais permitiram a informatiza��o da economia. Como destaca Bauman (1999), hoje, uma informa��o compartilhada na rede foge completamente do controle de seu autor, bem como de praticamente qualquer tipo mecanismo de restri��o. Liberdade muito semelhante vive o capital: viajando pelas redes eletr�nicas, ele n�o possui local fixo, fugindo do controle dos governos e de v�rias das alavancas da pol�tica econ�mica nacional. Em uma mesma linha de racioc�nio, Beck (1999) sustenta que a atividade econ�mica mundial se v� cada vez mais calcada sobre correntes monet�rias transnacionais, dissociada de um substrato material e dissolvida em redes de informa��o digital.
Para Castells (2005), a emerg�ncia das redes tecnol�gicas levou a uma reestrutura��o sem precedentes das economias nacionais. Vale lembrar, nesse sentido, que para o autor, uma rede � um conjunto de n�s interrelacionados, uma forma de organiza��o social bastante antiga, mas que adquiriu novos contornos e dimens�es desde o advento da internet. No que tange especificamente � economia, o desenvolvimento das redes se d� com a interconex�o das atividades econ�micas de diferentes agentes, dos mais localizados aos internacionais: bancos e corpora��es financeiras, empresas nacionais e multinacionais, investidores individuais, governos etc.
O emprego das redes tecnol�gicas em setores da economia, defende Castells, levou a uma expans�o impressionante na produ��o de alguns pa�ses. O autor destaca, por exemplo, que a taxa de crescimento de produtividade dos Estados Unidos no per�odo entre 1996 e 2005 dobrou quando comparada ao per�odo 1975 e 1995. Crescimento econ�mico semelhante apresentaram na��es europeias, que tamb�m integraram suas economias em redes tecnol�gicas. “Por todo o mundo, economias em desenvolvimento que se articulam a si pr�prias com o n�cleo din�mico da rede da economia global mostram taxas de crescimento da produtividade ainda maiores” (Castells, 2005:20). Tal crescimento econ�mico, na perspectiva do autor, � o indicativo emp�rico n�o s� da emerg�ncia de um novo paradigma econ�mico, como tamb�m aponta a real potencial das redes digitais.
A integra��o das atividades econ�micas em um sistema econ�mico global apresenta uma s�rie consequ�ncias diretas, positivas e negativas. A primeira delas, como j� mencionado, � a velocidade com a qual o capital financeiro se movimenta no interior das redes digitais. Movendo-se na velocidade do sinal eletr�nico, o dinheiro transita por todas as regi�es do planeta, de modo que, com apenas alguns comandos acionados atrav�s de um computador (ou de um simples smartphone, que cabe no bolso), � poss�vel transferir enormes quantidades de dinheiro de um local a outro. A segunda consequ�ncia, por sua vez, � justamente o volume do capital financeiro movimentado. Hoje, a estimativa � de que apenas o mercado de c�mbio movimente em torno de 5 trilh�es de d�lares diariamente. Conforme Giddens, movimenta��es dessa magnitude eram impens�veis algumas d�cadas atr�s, que dir� nas sociedades do passado. Conforme as palavras do autor:
Um milh�o de d�lares � muito dinheiro para a maioria das pessoas. Medidos na forma de uma pilha de c�dulas de cem d�lares, teriam mais de vinte cent�metros de altura. Um bilh�o de d�lares - em outras palavras, mil milh�es - formariam uma pilha mais alta que a catedral Saint Paul. A pilha de um trilh�o de d�lares de altura, vinte vezes mais que o monte Everest (Giddens, 2007:20).
A integra��o das economias nacionais em uma gigantesca rede global tamb�m traz como consequ�ncia direta a cada vez maior interdepend�ncia entre os membros que comp�em o sistema econ�mico global. O efeito imediato dessa conex�o � o aumento proporcional das chances de acontecimentos localizados terem consequ�ncias globais devastadoras do ponto de vista econ�mico. Em outras palavras, um dos principais efeitos da maior interdepend�ncia global entre os agentes econ�micos � o aumento do risco. Conforme destaca Beck (2002), a produ��o social da riqueza, no �mbito da modernidade avan�ada, vem acompanhada pela produ��o social de riscos. Isso significa dizer que, para produzir riqueza, os agentes econ�micos internacionais aceitam viver sob a nuvem gigantesca de um conjunto de riscos socialmente produzidos por eles pr�prios. A interdepend�ncia � justamente um desses riscos que paira sobre o sistema econ�mico global. Vale lembrar, nesse sentido, a recente crise financeira vivida pela Gr�cia. Com uma popula��o relativamente pequena, cerca de 11 milh�es de habitantes (aproximadamente a mesma popula��o do Rio Grande do Sul), a Gr�cia acumulava, em 2010, uma d�vida que girava em torno de 300 bilh�es de euros. Essa situa��o causou enorme como��o no mercado financeiro global. Isso porque a crise grega gerava diretamente um efeito cascata: ela afetava tanto os pa�ses da Zona do Euro, com os quais a Gr�cia mantinha rela��es comerciais mais diretas (se a Gr�cia estava em crise, como quitaria suas d�vidas com os credores?), mas tamb�m, as demais na��es que mantinham rela��es comerciais com os pa�ses dessa Zona.
Assim, se por um lado a interconex�o das atividades econ�micas na era global possibilita a emerg�ncia de um sistema econ�mico mundial que movimenta diariamente quantias de capital inimagin�veis, por outro, os membros desse sistema se tornam cada vez mais interdependentes uns dos outros, de modo que determinadas decis�es locais podem resultar em consequ�ncias globais. Essa � justamente a quest�o abordada por Luhmann (1992). Para o soci�logo alem�o, o processo de diferencia��o da sociedade moderna em um incont�vel n�mero de sistemas e subsistemas funcionais aumentou drasticamente as possibilidades de a��o e de decis�o, tornando o mundo um espa�o completamente aberto e contingente. E � medida que as possibilidades de decis�o aumentam, crescem paralelamente os riscos a elas relacionados. � imprescind�vel destacar que os ricos n�o se relacionam apenas � possibilidade de uma dada decis�o (ou um evento) poder acarretar consequ�ncias dr�sticas � economia. Muito mais que isso, os riscos est�o relacionados a quest�es altamente complexas. J� h� algum tempo, por exemplo, a comunidade cient�fica internacional reconheceu que o refinamento de petr�leo, a queima de combust�veis f�sseis, a gera��o de energia, o desmatamento de florestas, enfim, atividades diretamente vinculadas ao desenvolvimento do capitalismo industrial no decorrer do �ltimo s�culo, est�o diretamente vinculadas ao aumento na emiss�o de gases de efeito estufa e, consequentemente, ao aquecimento global do planeta.
O desenvolvimento de um sistema econ�mico global, com efeito, est� associado a uma s�rie de riscos de natureza muito diversa: possibilidade de uma crise econ�mica generalizada, de propor��o mundial (como a crise da Gr�cia ou a crise econ�mica de 2008-2009, por exemplo), mudan�as clim�ticas e aumento no n�mero de eventos clim�ticos extremos
(furac�es, enchentes, secas, ver�es e invernos mais rigorosos), danos severos e irrevers�veis ao meio ambiente (como os crimes ambientais envolvendo o rompimento das barragens em Brumadinho e Mariana, em Minas gerais).
Globaliza��o e Estado
Uma das principais quest�es relacionadas aos processos de globaliza��o diz respeito ao papel e � soberania dos Estados nacionais no contexto do mundo global. Em outras palavras, a grande pergunta �: at� que ponto o modelo tradicional de Estado-na��o consegue manter sua soberania na sociedade globalizada?
Como destaca Giddens (2012), na contemporaneidade, as corpora��es multinacionais dominam imenso poder econ�mico, tendo a capacidade de influenciar diretamente muitas das decis�es pol�ticas adotadas pelos governos. Nesse sentido, considerando o poder e a independ�ncia do mercado financeiro frente aos mecanismos de controle da pol�tica nacional, alguns autores, como Kenichi Ohmae (1995), afirmam que vivenciamos o fim da era da soberania do Estados-na��o, isto �, uma �poca em que os agentes principais da ordem pol�tica nacional n�o s�o os governos, mas as grandes corpora��es multinacionais, as quais ditam o ritmo das decis�es pol�ticas.
De fato, no decorrer das �ltimas d�cadas, os Estados nacionais perderam uma grande parcela da sua hegemonia. Sobre isso, Beck (1999:41) destaca que, na era global, os Estados perderam boa parte do controle que exerciam sobre suas fronteiras geogr�ficas: “Os Estados nacionais j� n�o podem mais viver trancafiados; suas fronteiras protegidas por armamentos est�o esburacadas.” Para o autor, elementos como dinheiro, tecnologia e informa��o, por exemplo, ultrapassaram as fronteiras nacionais como se elas n�o existissem. At� mesmo drogas, produtos falsificados e imigrantes ilegais, que por d�cadas os Estados buscaram manter fora ou dentro de seus limites, romperam os per�metros nacionais na era global. Em uma linha de racioc�nio pr�xima, Luhmann (2006) sustenta que nem mesmo o r�gido imp�rio socialista-comunista conseguiu fechar suas fronteiras e evitar os entrela�amentos econ�micos, pol�ticos e cient�ficos.
Todavia, se por um lado a globaliza��o reduziu significativamente a hegemonia dos Estados nacionais, por outro, ela n�o colocou em risco a sua exist�ncia. Como aponta Giddens (2012), por maior que seja o poder econ�mico de uma multinacional, ele n�o consegue rivalizar com o poder do Estado, pelo menos em dois aspectos: territorialidade e controle dos meios de viol�ncia. Praticamente todos os espa�os geogr�ficos do planeta est�o sob o leg�timo controle de algum Estado. Dessa forma, “N�o importa o qu�o grande possa ser seu poder econ�mico, as corpora��es industriais n�o s�o organiza��es militares, e n�o podem se estabelecer como entidades pol�tico/legais que governam uma determinada �rea territorial” (Giddens, 2012:83).
Para Held et al (1991), a emerg�ncia da globaliza��o est� longe de colocar em risco a exist�ncia dos Estados-nacionais. A seu ver, as mudan�as significativas que ocorrem na sociedade moderna em decorr�ncia dos processos de globaliza��o devem ser entendidas “menos como o fim da era dos Estados-na��o que como um desafio � era dos „Estados hegem�nicos’” (Held et al, 1991:164). Segundo o autor, um exemplo claro da persist�ncia dos Estados nacionais � o fato de que eles, quando entram em conflito contra outros Estados, tendem a resistir a submeter-se � arbitragem de uma autoridade geral, como a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU). Um exemplo claro desse poder p�de ser observado em 2003, quando os Estados Unidos e a Gr�-Bretanha invadiram o Iraque sem autoriza��o do Conselho de Seguran�a da ONU.
Assim, ainda que a globaliza��o tenha tornado t�nues as fronteiras geogr�ficas, econ�micas, lingu�sticas e culturais que separam os Estados, elas certamente continuam a existir. Como argumenta Ianni (1994:148), “a sociedade nacional continua a ter vig�ncia, com seu territ�rio, popula��o, mercado, moeda, hino, bandeira, governo, constitui��o, cultura, religi�o, hist�ria, formas de organiza��o social e t�cnica do trabalho, fa�anhas, her�is, santos, monumentos, ru�nas”. � nesse contexto constru�do nacionalmente que bilh�es de pessoas conduzem suas vidas: nascem, estudam, trabalham, criam seus filhos, morrem. A identidade nacional ainda � - e continuar� a ser - parte fundamental na constitui��o das identidades individuais. Todavia, o cen�rio nacional � apenas uma parcela constituinte da realidade pol�tica, econ�mica e cultural das sociedades contempor�neas. A outra parcela, por sua vez, � marcada pela assimila��o da cultura, da l�ngua, da religi�o, da moeda, do trabalho, enfim, da ordem global. Essa nova faceta da realidade corporifica “um momento epistemol�gico fundamental, novo, pouco conhecido, desafiando a reflex�o e a imagina��o de cientistas sociais, fil�sofos e artistas” (Ianni, 1994:149).
Globaliza��o e rela��es tempo-espa�o
No final do s�culo XIX, �poca em que os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil, a travessia de navio entre a Europa e a Am�rica, que cruzava o Atl�ntico, chegava a durar 40 dias.1 Esse evento hist�rico - a vinda de imigrantes europeus para o territ�rio brasileiro - evidencia o qu�o dif�cil era transitar de uma regi�o � outra do globo em um passado nem t�o distante. Com a comunica��o n�o era diferente: a entrega de correspond�ncias - principal forma de comunica��o a dist�ncia nas sociedades do passado -poderia durar dias, at� mesmo meses, dependendo da dist�ncia entre o local de origem e o de recebimento.
Com efeito, historicamente, as sociedades humanas sempre estiveram distantes -espacial e temporalmente - umas das outras. Esse quadro come�ou a se alterar com o avan�o da modernidade. O desenvolvimento de novas tecnologias para transporte e comunica��o, sobretudo no decorrer do s�culo XX, acabaram por reduzir drasticamente essas dist�ncias. A populariza��o dos avi�es a jato comerciais, por exemplo, a partir do p�s-guerra, permitiu que viagens que antes duravam dias, e at� mesmo meses pelo alto mar, fossem conclu�das em quest�o de horas. As ferramentas informacionais baseadas na internet, por sua vez, tornaram a comunica��o instant�nea. Hoje, aplicativos para smartphones, mensageiros eletr�nicos, servi�os de web e videoconfer�ncia permitem que milhares de pessoas espalhadas pelas regi�es mais distantes do globo se comuniquem simultaneamente, compartilhando os mais diversos tipos de textos (imagens, sons, v�deos, jogos etc.).
Na era global, como j� mencionado, as fronteiras geogr�ficas se tornaram t�nues. Para Bauman (1999), um dos principais aspectos da globaliza��o � justamente o apagamento das fronteiras que separam as regi�es do globo. Segundo o autor, “As dist�ncias j� n�o importam, ao passo que a ideia de uma fronteira geogr�fica � cada vez mais dif�cil de sustentar no „mundo real’” (Bauman, 1999:19). Como resultado desse processo, as dist�ncias espa�o-temporais que separam aqui/l� deixam de ser concretas para se tornarem uma constru��o social, refletindo as desigualdades socioecon�micas caracter�sticas da sociedade capitalista. Desse modo, se a revolu��o tecnol�gica oriunda da globaliza��o cria, para alguns, uma inigual�vel sensa��o de liberdade, frente �s restri��es f�sicas de deslocamento espacial; para outros, ela evidencia as limita��es da realidade local, as quais os impossibilitam de alcan�ar as condi��es necess�rias para conseguir ir para outro lugar. “Alguns podem agora mover-se para fora da localidade - qualquer localidade - quando quiserem. Outros observam, impotentes, a �nica localidade que habitam movendo-se sob seus p�s” (Bauman, 1999:25).
Al�m disso, Bauman denuncia tamb�m que, na era global, as “elites m�veis” vivem uma vida extraterritorial. Primeiro, porque det�m mecanismos eletr�nicos que lhes possibilitam viajar pelo espa�o mais r�pido do que nunca, ignorando as dist�ncias geogr�ficas. Segundo, porque vivem “fora deste mundo”, isoladas em suas casas, as quais s�o constru�das protegidas da presen�a de intrusos indesejados, afastadas at� mesmo “do que se possa chamar de uma comunidade local” (Bauman, 1999:26). Por esse motivo, o autor defende que, ao mesmo tempo em que integra, a globaliza��o exclui; se por um lado ela homogeiniza, por outro, polariza e evidencia as desigualdades sociais.
Giddens (2012), por sua vez, sustenta que uma das principais marcas da era global � o fato de que o distanciamento tempo-espa�o - isto �, a rela��o entre eventos locais, de copresen�a, e a intera��o atrav�s da dist�ncia, que conecta presen�a e aus�ncia - � muito maior hoje do que j� fora em �pocas passadas. Isso quer dizer, que nunca antes na hist�ria eventos locais e acontecimentos distantes estiveram t�o interligados. Assim, a globaliza��o � um “processo de alongamento, na medida em que as modalidades de conex�o entre diferentes regi�es ou contextos sociais se enredam atrav�s da superf�cie da Terra como um todo” (Giddens, 2012:76).
Seguindo essa linha de racioc�nio, Giddens define globaliza��o como um fen�meno caracter�stico da modernidade, oriundo de um processo, a partir do qual eventos locais come�am a ter consequ�ncias globais e vice-versa. Nesse sentido, para o autor, a “globaliza��o pode assim ser definida como a intensifica��o das rela��es sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais s�o modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de dist�ncia e vice-versa” (Giddens, 2012:76). Em outras palavras, isso implica dizer que, devido aos mecanismos de desencaixe tempo-espa�o, os diferentes contextos sociais est�o interligados de tal forma que a vida cotidiana passa a ser determinada n�o apenas por acontecimentos locais (de copresen�a), mas tamb�m por eventos e decis�es tomadas a milhas de dist�ncia.
Globaliza��o e cultura
� medida que a globaliza��o diminui as dist�ncias espa�o-temporais entre as regi�es do globo, pode ser observada uma tend�ncia de enfraquecimento de tra�os da cultura local ou nacional, diante da influ�ncia de uma cultura global. Hoje, uma grande parcela dos produtos que consumimos diariamente - como roupas, alimentos, m�sicas, filmes, programas de TV etc. - foram projetados por indiv�duos que moram a milhares de quil�metros de n�s. Gradualmente, esses produtos come�am a fazer parte de nossa identidade cultural.
A globaliza��o est� presente em nossas vidas: quando vamos a uma tradicional rede de fast food; quando assistimos no cinema a alguma superprodu��o americana; quando ligamos a televis�o para assistir a algum reality show, como o Big Brother ou The Voice, por exemplo; quando efetuamos o download de alguma m�sica que est� no topo das paradas de sucesso; quando realizamos uma transa��o banc�ria pela internet ou pelo caixa eletr�nico; quando bebemos Coca-Cola no almo�o; quando, sem nos darmos conta, compramos uma roupa que foi inspirada na cole��o de um estilista estrangeiro.
A globaliza��o n�o apenas apaga tra�os da cultura local; ela cria novas formas de identidades culturais simbi�ticas, articulando elementos internos (locais) a elementos externos (globais). � importante destacar, nesse sentido, que tais elementos externos emanam, em suma maioria, de um local espec�fico do mundo: os Estados Unidos (e alguns poucos pa�ses do Norte global). Por esse vi�s, a globaliza��o pode ser observada, at� certo ponto, como um processo de “ocidentaliza��o” ou “americaniza��o” da vida cultural.
Todavia, isso n�o significa dizer que tal processo ocorre sem a resist�ncia da identidade local - o forte sentimento nacionalista vivenciado nos �ltimos anos em alguns pa�ses latino-americanos, como Venezuela, Bol�via, e mais recentemente o Brasil, � um exemplo disso. Tamb�m n�o significa dizer que a globaliza��o � uma via de m�o �nica, que ocorre sempre no sentido do Norte global em dire��o ao sul. Na verdade, o processo globalizat�rio � uma via de m�o dupla que afeta a vida cultural nos pa�ses mais pobres, mas tamb�m nos pa�ses mais ricos (Beck, 1999; Giddens, 2007). Deve-se � globaliza��o, por exemplo, o fato de que a can��o “Ai se eu te pego”, do cantor brasileiro Michel Tel�, foi visualizada mais de 850 milh�es de vezes no YouTube, foi a 6a m�sica mais vendida em 2012 no mundo (a frente de artistas norte americanos, como Maroon 5), alcan�ando o topo da parada de sucessos em 23 pa�ses da Europa e da Am�rica Latina2. � tamb�m em virtude da globaliza��o o fato de que telenovelas brasileiras, como Avenida Brasil, tenham sido comercializadas para mais de 130 pa�ses.
Sobre isso, segundo a perspectiva de Giddens (2007), os efeitos da era global s�o sentidos tanto pelas na��es mais desenvolvidas e industrializadas, como pelos pa�ses em processo de desenvolvimento e de industrializa��o. A “latiniza��o de Los Angeles, a emerg�ncia de um setor de alta tecnologia na �ndia, ou a venda de programas de televis�o brasileiros para Portugal” (Giddens, 2007:26) s�o um exemplo de que a globaliza��o ocorre em todas as dire��es, tanto do Norte para o Sul global, como tamb�m vice-versa. Ela tem alterado a fam�lia, a na��o, o trabalho, o meio ambiente, tanto de pa�ses ricos, como de pa�ses pobres.
A globaliza��o, portanto, n�o ocorre apenas em uma dimens�o macro, no plano dos sistemas sociais, ela acontece tamb�m em uma dimens�o micro, influenciando nos aspectos �ntimos de nossa vida cultural. Como afirma Giddens (2007:22), a globaliza��o “n�o diz respeito apenas ao que est� „l� fora’, afastado e muito distante do indiv�duo. � tamb�m um fen�meno que se d� „aqui dentro’, influenciando aspectos �ntimos e pessoais de nossas vidas.” Para Beck (1999), os efeitos do processo de globaliza��o transformam nosso cotidiano com uma viol�ncia ineg�vel, obrigando todos n�s a nos acomodarmos � sua presen�a e a fornecer respostas a esse processo. A globaliza��o, por exemplo, nos obriga a lidar com um constante fluxo ininterrupto de informa��es. Hoje, as informa��es que circulam na rede - sejam elas verdadeiras ou falsas3 - sobre determinados acontecimentos percorrem o mundo em quest�o de poucos minutos, sendo compartilhadas por milh�es de pessoas atrav�s das redes sociais. Tamb�m se deve � globaliza��o o fato de estarmos conectados � rede praticamente 24 horas por dia. Assim, se logo do in�cio da internet, em meados dos anos 1990, nos conect�vamos � rede apenas quando nos sent�vamos diante de um microcomputador, hoje, com o desenvolvimento de smartphones cada vez mais complexos e inteligentes, repletos de in�meros aplicativos, estamos sempre conectados.
Essas mudan�as, inevitavelmente, influenciam na forma como vemos o mundo e como nos relacionamos socialmente. Estudos apontam, por exemplo, que a chamada “Gera��o Y”, isto �, a gera��o dos nativos digitais, nascidos ap�s os anos 2000, apresentam como uma de suas principais particularidades o imediatismo (Tulgan, 2009). Tal imediatismo, caracter�stico do mundo virtual, onde impera o agora e a efemeridade das informa��es, tem levado muitos jovens dessa gera��o a enfrentarem dificuldades em sustentar relacionamentos conjugais mais s�rios, duradouros e que exigem exclusividade de parceiros.
Globaliza��o e o mundo do trabalho
Hoje, milh�es de pessoas ao redor do mundo t�m como seu sonho de consumo o iPhone, um dos smartphones mais comercializados no planeta, produzido pela Apple, empresa de tecnologia estadunidense situada na Calif�rnia. O que muitas pessoas n�o sabem, no entanto, � que apesar de ser idealizado no seio do Vale do Sil�cio, o aparelho da Apple � produzido na China, a partir de componentes adquiridos de outros pa�ses, como Coreia do Sul, Taiwan, Jap�o, dentre outros. O processo de produ��o do iPhone � justamente um dos resultados do processo de globaliza��o da sociedade: a divis�o internacional do trabalho.
Em seu processo de expans�o, a ind�stria moderna se espalhou pelo mundo, seja no que se refere � divis�o do trabalho - preferindo locais onde a m�o de obra � mais barata, como China, Bangladesh e Vietn� - ou � disponibilidade de determinadas mat�rias-primas e tipos de ind�stria. Como destaca Harvey (2011), o sistema capitalista tem a necessidade perp�tua de encontrar um terreno lucrativo para a produ��o e a acumula��o de capital, deparando-se, nesse percurso, com uma s�rie de obst�culos. As grandes empresas, defende o autor, est�o sempre avaliando as vantagens e as desvantagens da produ��o. Se a m�o de obra de uma regi�o se torna escassa ou o sal�rio muito elevado, por exemplo, ent�o, uma nova for�a de trabalho deve ser encontrada, o que leva a empresa a migrar para outro local. A migra��o pode ocorrer tamb�m quando a mat�ria-prima se torna escassa, quando h� uma queda no consumo, ou ainda, quando h� uma redu��o no ac�mulo de capital.
Essa possibilidade de uma empresa instalar suas f�bricas em diferentes regi�es do globo � uma caracter�stica da era global e que acaba por reconfigurar as rela��es de trabalho. Como destaca Castells (2005), a imagem de trabalho est�vel, para toda vida, criada durante o Welfare State (Estado de Bem-estar Social), gradualmente come�ou a desmoronar. Hoje, as multinacionais contratam e dispensam trabalhadores em n�vel global. Elas seguem o fluxo e a instabilidade do mercado mundial, exigindo um constante processo de requalifica��o da for�a de trabalho. Todavia, para o autor, isso n�o significa que a estabilidade do trabalho tenha desaparecido por completo, mas sim que ela s� se mant�m em meio � flexibilidade, em meio �s constantes transforma��es no cen�rio econ�mico e no mundo do trabalho.
Para Boaventura de Sousa Santos (2002; 2013), essa globaliza��o hegem�nica protagonizada pelas corpora��es multinacionais, que acaba por colocar em risco a estabilidade do trabalho e muitos dos direitos hist�ricos adquiridos pelos trabalhadores, precisa ser combatida atrav�s de uma globaliza��o contra-hegem�nica, ou seja, por meio da articula��o de pr�ticas globais e translocais de luta e resist�ncia. Segundo o autor, a globaliza��o contra-hegem�nica implica a articula��o pol�tica global de diferentes movimentos sociais, na busca pela minimiza��o desigualdades e problemas que s�o locais. Ao mesmo tempo em que est� preocupada com quest�es localizadas, ela consegue resistir de forma global frente � globaliza��o hegem�nica. As alian�as transnacionais de sindicatos de trabalhadores de uma mesma empresa multinacional que buscam melhorar as condi��es de trabalho locais s�o um exemplo de globaliza��o contra-hegem�nica. Conforme Santos (2002:74) “� preciso fazer com que o local contra-hegem�nico tamb�m aconte�a globalmente”, de modo que somente assim ser� poss�vel combater globaliza��o hegem�nica conduzida a cabo pelo neoliberalismo.
A globaliza��o contra-hegem�nica, defende Santos (2013), � formada por movimentos e organiza��es sociais que se articulam em n�vel local, nacional ou global, na luta contra a opress�o capitalista e colonialista, contra as discrimina��es raciais e sexuais, contra a explora��o do meio ambiente, contra a viol�ncia e a expuls�o dos povos ind�genas e quilombolas de suas terras, contra a precariza��o do trabalho etc. Em outros termos, ela implica a articula��o pol�tica global de diferentes movimentos sociais, buscando minimizar desigualdades e problemas que s�o locais. Ao mesmo tempo em que est� preocupada com quest�es localizadas, ela consegue resistir de forma global frente � globaliza��o hegem�nica.
Globaliza��o e educa��o
Os efeitos da globaliza��o sobre a educa��o podem ser observados de forma mais evidente no ensino superior. Nas �ltimas d�cadas, os sistemas nacionais de educa��o terci�ria passaram por in�meras transforma��es, sendo a principal delas a massifica��o. As estat�sticas relacionadas ao ensino superior impressionam: o n�mero de estudantes matriculados nesse n�vel de instru��o no mundo saltou de 32 milh�es na d�cada de 1970, para mais de 207 milh�es atualmente (Schwartzman; 2014; Unesco, 2017). Tal expans�o se deve a um conjunto vasto de fatores, sendo um dos principais a press�o exercida por organismos internacionais para que os Estados (especialmente no mundo em desenvolvimento) promovessem o acesso � educa��o superior a todas as parcelas da popula��o, sobretudo aos grupos historicamente subrepresentados nesse n�vel de ensino. Como destaca Schwartzman (2015), institui��es multilaterais, como a Unesco e o Banco Mundial, e privadas, como as Funda��es Ford e Rockefeller, al�m de muitas ag�ncias de coopera��o internacional criadas nos pa�ses desenvolvidos ap�s a Segunda Guerra Mundial, passaram a difundir e apoiar a expans�o da educa��o nos pa�ses do chamado “terceiro mundo”.
O resultado dessa press�o global pela expans�o do acesso ao ensino superior foi um dram�tico processo de massifica��o dos sistemas de ensino. Em muitos pa�ses, como o Brasil, esse processo se d� a partir da privatiza��o do ensino, atrav�s da presen�a de grandes grupos financeiros educacionais multinacionais, os quais s�o respons�veis por gigantescas redes de institui��es de ensino superior (IES) privadas com finalidade lucrativa espalhadas pelo globo. O Laureate International Universities, por exemplo, um dos maiores grupos educacionais do planeta, com sede nos Estados Unidos, possui uma rede de IES espalhadas por aproximadamente 30 pa�ses em todos os continentes. No Brasil, o Laureate controla a Uniritter, a Universidade Anhembi Morumbi, as Faculdades Metropolitanas Unidas, dentre outras IES.
A presen�a desses oligop�lios globais de educa��o vem alterando o panorama do ensino superior em muitas regi�es. No Brasil, por exemplo, o crescimento massivo da educa��o a dist�ncia (EAD) - a qual j� concentra mais de 20% das matr�culas de gradua��o -tem se dado principalmente no �mbito das IES privadas com fins lucrativos controladas por grandes grupos educacionais. Atualmente, o setor privado responde por mais de 90% das matr�culas de gradua��o a dist�ncia.
Mas os efeitos da globaliza��o sobre o ensino superior v�o muito al�m da privatiza��o do ensino e da presen�a dos oligop�lios educacionais. Um dos resultados da emerg�ncia de uma sociedade globalizada � tamb�m a internacionaliza��o da educa��o terci�ria. A internacionaliza��o do ensino superior deve ser vista como o resultado das for�as econ�micas, pol�ticas e socais da era global (Altbach, 2015), envolvendo uma ampla complexidade de pr�ticas acad�micas de natureza diversa, tais como: a oferta de programas de estudo no exterior por universidades tradicionais; a cria��o de redes de coopera��o internacional entre as institui��es de ensino; a ado��o de par�metros de avalia��o internacionais; as redes de interc�mbio de alunos; o oferecimento de oportunidades de trabalho e estudo para pesquisadores, docentes e discentes estrangeiros; a cria��o de parcerias entre universidades e centros de pesquisa aplicada com investidores estrangeiros; a importa��o/exporta��o de produtos e servi�os produzidos por IES, dentre uma s�rie de outras pr�ticas.
No contexto da internacionaliza��o do ensino superior, merece destaque o fluxo global de estudantes estrangeiros. Dados do Instituto Para Estat�stica da Unesco4 revelam que o n�mero de alunos matriculados em IES fora de seu pa�s de origem vem aumentando consideravelmente, saltando de 2 milh�es, no ano 2000, para 4,8 milh�es em 2016, um acr�scimo de 140% no per�odo. O principal destino continua a ser o Norte global, sobretudo os Estados Unidos. Por sua vez, a China � o pa�s com maior fluxo de estudantes para o estrangeiro. Em 2016, mais de 869 mil alunos chineses se matricularam em IES de outros pa�ses (35% nos Estados Unidos, 14% na Austr�lia e 10% no Reino Unido).
A internacionaliza��o do ensino superior, com efeito, processo motivado pelas for�as da era global, vem modificando significativamente o panorama internacional da educa��o terci�ria. Hoje, circular pelo campus de uma grande universidade significa se deparar com uma grande diversidade cultural, social e lingu�stica. As IES, por sua vez, em decorr�ncia das consequ�ncias da globaliza��o, foram obrigadas a rever muitas de suas pr�ticas acad�micas tradicionais. As institui��es que n�o t�m conseguido lidar ou simplesmente t�m resistido aos desafios e �s mudan�as da era global, e correm o risco s�rio de serem soterradas pela avalanche dessas transforma��es (Barber; Donnely; Rizvy, 2013).
Considera��es finais
Por fim, cabe ressaltar que em momento algum este ensaio procurou - com as suas poucas p�ginas - esgotar a tem�tica em quest�o. Na verdade, cada um dos seis eixos de reflex�o aqui apresentados, certamente, merecem um ensaio � parte, dada a complexidade do assunto. O intuito do ensaio, acima de tudo, foi demonstrar como a globaliza��o se caracteriza como um fen�meno altamente complexo, que acabou por alterar, profundamente, as diferentes dimens�es da vida social.
Para al�m das an�lises mais euf�ricas e otimistas (as quais normalmente atribuem � globaliza��o um conjunto de consequ�ncias positivas, tais como, abertura dos mercados, elimina��o das dist�ncias f�sicas, novas formas de intera��o social etc.), e tamb�m das abordagens mais c�ticas e pessimistas (para as quais a globaliza��o � a causa direta de um vasto conjunto de problemas sociais, como aquecimento global, aumento das desigualdades socioecon�micas, dissolu��o das culturas locais, precariza��o do trabalho etc.) est� o fato de que os processos de globaliza��o fazem parte da realidade do mundo contempor�neo, influenciando direta ou indiretamente, seja com consequ�ncias negativas ou positivas, a vida cotidiana de todos n�s.
Nesse sentido, fugindo do escopo de abordagens manique�stas baseadas em meras ideologias pol�ticas, cabe � sociologia, como disciplina do conhecimento cient�fico que �, mobilizar conceitos e categorias anal�ticas que possibilitem a compreens�o, de forma coerente, acerca de como esse fen�meno social altamente complexo afeta diariamente a vida de bilh�es de pessoas em todo o planeta.
Refer�ncias
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Notas
1
Informa��o dispon�vel em: //g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2015/05/viagem-dos-imigrantes-italianos-para-o-brasil-podia-durar-ate-40-dias.html. Acesso em: 12 mar. 2019.
2
Segundo o relat�rio Digital Music Report 2013.
3
H� no mundo in�meros casos de not�cias falsas disseminadas atrav�s das redes sociais na internet que foram tomadas como verdadeiras por �rg�os oficiais da imprensa. Um dos principais casos brasileiros foi o “CALA BOCA GALV�O”, ocorrido em 2010, durante a Copa do Mundo de Futebol. A abertura do evento foi transmitida no pa�s, na TV aberta, pela Rede Globo, tendo sido narrada pelo comentarista Galv�o Bueno. Internautas brasileiros que assistiam � transmiss�o disseminaram pelo Twitter a express�o “CALA BOCA GALV�O”, que rapidamente alcan�ou os Trend Topics - ranking mundial com as postagens mais comentadas da rede social. Logo, o sucesso da express�o disseminada pelos brasileiros atraiu a aten��o da m�dia internacional, que queria saber o significado da mensagem. Alguns blogs de humor do pa�s inventaram uma hist�ria fict�cia de que o “CALA BOCA GALV�O” se referia a um movimento para salvar uma esp�cie de p�ssaros brasileira quase em extin��o, o “Galv�o” - chegaram at� mesmo a criar um v�deo da falsa campanha e postar no Youtube. Outros internatas do pa�s tamb�m inventaram que a mensagem se referia a um clipe novo da cantora Lady Gaga. O sucesso em torno da piada criada pelos brasileiros foi tamanho, que rendeu publica��es no blog do jornal New York Times e tamb�m nos jornais El Pa�s, da Espanha e Clar�n, da Argentina.
4
Confira em: //uis.unesco.org/