Onde está o verdadeiro diário de Anne Frank?

Por que as anotações pessoais de uma menina judia assassinada no Holocausto interessam ainda hoje jovens de todo o mundo, num momento em que cresce o interesse histórico pela era nazista. Tudo começou de forma modesta: quando Otto Frank publicou o diário de sua filha Anne em 25 de junho de 1947, Het Achterhuis ("O quarto anexo", em holandês) inicialmente teve uma tiragem de apenas 3.036. A primeira edição em alemão surgiu em 1950, com modestos 4.600 exemplares.

Isso mudou com uma edição barata em brochura em alemão e uma peça sobre o livro estreada em 1956, seguida por um filme de Hollywood três anos depois: a circulação total disparou para 700 mil exemplares. Até hoje, O diário de Anne Frank foi vendido milhões de vezes e está disponível em 70 idiomas, o que o torna um dos livros mais traduzidos do mundo.

Linguagem e preocupações dos jovens

Em seu diário, a menina judia Anne Frank descreve o tempo em que ela e a família se escondiam dos nazistas na Amsterdã ocupada pelos alemães.

Investigação identifica suspeito de entregar Anne Frank aos nazistas

Até hoje a obra aproxima crianças e jovens de todo o mundo dos horrores do Holocausto. Veronika Nahm, diretora do Centro Anne Frank, em Berlim, disse em entrevista à DW: "Anne Frank escreve sobre coisas que são relevantes para os jovens nessa fase da vida: família, apaixonar-se, brigas com a mãe. Mas também quem determina quem eu sou, o que eu quero ser quando crescer, como será o mundo no futuro?"

O Centro Anne Frank usa o diário para dar aos jovens "uma introdução aos tópicos do Holocausto e do nazismo", segundo Nahm. A vida da família e dos amigos de Anne Frank também desempenha um papel importante: o pai, Otto Frank, por exemplo, testemunhou a queima de livros em Frankfurt, os tios de Anne foram presos durante pogroms, sua melhor amiga, Hannah Pick-Goslar, sobreviveu ao campo de concentração de Bergen-Belsen e testemunha o Holocausto até hoje.

Inspiração para projetos com jovens hoje

Um estudo de 2022 confirmou que os jovens da Alemanha estão mais preocupados com a era nazista e o Holocausto do que a geração de seus pais. Nahm também observou isso: "Podemos ver que os jovens estão muito interessados ​​no Holocausto e na história do nacional-socialismo." O número de visitantes da exposição no Centro Anne Frank também atestaria isso. "Não fosse a pandemia, teríamos números crescentes a cada ano."

Mas as questões estão se tornando mais diversas no século 21: por exemplo, jovens da Turquia e da Alemanha estão atualmente trabalhando num projeto sobre judeus turcos em Berlim durante a era nacional-socialista, e os jovens também se ocupam das voluntária e voluntários do Norte da África que defenderam seus concidadãos judeus.

O ponto de partida para todos esses projetos é o diário de uma menina judia, que queria transformá-lo em romance depois da guerra. Anne Frank sonhava em se tornar escritora e jornalista. Nunca chegou a isso: em 1944, o esconderijo em Amsterdã foi denunciado à Gestapo e a família foi deportada. Anne Frank morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.

 Gustavo Rodrigues/

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ILUSTRA Gustavo Rodrigues

SUGESTÃO Bruno Alexandre, Taboão da Serra, SP

1) Nascida em 12 de junho de 1929, Anneliese Marie Frank passou dois anos da adolescência escondida com sua família em uma casa secreta, nos fundosde uma empresa, para fugir da perseguição nazista na Holanda. Lá, ela teria escrito um diário. Descobertos em agosto de 1944, os Frank foram levados para um campo de concentração, onde Anne morreu de tifo.

2) Único sobrevivente da família, o pai Otto voltou a Amsterdã e reencontrou Miep Gies, uma ex-funcionária que havia ajudado no período de reclusão. Ela guardara os pertences da família não levados pelos nazistas, incluindo os três cadernos do diário. Eis a primeira desconfiança: céticos consideram improvável que a Gestapo não confiscasse qualquer tipo de manuscrito.

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3) Otto descobriu duas versões do diário. Nos primeiros meses, Anneescreveu livremente sobre o que pensava e sentia. Mas, quando ouviu no rádio clandestino que um membro exilado do governo holandês prometia publicar os relatos dos sobreviventes, ela reescreveu o texto, usando nomes falsos e reestruturando alguns trechos como se fossem cartas (para pessoas fictícias)

4) Otto admitiu que fundiu as duas versões e retirou trechos mais pesados. Mas, por causa das alterações e do teor maduro, várias editoras recusaram a obra (chamada então de O Anexo). Críticos também usam esses dois argumentos como indício de que, na verdade, Otto inventou tudo. O livro só saiu em 1947 e depois foi lançado em inglês como O Diário de uma Jovem.

5) O escritor Meyer Levin, dos EUA, foi o primeiro a tentar adaptá-lo para o teatro. Uma teoria alega que, na verdade, ele foi o verdadeiro autor da obra original – o que ajudaria a explicar sua alta qualidade literária. E mais: o romancista teria processado Otto para receber pela autoria. O pai de Annesupostamente teria pago US$ 50 mil de indenização.

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6) Uma terceira teoria da conspiração alega que o real autor não seria nem Otto nem Meyer, e sim a funcionária Miep, que havia “achado” o diário. Além disso, há alegações de que havia marcas de edição no manuscrito original feitas com caneta esferográfica – que não existia na época. Ou seja, sua confecção teria acontecido bem depois da 2ª Guerra Mundial.

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7) O fracasso inicial do livro também é citado pelos conspirólogos como sinalde que a origem da obra não é muito clara. Eventualmente, ela se tornou um best-seller e hoje sustenta a Fundação Anne Frank. A própria Fundação declarou, em 2015, que o livro é, na verdade, uma coautoria entre Anne e Otto. Seria a confissão de que a garota não escreveu livro algum.

POR OUTRO LADO…

Análises dos originais comprovam a autenticidade da obra

– Via de regra, os céticos que duvidam da autenticidade do diário são neofascistas ou neonazistas, que também cometem graves atrocidades intelectuais, como defender o racismo e negar o Holocausto de 6 milhões dejudeus durante a 2a Guerra Mundial.

– Em diferentes ocasiões os diários foram submetidos a técnicos independentes, que puderam analisar a caligrafia de Anne Frank em cartas anteriores. Também puderam pesquisar o papel, a tinta e a cola usada na encadernação das páginas. Todos os laudos, desde a década de 1950, comprovam: o diário é autêntico.

– Os tais rabiscos de esferográfica simplesmente nunca foram encontrados nos originais. É pura boataria, que continua se propagando.

– Meyer, de fato, processou Otto. Mas alegando que outra adaptação para a Broadway, autorizada pelo pai de Anne, era plágio da peça que ele havia escrito (e jamais havia sido encenada). Meyer venceu o caso, mas nada disso indica que tivesse sido o verdadeiro autor do diário.

– O argumento da coautoria, lançado pela Fundação Anne Frank, tem um objetivo claro: estender a duração dos direitos autorais exclusivos da obra, cujo prazo agora passaria a ser contado a partir da morte de Otto em 1980, e não da de Anne, em 1945.

FONTES Livros The Diary of Anne Frank: The Critical Edition, The Diary ofAnne Frank: A Critical Approach, e The Biography of Anne Frank – Roses from the Earth

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Onde está o diário de Anne Frank original?

Em 1960, o local do anexo secreto em Amsterdã tornou-se um museu oficial chamado Casa de Anne Frank, onde o diário original está exposto. Você pode visitá-lo até hoje.

Qual o verdadeiro diário de Anne Frank?

O Diário de Anne Frank é um livro escrito por Anne Frank entre 12 de junho de 1942 e 1.º de agosto de 1944 durante a Segunda Guerra Mundial. É conhecido por narrar momentos vivenciados pelo grupo de judeus confinados em um esconderijo durante a ocupação nazista dos Países Baixos.

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