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É bastante comum para muitos a confusão entre as palavras "muçulmano" e "árabe", assumindo que são exatamente a mesma coisa, ou que um conceito está contido no outro. Este é um grande equívoco, causado em parte pela mídia, que nunca se interessou em deixar claro a diversidade contida nos dois termos.
Escolha do novo Papa na Igreja Ortodoxa Copta (Egito) - Árabes que seguem a religião cristã.
Primeiro, o termo "árabe". Ele carece de exatidão assim como o termo "latino", aplicado a todos os imigrantes presentes nos Estados Unidos e vindos de países a sul da fronteira americana, incluindo nesse contexto, brasileiros. É notório que muitos brasileiros não se consideram como pertencentes ao tal universo latino, devido primeiro à diferença do idioma, e segundo, ao pouco contato com praticamente todos os seus vizinhos.
Os árabes estão espalhados pela península arábica, norte da África, Síria, Líbano, Iraque e Jordânia, mas em todos esses locais, eles convivem com outros povos. Além disso, há muitos árabes cuja religião é o cristianismo ou o judaísmo. Por fim, a língua árabe é bastante diversa, e dependendo das distâncias, as diferenças dialetais prejudicam bastante a comunicação. O árabe hassaniya, falado em Marrocos e Mauritânia, por exemplo, é muitas vezes considerado como língua à parte.
Países como Marrocos e Argélia são formados por uma maioria de etnia berbere, um povo e cultura que habita a região há milhares de anos, e que possui língua, escrita e cultura distinta. A própria monarquia marroquina é de origem berbere. Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia abrigam ainda populações mestiças, fruto do encontro entre berberes, árabes e africanos subsaarianos, além de populações sudanesas (negras). Esses países costumavam contar ainda com importantes comunidades judaicas, que, com a fundação de Israel, saíram da região, além de minorias francesa, espanhola e italiana nos tempos coloniais. Outros países como o Líbano ou Iraque apresentam etnias como curdos, persas, judeus, gregos e armênios ou ainda segmentos religiosos como os drusos, cristãos maronitas, alauitas ou mandeístas.
O termo "muçulmano" é aplicado ao adepto da religião islâmica, e ao conjunto das diversas áreas praticantes do islamismo no mundo dá-se o nome "umma". A umma está distribuída tradicionalmente pelo sudeste da Europa, boa parte da África e Ásia. Há muçulmanos albaneses, bósnios, turcos, malaios, iorubás, bengaleses, somalis, persas, isso somente para dar a ideia da diversidade étnica e cultural do islamismo. Importante mencionar ainda que o maior país muçulmano em todo mundo, a Indonésia, não tem nem mesmo relação direta com a cultura árabe, e além disso, há outras importantes religiões dentro do país, como hinduísmo, budismo e cristianismo (protestantismo e catolicismo).
Bibliografia:
Árabes, muçulmanos e islâmicos. Disponível em: <//clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=17682>. Acesso: 15/01/13.
//www1.folha.uol.com.br/mundo/1180349-garoto-vendado-escolhe-novo-papa-dos-cristaos-egipcios.shtml
Foto:
//02varvara.wordpress.com/2012/11/04/egypts-coptic-orthodox-church-of-alexandria-names-new-patriarch/
Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/curiosidades/distincao-entre-arabes-e-muculmanos/
Oração, jejum e a crença em um único deus formam a base do Islã, uma das religiões que mais crescem no mundo em número de fiéis. Os ensinamentos estão contidos no Alcorão, o livro sagrado que reúne as revelações divinas ao profeta Muhammad (Maomé), ainda no século VII.
Apesar da ascensão no número de seguidores, o desconhecimento sobre as tradições, regras e as crenças islâmicas ainda persiste no Ocidente. Para explicar os principais conceitos, o G1 ouviu um sheik – líder religioso –, um pesquisador de cultura e religião na área de relações internacionais e uma professora muçulmana, que dá aulas sobre língua árabe e cultura islâmica.
Mohammad Zedan, de 71 anos, lidera uma mesquita na Asa Norte, em Brasília. Ele explica que são cinco os pilares do Islã:
- A profissão da fé, com um Deus único e absoluto (Allah), e Muhammad é seu profeta;
- Orações 5 vezes ao dia: às 5h30, 12h, 15h30, 18h, 19h30;
- Jejum no mês do Ramadã;
- Caridade;
- Peregrinação à Meca, se o fiel tiver condições financeiras.
Além disso, o professor-adjunto Erwin Pádua Xavier, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), destaca que a base da religião é o monoteísmo. "Acredita-se na supremacia e na unidade de Deus. Não se concebe Deus como trindade, mas como fonte indivisível da criação", explica.
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Já em relação aos extremismos, assunto em voga devido a atuação recente do Talibã no Afeganistão e aos ataques cometidos pelo Estado Islâmico no país, a professora Maha Abdelaziz Zeineldin, que ensina língua árabe e cultura islâmica no Centro Islâmico de Brasília, deixa claro que a religião "não tem nada a ver com eles".
"Qualquer muçulmano abomina atos terroristas. Somos obrigados a respeitar outras etnias e religiões. Isso de sair matando porque a mulher não usou roupa coberta, não existe, isso não é prática entre muçulmanos e nem no Alcorão", diz.
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Mulheres no Islã
Para a pesquisadora, existe "muita confusão" no mundo ocidental sobre o entendimento do modo como o Islã orienta as mulheres, principalmente em relação aos trajes.
As regras do Alcorão orientam que as muçulmanas cubram pernas, braços, o tronco e a cabeça, esta, com uso do hijab (véu). No entanto, segundo Maha, não existe uma determinação sobre uso da burca, que cobre olhos, boca e nariz.
"Não podemos usar roupas com as pernas de fora ou mostrar os seios. A beleza da mulher chama a atenção do homem, e o Islã nos vê como uma joia", explica. "Não somos uma mercadoria para sermos exposta na rua para quem quiser."
"Não é uma repressão. A mulher muçulmana gosta de se proteger e se cobrir", explica Maha.
Maha Abdelaziz Zaki Salama Zeineldin é natural do Egito e vive no Brasil é 41 anos — Foto: Arquivo pessoal
Por causa dessas tradições religiosas e culturais, a professora – que nasceu no Egito – diz ainda que o uso dos trajes, hijab (véu) e roupas modestas, são um modo de "liberdade de expressão e de praticar nossa cultura".
"Muitos países ocidentais não aceitam nossa cultura e nos obrigam a aceitar a deles. Não podem haver dois pesos e duas medidas."
O professor de relações internacionais Erwin Xavier, também explica que, apesar das regras impostas pelo Alcorão, ainda no século VII, na região da península arábica, o Islã surgiu com uma série de tradições mais progressista para a época.
"Antes, a mulher era considerada uma propriedade trocada entre famílias, mas o Islã estende para elas uma série de direitos. A religião proibiu o infanticídio feminino, por exemplo. Antes, simplesmente por nascer menina, a criança podia ser enterrada viva ou jogada no rio", diz.
Oração 5 vezes ao dia
A primeira oração, das cinco diárias que devem ser realizadas pelos fieis da religião islâmica, se chama Farj e inicia ainda na alvorada, às 5h30. A última, o Ishaa, deve ser feita à noite, às 19h, sempre em direção à Meca, na Arábia Saudita – uma das cidades sagradas, onde nasceu o profeta Maomé.
Para quem vê de fora, a obrigação pode ser difícil de conciliar com os afazeres, rotina e trabalho. No entanto, Maha explica que algumas orações podem ser "puladas" e feitas "assim que possível", em caso excepcional.
"A primeira oração eu faço ao acordar, então, ainda estou em casa. A segunda, na hora do almoço. A terceira, dá para pegar uma pausa no trabalho, entrar no banheiro, lavar as mãos e os pés (ablução) e ir até um cantinho para rezar. Você coloca um tapete e reza. As demais, já estarei em casa", conta.
Na história do Islã, existem importantes figuras femininas — Foto: Getty Images/BBC
Além disso, a professora de cultura islâmica explica que as mulheres, em especial, não são obrigadas a ir todas as vezes à mesquita. "Todo o planeta, para Deus, é uma mesquita", afirma.
Casamento e família
A poligamia é permitida em alguns países onde a população segue o Islamismo. A prática, no entanto, não é difundida em todos os segmentos da religião.
Os religiosos ouvidos pelo G1 explicam que as orientações sobre casamento e família também estão no Alcorão, o livro sagrado. "Na época, o profeta Muhammad tratou de todas as questões: casamento, herança, tudo... O Alcorão é um livro religioso e jurídico", explica Maha.
Mesquita em Brasília, na Asa Norte — Foto: Abdul Rashid/Arquivo pessoal
"Naquela época que ele recebeu a missão, os homens tinham 500 mulheres, outros 40. Então, o profeta limitou isso, porque o homem não vai conseguir realizar justiça com três ou quatro esposas. Jamais vai ter condições de manter tantas casas assim", explica Maha.
"A única determinação é que os homens sejam fieis, jamais trair, nem com a palavra. A mulher deve dar apoio ao marido. Pode trabalhar, e não é obrigada a bancar nada, nem os gastos dela. O homem deve cobrir todas as necessidades da esposa."
Na mesma linha, o professor Erwin afirma que o Islã proíbe casamentos forçados. "A mulher tem que consentir licitamente para se casar", diz. "E, no geral, a religião autoriza o casamento do homem com até quatro mulheres, mas orienta que o ideal é a monogamia".
Islã x islamismo x muçulmanos
Um estudo do Pew Research de 2017 estimou que, até o fim do século, o Islã deve ultrapassar o cristianismo e se tornar a religião com o maior número absoluto de fiéis do planeta.
O pesquisador da universidade de Uberlândia explica que, atualmente, a maioria dos fiéis não está no Oriente Médio, mas em países como Índia, Paquistão e Bangladesh.
"Somente neste subcontinente são cerca 700 milhões de muçulmanos."
Ainda sobre o assunto, Erwin detalha a diferença entre os termos "Islã", "Islamismo" e "muçulmano".
- Islã: nome que se dá à religião. Na tradução do árabe, faz referência a "paz e entrega".
- Islamismo: nome da religião, mas sufixo "ismo" também pode se referir à ideologia política.
- Muçulmano: vem do árabe "muslim", aquele que que se entregou e segue as leis divinas.
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